Transformação digital x estratégias convencionais. 3 erros da Hotelaria.

As estratégias tradicionais tem entrado em choque com o ritmo e jornada contínua da transformação digital. Como resultado, as empresas apegadas ao planeamento convencional estão sendo ultrapassadas por concorrentes que abraçam a fluidez e o movimento contínuo inerentes à transformação digital. Você já ouviu a frase de Darwin: “Não é o mais forte nem o mais inteligente que sobrevive. É aquele que se adapta melhor às mudanças“, certo?

Mesmo com essa revolução tecnológica acontecendo, algumas das nossas aspirações permanecem as mesmas. Queremos:

  1. Oferecer uma experiência personalizada aos hóspedes.

Achamos que fazemos bem a coleta e integração dos dados. E claro que isso ajuda a otimizar a tomada de decisão e aumenta a confiança nas recomendações. No entanto, o gerenciamento de dados é difícil e demorado. E parte do problema é pensar que os dados têm de ser perfeitos para começarmos.

Outro ponto é que ficamos tão focados nos dados (quase de forma míope) que perdemos de vista o objetivo real: Devemos oferecer um produto que nossos hóspedes queiram comprar. As pessoas não respondem a uma oferta porque você acertou o nome e os detalhes da última estadia. Eles respondem à oferta porque é algo que desejam. É relevante para eles. Eles respondem porque você tornou mais fácil para eles encontrarem e comprarem o que procuravam. É importante observar que você pode ser relevante com muito pouca informação.

Como podemos acertar? Kelly McGuire, PHD, Board Member da HSMAI Americas e ex VP de RM da MGM Resorts, afirma que isso exigirá uma mudança de mentalidade mais do que qualquer outra coisa. Não pare de coletar, limpar e analisar seus dados, mas mude um pouco sua perspectiva das táticas dos dados detalhados para a estratégia de se tornar mais relevante e repercutir em seu cliente. O feedback dos hóspedes pode ser extremamente útil, se você realmente conseguir explorá-lo para descobrir o que eles estão falando, e não o que você perguntou ou queria ouvir.

2. Aproveitar melhor as análises da Gestão de Receitas

Muitas empresas hoteleiras investiram significativamente em soluções analíticas de preços para gerar receitas superiores. O sistema de gerenciamento de receita (RMS) pretende ser uma ferramenta de apoio à decisão para seus gerentes de receita. RMS não define estratégia, apoia a estratégia. Seus Revenue Managers definem a estratégia. Eles estão perdendo tempo com substituições e desperdiçando o tempo do gerente geral e/ou do proprietário culpando o sistema quando as pessoas questionam as recomendações. Quem se importa com o que o sistema diz? É a sua estratégia, você precisa dominá-la!

Como fazemos isso direito? Você precisa deixar o RMS fazer o seu trabalho. Isso significa garantir que a solução reflita com precisão as condições do mercado (ou seja, a previsão esteja correta) e esteja configurada corretamente (pisos e tetos, LOS MIN/MAX, etc.). Em seguida, deixe o sistema gerenciar as datas rotineiras no dia a dia, liberando os RMs para gerenciar exceções.

Isto exigirá investimento contínuo em treinamento no sistema. Suas equipes precisam entender como ele “pensa” e manter-se atualizadas sobre os mais recentes procedimentos operacionais padrão e os mais recentes aprimoramentos. Também requer gerenciamento de mudanças. Os RMs estão acostumados com preços. Com um sistema, eles não fazem mais isso. Em vez disso, tornam-se estrategistas de mercado. O seu objetivo é identificar e explorar oportunidades de mercado e, ao mesmo tempo, mitigar os riscos de mercado.

3. Aproveitar as vantagens da Inteligência Artificial

À medida que a IA explode, executivos de todos os setores estão tentando descobrir o que fazer com ela. As opções são praticamente ilimitadas, mas andamos por aí com um martelo (AI) em busca de pregos (problemas no negócio). Deveria ser o contrário. Claro que isto é totalmente natural, dado o enorme potencial desta tecnologia. Temos feito isso com cada novo recurso que surge há décadas.

Como fazer isso direito? Adicionar IA ao seu kit de ferramentas, desenvolvendo prontidão organizacional e capacidade técnica e, em seguida, retirá-la quando encontrar um problema que precise dela.

Você também precisará educar-se continuamente sobre o que é e como usá-la para não perder uma oportunidade. No entanto, se você iniciar esse treinamento sem uma ideia sólida do que sua organização está tentando realizar, você será facilmente distraído por um aplicativo brilhante que, no final, pode não ter impacto suficiente. Faça um inventário de seus objetivos, dos problemas de seu negócio e, o mais importante, do impacto projetado de resolvê-los. As aplicações de AI mais bem-sucedidas ocorrem quando a empresa tem um problema claro e uma meta bem definida. Em resumo, você precisa estar na posição de direcionar a tecnologia e não ser dirigido por ela.

Artificial Intelligence In Hospitality Industry: AI For Hotels | HiRUM

A definição de transformação digital evoluiu significativamente ao longo do tempo. Inicialmente, tratava-se da transição do analógico para o digital, simplesmente digitalizando processos e serviços existentes. Dr. Breffni Noone, professor de Revenue Strategies na Pennsylvania State University e colaborador da HSMAI Americas, elabora mais o tema e entende que, à medida que a tecnologia avançou, o foco mudou para a otimização dos processos digitais, a fim de aumentar a eficiência e reduzir custos. Em 2024, a transformação digital é entendida como um processo abrangente e contínuo que envolve não apenas a adoção de tecnologias digitais, mas um repensar fundamental de como uma organização opera e agrega valor’. Trata-se de construir uma vantagem competitiva através da implementação contínua de tecnologia em escala para melhorar a experiência do hóspede e reduzir custos.

É uma jornada de longo prazo que requer uma mudança cultural e um compromisso com a melhoria contínua e a inovação.

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Explorando o ‘Quiet Luxury’ na Hospitalidade

'O Luxo que sussurra em vez de gritar'...
Novas nomenclaturas chegam, mas a caminhada do luxo rumo à ética e sustentabilidade segue firme.
O atual 'luxo tranquilo' já foi 'novo luxo', 'luxo simples' e 'pós luxo'. 
Quanto mais as indústrias incentivam o consumidor a buscar experiências e produtos que reflitam seus valores, maior fica a desconexão da ostentação e extravagância do luxo tradicional. Nesse vácuo,  o 'silent luxury' ganha terreno e transforma a nossa relação com segmento de 'alto padrão'.

ORIGEM

As mudanças culturais e sociais dos últimos tempos influenciaram nossa percepção de luxo. Em meio ao  turbilhão de telas e agendas lotadas surge o anseio por menos barulho e opulência. A busca constante por reconhecimento externo cansa.
Outro componente nessa equação foi a aproximação das massas e novos consumidores entrando no luxo. O público tradicional do segmento então começou a apostar em novos estilos para continuar se diferenciando.
A 'riqueza furtiva'(luxo tranquilo) vem ganhando mercado em relação à 'pornografia da riqueza'(ostentação). As novas gerações prezam por uma riqueza mais moderada, pois acreditam na sua responsabilidade social. 
Não é à toa que o minimalismo tem invadido a hotelaria. Ela precisa se manter conectada com os novos consumidores.
Portanto, a proposta de uma imersão em experiências personalizadas, cuidadosamente elaboradas para atender às necessidades mais íntimas e singulares de cada hóspede, faz todo sentido nesse momento.
Uma pesquisa recente da Virtuoso indica que 82% dos viajantes de luxo buscam experiências autênticas e personalizadas, e 76% priorizam o bem-estar e a sustentabilidade em suas viagens.

CARACTERÍSTICAS

Muitas vezes, nosso imaginário traz à mente uma decoração rica, comodidades extravagantes e ambientes movimentados. O luxo ‘discreto’ já inclui novas nuances como:

  • Conceito enraizado na atenção aos detalhes (sempre sutis)
  • Ênfase na qualidade e não na quantidade
  • Experiências Tranquilas = Discrição
  • Design minimalista e atemporal
  • Enxoval de alto padrão agregando conforto e sono de qualidade
  • Amenities naturais
  • Uso de tons neutros e cores suaves, ao invés do ‘brilho’ do luxo tradicional, incentivando a serenidade.
  • Sustentabilidade como ‘cultura’ da empresa e fontes responsáveis em todas as operações, da redução de resíduos ao envolvimento com a comunidade.
  • Logotipos sutis e que remetam à humanização da proposta de hospitalidade
  • Escapar do estresse através da sensação de calma, relaxamento, materiais naturais e iluminação cuidadosa.
  • Prestar atenção nos dados e preferência dos hóspedes para adaptar experiências, comodidades e serviços às diversas necessidades e desejos individuais. Serviço personalizado e intuitivo, respeitando a individualidade de cada um.
  • Criar conforto físico para evocar conexões emocionais duradouras como sua marca. A exaltação do bem estar inspira lealdade.
  • Culinária local e autêntica.
  • O conceito de ‘refúgio’ retorna como um símbolo de aconchego e despojamento.
  • Cultura e história do destino se entrelaçam à experiência do hóspede = Autenticidade. A imersão profunda no destino cria memórias significativas.

Tipo de Hóspede: geralmente experientes, exigentes e apreciadores de experiências únicas e autênticas. Eles valorizam a privacidade, o serviço personalizado e o bem-estar holístico

Em resumo, o Quiet Luxury não é apenas uma viagem, é uma transformação. É a busca por algo mais profundo, mais autêntico e mais significativo. Esta nova percepção do luxo baseia-se também no bem-estar emocional, espiritual e social. Esta evolução do luxo está influenciando a forma como as marcas se posicionam e se comunicam com seus clientes. O marketing parou de promover a riqueza e está concentrando-se em contar histórias significativas e autênticas, ligadas aos valores e aspirações dos consumidores.

“Você telegrafa status sem parecer fazê-lo”. William Norwich, um romancista e editor, ao The New York Times

Cito abaixo algumas marcas no Brasil e no Mundo que estão fazendo um excelente trabalho com base no conceito de ‘Quiet Luxury’:

Brasil:

A hotelaria de luxo no Brasil é muito representada por hotéis independentes, pequenos e repletos de personalidade. Poderia citar muitos aqui, mas ressalto 4 que admiro demais:

  • Unique Garden (Mairiporã, SP) – Prepare seus sentidos para uma desconexão repleta de requinte, alta gastronomia e uma explosão de aromas. Além dos incríveis projetos ambientais e de responsabilidade social, o Garden realmente nutre seu corpo de afeto.
  • Ibiti Projeto (Lima Duarte, MG) – Projeto socioambiental impecável e 3 opções de hospedagem incríveis. Principal referência do turismo de regeneração do país. O Ibiti proporciona experiências únicas e diferentes de tudo o que você já vivenciou, sempre com atendimento impecável.
  • Refúgios.eco – Casas de aluguel de curta temporada em SP, RJ e BA. Imersão total na natureza, vistas privilegiadas, exaltando o conceito intimista e aconchegante da hospitalidade. Imperdível!
  • Casa Uxua – Realmente são casas ‘com alma’, como eles dizem. É possível identificar a autenticidade da Casa Uxua em cada ambiente, cada prato, cada interação com as pessoas. Dá vontade de respirar fundo e relaxar só de pensar nela.

Mundo:

  • Poderia citar todas propriedades da maravilhosa Aman Resorts, mas separei um especial: Amanzoe em Porto Heli, Grécia.
  • Regent Phu Quoc, Vietnã – O conceito ‘quiet luxury’ está em tudo, inclusive na sua descrição: ‘Aqui os sorrisos são calorosos. Pare um momento. Absorva tudo ao seu redor.’
  • Awasi Atacama – Atacama, Chile – A privacidade levada à sério, uma exaltação às cores, texturas e sabores locais. Como eles dizem: ‘pise neste lugar de outro mundo e sinta que está em um planeta diferente‘.

A grande pergunta que fica é: Será que o ‘Quiet Luxury’ se tranformará no novo ‘Hotel Boutique’ ou ‘Hotel Lifestyle’? Lembrando que, se tudo é luxo, nada é luxo. Portanto, se tudo se transformar em ‘quiet luxury’, nada será ‘quiet luxury’.

Seguimos acompanhando…

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