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Eu cheguei duas vezes em Veneza. No fim de tarde de uma sexta-feira, o Seabourn Ovation se aproximava da cidade que, em todo o seu esplendor, nos aguardava para dar essa primeira e encantadora recepção. A segunda chegada ocorreu no dia seguinte (e foi um tanto quanto assustadora).
Ainda no porto, ao desembarcar do navio, eu e outros hóspedes entramos num desses barcos de, sei lá, 50 passageiros, para um tour ao redor das ilhas de Veneza – passeio disponibilizado pela Seabourn em nossa despedida. Novamente, lá estava Veneza ao longe, muito formosa, com suas belas construções e um céu azul incrível.
Eu não havia nem pisado na cidade e já estava a considerando pacas gostando do que via. Eis que o tour acabou e o barco desembarcou os passageiros em plena Piazza San Marco. Se você não está familiarizado com Veneza, a praça que hospeda a Basílica de San Marco é um dos pontos de maior concentração de turistas na Europa.
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No espaço de minutos eu tinha trombado com muita gente, topado com carrinhos de bebê, desviado de paus de selfie, dito uma porção de “não” para comerciantes e presenciado um atendimento médico na fila para entrar no Palazzo Ducale. Aquilo era um caos e confesso que fiquei assustado.
Muita gente havia sugerido que eu me perdesse pelas ruelas de Veneza, que essa era a graça do passeio pela cidade. De fato a estratégia era boa, as multidões tinham sumido e a calmaria estava, por vezes, presente. Ainda assim, eu me sentia em um “parque temático” à beira dos grandes pontos de interesse.
Para a minha sorte eu teria dois dias em Veneza e, assim, eu pude organizar melhor o meu roteiro a fim de evitar a bagunça da véspera. Foram duas as soluções para conhecer a ilha principal de outra maneira: acordar cedo e evitar o centro.
Ainda não eram 9 horas do domingo e a cidade tinha outra atmosfera. Decidi passar minha manhã na sestieri de Cannaregio, perambulando por áreas como o Antigo Gueto (morada dos judeus entre os séculos 16 e 18) e descobrindo passagens minúsculas nas travessas da fondamenta Misericordia.
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Essencialmente eram bairros residenciais, refúgios dos pouquíssimos venezianos que ainda moram na ilha principal. Era distante da aglomeração o suficiente para que a vida existisse, para que o treino de remo acontecesse, para que primeiras eucaristias fossem celebradas. Lá eu presenciei de relance o que pode ser a vida em Veneza e isso, pra mim, valeu a visita.
Acho necessário, por fim, fazer um adendo. Não posso ignorar o fato de que eu era um turista, assim como qualquer outro, que invadia esse espaço mais “privado” da cidade. Mas eu realmente acredito que, com respeito e bom senso, é possível o convívio mútuo entre cidadãos e visitantes – sem que aqueles tenham de mudar sua forma de viver por conta destes.
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