A primeira parte deste texto está em: PARTE 1: PAI X FILHO: COMPETIÇÃO OU CAPACITAÇÃO? e a segunda parte está em PARTE 2 – PAI X FILHO: COMPETIÇÃO OU CAPACITAÇÃO?)
Ao perceber que, inesperadamente, eu havia feito o movimento no jogo, Vabo JR entendeu que eu havia concordado em, finalmente, jogar a final do torneio e, a menos que que esta partida terminasse empatada, o vencedor do torneio que iniciara em 1998 finalmente seria conhecido.
Acho que isso o motivou a interromper a série que assistia e sentar-se à mesa, onde ficou refletindo por longos minutos antes de prosseguir com o jogo, desta vez ambos presentes, da forma mais tradicional de uma partida de xadrez, com exceção da cronometragem dos lances, que não havia.
Nenhum dos dois parecia preocupado com o tempo, ninguém cronometrou as jogadas, nem reclamou se o adversário parecia demorar demais para jogar, tampouco distraiu-se com outra coisa durante toda a partida (iPhones nos bolsos).
Solange observava ao longe e parecia simular a maior naturalidade do mundo. Havia outras pessoas em casa, mas somente ela, Vabo JR e eu sabíamos o que aquela partida representava…
Apesar dos 12 anos que ficamos sem jogar, Vabo JR continuava jogando muito melhor do que eu. Ao que tudo indicava, ele parecia não ter parado de jogar neste período, embora seguramente não praticasse nem estudasse mais como antes, devido a seus compromissos profissionais.
Para mim, esta era a primeiro partida de xadrez após o super-empate de 2007.
Iniciei com bastante cuidado e redobrada atenção, embora não me parecesse mais fundamental vencer o torneio, ao menos eu não poderia amolecer nesta que poderia ser a derradeira partida de um torneio iniciado há 20 anos.
Surpreendi-me com meu comedimento e, por respeitar o adversário com quem aprendi muito, eu jogava de forma completamente diferente, mais acuado, reativo, na defensiva mesmo, característica que não era a minha.
Em curioso contraponto, Vabo JR insinuava-se pelo seu lado direito do tabuleiro, atacando com a Dama (Rainha), Torre e Bispo, simultaneamente, obrigando-me a raciocinar muitas jogadas à frente, para conseguir manter minha estratégia inicial, sem comprometer as posições de defesa do meu Rei.
Foi quando percebi que meu adversário animou-se com seu “novo estilo” (que no passado fora o meu) ofensivo, seguro, incisivo, e passou a não dar trégua ao meu lado esquerdo, trocando Peões e avançando aos poucos em direção ao meu Rei.
Meu desafio parecia ser continuar mantendo minha posição defensiva e, ao mesmo tempo, preparar um contra-ataque que precisava ser fulminante, definitivo, que não desse chance de reação, o que passei a construir pelo meu lado direito do tabuleiro.
Em cada novo movimento de Vabo JR, eu posicionava minhas peças de forma a defender-me de seu ataque insidioso mas, ao mesmo tempo, mantinha posição de apoio à penetração dissimulada que eu fazia, pelo outro flanco, na direção de seu Rei.
Após uma sucessão de trocas de peças, o jogo acabou decidido por um lance, ou seja, quando Vabo JR preparava-se para me dar xeque ao Rei, o que iniciaria uma sucessão de movimentos até o provável xeque-mate, eu que coloquei o Rei dele em xeque, de forma aparentemente inesperada para ele.
Neste momento, eu o vi passar por uma situação que muitas vezes eu havia passado durante o torneio: a incredulidade diante de uma jogada não prevista do adversário, por ter se concentrado em demasia nos seus objetivos no ataque.
Ciente de que seu próximo movimento seria um ataque definitivo para destruir meu jogo, Vabo JR analisou o xeque que acabara de receber por exatos 22 minutos, enquanto eu permanecia em silêncio obsequioso, pois não havia, nem poderia haver, limite de tempo para uma jogada decisiva numa final de copa do mundo…
Foi quando, surpreendentemente, meu oponente levantou-se, tirou os olhos do tabuleiro e olhou-me fixamente, estendeu a mão direita para cumprimentar-me, enquanto com a mão esquerda derrubava seu Rei. Com um sorriso que misturava alívio e um pouco de desapontamento, ele disse: “Analisei todas as possibilidades e não há saída, você daria o cheque-mate 7 lances à frente”, e complementou: “Parabéns, pai, você venceu o torneio”.
Eu recebi sua decisão com o mesmo duplo sentimento, alívio e desapontamento, mas continuo considerando que empatei com o mais duro jogador de xadrez que enfrentei em toda a minha vida.
O torneio foi encerrado, mas nossa carreira de amantes do xadrez pode estar recomeçando, sem placar, sem pressão, sem competição, apenas uma chance do pai aprender enquanto se diverte com o filho.
.
Caro Vabo,
nada melhor que poder dividir seja lá o que for com nossos filhos,
com a devida licença do Credicard, dividir por 20 anos, não tem preço.
parabéns pelo texto, pelo filho e pelo exemplo.
abraços
É verdade, Fernando,
Foi uma experiência incrível, por isso senti-me motivado a postar aqui.
Grande abraço,
[]’s
Luís Vabo
Caro Vabo,
nada melhor que poder dividir seja lá o que for com nossos filhos,
com a devida licença do Credicard, dividir por 20 anos, não tem preço.
parabéns pelo texto, pelo filho e pelo exemplo.
abraços
É verdade, Fernando,
Foi uma experiência incrível, por isso senti-me motivado a postar aqui.
Grande abraço,
[]’s
Luís Vabo
Belo final , fiquei preso na narrativa o tempo todo…
Pena que não anotaram a partida e tb não esta claro no tabuleiro a posição final.
Espero em breve ter a mesma experiência com meus filhos.
O profesor de Xadrez 😉