SOBRE TECNOLOGIA, PÉGASUS E UNICÓRNIOS

Ouvi muita coisa durante os dois dias do Forum Panrotas, muitas interessantes, algumas nem tanto, mas sempre consigo pinçar frases que me levam à reflexão, mesmo quando ditas um tanto fora de contexto…

Ouvi uma frase, em especial, que chamou minha atenção por ter sido dita a respeito de Uber e Airbnb:

“Estamos há muito tempo neste mercado, já vimos muitos outros unicórnios antes…”

Esta declaração gerou imediata surpresa na plateia, por ter sido feita, no palco do evento, por Ricardo Carreón, novo VP para America Latina do Sabre, uma tradicional gigante de tecnologia do mercado de aviação, viagens e turismo.

Como assim chamar o Uber e o Airbnb de unicórnios?? Os dois “queridos da hora” dos consumidores não podem ser desrespeitados desta forma, afinal unicórnio é um ser mitológico, que efetivamente não existe, nem nunca existiu…

Pois acredito ser exatamente esta a conotação que Carreón emprestou ao Uber e Airbnb, empresas que atingiram taxas de crescimento estratosféricas sem investir em nenhum ativo, mas causando a disrupção de 2 modelos de negócios, o taxi e o hotel, ambos tradicionais e velhos de guerra.

Os modelos de negócio de Uber a Airbnb não têm qualquer barreira de entrada.

Isso significa que, uma vez ocorrida a disrupção do processo, o novo entrante passa a coexistir com o anterior e deixa de ser novo, realimentando o ciclo de inovação.

Dezenas, centenas ou milhares de outras startups estão, neste exato instante, trabalhando para reproduzir o sucesso destes “first movers”, agregando um ou outro diferencial ou simplesmente copiando-os descaradamente.

O principal ativo destas empresas são o fato de terem sido os primeiros com escala global e isso vale muito, mas tão logo os novos entrantes comecem a competir nos mercados locais, o oceano deixará de ser azul.

Daí vem a alcunha “unicórnios”: empresas tão virtuosas que parecem seres mitológicos.

Foram unicórnios as empresas de compra coletiva (uma panaceia que fez a mídia acreditar que o comércio estava sendo refundado…), também foram unicórnios os portais de ambiente virtual como Second Life e outros (muitos juravam que era melhor viver aquela realidade virtual do que a medíocre vidinha real), da mesma forma foram unicórnios os catálogos digitais como Cadê? e outros (pareciam a porta de entrada da internet, até chegar o Google), e foi um recentíssimo unicórnio o joguinho Pokemon, que virou febre mundial, a ponto de acreditarem que ajudaria o desenvolvimento do turismo…

Ou seja, se não houver razoável barreira de entrada, não bastará a uma solução inovadora agregar valor ao cliente, pois a ideia será imediatamente copiada e melhorada, arrefecendo o vertiginoso crescimento da aderência da solução.

No longo prazo, acho melhor apostar em pégasus (não tem chifre, mas voa…) do que em unicórnios.

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Luís Vabo

Entusiasta da inovação, do empreendedorismo e da alta performance, adepto da vida saudável, dos amigos e da família, obstinado, voluntário, esportista e apaixonado. Sócio-CEO Reserve Systems 📊 Sócio-fundador Solid Gestão 📈 Sócio-CFO MyView Drones 🚁 Sócio Link School of Business 🎓 Conselheiro Abracorp ✈️

17 thoughts on “SOBRE TECNOLOGIA, PÉGASUS E UNICÓRNIOS

  1. Querido Luís

    Leio sempre seus posts e gosto da sua visão. Entretanto, não consigo pensar em exemplos do que você sugere ser ‘barreiras de entrada’. Pensemos não em tecnologia, mas por exemplo em carrinhos de cachorro-quente (hot dog) ou paleterias mexicanas. A barreira na verdade é a barreira da sobrevivência mesmo – o penúltimo pode ter uma vantagem sobre o primeiro, mas é o primeiro que terá o maior público, em tese…
    Você teria outro(s) exemplo(s)?

    Abraço!

    1. Oi, Mariana,

      Quando me refiro à “sem barreira de entrada”, quero dizer que, apesar de disruptivos, os modelos de negócio de Uber e Airbnb podem ser facilmente copiados (e já o são) por diversos outros players.

      Obviamente que não defendo barreiras de entrada, apenas faço no texto uma análise de que qualquer tecnologia pode ser facilmente copiada e que, sem um diferencial difícil de ser reproduzido é apenas questão de tempo para ser diluída a vantagem competitiva do “first mover”.

      Entendo que a chamada deste post, feita pelo Panrotas, pode levar à falsa impressão de que eu defendo barreiras de entrada…

      Nananinanão, de jeito nenhum, não é o que está no texto, nem é o que acredito.

      Barreiras de entrada são, por exemplo, os códigos-fonte proprietários (não abertos) de softwares bem sucedidos, que dificultam que um determinado sistema seja imediatamente copiado. Exemplo: Windows, MS Office, iOS, Corel Draw, SAP, Oracle e muitos outros. São sistemas que podem ser copiados em suas funcionaliddaes, mas jamais serão exatamente reproduzidos, a não ser que seja retirada esta barreira, ou seja, seus códigos-fonte sejam abertos.

      Também têm barreiras de entrada as tecnologias muito distribuídas e muito consolidadas nas mãos de poucos players, que se transformam em “hubs” para os usuários que desejam utilizá-las. Exemplos clássicos são o Google, o Facebook e o Youtube e, em nosso mercado de turismo, os GDSs.

      Não consigo exemplos de barreiras de entrada para negócios tradicionais, como pequeno ou grande comércio, a não ser aquelas vinculadas a “branding”, onde uma franquia bem sucedida pode criar uma dificuldade extra para quem deseja competir naquele mercado. Exemplos são O Boticário, Natura e, em nosso mercado, a CVC e a Flytour, como apresentado no Forum Panrotas 2017.

      Obrigado por ler e comentar.

      []’s

      Luís Vabo

  2. Querido Luís

    Leio sempre seus posts e gosto da sua visão. Entretanto, não consigo pensar em exemplos do que você sugere ser ‘barreiras de entrada’. Pensemos não em tecnologia, mas por exemplo em carrinhos de cachorro-quente (hot dog) ou paleterias mexicanas. A barreira na verdade é a barreira da sobrevivência mesmo – o penúltimo pode ter uma vantagem sobre o primeiro, mas é o primeiro que terá o maior público, em tese…
    Você teria outro(s) exemplo(s)?

    Abraço!

  3. Querido Luís

    Leio sempre seus posts e gosto da sua visão. Entretanto, não consigo pensar em exemplos do que você sugere ser ‘barreiras de entrada’. Pensemos não em tecnologia, mas por exemplo em carrinhos de cachorro-quente (hot dog) ou paleterias mexicanas. A barreira na verdade é a barreira da sobrevivência mesmo – o penúltimo pode ter uma vantagem sobre o primeiro, mas é o primeiro que terá o maior público, em tese…
    Você teria outro(s) exemplo(s)?

    Abraço!

    1. Oi, Mariana,

      Quando me refiro à “sem barreira de entrada”, quero dizer que, apesar de disruptivos, os modelos de negócio de Uber e Airbnb podem ser facilmente copiados (e já o são) por diversos outros players.

      Obviamente que não defendo barreiras de entrada, apenas faço no texto uma análise de que qualquer tecnologia pode ser facilmente copiada e que, sem um diferencial difícil de ser reproduzido é apenas questão de tempo para ser diluída a vantagem competitiva do “first mover”.

      Entendo que a chamada deste post, feita pelo Panrotas, pode levar à falsa impressão de que eu defendo barreiras de entrada…

      Nananinanão, de jeito nenhum, não é o que está no texto, nem é o que acredito.

      Barreiras de entrada são, por exemplo, os códigos-fonte proprietários (não abertos) de softwares bem sucedidos, que dificultam que um determinado sistema seja imediatamente copiado. Exemplo: Windows, MS Office, iOS, Corel Draw, SAP, Oracle e muitos outros. São sistemas que podem ser copiados em suas funcionaliddaes, mas jamais serão exatamente reproduzidos, a não ser que seja retirada esta barreira, ou seja, seus códigos-fonte sejam abertos.

      Também têm barreiras de entrada as tecnologias muito distribuídas e muito consolidadas nas mãos de poucos players, que se transformam em “hubs” para os usuários que desejam utilizá-las. Exemplos clássicos são o Google, o Facebook e o Youtube e, em nosso mercado de turismo, os GDSs.

      Não consigo exemplos de barreiras de entrada para negócios tradicionais, como pequeno ou grande comércio, a não ser aquelas vinculadas a “branding”, onde uma franquia bem sucedida pode criar uma dificuldade extra para quem deseja competir naquele mercado. Exemplos são O Boticário, Natura e, em nosso mercado, a CVC e a Flytour, como apresentado no Forum Panrotas 2017.

      Obrigado por ler e comentar.

      []’s

      Luís Vabo

  4. Luís, não é a primeira vez que comento em seu blog e sabe do meu apreço por você e suas ideias.
    Mas dessa vez estranhei o post.
    Defensores de livre mercado não costumam defender barreiras de entrada artificiais. Quando existirem, que sejam naturais. As artificiais inibem a inovação e a competitividade. Se há muitas empresas semelhantes, que sobreviva(m) a(s) melhor adaptada(s).
    E unicórnio, no universo dos novos negócios, é como são chamadas as startups de qualquer ramo avaliadas acima de US$ 1 bilhão. Apenas isso.

    1. Grande Adriano,

      Obrigado por estranhar o post, prova que você já conhece bem o autor.

      Conforme comentei com a Mariana Aldrigui sobre isso, obviamente que não defendo barreiras de entrada, apenas faço no texto uma análise de que qualquer tecnologia pode ser facilmente copiada e que, sem um diferencial difícil de ser reproduzido é apenas questão de tempo para ser diluída a vantagem competitiva do “first mover”.

      Entendo que a chamada deste post, feita pelo Panrotas, pode levar à falsa impressão de que eu defendo barreiras de entrada…

      Nananinanão, de jeito nenhum, não é o que está no texto, nem é o que acredito.

      Defendo a livre iniciativa e a livre concorrência, ampla, geral e irrestrita, como já divulguei diversas vezes por aqui e por aí.

      Vabo Junior me zapeou de Boston o mesmo questionamento a respeito do conceito de “unicórnios”, cuja definição naturalmente eu já conhecia.

      Fiz mesmo uma analogia do conceito com a forma como se encaram as “novidades” tecnológicas no Brasil, sempre com exagero, com quase paixão, em especial quando originadas no exterior.

      Tem muito unicórnio que nem “unicórnio” chega a ser…

      Grande abraço,

      []’s

      Luís Vabo

  5. Luís, não é a primeira vez que comento em seu blog e sabe do meu apreço por você e suas ideias.
    Mas dessa vez estranhei o post.
    Defensores de livre mercado não costumam defender barreiras de entrada artificiais. Quando existirem, que sejam naturais. As artificiais inibem a inovação e a competitividade. Se há muitas empresas semelhantes, que sobreviva(m) a(s) melhor adaptada(s).
    E unicórnio, no universo dos novos negócios, é como são chamadas as startups de qualquer ramo avaliadas acima de US$ 1 bilhão. Apenas isso.

    1. Grande Adriano,

      Obrigado por estranhar o post, prova que você já conhece bem o autor.

      Conforme comentei com a Mariana Aldrigui sobre isso, obviamente que não defendo barreiras de entrada, apenas faço no texto uma análise de que qualquer tecnologia pode ser facilmente copiada e que, sem um diferencial difícil de ser reproduzido é apenas questão de tempo para ser diluída a vantagem competitiva do “first mover”.

      Entendo que a chamada deste post, feita pelo Panrotas, pode levar à falsa impressão de que eu defendo barreiras de entrada…

      Nananinanão, de jeito nenhum, não é o que está no texto, nem é o que acredito.

      Defendo a livre iniciativa e a livre concorrência, ampla, geral e irrestrita, como já divulguei diversas vezes por aqui e por aí.

      Vabo Junior me zapeou de Boston o mesmo questionamento a respeito do conceito de “unicórnios”, cuja definição naturalmente eu já conhecia.

      Fiz mesmo uma analogia do conceito com a forma como se encaram as “novidades” tecnológicas no Brasil, sempre com exagero, com quase paixão, em especial quando originadas no exterior.

      Tem muito unicórnio que nem “unicórnio” chega a ser…

      Grande abraço,

      []’s

      Luís Vabo

  6. Luís, não é a primeira vez que comento em seu blog e sabe do meu apreço por você e suas ideias.
    Mas dessa vez estranhei o post.
    Defensores de livre mercado não costumam defender barreiras de entrada artificiais. Quando existirem, que sejam naturais. As artificiais inibem a inovação e a competitividade. Se há muitas empresas semelhantes, que sobreviva(m) a(s) melhor adaptada(s).
    E unicórnio, no universo dos novos negócios, é como são chamadas as startups de qualquer ramo avaliadas acima de US$ 1 bilhão. Apenas isso.

    1. Grande Adriano,

      Obrigado por estranhar o post, prova que você já conhece bem o autor.

      Conforme comentei com a Mariana Aldrigui sobre isso, obviamente que não defendo barreiras de entrada, apenas faço no texto uma análise de que qualquer tecnologia pode ser facilmente copiada e que, sem um diferencial difícil de ser reproduzido é apenas questão de tempo para ser diluída a vantagem competitiva do “first mover”.

      Entendo que a chamada deste post, feita pelo Panrotas, pode levar à falsa impressão de que eu defendo barreiras de entrada…

      Nananinanão, de jeito nenhum, não é o que está no texto, nem é o que acredito.

      Defendo a livre iniciativa e a livre concorrência, ampla, geral e irrestrita, como já divulguei diversas vezes por aqui e por aí.

      Vabo Junior me zapeou de Boston o mesmo questionamento a respeito do conceito de “unicórnios”, cuja definição naturalmente eu já conhecia.

      Fiz mesmo uma analogia do conceito com a forma como se encaram as “novidades” tecnológicas no Brasil, sempre com exagero, com quase paixão, em especial quando originadas no exterior.

      Tem muito unicórnio que nem “unicórnio” chega a ser…

      Grande abraço,

      []’s

      Luís Vabo

  7. Ótimo texto! Se posso fazer uma consideração adicional, seria em relação a outros ativos complementares – e.g, marketing, canais de distribuição, pos-venda, etc. – que contribuem para o sucesso de uma empresa inovadora mesmo num ambiente concorrencial com poucas ou nenhuma barreira de entrada. Hoje tem vários “UBER”, varios “AirBnB”…mas eles continuam vivos e bem na fita 🙂

  8. Ótimo texto! Se posso fazer uma consideração adicional, seria em relação a outros ativos complementares – e.g, marketing, canais de distribuição, pos-venda, etc. – que contribuem para o sucesso de uma empresa inovadora mesmo num ambiente concorrencial com poucas ou nenhuma barreira de entrada. Hoje tem vários “UBER”, varios “AirBnB”…mas eles continuam vivos e bem na fita 🙂

  9. Ótimo texto! Se posso fazer uma consideração adicional, seria em relação a outros ativos complementares – e.g, marketing, canais de distribuição, pos-venda, etc. – que contribuem para o sucesso de uma empresa inovadora mesmo num ambiente concorrencial com poucas ou nenhuma barreira de entrada. Hoje tem vários “UBER”, varios “AirBnB”…mas eles continuam vivos e bem na fita 🙂

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