repensando a relação com wholesalers

Você já se perguntou:

  • Por que minhas tarifas aparecem em uma OTA com a qual não colaborei?
  • Como meus aptos. são distribuídos com tarifas que eu nem tenho no tarifário?
  • Por que as tarifas exibidas no Trivago são muito mais baixas que as taxas do meu site?

Então esse assunto é de seu interesse sim! Talvez você não saiba, mas os wholesalers / atacadistas estão no centro de um dos maiores desafios da distribuição hoje.

O que é um Wholesaler?

Um atacadista (wholesaler) é um intermediário entre um fornecedor de viagens (hotel) e uma OTA (agência de viagens). Ele consegue noites em hotéis ‘a granel’, as empacota, negocia tarifas, e depois revende para OTAs e agentes de viagens.

Principais Wholesalers que atuam no mercado americano. Você vai identificar alguns!

Como funciona?

  1. O hotel fornece uma tarifa líquida (NET) com MUITO desconto ao atacadista. Por sua vez, ele garante o custos dos quartos, sejam eles revendidos ou não.
  2. O atacadista aplica um markup na tarifa NET oferecida pelo hotel e as revende para OTAs. Essas, por sua vez, adicionam seu percentual.
  3. Os hóspedes, então, reservam o mesmo quarto de hotel a preços diferentes, dependendo da margem escolhida pelas OTAs ou operadores turísticos. Os clientes pagam diretamente ao OTA.

Qual a vantagem de vender por Wholesalers?

Levar seu hotel para uma ampla gama de mercados que, sozinho, não consegue alcançar diretamente. Também maximizar a ocupação, sendo particularmente útil em propriedades com grande inventário.

Qual a desvantagem de vender por Wholesalers?

  1. Falta de controle – Quando as taxas aparecem on-line, geralmente é muito difícil saber qual atacadista especificamente está fornecendo esse inventário.
  2. Disparidade Tarifária – Como hoteleiro, você negocia uma tarifa líquida com o atacadista, mas não tem controle sobre o preço final exibido ao viajante devido às longas cadeias de suprimentos. Isso quebra a paridade da tarifa e prejudica a ‘Garantia de Melhor Tarifa’ do site do hotel (venda direta).

Porque cuidar da paridade é tão importante?

Estudo Traveclick dos critérios mais importantes para o cliente que compra online.
Por isso a premissa: NUNCA a tarifa do seu site deve estar mais alta que um intermediário online.
Como aparece a tarifa do seu site nos Metasearches. Correto é ‘BEAT, onde a reserva feita diretamente com o hotel é SEMPRE mais barata. Afinal, é seu canal com menor custo também.
Estudo OTA Insight sobre a Disparidade Tarifária nos Hotéis de Rede. Suas tarifas ‘diretas; ficam mais altas que os intermediários 24% das vezes.
No mesmo estudo da OTA Insight, os Hotéis Independentes tem índice de 48% tarifas do seu site mais altas que os intermediários, o que os faz perder a venda direta.

Muitos hoteleiros ainda não estão preparados para assumir preços dinâmicos para atacadistas. Existe uma mentalidade tradicional que domina alguns mercados, e isso precisa mudar, mas o gerenciamento de receita (RM) sozinho não pode mudá-la. Gerentes Gerais e até proprietários precisam começar a entender sobre o Futuro da Distribuição.

Táticas da ‘velha escola’ ainda em jogo estão prejudicando as estratégias de Revenue Management.


Então como se relacionar com Wholesalers de uma forma saudável?

  1. Trabalhe com atacadistas cuja filosofia corresponde à sua. Para garantir parcerias bem-sucedidas e produtivas, você deve trabalhar com atacadistas que tenham o mesmo ideal ético. Se ao invés de cuidar das pessoas e aprimorar as experiências dos hóspedes, o intermediário se vende por uma margem mínima apenas para garantir uma venda, não é o parceiro ideal. No final do dia, cabe a você decidir se deseja manter sua parceria com esses distribuidores.
  2. Decidir com base em dados quantitativos quantos negócios esse atacadista realmente traz para você dos mercados em que você não consegue alcançar. Se você estiver em uma posição de penetrar nesse mercado por conta própria ou entrar em contato diretamente com as OTAs locais, poderá facilmente cancelar o acordo com esse atacadista. Você também deve avaliar um ROI real em relação ao dinheiro e ao tempo gasto lidando com violações de contrato enquanto toma decisões sobre as parcerias atuais.
  3.  Mover os acordos com atacadistas para tarifas dinâmicas. Os hoteleiros precisam ser firmes a fim de reduzir as disparidades e se colocar de volta no controle. Portanto, você deve consolidar sua lista de atacadistas assinando contratos apenas com aqueles que concordam com sua estratégia de preços. Mover suas estruturas de taxas para um ambiente dinâmico, onde os preços variam com base na oferta e na demanda, diminuirá a possibilidade de uma tarifa expirada e fora de paridade flutuando sem controle pela internet.
  4. Considere ferramentas e suporte para monitoramento de paridade de tarifas. As ferramentas de monitoramento de paridade de preço ajudam a capturar infratores de vazamento em tempo real, a fim de ajudá-lo a lidar com disparidades de taxas e a redesenhar sua estratégia de paridade. Ele também fornece informações sobre as tarifas de seus concorrentes em diferentes canais para que você possa agir rapidamente.

Acordar para a questão é vital, pois nossos canais diretos devem ser os que apresentam as melhores tarifas, não uma OTA desconhecida em um mecanismo de Metasearch.

Mensagem Final

Crie uma estratégia lucrativa e sustentável para todos os canais de distribuição, a fim de maximizar lucros e obter uma posição competitiva no mercado.

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OYO ROOMS, o outro lado da moeda.

‘Uma bolha que explodirá’, foi a frase de Saurabh Mukhopadhyay, para descrever sua ex empresa Oyo Rooms, onde trabalhou como gerente de operações no norte da Índia até Setembro/19.

Saurabh Mukhopadhyay, ex gerente Oyo no norte da Índia. Fonte: New York Times

“Esta é a única empresa que se tornou global nessa escala na Índia. Mas, a partir de agora, existem sérias dúvidas sobre o modelo de negócios.Satish Meena, analista sênior da empresa de pesquisa Forrester em Nova Délhi, sobre a Oyo.

Entre frases bombásticas como essa, e o silêncio do SoftBank (seu principal investidor), que não quer comentar o assunto, vale a pena analisar um pouco mais a fundo as últimas notícias da empresa que quer se tornar a maior empresa de hospitalidade do mundo até 2023. A startup unicórnio (recebe investimento de mais de USD 1 Bi), que está mais para Drogon (o dragão de Game of Thrones) está dando o que falar.

O Brasil ainda vive um caso de amor com a empresa, onde só lemos notícias positivas, e uma conversão frenética de hotéis. Entretanto, não passa uma semana sem que eu receba várias mensagens pelas redes sociais com pessoas perguntando se vale a pena trabalhar na OYO e/ou hoteleiros questionando se assinam o contrato com a marca. Ou seja, ainda existe muita falta de informação sobre o modelo de negócios e pouca referência.

Pensando nisso, em Maio/19 gravei um vídeo com Paulo Salvador, meu parceiro no canal do Youtube ‘Depois das 6’, falando como funciona a OYO Rooms. Esse vídeo (assista abaixo ou clique aqui) já tem quase 8.000 visualizações e muuuuitos comentários.

Mas são tantas as notícias recentes falando sobre o lado obscuro da empresa, depoimentos impressionantes de funcionários e proprietários, que gravamos um novo vídeo atualizando os fatos e passando algumas recomendações aos hoteleiros. Assista abaixo ou clique AQUI.

Mesmo assim, temos assunto suficiente para um artigo (ou vários). Então vamos lá…

Primeiro vale lembrar que a SoftBank, mesma investidora da WeWork, possui 46% da OYO. Como característica, ela investe fortunas, mas também cobra resultados rápidos e gigantes. Com base nisso, a grande pergunta as suas ‘apadrinhadas’ é: VOCÊ VAI CRESCER RÁPIDO OU VAI CRESCER CERTO? Imagino que você já saiba a resposta…e suas consequências.

Exemplo: WeWork demitiu 15.000 pessoas (13% da força de trabalho), parou seu IPO para compensar perda de 1,9 Bi, e demitiu seu CEO no final de 2019. Depois do fiasco do IPO fracassado, o plano de recuperação do novo CEO prevê corte de até 25% dos seus funcionários, pedido de empréstimos, e outras ações drásticas para retomar o interesse dos investidores. E adicione a isso a frase do novo gestor: ‘O que nos falta é foco e responsabilidade ‘!

Morgan Stanley diz que o IPO fracassado da WeWork marca o fim de uma era para unicórnios não rentáveis.

Deu para entender com a ‘banda toca’ no mundo das startups de crescimento rápido, certo? Então vamos a nossa amiga OYO.

É compreensível um hoteleiro de hotel super econômico ficar tentado ao ‘pacotão’ OYO de dinheiro na mão e resultado rápido. Que outra marca hoteleira oferece isso?

  • Pagam até 18% de juros caso o proprietário atrase o arrendamento.
  • Negocia com bancos.
  • Oferece o app OYO para os GGs acompanharem operação e sugestão de melhoria de desempenho.
  • Compromisso de performance garantida.
  • Adianta $$ para o hoteleiro endividado.
  • Afirma que tem retenção de 99,5% de seus clientes na Índia.
  • Garante que seus hotéis aumentaram 3 vezes a ocupação e 2,5 vezes o RevPar.

Veja um dos ‘approachs’ da marca abaixo. Só não fique se sentindo assim tão especial. ‘Estamos selecionando algum hotel em...’ na verdade significa ‘vamos converter todo mundo que aceitar nossas condições‘:

Na Índia, as principais reclamações de proprietários, e reforçados por associações/federações hoteleiras e comissões de competitividade, são:

  • Milhares de quartos são de hotéis e pousadas não licenciados.
  • Imposição de taxas extras – Argumento Oyo: ‘desacordo é sobre as multas que cobramos pela falha no atendimento ao cliente’.
  • Problemas Operacionais – Importante lembrar: seguem sendo hotéis 2 estrelas e/ou super econômicos.
  • Retenção de taxas
  • Comissões excessivas
  • Denúncias de quartos usados para prostituição.
  • Preços predatórios, com descontos beirando ao ‘dumping’ de mercado.
  • Equipe não é hoteleira e muitos sem nenhuma experiência – Argumento Oyo: ‘Nossa equipe tem menos de 1 ano na empresa e treinamento tem sido um desafio.’

Curiosidade: um hoteleiro indiano fez o representante da OYO de refém na Índia alegando que só o soltaria quando a empresa lhe pagasse o que devia.

A questão agora é que a empresa entrou nos Estados Unidos, um mercado maduro e com uma comercialização mais estratégica. E aí, meus amigos, o ‘bixo pegou’…

Reclamações dos proprietários americanos:

  • Baixa tecnologia (sistema de gerenciamento de propriedades da Oyo frequentemente não funciona ou tem pouca funcionalidade)
  • Alterações arbitrárias de contrato.
  • Tarifas muito baixas, chegando a desacelerar o crescimento no médio prazo.
  • Hotéis 2 ou 3 estrelas sendo vendidos como 4.
  • Falta de controle de preços pela unidade. Essa é uma das grandes brigas. Como o hotel não pode alterar e administrar reservas, acontecem overbookings e mau atendimento ao cliente. Só que, se o hotel tiver muitas reclamações, a OYO cobra taxas (palavra bonita para ‘multas’), e eleva a taxação do hoteleiro.

Curiosidade: Um cliente americano, afetado por um desses overbookings ano passado, criou uma página que ganhou repercussão mundial chamada ‘Como OYO arruinou meu aniversário’. Não se brinca mesmo com clientes, principalmente em um mundo online. Assista AQUI.

Os problemas da Oyo nos USA são bem similares aos da Índia. Ou seja, vale a pena sim aprender com quem já tem mais experiência com a marca.

Mas o Fundador da OYO, Ritesh Agarwal, tem resposta para tudo. Bem, quando você recebe USD 2,5 Bi de investimento, é o mínimo que deve ter, certo? Se você assistiu a palestra dele na última Phocuswright Conference (vídeo AQUI), em Nov/19, dá para ver claramente que são palavras minuciosamente pensadas para investidores. Provavelmente, na situação dele, eu e você teríamos o mesmo discurso.

Providências que ele diz estar tomando para minimizar a insatisfação dos proprietários:

  • Saída mais flexível do contrato, com período pré determinado na negociação.
  • Conexão com OTAs bem mais interativa.
  • Autorização para o hotel mexer nas suas tarifas tarifas 40% para cima ou para baixo, dando mais autonomia para o hoteleiro decidir.

Dicas para Hoteleiros Brasileiros:

  1. Respire! Não feche nada na empolgação e sem falar com pelo menos 3 proprietários que já estão com a marca a pelo menos 6 meses.
  2. Negocie os itens do contrato. Não caia na armadilha de assinar aquelas cláusulas rígidas
  3. Mantenha o controle do seu hotel. Lembre-se que você está ‘terceirizando’ sua estratégia, e ficará sem autonomia da sua comercialização.
  4. O negócio é SEU!
  5. Não existe almoço de graça!

Tenho uma proposta completa da OYO para um hotel. Destaquei 2 slides. Segue abaixo (passa para o lado):

Em resumo, existem proprietários satisfeitos, e outros nem tanto. Assim como alguns hoteleiros acham o sistema de distribuição o máximo, e outros instruem seus recepcionistas a falar para o hóspede cancelar sua reserva no aplicativo e fazer de novo no próprio check-in.

Ou seja, ainda é um negócio em ebulição. Como disse o Paulo Salvador no nosso último vídeo, é legítimo que uma empresa que cresce 1 milhão de quartos em 1 ano (hoje já tem 35 mil hotéis e 1,3 milhões de quartos), sofra as dores do crescimento como eles estão sofrendo hoje. Obs.: Ela foi avaliada em USD 5 Bi. Hyatt vale USD 8 Bi para ter uma comparação.

Provável que esse papo tenha ‘cenas de próximos capítulos’, até porque a OYO já ganhou concorrentes como a Zuzu Hospitality Solutions.

Então fique ligado e acompanhe as notícias, pois o mercado continuará caminhando…com você, sem você ou apesar de você!

Deixe seu comentário, complemento de informações (com fonte) e depoimentos sobre a marca. E não esqueça de responder: Esse é o início do fim para a Oyo ou realmente foi uma empresa criada para durar?

Fontes:

Dica: Quando ler uma notícia sobre a marca, não deixe de ler os comentários. Você vai encontrar de tudo, mas a maioria são incontáveis proprietários Oyo ao redor do mundo sem o filtro do ‘politicamente correto’.

Cuidado: tivemos dezenas de pessoas colocando seus ‘códigos de desconto’ da Oyo (assim como faz a Uber e outros serviços online) nos comentários (todos deletados elegantemente). E assim também vem acontecendo com muitos blogs de viagens que falam só maravilhas da marca. Se você for até o final, encontrará, muitas vezes, o ‘código de desconto’ que a Oyo deu para ele e seus leitores usarem.

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