O que os Hotéis devem aprender com as OTAs

Imagine o mundo perfeito….

Hotéis competindo abertamente uns contra os outros em um mercado aberto, e empresas como TripAdvisor e OTAs complementando as reservas nos períodos de baixa.

Mas como você sabe, o mundo atual está longe da perfeição. Hoje, OTAs, Operadoras, TripAdvisor e Google controlam as reservas de tal maneira que os hotéis quase não conseguem competir por conta própria.

Não é à toa que a hotelaria, já há algum tempo, levantou a bandeira da Venda Direta. Mas, como você também sabe, essa batalha não está sendo fácil. Ainda mais com uma indústria tão fragmentada e desunida como temos no Brasil.

Mas o foco na venda direta veio para ficar, e o resultado do evento ‘Direct Booking’, realizado semana passada em NYC deu o que falar.

Meu palestrante favorito foi Del Roos, Management Consultant da McKinsey & Company, que não poupou palavras para desafiar os hoteleiros presentes: Não adianta investir em Marketing para educar os clientes a reservar diretamente. É preciso empregar as mesmas estratégias das OTAs, começando pelo email marketing.”

Ross complementou a ideia com um cálculo surpreendente para os que ainda duvidam da força da venda direta: “Se um hotel de 150 aptos., que cobra uma tarifa média de USD 150 por noite, converter 5% de suas reservas das OTAs para seus canais diretos (site e/ou depto. de reservas), gerará USD 118 mil de lucro puro. Além disso, a mudança criará um valor adicional de USD 1,3 milhão para o hotel, e aumentará o RevPAR em 2,9%, sem conquistar nenhum cliente novo.”

E finalizou: “Os hotéis estão pagando custos elevados para a aquisição de novos hóspedes, e depois pagam mais ainda para recuperá-los. Isso não vai mudar a menos que os DONOS façam acontecer!”

Com base nisso, seguem 5 maneiras de melhorar suas reservas diretas, seguindo os passos das OTAs:

  1. Personalize os dados – Se você pergunta a um hóspede no check-in se ele já ficou no hotel, já está demonstrando o quanto não sabe nada sobre ele. As OTAs não tem acesso a experiência que a maioria dos hóspedes tiveram em seu hotel. Você sabe quando ele reservou, por onde, se a tarifa tem desconto ou não, o que ele consome do frigobar, se frequenta o spa, etc. USE isso! Recompense fidelidade com benefícios que não estão disponíveis para as OTAs.
  2. Segmente sua lista de emails – 72% dos clientes ainda preferem esse tipo de abordagem. Com a devida segmentação você consegue 14,4% a mais de abertura e 101% a mais na taxa de cliques. Quanto mais segmentado, melhor. A possibilidade de aumento nas conversões com uma boa estratégia de email marketing é de 600%.
  3. Faça com que seja fácil reservar – deixe o motor de reservas bem visível no seu site, com pouquíssimos cliques para finalizar a reserva, e fácil de navegar.
  4. Solicite a próxima reserva –  as mensagens de confirmação de uma reserva tem taxas de abertura de 60%. Aproveite esse momento para ‘vender’ a próxima reserva através de benefícios e atrativos relevantes ao cliente.
  5. A pós venda não termina nunca – após uma hospedagem, o Tripadvisor manda 13 emails, e a Expedia 16, nos próximos 30 dias. E o seu hotel?

Não precisa se tornar inconveniente. A recomendação é de pelo menos 4 emails nos próximos 30 dias:

  • Pesquisa de satisfação.
  • Resposta sobre os comentários da pesquisa com linguagem informal.
  • Um email mkt a cada 2 semanas.
  • Depois um email a cada 6 semanas.

E Ross conclui: Importante lembrar que hoteleiros não se tornam hoteleiros porque amam tecnologia. Geralmente, eles fazem isso porque ADORAM servir seus hóspedes. Tenha consciência disso, e siga o exemplo das OTAs no ambiente digital. Eles são muito superiores na gestão da sua base de dados. Assim você conseguirá aumentar o volume das suas vendas consideravelmente.”

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‘A Hotelaria está dormindo há 15 anos’

A frase é de Sébastien Bazin, CEO e Chairman da Accor Hotels desde 2013, que complementa: “Perdemos 3 ondas da Revolução Digital. E a primeira onda aconteceu 12 anos atrás com as OTAs. Achamos que elas seriam inconsequentes. Não foram. 3 ou 4 anos mais tarde, foi o Metasearch. E nós não fizemos NADA. Mais recentemente, foi a Economia Compartilhada. Agora começamos a pensar que é melhor se mexer. E é bom mesmo, pois a 4ª e a 5ª onda vão chegar.”

Chamou sua atenção? Ótimo!

Admiro quem assume riscos, e debate ‘assuntos difíceis’ de forma aberta e sem medo. Portanto, selecionei algumas das ideias desse hoteleiro ousado, e que não mede palavras.

Vale a leitura!

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  • Para ter sucesso nesse negócio você tem que ser flexível, rápido, e capaz de responder exatamente às necessidades dos clientes.
  • A indústria hoteleira é suscetível à consolidação. O movimento da Marriott ao comprar a Starwood foi muito bom.
  • Não há mais amadores nesse jogo. Os independentes estão se profissionalizando e tornando a concorrência mais difícil nas cidades.
  • O que leva à retenção de clientes é a experiência, não preço.
  • Acredito quando as OTAs dizem que querem ser amigas dos hoteleiros. Eu também quero ser amigo delas. A única limitação é o custo dessa amizade.
  • As OTAs oferecem um serviço incrível, e taxa aceitável. Mas somente para o cliente que nos compra pela primeira vez. Na segunda vez, ele não tem que comprar pelo Expedia ou Booking, mas direto comigo. Isso chama-se Retenção!
  • 95% dos hotéis na Itália são independentes, na França, 70%. E sei que eles estão sofrendo com os novos players, OTAs, TripAdvisor, pois não tem a tecnologia necessária, nem programas de retenção, ou acesso aos clientes como antigamente.
  • Tudo deve ser transparente. Sou a favor de colocar o banner do TripAdvisor no site do hotel.
  • Sobre vendas diretasVamos encarar a verdade sobre vendas diretas: 80% do tráfego online estão nas mãos das OTAs, e 80% das recomendações está nas mãos do TripAdvisor. Muitos outros podem chegar, mas 20% vão sobreviver. Os outros 80% serão comprados pelos grandes, como aconteceu com Kayak e Trivago.
  • Sobre abrir sua plataforma de distribuição para hotéis independentesVou investir no meu portal, e não quero ser uma OTA. Eles não deixarão de usar as OTAs, somente irão agregar outra opção.
  • Sobre as OTAsElas fazem coisas, e nós fazemos coisas. Nós batalhamos pelo mesmo cliente. E está tudo bem! Todos somos profissionais. A Accor não será uma espectadora da sua própria vida.
  • O Airbnb está tirando alguns dos nossos clientes, aqueles sensíveis a preço. Para mim, alguém inteligente criou algo que está funcionando. Não é uma batalha. O Airbnb continuará a crescer, e nós também.
  • Sobre o Google entrar na venda de viagens – O Google ganha USD 2 bilhões do Expedia e Booking. Para entrar em viagens, eles tem que fazer valer. Se não render 4 à 5 bilhões, não valerá a pena. Tenho certeza que eles tem tudo para fazer bem feito, mas sabem que vão destruir outros negócios, e terão imenso impacto nos seus 2 maiores clientes.
  • O hoteleiro precisa ter uma boa leitura do que está acontecendo ao seu redor, que os clientes terão mais e melhor informação.
  • Se você continuar nos padrões normais, ser dogmático, vai perder clientes. É por isso que você tem a obrigação de ser ousado!
  • Todos que se continuarem cegos e surdos viverão momentos difíceis pela frente.
  • Por tudo isso, eu venho dizendo o tempo todo para os meu colegas hoteleiros: ‘ACORDEM!’
  • ‘Todos nós. Estamos dormindo nos últimos 15 anos. Eu venho dizendo isso publicamente, e gritado aos meus pares.’

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Esse é o outro lado do executivo, que não hesitou em pular de terno na reinauguração daPiscina Molitor, em 2014 em Paris.

Mensagem final de Bazin:

Sou um crente que tudo o que está acontecendo no mundo nos últimos cinco anos é uma grande oportunidade e não uma ameaça, se você jogar direito. Alguns de nós vão jogar direito, e outros vão falhar miseravelmente. É preciso se manter em movimento.

Eu não falei que valeria a pena a leitura?

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