Para convencer (ou eu deveria escrever coagir) o mais recalcitrantes, o Chefe de Estado francês anunciou a obrigatoriedade de tomar a vacina para todos os cuidadores, enfermeiros, médicos e outras 73 profissões, além da obrigação de apresentação do passe sanitário para o público em geral em cafés, restaurantes, shopping centres, locais culturais e transportes.
Ou seja, a vacina passa a ser obrigatória para todos aqueles que pretendem viver em sociedade. Os enfermeiros e médicos, aplaudidos e homenageados um ano atrás, hoje correm o risco de perder seus empregos caso não sigam as novas regras.
Para aqueles, que como eu, já viram epidemias serem erradicadas com vacina e ou ainda que tomaram a vacina de febre amarela para ir ao Brasil, por exemplo, as novas regras impostas pelo governo de Emmanuel Macron não parecem uma grande novidade, muito menos uma razão para preocupação. Especialmente porque já estou vacinada contra a Covid-19.
Mas o francês tem pouco em comum com o ser vacinado e “terceiro mundista” que descrevi acima.
Atualmente somente 53% dos franceses foram vacinados. Vale ressaltar que a França é o único país europeu que ofereceu até o momento testes PCR gratuitos e sem restrições, então em caso de dúvida, basta ir numa farmácia e realizar um teste.
Desde o início da vacinação, há ampla disponibilidade nos centros criados com esse intuito. Então, o que impede um francês de se vacinar?
A desconfiança!
Alguns desconfiam do governo de Emmanuel Macron e tomam uma decisão mais política que sanitária.
Outros desconfiam da indústria farmacêutica. E eis o tema que a mídia parece querer calar.
Sim, a insistência da mídia em tornar diabólico qualquer questionamento torna a situação extremamente duvidosa aos olhos dos franceses. Não há discussão! Os que questionam são taxados de “complotistas” e até membros da “facho esfera”.
Porém, se você for comprar uma torradeira e o vendedor disser que existe uma possibilidade, ainda que mínima, de que a torradeira meta fogo em sua casa e mate alguém, mas que nem ele (o vendedor), nem o fabricante assumem quaisquer responsabilidades sobre isso, você compraria essa torradeira?
Tudo depende de onde você se encontra: Para alguns, essa “torradeira” ainda que um pouco perigosa, vai permitir a muitos retomarem ao trabalho e não morrerem de fome. Ai neste caso, vale mais o risco mínimo oferecido pela torradeira do que a morte de fome (ou de doença), a equação me parece óbvia.
Mas nem todos se encontram nessa posição.
Mesmo a equação sendo óbvia, o questionamento sobre a responsabilidade das indústrias farmacêuticas é válido, e muito! Afinal se você fizesse parte da ínfima proporção de pessoas que tiveram ou terão um revertério grave ou até mesmo fatal, você também gostaria de ser levado em conta.
O questionamento (sobre a responsabilidade da indústria farmacêutica) também é importante porque desmistificaria a questão: afinal, até paracetamol, colágenio ou mesmo cafeína podem causar problemas de saúde indesejáveis. E isso deveria estar sendo explicado.
Quando você compra Paracetamol você lê a bula (será?) e decide se o risco que o medicamento representa para seu fígado merece ou não ser levado em conta. Você descobre que não deve tomar caso use um medicamento anticoagulante e não toma. Enfim: você decide!
Agora, obrigar alguém a tomar um medicamento e não assumir nenhuma responsabilidade em caso de contraindicação e ficar nesse desespero para reiterar que não há correlação entre alguém que morreu após receber a vacina e a própria vacina sem maiores explicações tem deixado os franceses tensos. Muitos se questionam…
A meu ver, comunicar, desmistificar e sobretudo, forçar o fabricante a assumir responsabilidades em caso de reações debilitantes seriam medidas sensatas e apropriadas. O indivíduo francês não é burro, mas é desconfiado. A indústria farmacêutica não está fazendo favor para ninguém.
Com a obrigatoriedade do passaporte sanitário generalizada a partir de agosto, membros da oposição política se apressaram para denunciar o fim da liberdade individual na França!
Os anúncios das reformas sociais como a aposentadoria e o seguro desemprego feitos também por Emmanuel Macron não ajudaram a população a relaxar e se sentir confiante, mas a (até então inimaginável) proibição de ir a cafés, restaurantes e transportes levaram imediatamente mais de 900 000 pessoas a recorrer ao site de reservas Doctolib para agendar a tomada da vacina durante mesmo a elocução presidencial.
Apesar dos argumentos por parte dos mais refratários, o governo francês decidiu que a hora não está para questionamentos e sim decisões. O brasileiro já entendeu! E o francês que quiser viver em sociedade vai ser vacinado e vai ter um passe sanitário em dia, compreendendo ou não.
Notas:
O passaporte sanitário pode ser apresentado com comprovante de vacina ou teste PCR negativo. Os testes PCR sem prescrição médica, ditos testes de complacência, passarão a ser pagantes.
Link para site da vigilância sanitária UE sobre medicamentos, incluindo vacinas anti-Covid 19
A algo muito sério em jogo o DIREITO a liberdade de escolha, inclusive de negar-se a anuir com experimento em massa com substâncias que são experimentais! Isso no aspecto jurídico fere vários tratados internacionais da bioética da medicina experimental. O cidadão não pode ser coagido por ordem legal a oferecer seu corpo saudável para lhe ser injetado drogas sem qualquer comprovação de eficácia científica de nível 1…As fabricantes querem se isentar da responsabilidade civil e criminal por produzir algo que pode ser nocivo a saúde e a vida humana. Não se pode comparar ao paracetamol que inclusive é proibido em alguns países…Se ler só os 10 artigos do Código de Nuremberg verá que essas vacinas são um crime contra a humanidade pós nazismo em curso.
SOU ADVOGADA E VOU SEMPRE DEFENDER A LIBERDADE DE ESCOLHA.
Oi Marilene.
Obrigada por deixar seu recado. Apesar de vacinada estou 200% de acordo com você e com os manifestantes.
Pensei que iamos ter um monte de gente reagindo mal aos franceses que se recusam a obrigatoriedade. Você me consola. A tragedia foi grande, mas perder a liberdade de escolha é demais!
Considero uma insanidade monumental a postura do “governo” francês. Também considero que, de tão grande este absurdo, é muito provável que o “governo” francês tenha consciência do que está a exigir de seu povo. Então, me permito concluir que existe algo mais em jogo. O objetivo, me parece, não é a saúde publica. Uma medida desta envergadura tem potencial para desaguar em consequências extremamente preocupantes, socialmente desastrosas.
Oi Rui,
Obrigada por seguir o blog e deixar seu comentário.
Acho que o governo estava com doses chegando a data de validade e precisou aumentar a pressão. De fato, a medida pode causar frustrações para a população em geral e perdas financeiras para comércios, salas de cinema, esporte…
Veremos nos próximos dias se a insatisfação nas ruas aumenta e como reagirá o povo francês.
Mesmo porque não há doses para todos franceses, sendo assim a discriminação é ocasionada pelo estado e não necessariamente por escolha própria do cidadão não vacinado. A situação é bastante complexa e vai seguir evoluindo, seja com sanções menos drásticas por parte do governo ou reações anti passe sanitário pelos cidadãos.