Paris de bicicletas

Todo editor de turismo sabe que publicar uma revista de viagem sobre Paris vende bem. E vende ainda mais se é veiculado com que o leitor deseja lêr. Paris para pão-duro, Paris baratinho, Paris a pé…

Outra coisa que chama a atenção dos leitores são os passeios alternativos, no topo da lista Paris de bicicletas.

Por mais que eu entenda a vontade de aventura durante uma viagem eu só consigo explicar este anseio em passear de bicicleta por aqui pelo desconhecimento da cidade e a propagação de um mito. Como assim? E Velib? Paris uma cidade pequena e plana, por que não a bicicleta? Será que estou falando besteira? Antes de perder toda credibilidade vou me explicar.

Adoro andar de bicicleta. Comecei a andar de bicicleta aos 19 anos e desde então optei por este meio de transporte em minha vida, pude inclusive exercê-lo sem restrições durante 20 anos passados no Canadá. Vindo à Paris trouxe minha querida bicicleta. Nestes dez anos passados aqui vi um esforço enorme por parte da administração para tornar esta cidade um lugar adequado para bicicletas. Velibs para todos os lados, interdições e pedras nos sapatos das mais diversas para os veículos motorizados. Porém constato tristemente que não é por que a cidade tem pistas pintadas no asfalto de suas ruas que se tornou uma cidade segura para os ciclistas.

As ruas continuam sendo as ruas de Paris, uma cidade com uma população de 2 243 860 habitantes e uma superfície de 105,40 km², ou seja, [21 289 habitantes por km², além dos turistas e o número de carros acima do que a cidade pode suportar. A Grande Paris tem 10 460 118 habitantes. Foi-se o tempo onde as grandes avenidas do Barão de Haussman comportavam alegremente as carroças e primeiros carros do final do século XIX. Isso sem falar nas ruas mais antigas que escaparam às reformas do barão como no Marais, no centro do Quartier Latin ou Montorgueil, no bairro dois.

Barão de Haussman foi prefeito durante o Segundo Império, período de Napoleão III, e a partir da segunda metade do século XIX foi responsável pela transformação de Paris de cidade medieval em cidade neoclássica, acabando com a insalubridade geral e mudando o aspecto decrépito da cidade. Os “novos” eixos que amputaram a antiga paisagem ligando grandes monumentos, elaborados por Haussman para acolher imensas tropas imperiais e sua cavalaria, aguardam avidamente bicicletas, certo! Porém recebem ainda hoje veículos motorizados em demasia. Se dentro da cidade de Paris somente 330 famílias sobre cada 1000 têm um carro, na Ilha de France, a tendência é inversa. O pequeno estado composto pelas cidades periféricas a Paris, onde vivem os Franciliens, e a cidade de Paris conjuntamente dispõem de 4,9 milhões de veículos que realizam 15,5 milhões de trajetos ao dia, sendo muitos deles dentro da cidade luz.

Vira e mexe vejo turistas em bicicleta na Rua Rivoli ou na Via Georges Pompidou e penso no perigo. Por que as pessoas querem fazer no exterior coisas que jamais fariam no Brasil, como andar de bicicleta no meio do trânsito?

A melhor relação custo-benefício para se conhecer rapidamente e bem Paris é lendo Próxima Estação, Paris: Uma Viagem Histórica Pelas Estações do Metrô Parisiense de Lorant Deutsch, esta maneira tem a vantagem de ser realmente muito boa e também barata: 31,41 reais nas lojas Americanas. Eu recomendo.

Para aqueles que não querem se dar ao trabalho de ler e gastam para vir até aqui aconselho um tour guiado, uma boa maneira de ver Paris além dos “clichês fotográficos monumentais”. Como fui guia e, além disso, dirijo atualmente um receptivo, confesso que sou suspeita para sugerir. No entanto visitas guiadas por alguns colegas formados em Paris me fizeram viajar através de séculos de história e me apaixonar ainda mais pela cidade. Até mesmo bons comentários de áudio-guias como dos barcos da companhia Bateaux Parisiens ou dos ônibus turísticos nos dão uma boa idéia das camadas de história impregnadas no cenário à volta.

A última sugestão e seguramente a mais barata é caminhar livremente e descobrir Paris sem pressa. Uma vez que você se familiarizou com os 105, 40 km², com o Rio Sena e algumas de suas 37 pontes, poderá deslocar-se a pé facilmente, tirar fotos, fazer muitas compras inesperadas, conhecer parques, admirar suas esculturas, visitar museus, parar para tomar um café, um sorvete, comer pães e doces… E, sobretudo não estressar com o trânsito.

Para aqueles que depois de ler este texto, ainda sonham com o passeio de bicicleta em Paris ficam algumas informações:

Saiba que no trânsito aqui a prioridade é de quem vem da direita. Sim, de quem vêm de fora.

Dê preferência aos fins de semana para andar de bicicletas. Durante a semana, saia bem cedo, por volta das seis da manhã, você tem mais de duas antes que o trânsito fique intenso, assim como a poluição. As igrejas estão abrindo, aproveite.

Senão ligar para a poluição do ar vá à noite, depois das 22h, Paris está sempre linda iluminada. Vestindo jaqueta de segurança ou roupa bem visível. Nada de preto!

Venha no mês de agosto, devido às férias escolares, o trânsito da cidade é bem calmo.

O Bairro 75002, chamado Montorgueil, entre o Marais e a Opera é completamente pedestre aos domingos. Ótimo para ciclistas.

O Bairro do Marais também é pedestre aos domingos, mas tem muita gente andando no meio das ruas, ao contrário do Bairro Montorgueuil.

Você precisa de um cartão de crédito com ship para usar um Velib. Uma garantia de 150€ ficará bloqueada até a restituição da bicicleta. Tenha certeza que o sistema registrou que você devolveu a bicicleta.Há nas redes algumas reclamações de internautas sobre falhas e cobranças indevidas.

Há também visitas guiadas de bicicletas com horários e percursos estipulados pelos organizadores. Embora não haja serviço e explicações em português, a companhia de um grupo oferece mais segurança.

Para aluguel de bicicletas conheça a Associação Animation Insertion & Culture à Velo. A retirada de bicicletas se faz aos domingos, pode ser por algumas horas ou vários dias. Os preços são muito bons e as bicicletas estão bom estado: http://www.aicv.net/blog/

E para terminar, se não costuma andar de bicicleta no Brasil, cuidado em dobro com o ponto cego dos carros, caminhões e ônibus, sobretudo nos faróis.

*Dados

Insee  Institute National de La Statistique et des Études Économiques e

Direction Régionale et Interdépartementale de l’Équipements et l’Aménagement

Tradição ou programa para turista?

Há algum tempo, na frente de um cabaré, uma família de brasileiros discutia se o espetáculo poderia ser impróprio para os adolescentes daquele grupo. Intrigada com a cena, e desejando evitar qualquer mal-entendido, eu fui procurar o significado da palavra cabaré: “um lugar onde se pode comer ou beber assistindo a um espetáculo artístico”.

Ainda hoje, no Brasil, muitos confundem um cabaré com um bordel. A palavra cabaret significa bandeja, peça de mobiliário muito em voga no séc. XVIII. O restaurante-sala de espetáculos denominado cabaret aparece na Belle Époque

Final do século XIX, Paris é a capital da diversão e da cultura. O primeiro café-concerto a abrir suas portas, em 1881, foi o Le Chat Noir, inovando com seu jornal literário e as primeiras “jam sessions” conhecidas da história.

Tournée du Chat Noir de Rodolphe Salis
Placa do Tournée du Chat Noir, o bar de Rodolphe Salis

O ano de 1889 marca o centenário da Revolução Francesa, com a Exposição Universal de Paris. A capital, então idealizada como o “centro do mundo”, se prepara para acolher a nata da sociedade internacional, assim como visitantes de toda França. Dois novos cabarés abrem suas portas: “Le Moulin Rouge”, localizado no bairro que viria a ser o centro da boêmia alguns anos depois,  Montmartre, e “Le Paradis Latin”, situado na margem esquerda do Sena, que desfrutando das reformas para a Exposição Universal, foi restaurado pelo prestigioso Gustave Eiffel.

 

 

Paradis Latin, Paris
French Can Can no autêntico Paradis Latin
Paradis Latin acrobate
Christopher o trapezista do Paradis Latin

 

Angelo o equilibrista do Paradis Latin e seu monociclo
Angelo o equilibrista do Paradis Latin e seu monociclo

Nestes lugares de diversão e encontros, as barreiras sociais se dissipavam momentaneamente, com festas que agrupavam artistas, intelectuais, prostitutas e burgueses debaixo do mesmo teto.

Após a primeira Guerra Mundial, em 1936, o “Lido” abre as portas com um conceito de clube privado e, em 1941, inaugura uma nova fase aonde o cabaré se aproxima do teatro de revista caracterizado por uma espécie de “diversão-glamour”, com dança e beleza para que os frequentadores esquecessem as tristezas da guerra.

Le Lido de Paris
Patinadores no Lido de Paris
Lido de Paris
Pierre Marchand e seu diabolo no Lido de Paris
Bailarinas do Lido de Paris
Bailarinas ou Bluebell Girls do Lido de Paris

Já em 1951, após a 2ª Guerra Mundial, o “Crazy Horse” é criado misturando o conceito de diversão-glamour e strip-tease “à lá americana”. Mais erotismo em cena, porém com luxo e classe.

Crazy horse paris
Crazy Horse Paris

E para quem ainda pensa que isso é coisa de turista, saiba que além dos grandes cabarés acima, vários outros, menos internacionais e bem menores, recebem quotidianamente uma clientela exclusivamente parisiense como La Nouvelle Ève, Le Lapin Agile, La Nouvelle Époque, Le Cesar Palace. Comer e divertir-se apreciando o trabalho de  seus artistas é uma tradição francesa.

Atualização do programa com Mugler Folies

É preciso muita ousadia para lançar um novo cabaré na cidade-berço dos mais tradicionais cabarés do mundo. Paris já era a cidade dos cabarés antes do criador de moda Manfred Thierry MUGLER se lançar neste negócio, porém agora, a variada oferta ficou ainda mais completa.

Embora originalíssima, a proposta do espetáculo respeita as exigências de um verdadeiro show de cabaré. Vinte atores demonstram seus variados talentos a uma plateia que acaba de jantar ou que escolheu somente ficar bebericando champanhe. Uma das inovações consiste em os números artísticos estarem amparados por cenários compostos quase que unicamente por projeções, jogos de luzes fantásticos, modernos e high-tech.

Na capital Paris, a moda e a beleza feminina são temas comuns nos cabarés e, como não poderia deixar de ser, Thierry MUGLER criou trajes futuristas, delirantes e sensuais para tratar estes temas, modernizando a linguagem deste universo. Não é sabido se o show está de passagem ou se chegou para ficar. Acredito que Thierry MUGLER vai ver se a sua nova moda MUGLER FOLIES pega ou não.

Paris Mugler Folies
Mugler Folies
Mugler Folies
Mugler Folies

Uma brisa de alegria sobre a cidade de Paris

Os termômetros estão subindo e no hemisfério norte este momento tem um significado muito especial para todos: é hora de tirar o mofo, a alegria está no ar. E Paris não escapa da febre, ao contrário, borbulha como champanhe e comemora a chegada do sol “à lá parisiense”.

Além do ambiente festivo nas ruas e bistrôs, algumas exposições desvendam o melhor de Paris com um frescor quase primaveril. Em quatro dos 136 museus da cidade a beleza estética, o amor ao moderno e o otimismo da virada dos séculos 19 a 20 contam alegrar e refrescar os dias parisienses.

 

3-04-2014 005Ruas de ParisPrimavera e exposições alegram o quotidiano parisiense.

 

 

 

 

 

 

  • Comemorando as Exposições Universais, a Revolução Industrial, o Impressionismo, o Art Nouveau e a Belle Époque, a exposição Paris 1900 La Ville Spectacle faz reviver ao visitante clichês da época, mas também desvenda relações entre importantes protagonistas do quotidiano artístico parisiense passando pela pintura, musica, escultura, arquitetura e moda em 1900. De terça a domingo no Museu de Artes Decorativas do Petit Palais até dia 17 de agosto.
  •  No Centro Georges Pompidou Henri Cartier-Bresson revela Paris do século vinte através de sua câmera fotográfica. Considerado pai do jornalismo fotográfico Henri Cartier Bresson viveu entre 1908 e 2004 e e soube como nenhum outro registrar sua época. Até 9 de junho no Centro Georges Pompidou, um lugar, aliás, imperdível da cidade.O Museu de Arte Moderna de Paris está no Marais, na Praça Georges Pompidou, rua St Martin . Apesar de sua polêmica arquitetura, não é preciso ter medo, quem entra não se arrepende. Imperdível também a vista de Paris à partir do café no ultimo andar . Das 11h00 as 21h00 com excessão das terças feiras.
  •  Para aqueles que ousam sair do perímetro turístico tradicional o Museu Marmottan apresenta obras inéditas de pintores impressionistas oriundas de coleções privadas internacionais. Aberto desde 1934, responsável pelo patrimônio artístico de Claude Monet, o museu Marmottan oferece com esta exposição a descoberta de obras até então desconhecidas de Jean-Baptiste-Camille Corot, Eugène Boudin, Édouard Manet, Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Edgar Degas, Camille Pissarro, Alfred Sisley, Gustave Caillebotte, Berthe Morisot, Paul Cézanne et Auguste Rodin entre outros. Les Impressionnistes en privé Cent chefs-d’œuvre de collections particulières até 6 de julho 2014, de terça a domingo das 10h00 as 18h00 Endereço 2, rue Louis-Boilly 75016 Paris.
  •  The last but not the least – Inesperadamente em plena Paris, os vagões do mítico trem Orient Express permitem ao visitante experimentar em pessoa um pouco do luxo de uma viagem neste trem-proeza que ligava Paris ao, uma vez tão inspirador, Oriente. Mais uma verdadeira“obra de arte” da Revolução Industrial exposta no Instituto do Mundo Arabe.Do 4 abril au 31 agosto 1, rue des Fossés-Saint-Bernard Place Mohammed-V 75005 Paris. Abertura 10h Horários de encerramento variam entre 19h e 21h.
Orient Express 1883 -1977
Delacroix-Entrée des Croisés à Constantinople
1841 Delacroix-Entrée des Croisés à Constantinople