Verão 2021 em Paris e na França

Verão 2021 em Paris, ou, todas as atividades as quais não veremos este ano.

Paris e a pequena região onde se encontra a capital francesa a Ilê de France, sediam durante o verão milhares de manifestações artísticas e culturais.

Desde a Festa da Música, dia 21 de junho, até os dias do Patrimônio em setembro, passando por Paris Plage em julho e agosto e pelas comemorações do 14 de Julho, o calendário de atividades de lazer, de cultura e diversão está, mais uma vez, repleto em 2021.

Para dar um exemplo de quão variada e eclética está a programação segue uma pequena lista de alguns eventos e links para seus respectivos sites.

Verão em Paris- Atividades

Pelas manhãs a cidade ainda fica vazia
De junho à setembro, jovens preenchem o espaço com muita festa e animação nas margens do Rio Sena

Festival Paris l’été

Desde 1990, o festival Paris l’été oferece atividades ao ar livre em Paris e em uma dúzia de cidades da Île-de-France.

O evento oferece apresentações de dança, peças teatrais, espetáculos musicais e circenses próximos a monumentos, parques e às vezes até mesmo dentro da sua casa. No total são mais de 70 apresentações gratuitas ou pagantes em cerca de trinta localidades diferentes.

Acesse o site para conhecer o Festival Paris l’été ( Festival Paris no Verão)

Paris Jazz Festival

O evento que conta com a vanguarda do Jazz da cena parisiense e internacional recebeu em sua última temporada mais de 120.000 espectadores.

30 de junho a 8 de setembro

Concertos Gratuitos, entrada ao Parc Floral 2,50

Paris Jazz Festival – Festivals du Parc Floral

La Nuit aux Invalides

Este ano, mais uma vez, Les Invalides e Amaclio Productions propõem uma viagem no tempo em pleno coração do edifício. O espetáculo oferece uma noite inesquecível em comemoração ao bicentenário da morte de Napoleão.

De 07 julho 2021 ao 26 agosto2021

Hôtel national des Invalides – Esplanade des Invalides, Paris

Fête Nationale du 14 juillet

Desfile Militar tendo como maior destaque as apresentações das Forças Aéreas, Concerto e Fogos de Artifício na Torre Eiffel e (quase) todas cidades da França, Concertos musicais variados, enfim, dia de festa geral!

13 e 14 de julho 2021

Sem esquecer obviamente do famoso Baile dos Bombeiros

Le bal des Pompiers ou Baile dos Bombeiros

13 e 14 de julho nas casernas de Bombeiros do Pais

Paris et Ile-de-France – Paris et Île-de-France, Paris

Além da Semana da Alta-Costura ( Haute Couture Week), Ópera ao Ar Livre, os espetáculos do Théâtre de la Verdure du Jardin de Shakespeare, a exposição Napoleão na Villette  entre centenas de outras atividades.  

Museus

Seguindo as últimas medidas do governo, a maioria dos museus parisienses abriram suas portas novamente a partir do dia 19 de maio. Para garantir uma visita segura às suas exposições permanentes e temporárias, os locais culturais adaptaram suas normas e horários.

Com as novas condições “pós Covid19”  é aconselhável reservar entradas com antecedência; alguns museus impõem reservas on-line obrigatórias. O uso de uma máscara segue necessário para visitas.

Dentre as inúmeras exposições, o Atelier dês Lumières apresenta a obra de Gaudí em seu espetáculo de som, luz e música até 2 de janeiro 2022. Trata-se provavelmente do único espetáculo que verei, se a situação sanitária melhorar daqui até lá!

Verão em Paris 2021-Crise Sanitária

Sim, porque belezas à parte, a crise sanitária ainda continua. E mesmo estando vacinada, aguardo pacientemente a confirmação que o procedimento será eficaz contra as diversas variantes anunciadas pela imprensa recentemente: Delta, Epsilon, etc e tal.

As autoridades estão de olho em Paris, onde um leve aumento de casos já preocupa e preenche os telejornais.

A taxa de incidência da covid-19 ao longo dos últimos dias era de 54,2 casos por 100.000 habitantes em Paris, contra 49,8 nos Landes, o segundo departamento mais afetado pela epidemia no momento.

Esses níveis permanecem baixos em termos absolutos, mas colocam esses departamentos na linha de frente se uma possível quarta onda ocorresse.

Quarta onda já anunciada pela mídia. Assim como o temor de novas contaminações que tem obrigado alguns países a reforçar normas sanitárias de deslocamento (novamente).

Então, para a autora desse texto, muitas das atividades culturais do verão em Paris 2021 podem esperar.

2022 tem mais…

Esse ano vou aproveitar do verão para visitar a França, seu patrimônio e sua natureza. Adeus cidade grande, Au revoir Paris, França lá vamos nós.

Greves de transportes marcam volta à normalidade

Greves de transportes marcam volta à normalidade ou a França sendo a França.

Transportes aéreos: Um comunicado conjunto emitido por diversos sindicatos (CGT, CFE-CGE, Unsa, CFDT e FO) acusa o projeto dos gestores da ADP de “abolir permanentemente o salário de mais de um mês para todos os funcionários e forçá-los a aceitar mobilidade geográfica que gera tempo adicional de locomoção”.

De fato, o projeto denominado PACT (Plano de Adaptação de Condições de Trabalho) planeja abolir vários bônus, resultando em cortes salariais entre 4 e 8%. Se o colaborador recusar, o PES (Plano de Economia Social aprovado pelo governo) prevê a demissão do mesmo!

Vale lembrar que esse tipo de dispositivo representa uma mudança radical nas leis trabalhistas francesas que sempre favoreceram o empregado perante ao empregador. 

O Comitê Social e Econômico do Aeroporto de Paris também se opõem ao projeto, e denuncia o desejo da gestão atual de fazer economias em um momento em que a pandemia teve consequências significativas sobre a atividade da ADP – Aéroports de Paris. A paralisação está prevista entre os dias 1° e 5 de julho.

Transportes ferroviários :  Para as empresas de transporte ferroviário da SNCF,o sindicato CGT convocou uma greve nacional dia 1 de Julho para exigir um aumento geral dos salários e recrutamento adicional.

Finalmente, nos dias 3 e 4 de julho, são os funcionários da TGV OuiGo que são chamados a parar de trabalhar.

As datas escolhidas para o movimento de greve de transportes interferem fortemente nos planos de férias de muitos franceses.

Paris – De acordo com a Diretoria de Ordem Pública e Trânsito (DOPC) da Prefeitura de Polícia registrou 2093 manifestações de protesto declaradas em 2019

É importante ressaltar que essas greves de transportes não catalisam somente a insatisfação com os cortes e arrochos ocasionados pela crise da Covid-19. Há também todas as feridas sociais do início do mandato de Emmanuel Macron, que não foram esquecidas e que não cicatrizaram durante a crise de saúde: as reformas do estatuto da SNCF, a raiva dos “coletes amarelos”, a oposição à reforma da previdência são alguns dos fatores que ainda estão muito presentes entre os ferroviários. 

O Francês teme que as mudanças elaboradas pelo governo atual os aproximem inexoravelmente do sistema empregatício e social americano ou Americain Way of Life.

Ou marche ou Crève

Uma expressão emprestada à Legião Estrangeira designa o sentimento de muitos franceses em relação as mudanças recentes e futuras:Ou marche ou Crève”, ou seja ou você anda (segundo as novas normas) ou você “morre”. Ou você se adapta às normas impostas pela oligarquia “mundialista” ou você sai do circuito econômico.

Acampamento Gilets Jaunes – Movimento Coletes Amarelos 2019

Buscando sobre a origem da expressão Ou Marche ou Crève, encontrei justamente um vídeo de Pierre Hillard, ex-professor de relações internacionais da École supérieure du commerce em Paris, doutor em ciência política. Nele o professor lamenta a ignorância das populações sobre a real situação da França e que está por vir. Ele destaca a falta de “humanidade” das oligarquias mundialistas, o perigo crescente do controle da mídia por essas mesmas oligarquias e o desejo de impor uma cultura única tendo como princípio de base o individualismo e o consumo. Hillard acusa a Europa de ser o maior instrumento desse mecanismo.

As atividades do grupo Bidelberg 

Outro grupo que levanta suspeitas na França de trabalhar em prol de uma mundialização impiedosa e imoral é o Grupo Bilderberg. Meu filho de 16 anos foi o primeiro a me chamar a atenção sobre suas atividades.

Denis Healey, um dos iniciadores da Conferência Bilderberg de 1954 e membro do comitê diretor por 30 anos, explicou em 2001: “Dizer que estávamos procurando estabelecer um único governo mundial é muito exagerado, mas não totalmente absurdo. Nós em Bilderberg pensamos que não poderíamos entrar em guerra para sempre e matar milhões de pessoas por nada. Nós pensamos que uma única comunidade poderia ser uma coisa boa.

O relatório da reunião do grupo em 1999, publicado pelo jornal independente inglês Schnews coloca em evidência, por exemplo, o desejo dos participantes de “redesenhar a economia mundial”.

Mudanças sim, mas para melhor

Para a ADP, a SNCF e para o mundo, talvez o tempo seja propício para mudanças, mas os franceses querem ter certeza que essas mudanças sejam para o melhor.

Resumindo enfim, os franceses continuam com boa memória e não estão dispostos a deixar o governo atual e a Europa passarem suas “boiadas” sob pretexto da Covid-19. 


Notas:

ADP Aéroports de Paris

SNCF Société Nationale de Chemin Ferroviaires

O Grupo Bilderberg, também conhecido como Conferência de Bilderberg ou Clube Bilderberg, é uma reunião anual e informal de cerca de cento e trinta pessoas, principalmente americanos e europeus, compostos majoritariamente por personalidades da diplomacia, negócios, política e mídia. Este fórum anual foi inaugurado em maio de 1954 em Oosterbeek, na Holanda, em uma reunião no Hotel Bilderberg (daí seu nome) e tem escritórios em Leiden, nos Países Baixos. Sua cobertura não midiática e a natureza confidencial das revisões da conferência regularmente despertam controvérsias e alimentam teorias conspiratórias sobre sua influência.

La Samaritaine – Joia da Belle Époque está de volta

Detalhes da Fachada Art Nouveau © O.Taris

La Samaritaine – A origem do nome

La Samaritaine era o nome de uma bomba de água localizada na Pont Neuf cuja existência remonta a época do rei Henrique IV. Esta fonte era decorada com uma representação do episódio evocando o encontro de Jesus e uma samaritana no poço de Jacó (Evangelho segundo João), (1672-1744). O todo foi decorado por um relógio equipado com um jacquemart, e, mais tarde, um carrilhão.

Bomba de água sobre a Ponte Neuf

A criação – de camelô a proprietário de loja

Em 1870 o nome inspirou Ernest Cognacq para abertura da sua primeira lojinha. Até então, Cognacq mantinha uma tenda (um “guarda-chuva vermelho”) no Pont Neuf. Foi graças à amizade com o proprietário de um pequeno café que frequentava na Rue de la Monnaie que o comerciante conseguiu alugar, a partir de 21 de março de 1870, uma sala anexa pouco utilizada e torná-la num pequeno negócio de novidades:”À la Samaritaine”.

Primeira loja La Samaritaine

Crescimento da Samaritaine

No dia 1º de abril seguinte, a loja já expandia. Em janeiro de 1872, Ernest Cognacq casou-se com Marie-Louise Jaÿ, ex-primeira vendedora no departamento de roupas do Le Bon Marché, com quem ele administraria o bazar em constante crescimento. Crescendo de 48 m2 em 1870 para várias centenas de metros quadrados em 1874, a loja prosperou e seguiu a expansão, dando à luz em 1900 às Lojas de Departamento de La Samaritaine. Conta a história que o casal nunca almoçava junto, pois cada um se revezava em um balcão de seu negócio.  

Ao adquirir os prédios próximos à sua loja, Cognacq muda o bairro e uma parte importante da cidade. Sob a direção do arquiteto Frantz Jourdain, quadras foram completamente redesenvolvidas ou reconstruídas gradualmente entre 1883 e 1933. Enquanto la Samaritaine prosperava com duas lojas perto do Pont Neuf, Ernest Cognacq empreendeu em 1910 a construção em outro distrito de Paris de uma nova loja destinada a uma clientela mais rica: a “Samaritaine de luxe” inaugurada em 1917 no boulevard des Capucines. As lojas são complementadas por grandes armazéns localizados no Boulevard Morland, Quai des Célestins, Rue de Bercy e Rue Saint-Jacques.

Hoje um dos antigos prédios abriga em seu roof top de vidro o restaurante Kong
Fachada Art Nouveau rue de la Monnaie
Fachada edificada em estilo Art Deco em frente ao Rio Sena © O.Taris

Considerado um chefe social paternalista, Ernest Cognacq cria a Fundação Cognacq-Jay. Ele e sua esposa fazem questão de acompanhar suas equipes do berço (maternidade Cognacq-Jay) ao caixão (casa de repouso rueil-Malmaison)

Após a morte do casal, o sobrinho Gabriel Cognacq toma as rédias do império comercial que se tornou La Samaritaine, a mais importante loja de departamentos parisiense com seus 48.000 m2.

Seu slogan publicitário, inventado pela agência Alice e apoiado por uma grande campanha publicitária na década de 1960, permaneceu na memória coletiva: “Encontramos tudo em La Samaritaine”.

Em 22 de setembro de 1985, o Pont Neuf em Paris foi embalado por Christo Javacheff. La  Samaritaine aproveitou o evento para lançar seu novo slogan publicitário: “Moi, La Samaritaine m’emballe !”. “Eu, La Samaritana me embala!”

Interior da Loja em 1995 © O.Taris

Fechamento

A partir da década de 1970, a prosperidade comercial de La Samaritaine diminui lentamente. Em 1986, La Samaritaine de luxe foi transformada em um escritório e edifício comercial. Com o tempo, muitos departamentos históricos (como o pet shop por exemplo) desapareceram.

A partir de 1998, a loja de departamentos vê sua área de superfície reduzida, e passa a alugar lojas para outras marcas. Em 2001, a família Renand vende La Samaritaine, para o grupo LVMH. A loja de departamentos fechou suas portas em 2005 para reforma e nunca mais abriu, até essa semana.  

Reabertura em 2021

Durante 16 anos o edifício ficou abandonado, enquanto seguidas polêmicas implicando a restauração e reformas eram discutidas, embargadas, negociadas.

Hoje La Samaritaine reabre e volta a ser uma das maiores lojas parisienses: 20.000 metros quadrados restaurados, 7 andares, uma fachada magnífica misturando arte déco e arte nouveau recoberta de arabescos dominando de um lado, a rua de Rivoli, do outro, as margens do Ponte Neuf.

Sua reabertura é um grande momento para Paris e seu comércio. A propriedade do Grupo LVMH é constituída de um complexo de 70.000m2 e além de comércios também abriga um hotel de luxo, escritórios, uma creche e habitações sociais.

Quem não conhece La Samaritaine? Assim começa o documentário que explica a saga desta antiga loja que hoje reabre em Paris. Um verdadeiro monumento que marcou a vida da cidade e seus habitantes. Assista as imagens e não se deixe intimidar pela língua francesa. Vale a pena!

As imagens do Le Parisien mostram um pouco mais da loja renovada, que promete ser o lugar mais “instammagrable” da cidade!