Qualidade de vida: a receita francesa

O verão acabou e com ele a polêmica sobre a « moda » litorânea francesa. Agora é chegada a hora das inúmeras manifestações sociais e greves. Já tivemos greve no Castelo de Versalhes, na Torre Eiffel, caminhoneiros bloquearam as saídas das petroquímicas, professores pararam, enfim todo mundo já parou para manifestar nestes dias.

Antes de falar das greves, voltemos uns instantes à polêmica questão do burquini. Não parece, mas ambos os fatos têm uma ligação.

Durante o verão algumas municipalidades, sob pressão de membros da comunidade, proibiram o uso do “burquini” a fim de preservar os dogmas republicanos em seu território. O apoio das populações locais não impediu que essas administrações e seus prefeitos fossem altamente criticados pela Esquerda, pelas organizações defensoras da liberdade, assim como da comunidade muçulmana e seus costumes.

Enquanto, em nome do politicamente correto, franceses queimam neurônios buscando soluções que contentarão gregos e troianos (como se isso fosse possível), ninguém ousa fazer a pergunta certa à comunidade certa. Portadores de véu, burca e defensores das mais severas normas religiosas, vocês estão prontos para aceitar francesas e alemãs fazendo TOP LESS?

Essa realidade de efervescência cultural e identitária me interpelou quanto a nós brasileiros. Somos suficientes observadores dos hábitos e abertos às culturas que visitamos quando estamos no exterior? Amamos o suficientemente a nossa própria cultura para desejar preservá-la quando estamos no Brasil? Preferimos nossos pratos tradicionais e nossa arquitetura ou edifícios com formato de caixotes retangulares servindo comida de má qualidade com nomes americanos tais como McDonald’s e Quick? Lutamos por nossa cultura? Lutamos por nossos direitos?

Supermercado retira substâncias controversas de seus produtos

A polêmica do “burquini” acabou este ano, mas os questionamentos ligados a mundialização estão somente começando. Destes questionamentos dependem nosso bem-estar futuro.

As manifestações sociais e greves estão acirradas, pois, as novas leis trabalhistas que Macron implantou saem exatamente da mesma cartilha que as leis trabalhistas do Temer. Além disso esse governo saiu cortando verba na área a cultura e saúde e dando espaço para a indústria farmacêutica e química. Setembro, mês do início do ano escolar, é historicamente o momento de manifestações sociais na França, mas medidas do Macron exacerbaram o espirito contestador francês e as manifestações continuam.

O que mais me fascina não são as notórias greves e manifestações sindicais, o interessante é que o quotidiano do francês é pontuado de polêmicas e (sobretudo) tomadas de ações em função de um posicionamento político. No bairro onde vivo em Paris, uma mobilização popular luta contra a instalação de um McDonald’s. O deputado europeu, antigo agricultor francês, José Bové luta há anos contra o monopólio das sementes transgênicas. Associações de celeiros “clandestinos” garantem a futura liberdade do agricultor e a existência de sementes livres de brevê. Pessoas manifestam contra o maltrato de animais. Até o grupo de voluntários, distribuidores de comida aos pedintes de rua, entrega comida “vegan” para defender suas ideais anticonsumo animal.  

Resposta a cortes do governo

Para resolver a crise político-econômica que assola e paralisa o mundo e as massas, temos que acordar para os problemas de maneira global, olhar mais longe que a ponta de nosso nariz ou do fundilho de nossos próprios bolsos e temos que agir. A meu ver, o Brasil tem que parar de se alienar com o vestibular ou a nudez artística e valorizar mais o ser humano e sua cultura. Fico impressionada com a quantidade de coisas que o brasileiro não sabe sobre o Brasil atual e o quanto aprecia o «fino”, o “estrangeiro”. Teriam os políticos roubado ou vendido também nossa cultura?

Temer e latifundiários vão mesmo vender o país para a Cargill? Quando questionado a respeito das consequências nocivas do plantio de soja transgênica para o pequeno agricultor brasileiro e quanto ao problema da invasão da floresta amazônica por latifundiários para aumentar as terras cultivo,  o PDG da Cargill disse que a culpa do desastre é do pequeno agricultor francês que se recusou a implantar as normas de plantio impostas pela Cargill, fazendo assim a empresa se voltar para o Brasil a fim de implantar ai seu polo mundial de produção de soja transgênica!? 

O que eu quero dizer é que as melhorias não virão de cima. Muito pelo contrário! As melhorias só virão graças à cada um de nós, indivíduos pensantes e sobretudo atuantes. Se você está desesperado e paralisado, com a impressão que não tem como realizar aquele velho sonho de mudar o mundo, não culpe somente os políticos e faça você mesmo alguma coisa para que o mundo melhore. Se você aspira a dita qualidade de vida do primeiro mundo, faça como as pessoas no “primeiro mundo”: saia às ruas para exigir seus direitos, milite, (e se é daqueles que não aguenta mais a política) faça reciclagem, voluntariado, informe-se, deseje e aja em prol do bem ao próximo, deseje e aja em prol do bem dos animais, compre conscienciosamente (acredite, a força do consumidor muda a qualidade da produção), polua o menos possível, consuma produtos e alimentos ecológicos.  Seja crítico, seja contestador, seja polêmico! Acredite, 200 milhões de cidadãos podem tudo e podem inclusive mudar o mundo.

Alerta 47 no Louvre

Um desequilibrado atacou à machadadas um militar que trabalhava na segurança externa, sessão antiterrorista do Louvre, na área do Carrossel do Louvre. Será que isso se tornará um evento digno da mídia internacional?

Ah! Esta é ainda mais extraordinária: Ainda outro dia, dois africanos brigaram no centro de Bruxelas e um arrancou os olhos do outro!

Prova que é mais fácil tirar alguém da guerra que a guerra de alguém. Felizmente a França tem know-how e controle total desta situação. O risco zero não existe, mas o risco zero não existe nem para quem fica deitado o dia inteiro sem fazer nada, quem não se mexe temendo se machucar vai arrumar todo tipo de doença ligada ao ócio e medo.

A realidade é que a população local teme menos um atentado na França que a população brasileira teme um roubo à mão armada no seu dia a dia. Já sabemos TODOS, enquanto houver desigualdade haverão consequências desagradáveis e incontroláveis. Mas por que ninguém busca resposta para o que não sabemos?

Parece que para cada milhão de pessoas que saem da África em busca de uma situação melhor, outros 8 milhões se empobrecerão no período de um ano. Porque estamos falando em aceitar refugiados de guerra e não falamos em cessar a guerra? Cessar a venda de armas? Resolver o problema da miséria dos Africanos ninguém quer?

Porque nenhum dos países ricos e muçulmanos radicais do golfo pérsico estão aceitando estes refugiados? Não estariam estes mesmos países integristas investindo no envio massivo de potenciais pregadores de seus ideais através do mundo? O que seria uma grande injustiça para os inúmeros verdadeiros refugiados.

Voltando a falar do Louvre, foi um grande susto para quem estava por lá, felizmente a situação voltou ao normal rapidamente. O museu foi evacuado logo após o ocorrido, poucas pessoas que não puderam ser evacuadas aguardaram em local confinado e seguro. As 12h30 a circulação de pessoas se normalizou dentro do museu, permitindo aos últimos visitantes deixar o lugar. O museu indica em seu site que ficará fechado esta tarde. O militar atacado está fora de risco e o maluco integrista está sendo altamente tratado em um dos melhores hospitais de Paris.

 

 

Desabafo. Uber, Airb&b,Banana Chiquita,Lâmia

A semana que passou foi uma semana peculiar devido a inúmeros incidentes históricos de diferentes teores de gravidade, mas que, no entanto, nos afetam a todos; Renan mantido, Hollande renuncia a candidatar-se novamente, houve greve em Versalhes quarta-feira passada; os taxistas quebraram o hall de Uber no aeroporto do Rio de Janeiro; um avião caiu matando tragicamente 71 chapecoenses.

Quero “falar” aqui dos três últimos fatos. Greve em Versalhes; os taxistas quebraram o hall de Uber; um avião caiu matando 71 pessoas. Fatos (não comparáveis, certo) que parecem desconectados e, no entanto, tem algo em comum.

Quanto a greve na rica cidade de Versalhes poderíamos dizer que é uma vergonha, mas prefiro pensar que o francês segue lutando contra a economia mundial da banana Chiquita. Presenciando ondas de demissões e vivenciando uma diminuição real de qualidade de vida ligada a sobrecarga e redução de condições de trabalho, os funcionários do Castelo e todo os sindicalizados da CGT pararam a abastada cidade.

Eu sei que a livre empresa é o xodó da América de norte a sul, porém os taxistas do Rio, desesperados, estavam lutando pelo seu ganha pão e de suas famílias. E também contra uma economia de banana Chiquita. Alguém se importa com os taxistas?

Como lutar contra um preço atrativo? Contra um empreendimento de sucesso? Como convencer um povo místico que não há milagre atrás de preço barato? Se até uma companhia aérea de segunda categoria parece uma opção plausível o que dizer de bananas, transporte terrestre, hotelaria? Quem poderia imaginar que um piloto decidiria não parar para abastecer em Bogotá e iria confiar na reserva para chegada no destino. Quem vai fazer a ligação entre a catástrofe e a economia esperada com essa decisão do piloto, no caso o dono da empresa? Afinal comprar combustível e o pagar direitos de uso dos aeroportos representa um custo importante para uma pequena empresa de aviação. Quanto representou a economia?

Você sabia que a banana Chiquita é a número 1 de vendas no mundo? Todo mundo adora porque é baratinha!! E todo mundo adora coisa barata (assim como Airbnb e Uber). Quem se importa se os plantadores de bananas morrem as pencas com doenças graves devido a utilização de pesticidas e o povo que come a dita banana morre aos poucos com os mesmos pesticidas…

Quem se importa se os taxistas estão desesperados perdendo seu ganha pão e de suas famílias e de certa maneira, lutando contra a economia da banana Chiquita?

Tenho um carro parado na garagem, “contrato” uns sujeitos mais pobres que não dispõe de carros e ainda faço uma graninha com carro, com a pobreza dos meninos e a decadência dos taxis. Viva a livre empresa! Ou ainda para sair da minha própria pobreza “descolo” o carro e digiro 16 horas por dia. Qualificação, controle de horas trabalhadas, condições do veículo e do próprio motorista? Isso ninguém quer pensar quando opta por um transporte mais barato.

Não se engane, não escrevo isso por trabalhar com transporte de pessoas, pois faço receptivo e não somente transporte, são coisas bem diferentes, mas isso talvez seja assunto para outro post.

A falta de legislação e controle de qualidade do Airbnb por exemplo, permitem a muitas pessoas arredondarem o fim do mês ou ainda não terem que se submeter as restritivas condições de aluguel a longo prazo quando locam seus bens para estrangeiros de passagem. Inquilinos declarados e com direitos? Prefiro colocar meu bem na mão de um administrador que por sua vez coloca e gera no Airbnb e não tenho nem ideia do que se passa nem responsabilidade quanto ao imóvel alugado. Adios habitantes, um confortável bangalô na periferia e 2 horas de transporte coletivo esperam por vocês que trabalham e gostariam de viver em Paris. Au revoir hotelaria.

Escrevo esse post por que estamos vendo a quarteirização do mundo e ninguém está notando. Todo mundo está feliz com a opção mais baratinha e querendo acreditar em milagres. E assim vamos nos tornando cidadãos de segunda categoria, sem garantias de empregos, sem cotizações trabalhistas, fazedores de “bicos” institucionalizados, idosos pobres e mal servidos, jovens que desconhecem vantagens sociais trabalhistas e aquela pobreza que era característica do hemisfério sul e que gostaríamos de ter solucionado vem se generalizando ao invés de diminuir.

E o que os fatos destacados tem em comum? São frutos da sacrossanta guerra pelos preços baixos do povo, da sede de maiores lucros das grandes empresas e do concomitante arroxo social que veem nos impondo os governos mundiais.

Enquanto isso tantos agentes perdem a fala perante aos preços baixos dos “on-line”. Para superar esse obstáculo você deve ser o primeiro a acreditar, não há milagre: quando o preço for muito diferente do que o preço praticado no mercado (como aquele que você oferece na agencia por exemplo) algo foi cortado (seja em conforto, segurança, garantias de qualidade, serviços pós venda e até mesmo direitos trabalhistas) e no final alguém pode pagar caro pela economia.  Já para os mais místicos deixo recado subjetivo para ver se fica claro: o Homem sempre paga pela ignorância do homem. O caminho mais atraente a curto prazo raramente é o que gera melhores resultados a longo prazo.

Prometo que vou fotografar as belezas Natalinas e parisienses rapidinho para animar as festas e vendas, mas Chapecó foi a gota, como m. no ventilador. As consequências deste misticismo estão indo longe demais e não deu para calar a dor.