Uma das mais surpreendentes atrações de Paris é sua população. Elegante ou voluntariamente desajeitado, nostálgico de um tempo revolto ou insaciável futurista, socialista “bobô”, conservador “fachô”, ou centrista oportunista, seja ele quem for, o parisiense é sempre um personagem intrigante.
E em Paris, cada um destes personagens únicos catalisa esse conjunto fascinante de humanos, arquitetura e atividades continuamente efervescente e inusitado.
Para exemplificar minhas palavras pedi ao meu amigo Didier uma entrevista. Assim, pela mesma ocasião ele dedicaria o livro de sua autoria que comprei. Marius, como é chamado desde que abriu uma empresa do mesmo nome em 2015, sempre simpático, prontificou-se: assim que estivesse no bairro me avisaria para tomarmos um café.
E como não poderia deixar de ser, foi pela janela que vi Marius chegar, antes mesmo que o telefone tocasse para avisar o fato. Com seu taxi inglês transformado, Marius não passa despercebido. O amolador de facas e tesouras e seu “ateliê móvel” atraem os olhares de potenciais clientes, mas também de muitos curiosos locais e estrangeiros.
Outrora errantes em carriolas de madeira, os afiadores de facas foram suplantados pela modernidade. Seus serviços passaram a ser oferecidos em supermercados, em sapateiros e até mesmo eletrodomésticos apareceram para cumprir a tarefa.
Porém Didier, quero dizer, Marius, graças à sua formação de cozinheiro, sabe que os colegas da profissão não trocam suas facas com facilidade e não gostam de deixa-las sob a responsabilidade de qualquer um. O profissional precisa de seu material funcional e disponível e não pode perder sequer um dia de trabalho sem ele. Então, em função deste parâmetro, com seu veículo e agenda em mãos Marius partiu ao encontro da nata da cozinha francesa e enquanto serpenteia as ruas da capital, Marius serve também o povo da cidade. Segundo Marius, seus segredos para essa ressurreição bem sucedida são: um serviço de proximidade, a alta qualidade da prestação com a qual ganhou a confiança da clientela, preços fixos e pacotes mensais para os clientes regulares e flexibilidade para a clientela de passagem. Os cozinheiros e a população ganham em tempo e qualidade, diz Marius.
E, sobretudo, segundo o entrevistado, Marius criou um conceito, repaginou a profissão com estilo “vintage”, dando uma “nova” imagem ao antigo ofício. A empresa tem um primeiro franqueado e vem crescendo. Marius, Le remouleur é um exemplo para quem já não acredita na força do contato humano. O seu sucesso convida a reflexão, faz com que eu me questione: e se nossa profissão tivesse um problema de imagem?
Se você duvida do sucesso da empreitada, assista aos vídeos de Marius em um encontro casual com o grande ator Gerard Depardieu e nas cozinhas do Primeiro Ministro Francês ( emissão de TV Echappées Belles, se tiver um tempinho as imagens de Paris valem a pena).
Enfim, voltando ao tema do blog: Paris! Graças a figuras como Marius, Paris mantêm seu charme inigualável e (quase) indescritível. Sempre imperdível!