Efeito Trump no Paris Plage

Após 15 anos de colaboração fornecendo a Paris Plage em média 3 000 toneladas de areia a cada ano, Lafarge Cimentos será “desligada” do evento.

De fato, Lafarge se propôs a vender ao governo Trump cimento para construção do muro (da vergonha, ou ainda, da falta de vergonha) na fronteira mexicana. Considerando que a população de Paris tem direito a uma postura engajada em prol da Igualdade por parte de seus gestores, a prefeitura anunciou o fim da parceria.

Se para o grupo Lafarge ( e demasiados outros infelizes nesta terra), a máxima da Sra. Latrina* dita as normas de seus negócios, o mesmo não pode ser dito da postura de Anne Hidalgo, prefeita de Paris e sua equipe. Postura esta que, mais uma vez, reitera a posição que conserva Paris através da história de (como costumo dizer) capital mundial do modernismo e das luzes.

Paris Plage de 20 de julho até 21 de agosto

Feliz Páscoa e até a semana que vêm!

POST SCRIPTUM  

“A máxima da Sra. Latrina” (ou ainda “Uma filosofia comercial de M. “)

*Conta a lenda que durante os tempos áureos da civilização greco-romana, na cidade de Éfeso, na atual Turquia, senhora Latrina mantinha um lucrativo negócio de toaletes privadas com ajuda de seu filho, que na saída do recinto recolhia o pagamento pela utilização das confortáveis e modernas instalações.

Certo dia Latrina foi interpelada pelo jovem sobre o valor social e a salubridade de seu encargo. Diante do insurgente questionamento a mãe não titubeou: Filho, se queres manter o alto padrão de vida que tens hoje aprenda de uma vez: dinheiro não tem cheiro.

 

 

Direitos, dinheiro e respeito. A mulher “parisienne” no dia 8 de março e sempre.

Uma característica única de Paris é ser um palco constante de manifestações culturais dos mais diversos tipos. Paris é uma cidade em constante ebulição. Manifestações artísticas, musicais, arquitetônicas, plásticas, manifestações sociais e políticas preenchem o quotidiano do (a) parisiense e até mesmo o visual da cidade (como em sua arquitetura contrastante e muitas vezes fruto de legendarias polêmicas). Algumas manifestações são criativas e, no entanto, conservadoras como a famosa Fashion Week, muitas outras frequentemente revolucionárias.

O dia 8 de março não podia ser diferente.

Este ano mais do que nunca, no domínio socioeconômico, as mulheres estão exigindo direitos, dinheiro e respeito. Apesar das promessas eleitorais de François Hollande, as francesas ainda ganham 26% a menos que os franceses.

 38 associações, feministas, sindicatos, ONGs e organizações de jovens chamam para mobilização. Os organismos chamam as mulheres (e homens comprometidos com a causa) à greve neste dia 8 às 15:40 em ponto. Por que 15:40? Porque, tendo em conta a diferença de 26% entre a remuneração de mulheres e homens (de acordo com dados do Eurostat), é a hora que as mulheres param de ser pagas a cada dia, com base em um dia normal.

Outra razão para desencadear uma greve? 80% dos empregos de tempo parcial são preenchidos por mulheres.

Um protesto percorreu o trajeto da Praça da República a Ópera passando em frente de lojas de departamento, onde há um grande numéro de trabalhadoras no ramo..

Já no registro cultural o projeto da AWARE, Archives of Women Artists, Research and Exhibitions, “Où sont-elles?” ou “Onde estão elas?” promove, em associação com diversos museus, visitas guiadas por conferencistas com destaque para as obras de artistas do sexo feminino de suas coleções. Do dia 8 ao dia 12 no Museu de arte moderna Georges Pompidou, no Museu D’Orsay, no Museu de Artes Gráficas e outros. Visitas gratuitas, reservas no site. http://www.awarewomenartists.com/action/visites-a-la-decouverte-des-artistes-femmes/

La parisienne - Auguste Renoir
La parisienne – Auguste Renoir 1900

E para terminar nosso percurso pela semana e vida da mulher em Paris, a biblioteca Forney no bairro 4 expõem uma coletânea de fotos, documentos e revistas apresentando a evolução da moda feminina durante a 1ª guerra mundial. Quando os acontecimentos ditaram a condição feminina e seu papel na sociedade, levando-as às manufaturas e até a beira das trincheiras, mudando assim seus costumes e aparências externas para sempre.  A exposição fica aberta até dia 17 de junho, dando oportunidade a quem perdeu a semana da mulher em Paris de desfrutar da ocasião e da descoberta da condição, sempre evolutiva, da mulher na França.

Bibliothèque Forney
1 rue du Figuier, 75004 Paris, até 17 de junho 2017

 

 

Turbulências no transporte terrestre: motoristas Uber fazem greve.

Ou ainda : Vivendo e aprendendo.

A  classe de trabalhadores prevê novas manifestações para os dias 15 e 16 de janeiro. Os dias 15 e 16 de dezembro já foram marcados por protestos, bloqueios aos acessos de aeroportos e grandes eixos, confrontos e manifestações em frente à sede da Uber na França.

Os motoristas autônomos reclamam melhores condições financeiras e “trabalhistas”. Clamam viver em estado de escravidão dos tempos modernos, presos entre as mensalidades do carros comprados para exercer a profissão e as baixa tarifas recebidas pelas corridas.

Não conheço o perfil desta nova classe trabalhadora no Brasil, aqui posso dizer que dentre a massa encontravam-se há pouco tempo desempregados de duas categorias: reais vítimas da crise obrigados a apelar para esse sub emprego e outros francamente não empregáveis. Há também aqueles que deixaram seus empregos no transporte pensando que com um site de venda direta ao público quebrando preços e um pouco de Uber lograriam viver muito bem, sem submissão a certa disciplina exigida por um empregador. Não sabiam : patrão, seja ele pequeno ou grande, se submete todo dia a  contrariedades e se conforma, cria, diversifica.., se sacrifica. Mas não os “uberistas”.

Prova dessa inconformidade com disciplina é a presença constante e ilegal desse povo na saída dos terminais aéreos oferecendo falsos serviços de taxis. Talvez não tivessem criado tanta polêmica e transtornos se conformando as normas. Lembrando que minha empresa teve um carro vandalizado pelos taxistas contrariados com essas táticas ilegais de veículos de transporte.

Agora chegou a vez dos Uberistas de manifestarem publicamente sua insatisfação. Os dois dias de manifestações ocorridos em dezembro causaram certo transtorno no ramo do transporte, porém não resolveram as questões financeiras e trabalhistas levantadas pela classe .

O mais engraçado é que dias antes recebi a ligação de uma “amiga de uma amiga” pedindo um precinho especial para um TFR aeroporto-hotel pois estava sem dinheiro, mas não falava a língua e ouviu dizer que eu ajudaria bla bla bla. Eu, como gosto muito da amiga em questão e por que nem sempre reflito claramente quanto me tocam o coração cedi a tentação de ajudar e cobrei um valor, digamos, simbólico. A passageira pediu que um chip internacional lhe fosse entregue durante o serviço sem custo extra. Porque não? Afinal estamos aqui para servir.

O motorista que fazia o traslado a tarde teve o dia monopolizado, se ausentou de uma reunião pela manhã para não chegar atrasado e ainda assim chegou 15 minutos depois do horário previsto. Eu pessoalmente estive em contato com a passageira explicando sobre a barragem dos Uberistas no caminho e da “greve”, mas acho que ela não entendeu. Será que meu medo que o motorista e o carro sofressem algum tipo de vandalismo impediu que eu fosse clara ou o conceito de Uberista manifestando foi difícil de entender?

Nosso chefe de operações também manteve a passageira informada durante esses quinze minutos. (Obrigada WhatsApp). Porém dois minutos antes da chegada do motorista a “amiga da amiga” deixou uma mensagem bem mal-educada, dizendo que não acreditava na minha pessoa e que estava pensando em chamar um Uber!! Ela me chamou de mentirosa e comparou meus serviços com Uber! Os mesmos que estavam impedindo nosso motorista de chegar ao aeroporto. Na hora lembrei do que li aqui no Panrotas outro dia: Preço baixo não fideliza ninguém mesmo.

Resta o orgulho de ter realizado a missão, a alegria pelo motorista e veículo terem saídos intactos e a lição de nunca mais ceder à tentação.

 

Post Scriptum

Origem da palavra

Aqueles que conhecem um pouco de história da França talvez já tenham lido ou ouvido “fulano de tal foi enforcado ou fulano de tal foi guilhotinado na Place des Gréves”.  No século XII, o local de nome Gréves designava uma praça na frente da atual prefeitura, com leve inclinação e pedrinhas (em francês gréves) mergulhando no Sena e permitindo uma fácil descarga de muitos bens transportados no rio e entregues a Paris onde era antes seu porto mais importante.  Naquele tempo, «gréves» significava, por associação ao lugar, ficar sem trabalho. Trabalhadores desempregados reuniam-se na Place de Grèves, e entre uma execução e outra aguardavam navegantes em busca mão de obra para carga e descarga de seus barcos.

O significado da palavra Grèves evoluiu no início do século XIX, quando trabalhadores, explorados pelos patrões sem escrúpulos, decidiram abandonar seus trabalhos e reunirem-se na mesma praça que teve um dia este nome. Em 1830 o lugar foi renomeado “Praça da Prefeitura”ou Place de l’Hotel de Ville.

Primeiras greves

As primeiras paralizações, antes mesmo de serem denominadas greves na França, datam do século XII, realizadas por mestres e sobretudo estudantes das grandes escolas da margem esquerda, após as quais obtiveram da Igreja maior liberdade de pensamento e do estado alojamento financiado.

As greves foram durante muito tempo reprimidas e proibidas por lei até 1834.

Imagem em destaque: Greve de transportes em Paris 1891, um ônibus é atacado pelo povo.