Novas restrições, a reação dos franceses e a comunicação

Novas restrições – A essa altura todos já sabem que a França entrará neste sábado, dia 17 de outubro, em uma nova fase de restrições sanitárias.  O toque de recolher entre 21h e 6h nas grandes cidades* durante um mês foi a medida escolhida para a nova tentativa de contenção do coronavírus.

Acabou a festa! Regra dos seis

O governo pede inclusive à população que restrinja sua “bolha social” a seis pessoas e usem máscaras durante todo o tempo de convívio, seja lá onde for.

O governo promete igualmente ações dissuasivas para organizadores de festas e reuniões com multas que podem ir até 10 000 euros.

Reações

Diante destas novas restrições alguns reclamam do atentado a liberdade individual. Proprietários de restaurantes e bares clamam uma catástrofe anunciada. Jovens afirmam que se não vão aos bares, farão encontros em seus pequenos apartamentos. O corpo médico reclama da falta de recursos e investimentos para resolução do problema hospitalar e os sindicados fazem apelo de greve.

Para dificultar ainda mais a vida do governo, os policiais que deverão manter a ordem neste momento complicado, manifestam contra a falta de apoio e segurança no desempenho de suas funções.

Os trabalhadores perguntam por que devem se espremer nos meios de transporte, nos escritórios e salas de reunião, mas não podem ir ao restaurante ou ao teatro.

Concomitantemente, dia 17 de outubro é também dia de início de novas férias escolares. E surpreendentemente, os franceses poderão se deslocar sem restrições pelo território nacional.

Para muitos é difícil entender a coerência destas medidas que parecem até contraditórias. Mas, basta analisar um pouco para perceber que o governo está tentando frear o contágio da população pelo Covid-19, sem frear a economia nacional. Eu pessoalmente entendo a decisão.   

Então, porque muitos estão descontentes? A cólera dos proprietários dos restaurantes e atuantes do meio cultural é compreensível, mas quanto ao resto da população…

credibilidade é tudo

É sabido que a comunicação publicitária sempre ajudou muito a classe politica. Até ai tudo bem! Mas e quando ele trabalha contra a classe política?

Apoiar-se em um Conselho Cientifico para tomadas de decisões durante uma crise sanitária me parece a coisa mais sensata do mundo! Contanto que o mesmo tenha credibilidade, é claro.

O problema e que no momento em que a França, seus hospitais e população sofriam da falta de máscaras o Conselho Cientifico afirmou que o uso deste aparato ( hoje obrigatório) não era necessário e poderia ser até mesmo perigoso.  E agora, para explicar as novas restrições esse mesmo Conselho Cientifico estatal afirma que a maioria do contágio acontece em reuniões familiares e aparentemente entre 21h e 6h da manhã?  

Questões complexas, sobre as quais prefiro me abster. Eu não entendo nada de saúde e não vou pagar 135€ de multa para andar por ai depois das 21h, então me submeto e apóio as medidas sem contestar, como fará a maioria da população certamente.

Todavia, termino meu texto com uma pequena história, que talvez exemplifique meu ponto de vista sobre o que chamo de boa comunicação.

Vendendo seu peixe

Um dia desses, meu restaurante preferido me serviu um peixe inabitual. Confrontada pela minha reação a garçonete foi sincera:

“- Segunda feira não há entrega de peixe fresco, o mercadão (de Rungis), fecha nas segundas, perdão. Agora você já sabe que este não é o dia ideal para comer peixe aqui.”

Sua resposta franca e direta me deixou feliz, o sabor do peixe que eu comia não melhorou, mas eu aprendi algo e fiquei mais esperta. Segui freqüentando o estabelecimento. Credibilidade é tudo! Isso sim é o que chamo de boa comunicação!

Nota* Estão sob toque de recolher : Paris e região, Lille, Grenoble, Lyon, Aix-Marseille, Montpellier, Rouen, Toulouse et Saint-Etienne.

O confinamento e o essencial através do mundo

A grande maioria do planeta está confinada. Aparentemente a vida de muitas pessoas está se transcorrendo de maneira similar, eu cheguei ingenuamente a achar que confinamento significava na França a mesma coisa que no resto do mundo.

Foi falando com amigos e especialmente amigos brasileiros que descobri o contrário. De fato, bastava refletir um pouco para imaginar que cada pessoa e cada país reagiriam com seus traços culturais e dispositivos governamentais característicos às suas raízes.

Nesta imensidão de seres e opiniões, encontramos muitos pontos em comum, mas também muitas diferenças radicais.

Diferenças entre confinamentoS

Uma delas consiste no sentido propriamente dito da palavra ESSENCIAL.  

Na China por exemplo, nada era essencial além da organização governamental autoritarista. Assim, o exército distribuía alimentos aos lares chineses e não houve justificativas para que as pessoas deixassem seus lares durante o confinamento. Em caso de descumprimento a pena era de prisão.

   China pós confinamento – controles constantes

Na França os critérios para sair de sua casa em busca do essencial são basicamente: necessidade de comprar alimentos, ir ao médico, fazer trabalho voluntário, andar com seu animal de companhia ou fazer um pouco de esporte.

As saídas permitidas com essas justificativas são controladas através de uma declaração ou atestado de honra onde consta a múltipla escolha das razões, a hora de saída, seu endereço. Perímetro permitido para a saída 1 quilômetro de distância de seu domicílio; duração máxima 1 hora.

O Atestado de deslocamento pode ser preenchido também on-line e apresentado em caso de controle pelo telefone

Em caso de descumprimento a pena é de multa com valor inicial de 135 euros, valor este que aumenta gradativamente em caso de repetição do delito até a quarta vez e depois prisão.

Os serviços médicos, a cadeia alimentícia e distribuição de gasolina não se incluem nestas normas, obviamente.  A indústria metalúrgica onde trabalha meu cunhado ficou aberta para produzir material hospitalar, mas a construção civil não foi considerada essencial, por exemplo.

Os franceses reagiram como civis em uma sociedade democrática e organizada; a maioria aderiu apesar de certa resistência, no entanto, mediante os policiais que controlam incansavelmente os mais recalcitrantes e a chuva de multas, a sociedade se trancafiou em seus lares. Mesmo assim, mais de 800 000 multas foram emitidas no território desde o dia 17 de março até agora.

Outro fator que colaborou imensamente para o respeito das medidas de confinamento foram os incansáveis pedidos de consideração vindos por parte daqueles que seguiriam prestando os serviços essenciais: médicos e equipes de hospitais (enfermeiras, atendentes, equipes de limpeza), caminhoneiros, lixeiros aproveitaram das redes sociais para passar seu recado: Fique em casa por favor!

População Francesa aplaude médicos e novos heróis da nação

no Brasil a situação me pareceu bastante diferente. Primeiro devido à guerra entre o governo federal e os governadores de estados. Se aqui reclamamos de falta de coerência na gestão governamental e usamos desse pretexto para burlar aqui e ali o confinamento, no Brasil então...

Aí aqueles que servem a nação prestando os serviços essenciais foram usados como argumento político por aqueles em prol de um “desconfinamento”já. O que me pareceu no mínimo estranho. 

Mas polêmicas a parte, o povo Brasileiro é mesmo o herói da nossa nação!

Aqui até a oposição declarou que seria indecente usar da situação para fins políticos, aí nos trópicos as feras estão soltas.

Enquanto isso a noção do essencial depende quase unicamente de cada um. O que dizer de um país que considera a construção civil como atividade essencial em momento de pandemia? Onde nas comunidades desfavorecidas o PCC que se ocupa do bem estar de seus ocupantes?

Já a grande vantagem do Brasil é o senso de ajuda entre as pessoas, o aprendizado contínuo do “se virar” e “dar um jeitinho” protege o país. Criação de cápsulas respiratórias inovadoras, aparecimento de máscaras em profusão, iniciativa. Salve a população brasileira!  

Aqui faltam máscaras, falta álcool-gel e segundo os franceses falta também muita coerência nas medidas governamentais.

A grande polêmica do momento na França é: porque voltamos às aulas dia 11 de maio se os bares e restaurantes ficarão fechados? Se as escolas foram as primeiras instituições a fechar, por que serão as primeiras a abrir? Polêmica esta que vem levando a certo afrouxamento por parte dos pais que agora levam os filhos aos parques e ruas da cidade com maior freqüência. Ué? Eles não vão encarar corredores e salas possivelmente contaminadas pela saliva e coriza geral? Porque os parques e as ruas seriam mais perigosos?

Afinal, dois meses fechados dentro de casa fizeram acreditar aos pais de famílias que as medidas de confinamento foram criadas para nos proteger, mas na realidade foram criadas para resguardar o sistema de saúde público abominável que temos e a imagem de nossos ignóbeis governantes. Acho que este é um ponto em comum entre muitos países.

O retorno à vida normal e o “desconfinamento” eminente nos revelam igualmente as motivações que nossos governantes têm em comum.

Pontos em comum

Dia 13 de março – dia da primeira medida governamental- fechamento das escolas

E falando em pontos em comum, em quase todos os países a ficha demorou em cair e os anúncios de uma gripezinha não assustaram a população em um primeiro momento. O número de óbitos e avisos por parte dos médicos foram fundamentais para a compreensão do problema, ao contrário das declarações governamentais que causaram mais confusão que esclarecimentos.  

Ainda, apesar das inúmeras diferenças na maneira de como lidar com a questão do Coronavírus e do confinamento pelos governantes e pelos humanos deste mundo afora, outro ponto comum importante parece sobressair:

Através do planeta a grande maioria da humanidade descobriu por si só o sentido da palavra essencial: essencial é ter casa, boa alimentação, amor da família e amigos e saúde. 

Mais um ponto comum sobressai entre a França e a China até o momento, tendo em vista a minha reação pessoal e de muitos sindicatos franceses.

Compare com as imagens do vídeo acima – Mês de abril, a ficha caiu

Lembro agora as palavras de meu amigo chinês declaradas nos primeiros dias de confinamento:

Você está reclamando de ter que ficar em casa por ordem governamental, mas fique ligada! Após constatar a gravidade desse vírus e os óbitos, quando a ordem for para “desconfinar”e voltar às ruas, quem não vai querer sair de casa é você!


Nota Cronológica :

23 de janeiro: Primeiros casos de Codiv-19 diagnosticados na França continental

13 março: fechamento das escolas

14 março: fechamento de bares e restaurantes

15 março: eleições municipais são mantidas

17 março: início do confinamento

11 maio: data prevista para o fim do confinamento de maneira parcial- retorno ao trabalho e distanciamento social controlado com severidade.

Agentes de Viagens Unidos

Sou uma pessoa otimista, aqueles de seguem este blog talvez já tenham notado.

No entanto, afeiçôo particularmente o senso crítico e capacidade de análise. Duas características quase antagônicas, especialmente nos dias de hoje. De fato, não está sendo fácil encontrar assuntos positivos neste momento.

Afinal, mesmo vivendo um confinamento burguês, onde podemos descansar e voltar a desfrutar a companhia de familiares próximos ou ainda limpar aquelas gavetas que nos assombram em dias de muito trabalho, não é possível ignorar o sofrimento alheio ou ainda não pensar no futuro incerto que nos aguarda.

Por essa razão, manter o contato com familiares longínquos ou colegas de profissão através do WhatsApp  têm se mostrado fundamental para manutenção da minha saúde mental, assim como constatei ser o caso de muitas outras pessoas.

Há mais de um ano mantenho um grupo WhatsApp dedicado aos agentes de viagens com o tema Paris e a França. Ali, trocamos ideias e esclarecemos dúvidas sobre o destino. Os agentes escolhem à seguir sua operadora preferida para aquisição de passeios, quando desejado.

A título de informação, segue o link para os interessados:

Passeios em Paris e na França https://chat.whatsapp.com/BPakcqNomTs69gsrFdUirZ

A união faz a força

Porém, assim que a crise do Codiv-19 iniciou, muitos participantes sentiram necessidade de compartilhar informações com outros temas. Preocupada em manter o alto-astral do grupo dedicado à França e também receosa de perder participantes insatisfeitos com a perda de foco do mesmo criei um novo grupo destinado a nos unir, um grupo onde podemos compartilhar informações ligadas ao mercado, mas não somente.

A ideia da existência deste grupo denominado Agentes de Viagens Unidos é não deixar ninguém só, ter um lugar virtual de união, partilha, amizade, humor e por que não dizer até amor.  Ali, concorrentes se tornaram parceiros e nos apoiamos mutuamente sem distinção, dividindo informações úteis, piadas e também proporcionando descontração.    

Por essa razão deixo aqui o link e meu convite para que você, caro leitor (a) junte-se a nós.     

Agentes de viagens unidos: https://chat.whatsapp.com/Lj9hEpFJgyD1AwCHLg9vax

Afinal (infelizmente) são nas horas difíceis que as boas ideias aparecem. Como diz o dito popular: é quando a água bate na bunda que começamos a correr.

Uma hora o bom medicamento vai aparecer, a vacina será criada, acho fundamental “sairmos dessa” mais fortes e unidos, não é mesmo?