“Nem tudo é dias de sol”

Temperatura em Paris: O calor e o sol estão chegando para a temporada estival. Porém, apesar da chegada do verão, com escreveu Alberto Caiero, heterônimo de Fernando Pessoa: ““Nem tudo é dias de sol…”“*

Sendo assim, quando seu cliente perguntar como estará a temperatura em Paris durante sua viagem, não se preocupe! Você não precisa desiludi-lo e pode deixá-lo acreditando que, como todo bom agente de viagens, você conhece a temperatura média de todas as capitais e pequenas cidades do mundo a qualquer momento do ano. E, por mais incrível que pareça, você não precisará abordar qualquer questão climática para isso. Nem citar Fernando Pessoa.

Diga a seu cliente que as opções são tantas que ele não deve se preocupar com a questão. E esteja pronto para prová-lo! Afinal, credibilidade é tudo na hora da venda.

Passage des Princes, Boul Haussmann

É claro que a visita do museu do Louvre deve ser a primeira escolha em caso de chuva, porém se você está diante daquele cliente que ( provavelmente durante um circuito) já o conheceu ou daquele que não põe o pé em museus nem pagando (infelizmente isso existe) não comece a suar frio com medo de perder a venda. Conte a seu passageiro: em caso de chuva, mesmo quem detesta (ou já conhece todos) museus pode passar horas descobrindo maravilhosas galerias cobertas na margem direita do Rio Sena.

A grande maioria destas passagens datam do séc. XIX, primeiros shoppings centers da cidade, foram edificadas após a revolução francesa permitindo a burgueses passear, comprar e consumir em segurança.

A variedade de lojas, cafés, restaurantes, oferece diversão e distração durante horas. A beleza arquitetônica distinta de cada passagem convida a viajar no tempo e esquecer a temperatura afora, seja ela quarenta graus caniculares, chuvas esparsas ou tempestade.

Bom, bonito e gratuito

Classificadas Patrimônio Histórico da Unesco, as bordas do Rio Sena ganharam mais um novo espaço de lazer, diversão e descanso. 

Após grande polêmica e estudos quanto ao impacto no trânsito da cidade, a prefeitura de Paris não cedeu ao pânico geral dos automobilistas e inaugurou mais um trecho do grande Parque das Margens do Sena.

Este novo espaço, outrora uma avenida para carros, completa o projeto que transformou a beira d’água em um parque com mais de dez hectares, possibilitando inclusive uma caminhada de seis quilômetros da Bastilha até a Torre Eiffel. Ou ainda para aqueles com os pés cansados de tantas visitas turísticas, o lugar pode ser ideal para uma pausa, contemplar a paisagem e a “art de vivre” dos parisienses.

Veja o parque no vídeo a seguir:

Você sabia?

A semana passada não consegui “postar” e escrever sobre as diversas atrações turísticas parisienses,  o clima político me manteve prisioneira de um estado inexplicável. Como a grande maioria dos cidadãos que vive aqui, estava segurando o fôlego.

Depois da tempestade, a calmaria. Sendo assim, o momento não poderia ser mais propício para compartilhar com você leitor um fato pouco conhecido sobre Paris e, no entanto extremamente interessante:

Você sabia que a origem histórica da divisão entre a esquerda e a direita na política encontra-se na localização geográfica que tomaram os partidos políticos na Assembléia Nacional de Paris em agosto de 1789?  Durante um debate, sobre o peso da autoridade real face ao poder da assembléia popular na futura constituição, deputados em prol do veto real (principalmente membros da nobreza e do clero) reagruparam-se à direita do Presidente da Assembléia Constituinte (posição relacionada ao uso dos lugares de honra). Enquanto adversários deste veto reuniram-se à esquerda sob o rótulo de “patriotas”.

Após a revolução esta clivagem foi instituída no sistema de assembléias por todo o país: de um lado, à direita,  contra revolucionários e favoráveis das causas reais, do outro lado, à esquerda, os liberais, principais herdeiros da Revolução francesa, das liberdades individuais e defensores do livre comércio, partidários de uma monarquia constitucional equilibrada. No meio, entre os dois extremos, o Centro ou os Constitucionais e os Independentes.

No decorrer dos séculos seguintes essa cultura política se espalhou pelo planeta. Um conceito que atravessou os mares, o tempo, veio construir minha visão política do mundo. Por esta razão, cada vez que vejo o prédio da Assembléia Nacional fico emocionada e penso o quanto isso é incrível. Paris é e sempre foi assim, um caldeirão de novas idéias !

Além de ser o berço deste paradigma extraordinário, o antigo palácio Bourbon está situado na magnífica Praça da Concordia, frente ao Obelisco de Luxor e a Igreja da Madeleine. O conjunto arquitetônico é também de tirar o fôlego, mas felizmente graças ao centrista (socialista? quem sabe?!) Macron, voltamos a respirar tranquilamente!

fotos Wikipédia

Post-Scriptum

O edifício Palais de Bourbon foi uma mansão privada, construída pela duquesa de Bourbon, filha de Louis XIV e Madame de Montespan em 1722.  A primeira reunião da Assembléia Nacional foi realizada em Versalhes, mudou-se para Paris pouco depois, quando o povo trouxe Luís XVI e sua família de Versalhes para a capital.