Bom, barato e não engorda

Começou em setembro mais um ano letivo francês e com ele mais um ano comercial. É como o fim do Carnaval no Brasil. Hora de ligar para os fornecedores, negociar novas tarifas, pedir melhores condições e descobrir novos aumentos. Aumentos de preços sim, não de comissões! Ou alguém aí teve notícias diferentes nestes dias onde só se fala em crise? Dilma! Só a menção deste nome dá nó no estomago de muita gente. E o fluxo cambial então? Mas justamente, não quero falar de crise!

Como boa brasileira que sou, prefiro lembrar que a esperança é a ultima que morre. E a minha nunca morre!  Olhando “a parte cheia do copo”, já temos know-how de crise e assim vamos buscando alternativas mais baratas para resolver problemas nunca enfrentados. A falta de água, por exemplo, é triste, mas o aproveitamento de água das chuvas ou saneamento com recursos naturais se desenvolveram mais no Brasil em 2015 do que nunca antes. A necessidade nos obrigou a voltar nossas atenções para algo essencial, simples como o que existe na base da pirâmide de Maslow.

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Demorou! Enfim, demoramos!

Os Antigos já sabiam. A civilização grega, embora envolta pelas águas do mediterrâneo usava a denominação água somente para água doce, água salgada era tratada como ondas, mar, pélago, jamais com a palavra água.

Água: líquido insípido, indispensável à vida, benéfico.

Sim, desde a antiguidade as fontes de águas minerais já eram reconhecidas por suas diversas virtudes medicinais. Na França as águas minerais fazem parte de uma tradição histórica remota. Algumas das fontes francesas eram conhecidas pelos gregos e tornaram-se inclusive famosas durante a Antiguidade Romana. As primeiras menções escritas das fontes de São-Galmier (Badoit) e Vergèze (Perrier), ambas gasosas, datam desta época.

E mesmo se durante a Idade Média água e higiene não estavam muito em voga, foi graças a uma nascente de água com gás que peregrinos de Compostela construíram uma capela e batizaram a fonte de La Salvetat em seu caminho para a Espanha. Com esses peregrinos e seus cantis começou a idéia de levar as águas medicinais além das nascentes.

Henri IV em 1605 criou  a Carta de Qualidade Termal e nomeou o primeiro Superintendente de águas minerais da França. Porém, foi somente em 1778 que o médico do rei Luís XVI reconheceu oficialmente as virtudes digestivas das águas minerais, como as de Saint Galmier. Neste momento se inicia a epopéia da água Badoit, por exemplo. E assim, os séculos dezoito e dezenove são marcados por várias descobertas de fontes de águas naturais e seus benefícios: Evian, Vittel, Vichy entre outras.

No século XIX  a hidroterapia virou uma paixão nacional e em 1850 o Termalismo foi reconhecido como um tratamento de saúde coberto pela Segurança Social.  É a mesma Segurança Social que controla cada Spa e suas águas para que nenhuma bactéria se prolifere com um código mais restrito que um código de higiene hospitalar.

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Hidroterapia, Termalismo e Balneoterapia se distinguem pelos tipos de tratamento e pelas qualidades do H2O utilizado.

Hoje existem 115 instituições termais estabelecidas na França em 102 localidades, onde mais de 500.000 pacientes fazem um tratamento todos os anos. “Thermalisme”  é definido como todas as  medidas sociais, médicas, sanitárias ligadas à utilização de águas minerais e termais, gás térmico e argila. Uma terapia termal implica que sejam utilizadas águas com propriedades medicinais reconhecidas pela profissão médica.

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Thermes-Eaux-Bonnes na região dos Pirineus data de 1830.foto wikipedia
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Aix-Les-Thermes, antiga piscina de banho para leprosos da Idade Média. foto wikipedia

Estadias em estações termais francesas (ainda!) não são muito conhecidas do público brasileiro, mas para quem vêm a Paris e quer vivenciar um pouco desta maneira de viver tão francesa, aproveite! Nada mais fácil!   Vá a um supermercado, verifique os rótulos e compre a(s) que lhe for(em) mais conveniente(s).

Todas as águas minerais naturais engarrafadas são  provênientes de fontes subterrâneas preservadas da poluição humana, elas são retiradas em profundidade e não sofrem qualquer tratamento de desinfecção, por esta razão são consideradas perfeitamente puras. Cada água mineral tem uma composição específica que lhe confere uma identidade e sabor exclusivo.

Assim, as águas minerais com cálcio (mais de 150 mg/l de cálcio) ou magnésio (mais de 50 mg/l de magnésio) são ideais para aqueles que desejam completar um regime eventualmente deficiente nesses minerais. Graças ao cálcio previnem osteoporose e perda óssea e graças ao magnésio diminuem o cansaço cotidiano. Segundo minha opinião ( de médico e de louco, dos quais todo mundo tem um pouco) Evian e Vittel têm suficiente cálcio e magnésio para novos usuários. Outras águas como a Hepar e Rozana devem ser tomadas com precaução! Se ambas são ideais para um detox, são pouco indicadas para dias de atividades físicas. Resolvem qualquer problema de prisão de ventre em poucas horas.

Águas minerais bicabornatadas (conteúdo de bicarbonato superior a 600 mg/l) contribuem para uma melhor digestão.

As águas minerais naturais contendo sódio (mais de 200 mg/litro) são particularmente recomendadas para atletas envolvidos em esforços de intensos e prolongados. Águas fracamente mineralizadas são especialmente recomendadas para  lactentes.

Finalmente, as águas minerais naturais contêm vários oligoelementos (silício, flúor, zinco, cobre) envolvidos no funcionamento adequado do corpo. Escolha a(s) sua(s)!

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Gasosas a partir da fonte, nada adicionado artificialmente.
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Sem gás, para o paladar a água Mont Roucous é a mais parecida com a nossa água brasileira.

Fica a dica de um jeito bom, barato e que não engorda de se tratar bem em Paris.

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No Facebook a imagem vinha intitulada: Chique! Pensei comigo: A água do mar ao fundo não seria tão chique sem a Evian na frente. foto Mylene Correa.

 

PS: Nos restaurantes não hesite em pedir “une carafe d’eau” se deseja uma jarra de água “torneiral” potável e gratuita. Querendo economizar, use e abuse das águas encontradas nos supermercados. Se der uma de experto no restaurante e pedir “eau” ( diz-se Ô) responderão com a pergunta: Evian ou Badoit ou ainda Vittel ou Perrier? Ou então: Plate ou Pétillante*? *Sem ou com gás?

E para terminar, veja as minhas “pubs” preferidas das águas Contrex e sua campanha :Emagreceríamos Mais Rápido Se Fosse Mais Divertido.

Pub: Contrex para emagrecer!

Pub: Contrex, apagando o fogo!

 

 

Ele disse, ela disse

Estou voltando de férias e preparando um novo post, mas também tirando o atraso de inúmeras questões pendentes. Então, para não fazê-lo mais esperar querido leitor, edito esta semana um texto escrito anteriormente. Elaborei-o lendo aqui mesmo no PanRotas as ótimas crônicas do querido colega Paulo Salvador, a quem aproveito para agradecer, mais uma vez, a participação na brincadeira.

 

Conheça agora a versão masculina e feminina da mesma viagem.

 

Ele disse: o modelo histórico de se fazer turismo é como um curso de história e arquitetura. Os agentes de viagem não incluem praticamente nenhum contato com os nativos em seus roteiros.

Ela disse: Por isso o ideal é optar por passeios que incluam visita a adegas francesas, restaurantes típicos regionais e ofereçam  degustações de produtos locais.

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Foto concedida pelo Castelo de Chantilly

Ele disse: Aqui vão algumas dicas de onde e como encontrá-los (os nativos):

Não ir em Agosto: no mês de agosto toda a cidade sai de férias. As padarias fecham, as feiras ficam sem os feirantes, os pequenos restaurantes fecham, o trânsito fica um inferno, as ruas entram em obras e muitas estações do metro entram em manutenção. O que sobra são turistas e mais turistas. A cidade perde a alma.

Ela disse: Tenho amigos que vieram no mês de agosto e simplesmente adoraram a calma da cidade, pouco trânsito, metrô confortável, sem stress, espaço à vontade.

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Ele disse: Programar a viagem para a primeira semana do verão: Todos os anos, no dia 21 de Junho a França inteira comemora a chegada do verão com a “Fête de La Musique”. É o único dia que todos os músicos amadores são autorizados se apresentar na cidade. Paris vira um grande palco: em cada esquina bandas tocando, DJs performando, pessoas dançando ou uma simples soprano ensaiando. Todos os moradores saem às ruas para prestigiar a festa e os artistas.

Ela disse: 100% de acordo. Este é um ótimo momento para encontrar a população, além de tudo festiva é amigável.

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Ele disse: Nos domingos e feriados inúmeros parisienses se encontram nos parques para comer um sanduíche, beliscar lascas de queijo e bebericar uma taça de vinho rosé. Junte-se a eles!

Ela disse: Como turista vá a um parque entre a visita a um monumento e qualquer outra atração. Aproveite este momento para descansar os pés e recarregar as energias. Durante suas visitas cruzará muitos deles: Jardins de Tuleries na frente do Louvre, Champs de Mars abaixo da Torre Eiffel, o pátio inclinado na frente do Sacre-Coeur, são os mais próximos às principais atrações.

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Ele disse: Passar um fim de tarde romântico na margem do Sena: Vá até a Pont Neuf, desça as escadarias até alcançar a última ponta da Ile de La Cite*. Sente-se. Veja os barcos passar quase tocando os pés na água. Beba champanhe escondido (comprar uma meia garrafa e duas tacas nas inúmeras “caves” da cidade).

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Ela disse: Outra opção romântica para admirar o Rio Sena é a Ponte das Artes (conhecida com ex-ponte dos cadeados), totalmente pedestre, bem na frente do Louvre. (Como você vê, gosto de maximizar o tempo dos visitantes). Inclusive a vista e foto da Ile de la Cité a partir deste ponto é linda. Junte-se aos artistas e estudantes que param ali para tocar música, bater um papo e ver os barquinhos passando enquanto bebem um vinho.

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Cruzeiro noturno pelo Sena foto Bateaux Parisien

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Aliás, acho um cruzeiro pelo Sena ainda mais romântico. Ao invés de olhar os barquinhos, embarque e desfrute do romantismo vendo os monumentos desfilarem à sua frente. Existe possibilidade de cruzeiro com champanhe e até mesmo com refeição.

Ele disse: Subir no topo da Torre Eiffel considero um dos maiores programas de índio parisiense: o turista paga, fica horas na fila, sobe o elevador e não vê a coisa mais bonita da cidade pois ele esta em cima dela.

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foto Oficio de Turismo de Paris

Ela disse: 100% de acordo. A não ser que você siga a dica e compre os tickets com antecedência pelo site, evitando as filas. A vista lá em cima vale a pena. Mas não merece mesmo a perda de meio dia em Paris em uma fila.

Ele disse: Não suba na Torre Eiffel: siga pela linha 6 do Metrô e desça na estação Montparnasse. Entre no edifício mais alto e feio de Paris: a Torre Montparnasse. Suba até o 56º andar e vislumbre a vista mais fantástica da cidade: ela mesma, a Torre Eiffel, com o Trocadero no fundo. No final da tarde o espetáculo é ainda mais estonteante.

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foto concedida pela Torre Montparnasse, anterior a recente reforma

Ela disse: Solicite entradas ao receptivo local.

Ele disse: Uma das coisas boas de morar na Europa é poder viver intensamente cada estação. Para mim o outono é a melhor delas. A fotografia de Paris é mais ou menos assim: a luz do dia se mistura com as folhas meio verdes-meio vermelhas. O vento sopra e elas voam por toda parte se esparramando no chão e pavimentando as ruas. Uma paisagem idílica.

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Cores de Outono em Amboise, Loire

Ela disse: Na primavera e no verão certas paisagens são surpreendentemente coloridas para pessoas que vem de um país tropical como o nosso. O hábito de colocar floreiras nas janelas ou ainda as paisagens dos jardins dentro e fora de Paris são se tirar o fôlego.

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Jardins enfeitam as casas durante toda a temporada de calor. Na foto casa de Monet, em Giverny

Ele disse: A última dica vai para hospedagem: Uma vez na vida fuja dos hotéis, alugue um estúdio (um pequeno apartamento de 30m2 inteiramente equipado) e sinta-se como um parisiense. Esse mercado é extremamente profissionalizado, a oferta é ampla, os imóveis bem decorados e sempre bem localizados.

Ela disse: Nada melhor durante férias que um hotel. Limpeza feita, cama arrumada, café da manhã logo ali. Relaxe e deixe o quotidiano de lado durante sua viagem.

 

PS * Jacques de Molay, o último templário, foi queimado vivo nesta ponta da Ile de La Cité em 1314, lançando uma praga ao Rei Felipe o Belo que acabou com a dinastia dos reis capetianos na França. O acontecimento foi tema principal da incrível saga Os Reis Malditos escrita por Maurice Druon.

 

Agosto, um mês especial

O mês de agosto em Paris não é um mês como qualquer outro. É o segundo e último mês de férias escolares veranil  e também “O” mês de férias nacional. Na realidade as férias de todo mundo parecem estar divididas entre julho e agosto. A cidade não está totalmente parada, mas quase. 2/3 do comércio está fechado*. O outro 1/3 já saiu de férias imperceptivelmente em julho.

Há quem pense que esta não é uma boa época para visitar Paris. Efetivamente, para quem gosta de compras, julho é muito melhor. Porém, em contrapartida, se você não gosta de trânsito, de buzinas, de meios de transporte lotados, se você sonha em andar de bicicletas em Paris ou deseja tirar fotos únicas da cidade luz, este é o momento!

Atravessei a cidade hoje de manhã com minha bicicleta, do distrito 2 na margem direita até o 15° na margem esquerda: ZERO STRESS!

As ruas estão vazias, nem é preciso acordar às seis da manhã para tirar fotos e obter imagens “à lá Woody Allen”. A luz matinal é lateral até pelo menos dez da manhã e os fins de tarde reservados aos poucos jovens profissionais aficionados parisienses e muitos turistas, os verdadeiros amantes de Paris!

Sem falar na quantidade de festivais que a prefeitura põe a disposição para aqueles que optaram por não enfrentar os pontos turísticos europeus lotados durante a alta temporada: Festival de filmes ao ar livre, Paris Plage, Les Berges de la Seine, para citar alguns deles.

Então se você já ouviu alguém dizer que Paris não é bom em agosto e acreditou, revise seus conceitos, pois para o verdadeiro “parisien” agosto é mês ideal para desfrutar da beleza de sua cidade com tranquilidade, ar puro**e, além disso, uma série de animações públicas. Vai querer mais o quê?

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Sorria! Hora da foto no jardim do Palais Royal

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Uma tarde muito calma de domingo.
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Fim de semana, ruas vazias. Ao fundo a antiga bolsa de comércio de Paris.
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Sem tumulto, ideal para fotos
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Os jovens parisienses mantém a tradição de ir ao bistro tomar uma taça de vinho e fumar um cigarrinho.
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Ruas pedestres e cafés animam a vida do parisiense em agosto.
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Olha essa ponte. Cade o povo? Uma de minhas fotos preferidas.
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Embora pouco encontrado nos pontos turísticos, o verdadeiro parisiense está aqui.

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Post Scriptum

*Como a contratação de mão de obra temporária ou execução de horas extras são taxadas com encargos extraordinários não é viável para o comerciante fazer um revezamento do pessoal para férias. Para qualquer empresário é mais barato privar-se do volume transacional de um mês ao ano. Só não pratica este técnica quem não pode.

** Este é o primeiro ano em que os automobilistas não desfrutam de estacionamento grátis em Paris durante o mês de agosto. A nova diretriz da prefeitura visa preparar a cidade ao projeto futuro de uma capital sem veículos.