Paris insólita

Eu raramente falo de turismo insólito, porque embora muita coisa extraordinária aconteça por aqui, antes de partir a descoberta de Paris insólita, há tantas outras a serem descobertas. Paris histórica, Paris arquitetônica, Paris moda & beleza, Paris romântica, Paris de Eiffel e Jules Verne, Paris capital da modernidade,da boemia, do impressionismo, do dadaísmo, da Belle Époque, Paris dos pracinhas, Josephine Baker e do Jazz, Paris religiosa da medalha milagrosa, enfim, estes são apenas alguns dos ângulos a partir dos quais podemos descobrir Paris.

Sendo da área do turismo, costumo dar destaque em meus textos a atividades turísticas e clássicas por que são o “B-A-BA”  de Paris. Os próprios parisienses adoram sua cidade porque valorizam todos os aspectos acima mencionados. Como ficar indiferente a tantos monumentos que marcam cada momento histórico vivido pela cidade expostos com tanta altivez e beleza? São 1816 imóveis classificados pelo Patrimônio Francês espalhados por 105 km2. O quadro abaixo, proveniente do Wikipédia, nos permite ver os prédios classificados como Patrimônio Francês através dos 20 distritos de Paris.

Edifícios Edificios Distrito Edifícios Distrito. Edifícios
1er 245 6e 188 11e 44 16e 65
2e 113 7e 139 12e 35 17e 22
3e 141 8e 110 13e 23 18e 29
4e 252 9e 124 14e 51 19e 24
5e 107 10e 55 15e 26 20e 17

 

Porém é bem verdade que Paris é muito mais do que uma série de pontos turísticos mundialmente famosos. Quem caminha por suas ruas se apaixona por um “não sei o que”, que mesmo tendo visto todos os monumentos inúmeras vezes, podendo, volta.

Este  “não sei o que”  que nos trás milhares de turistas de volta a Paris está no ar, nesta vida de parisiense, eclética, divertida e animada. Aqueles que se deliciam caminhando à beira do Sena, entre as mesas dos cafés nas calçadas, podem sentir, ver nos anúncios do metro, no rosto dos transeuntes: em Paris há sempre algo extraordinário acontecendo em algum lugar. Há tanta coisa que até para quem vive em Paris fica difícil acompanhar uma agenda tão intensa.

Eu, por exemplo, ainda tenho esperança de poder seguir os cursos de Yoga da Peggy e Jeff.  Durante cada temporada cursos de yoga em lugares diferentes e excepcionais. Estes jovens mestres de yoga são o máximo da inovação. Peggy e Jeff convidam através de seu site para aulas de yoga nos lugares mais inusitados da capital: o teto da loja BHV, o Jardim de Tuileries, as margens do Sena ou no Parc de la Villette. Dê uma olhada nas imagens se desejar: Yoga on Top -sessões de Yoga de Peggy e Jeff

Ainda falando de insólito, Março é o mês da 17° Edição da Primavera dos Poetas com o tema A Insurreição Poética.

Trata-se do evento mais democrático que já vi. Você pode se inscrever em quaisquer das atividades propostas no site ou ainda criar a sua ação poética e convidar outras pessoas. Atividades e ações poéticas em diversas bibliotecas, espaços públicos e comunitários. Além disso o site publica uma lista de sugestões para participações alternativas como troca de livros entre colegas de trabalho, entrega de poesias, chamada de performances poéticas sob encomenda e mais uma série de possibilidades.

Para a lista de atividades em Paris

17° Primavera dos Poetas -eventos

Desejando-lhe, caro leitor(a) uma ótima semana, deixo aqui também minha colaboração a Insurreição Poética

Embriagai-vos

Embriagai-vos

É necessário estar sempre bêbado.

Tudo reduz a isso, eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo,

que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Contanto que vos embriagueis.

E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, ou na desolada solidão do vosso quarto, despertardes com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,

perguntai ao vento, à vaga e a estrela

e o pássaro e o relógio hão de vos responder: – É hora de embriagar-vos!

 Para não serdes os martirizados escravos do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos, sem cessar!

De vinho, de poesia, ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire 1821 -1867

 

O circo do último imperador da França

Nas duas últimas semanas não pude escrever com a frequência desejada, mais umas das inúmeras férias escolares veio mudar a rotina habitual. No Brasil dois longos períodos de férias e os feriados compõem a vida estudantil e parental. Aqui a cada dois meses os estudantes são premiados com pelo menos quinze dias de pausa. Dividida em três zonas diferentes toda a França estudantil para de maneira intercalada. Um quebra cabeça que resulta em muito drible e vai e vem com filhos entre a casa dos avós, entre a casa dos amigos, a televisão, o Ipad e os eventuais passeios em família. Pouco importa o esforço e resultado, para muitos pais que continuaram trabalhando como eu, um sentimento de culpa eminente plaina no ar nestes dias.

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Nesta dupla jornada, enquanto trabalho eu me digo que deveria estar vendo meu filho crescer e quando estou com ele, quantas vezes não penso no trabalho, nas obrigações profissionais e financeiras? Sentimento de culpa! Embora tenha certeza de não ser a única nesta situação, por um momento me sinto perdida. Preciso falar com meu terapeuta! Ops, eu não tenho terapeuta. O que fazer para se livrar do sentimento de culpa? Você faz o que? Dá desculpas ou pede desculpas?

Encontro consolo pesquisando e descobrindo o que fazer com uma criança de dez anos nesta cidade, me dizendo que do ponto de vista profissional as dicas servirão as famílias que vêm a Paris e pessoalmente todo ser humano tem direito e dever de se ocupar de seus filhos. Que mensagem passaríamos para a geração futura se colocássemos dinheiro antes do amor?

Talvez se eu vivesse em Orlando fosse mais fácil, um parque ou uma novidade para cada dia. “Eita” lugar para ter novidades! E atenção, em menos de vinte anos a novidade poderá virar obsoleta e construírem no mesmo lugar algo duplamente impressionante.

Já em Paris, foi o cinema Rex, que data de 1937 e sua sala de cinema e espetáculos que me salvou por algumas vezes nestes quinze dias de férias escolares urbanas. Patrimônio Nacional, o cinema Rex é o palco das estréias e tapete vermelho obrigatório para artistas americanos em visita a Paris, desde Cary Grant e Greta Garbo, até Bruce Willis ou Angelina Jolie. Além dos melhores filmes da cidade, a sala principal com seus 2700 lugares, oferece a decoração de origem repleta de esculturas e cenários característicos das grandes produções cinematográficas do inicio do século XX. A atração permanente Estrelas do Rex faz uma síntese da cinematografia e da história da sala com apoio de divertidos efeitos tecnológicos. Infelizmente a narração unicamente em francês faz com que a experiência se restrinja aos turistas francófonos.

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Porém, de longe, a melhor das atividades foi à ida ao tradicional Circo de Inverno, ver o espetáculo da família Bouglione. Construído por Napoleão III em 1852 com mais de 5000 lugares para acolher as artes equestres e espetáculos diversos, o prédio é um verdadeiro coliseu do século dezenove. Atualmente com 1600 lugares a fim de condizer com as normas de segurança contemporâneas, o Circo ainda impressiona por sua beleza, conforto e visibilidade perfeita. Em 1934 a família Bouglione comprou o edifício, diz a história pagando com peças de ouro e desde então vem gerenciando o lugar com os melhores espetáculos circenses do mundo. Foi, por exemplo, no circo Bouglione que em 1859 Jules Léotard inventou o número de Trapézio Voador. Aliás, que coincidência, no espetáculo Gigante, em cartaz  até dia 1° de março, o quadro de trapézio era realizado pela espetacular família brasileira Mendoza.

Elefantes, cachorros, orquestra, mágica, um grande palhaço, trajes maravilhosos, não faltou nada!

Uma fórmula vitoriosa que atravessou os tempos. Assim é Paris.

PIcadeiro e artistas Paris Visibilidade perfeita Trapezio PIcadeiro 2 Entrada Logo e Cavalo Bouglione Exterior Entrada artistas Entrada 2 Elefantes

No mais, caro leitor, desculpe pelo atraso do post, espero que a dica compense!

Pois no inverno que vêm (entre novembro e março), como há mais de 150 anos, o circo de Napoleão III estará de volta!

fotos: Alessandra Brantes

O que fazem aqueles que não têm petróleo

“A moda é para a França, o que as minas de ouro do Peru são para a Espanha.”- Jean-Baptiste Colbert, Ministro das Finanças e conselheiro de Luís XIV – século XVII.

O domínio francês no mundo da moda começou no século XVII, quando a arte, a arquitetura, a música e os trajes de Luís XIV e da corte de Versalhes eram apreciados e imitados por toda a Europa. Alfaiates e costureiros franceses desfrutavam de uma grande reputação e suas criações eram as mais procuradas pela nobreza e mais tarde pela burguesia emergente européia. No século XIX, com a chegada dos trens e barcos a vapor, tornou-se comum para as senhoras da alta-sociedade viajar a Paris para comprar roupas e acessórios franceses.

É bem verdade que a Espanha não tem mais as minas de ouro do Peru, mas somente um ministro muito visionário ou muito “puxa saco” para prever que os gastos de Luís XIV com suas roupas se tornariam investimento nacional em longo prazo! Não é à toa que os franceses gostam de dizer: Na França não temos petróleo, porém temos cérebros.

Certamente é graças a este eterno amor francês por sua cultura que nos meios artísticos só se fala de uma coisa: Jean Paul Gaultier.

Enfim, o filho pródigo, (lembra-se do choque ao ver pela primeira vez tênis e tutus de balé?) se tornou garoto prodígio da moda parisiense e estará de volta ao berço materno com a tão esperada exposição O planeta moda Jean-Paul Gaultier – da rua para as estrelas.
Jean Paul Gaultier cresceu perto de Paris e desde criança conviveu com o mundo da beleza. Não na rua e sim no salão de beleza da sua avó, onde ele admirava as sessões de maquiagem e cabelo, assim como as revistas de moda colocadas à disposição da clientela. Rapidamente, o jovem autodidata começou a desenhar coleções imaginárias e logo que completou 18 anos foi contratado por Pierre Cardin, começando assim uma carreira com muitos altos e baixos, porém tendo como constantes a polêmica e o apoio do mundo artístico. Lembra-se dos seios em cone da Madonna?

“Desde sua primeira coleção em 1976, você têm questionado os critérios de gosto e de mau gosto. Você chocou, perturbou e irritou, divertiu-se dissimulando pistas com um guarda-roupa ambivalente e intercambiável, falou Pierre Cardin ao entregar a Jean-Paul Gaultier a Legião da Honra da França em 2001».

Após um sucesso sem precedentes para uma exposição sobre moda, tendo passado por Montreal, Dalas, San Francisco, Madrid, Roterdã, Estocolmo, Brooklyn, Londres e Austrália, a chegada em Paris, cidade onde iniciou seu percurso profissional, marca um ponto importante da carreira de Jean Paul Gaultier. Pelo que li, uma recepção entusiástica espera a exposição.

O mundo da moda de Jean Paul Gaultier revela novas peças de alta costura e prêt-à-porter criadas entre 1970 e 2013. Além disso, a mostra reúne desenhos, arquivos, figurinos, trechos de filmes, desfiles, shows, videoclipes, fotos, performances de dança e até mesmo da televisão. O ponto alto do evento deve-se a colaboração da companhia de teatro montrealense UBU e do Museu de Arte Moderna de Montreal. Os aspectos multimídia e interativos da exposição prometem levar o visitante a um mundo elegante e criativo, que vai, no entanto, muito além do mundo da moda.

Le Grand Palais
01 Abril 201503 Agosto 2015

Domingo e Segundas de 10h a 20h

Quartas a Sábado de 10h a 22h

Fechado as terças e 1° de maio

Noite Européia de Museus  Sábado 16 Maio : entrada gratuita de 20h à meia-noite