Sodexo cede Le Lido de Paris ao grupo Accor

Indiferente às transações financeiras, a trupe artística acaba de incrementar ainda mais o espetáculo Merveilles.

a transação e planos futuros

As vésperas de seu 75° aniversário, o mítico cabaré Le Lido de Paris foi cedido pela Sodexo ao grupo hoteleiro Accor.

O valor da transação não foi anunciado, mas aparentemente a compra foi efetuada por um valor simbólico. De fato, é fácil conceber que o Lido de Paris seja um espetáculo difícil de se rentabilizar. O aluguel da sala situada no Champs Elysées deve ser altíssimo e os encargos trabalhistas dos inúmeros colaboradores ( artistas, dançarinos, garçons) exorbitantes.

O diretor executivo do grupo Accor, Sébastien Bazin declarou na mídia local que deseja mudar a sala de registro e torná-la um templo do teatro musical. Isso significa não precisar necessariamente de um grupo de artistas permanentes que terá de ser realocado – um licenciamento de alto custo que também foi considerado na negociação de compra.

Uma vez o show redesenhado, o Lido será integrado ao programa de fidelidade Accor Live Limitless, que oferece ofertas exclusivas para seus membros, franceses e estrangeiros.

Lido de Paris sob nova direção

Eu que sou fã do Lido não pude deixar de sentir desde já certa nostalgia. O espetáculo criado pelo diretor artístico, Franco Dragone, mal teve tempo de se tornar renomado, especialmente porque sua provável ascensão foi freada pela crise da Covid-19.  E, no entanto, o espetáculo é de longe o mais chique e impressionante dos cabarés conhecidos da cidade.

Além de mais de 60 bailarinos, artistas circenses, garçons e colaboradores diretos, o cabaré mantem viva a arte de chapeleiros, plumistas, costureiros, bordadeiras e outras profissões ligadas ao mundo do espetáculo que poderão ser afetadas com a mudança.

Para nosso mercado a novidade também pode representar uma perda. A casa sempre foi ótima parceira da cadeia de profissionais do turismo. Esperemos que mudança de mãos para o grupo Accor nos reserve boas surpresas tanto artísticas como comerciais.

Estou certa de que Jean-Luc Choplin, o futuro diretor artístico da casa, fará algo também incrível no futuro. O mestre do teatro musical que traz em seu Curriculum passagens pela Disney, pelos importantes teatros do Châtelet, La Seine Musicale e o Théâtre Marigny.

Le Lido de paris-inesquecível

Para comemorar seu septuagésimo quinto ano de vida e suas 27 revistas, o cabaré que recebeu em seu palco personagens como Édith PiafMarlene DietrichJoséphine BakerLaurel et HardyDalidaShirley MacLaine ou ainda  Elton John, preparou um novo quadro: Inoubliable ou Inesquecível.

Veja abaixo o vídeo promocional de Inesquecível:

Coincidentemente, o titulo da nova cena que põe em destaque aos melhores momentos da casa de shows expressa bem meu sentimento quanto à experiência de ir ao Lido: um momento inesquecível!

(The last but not the least) Assim, antes de terminar esse texto, quero dar meus parabéns aos artistas de Merveilles e espetáculos anteriores, assim como para toda equipe comercial* do Lido de Paris e deixar meu sincero Bravo!


Nota: O Lido segue aberto e funcionando normalmente até nova ordem.


* um pensamento especial para a profissionalíssima e hoje aposentada Marie Christine d’Ornelas, mon chèr et grand ami Gerard Daniel, a querida Carla Alegria, a empenhada Patrícia , ao educado e reativo Joaquin, assim como as lindas dançarinas Charlotte e Alexia e seus colegas.

Tradição ou programa para turista?

Há algum tempo, na frente de um cabaré, uma família de brasileiros discutia se o espetáculo poderia ser impróprio para os adolescentes daquele grupo. Intrigada com a cena, e desejando evitar qualquer mal-entendido, eu fui procurar o significado da palavra cabaré: “um lugar onde se pode comer ou beber assistindo a um espetáculo artístico”.

Ainda hoje, no Brasil, muitos confundem um cabaré com um bordel. A palavra cabaret significa bandeja, peça de mobiliário muito em voga no séc. XVIII. O restaurante-sala de espetáculos denominado cabaret aparece na Belle Époque

Final do século XIX, Paris é a capital da diversão e da cultura. O primeiro café-concerto a abrir suas portas, em 1881, foi o Le Chat Noir, inovando com seu jornal literário e as primeiras “jam sessions” conhecidas da história.

Tournée du Chat Noir de Rodolphe Salis
Placa do Tournée du Chat Noir, o bar de Rodolphe Salis

O ano de 1889 marca o centenário da Revolução Francesa, com a Exposição Universal de Paris. A capital, então idealizada como o “centro do mundo”, se prepara para acolher a nata da sociedade internacional, assim como visitantes de toda França. Dois novos cabarés abrem suas portas: “Le Moulin Rouge”, localizado no bairro que viria a ser o centro da boêmia alguns anos depois,  Montmartre, e “Le Paradis Latin”, situado na margem esquerda do Sena, que desfrutando das reformas para a Exposição Universal, foi restaurado pelo prestigioso Gustave Eiffel.

 

 

Paradis Latin, Paris
French Can Can no autêntico Paradis Latin

Paradis Latin acrobate
Christopher o trapezista do Paradis Latin

 

Angelo o equilibrista do Paradis Latin e seu monociclo
Angelo o equilibrista do Paradis Latin e seu monociclo

Nestes lugares de diversão e encontros, as barreiras sociais se dissipavam momentaneamente, com festas que agrupavam artistas, intelectuais, prostitutas e burgueses debaixo do mesmo teto.

Após a primeira Guerra Mundial, em 1936, o “Lido” abre as portas com um conceito de clube privado e, em 1941, inaugura uma nova fase aonde o cabaré se aproxima do teatro de revista caracterizado por uma espécie de “diversão-glamour”, com dança e beleza para que os frequentadores esquecessem as tristezas da guerra.

Le Lido de Paris
Patinadores no Lido de Paris

Lido de Paris
Pierre Marchand e seu diabolo no Lido de Paris

Bailarinas do Lido de Paris
Bailarinas ou Bluebell Girls do Lido de Paris

Já em 1951, após a 2ª Guerra Mundial, o “Crazy Horse” é criado misturando o conceito de diversão-glamour e strip-tease “à lá americana”. Mais erotismo em cena, porém com luxo e classe.

Crazy horse paris
Crazy Horse Paris

E para quem ainda pensa que isso é coisa de turista, saiba que além dos grandes cabarés acima, vários outros, menos internacionais e bem menores, recebem quotidianamente uma clientela exclusivamente parisiense como La Nouvelle Ève, Le Lapin Agile, La Nouvelle Époque, Le Cesar Palace. Comer e divertir-se apreciando o trabalho de  seus artistas é uma tradição francesa.

Atualização do programa com Mugler Folies

É preciso muita ousadia para lançar um novo cabaré na cidade-berço dos mais tradicionais cabarés do mundo. Paris já era a cidade dos cabarés antes do criador de moda Manfred Thierry MUGLER se lançar neste negócio, porém agora, a variada oferta ficou ainda mais completa.

Embora originalíssima, a proposta do espetáculo respeita as exigências de um verdadeiro show de cabaré. Vinte atores demonstram seus variados talentos a uma plateia que acaba de jantar ou que escolheu somente ficar bebericando champanhe. Uma das inovações consiste em os números artísticos estarem amparados por cenários compostos quase que unicamente por projeções, jogos de luzes fantásticos, modernos e high-tech.

Na capital Paris, a moda e a beleza feminina são temas comuns nos cabarés e, como não poderia deixar de ser, Thierry MUGLER criou trajes futuristas, delirantes e sensuais para tratar estes temas, modernizando a linguagem deste universo. Não é sabido se o show está de passagem ou se chegou para ficar. Acredito que Thierry MUGLER vai ver se a sua nova moda MUGLER FOLIES pega ou não.

Paris Mugler Folies
Mugler Folies

Mugler Folies
Mugler Folies