França-Fronteiras Abertas, liberdades restritas

França-Fronteiras Abertas: a notícia chegou através dos amigos brasileiros e surpreendeu a todos por aqui.

Nos jornais locais nenhuma menção das novas medidas que abrem as fronteiras para pessoas vacinadas de todo o mundo, inclusive os países catalogados em vermelho pela França, como o Brasil.

De fato, como a “arma de guerra” mais querida ao governo, a mídia, poderia anunciar a abertura de fronteiras? A mesma que já se perguntava como amenizar o impacto das milhares de pessoas andando nas ruas contra a obrigação do passe sanitário e suas consequências na política de vacinação, preferiu assim ignorar completamente o novo decreto.

Neste momento, a escolha da mídia foi dar destaque ao aumento do número de casos de Covid-19 no país.

Afinal, como reagiria o povo, destinado a aceitar a perda total de liberdade individual em função da gravidade sanitária sabendo que a tal gravidade não é significativa o suficiente para mantermos as fronteiras ainda fechadas?

Eu acho que sei o porquê, mas antes de explicar as razões das novas medidas governamentais abrindo as fronteiras, é necessário explicar as razões dessas 120 000 pessoas que foram às ruas sábado, dia 17 de julho.

Movimento contra o passe sanitário

Nem todo mundo que foi as ruas é contra vacinas, mas sim contra a apresentação do passe sanitário e da carteira de identidade obrigatórias em todo lugar.

Primeiramente por que seus dados pessoais e o segredo médico são sagrados e não cabe ao porteiro da discoteca obtê-los por exemplo.

Segundo, por que o francês pensa demais, não crê em improvisação.

Então, o dono do bar se pergunta quem vai fazer o controle do seu recinto?! Um funcionário à mais, que custará em torno de 38 000 euros ao ano (salário mínimo e encargos)? Ele (o próprio dono) vai dar uma de policial? E o que vai acontecer quando um cliente enfurecido recusar apresentar seu passe e insistir que quer beber?  

Os policiais não são obrigados a ter passe sanitário, ou seja, não são obrigados a se vacinar. Então uma pessoa potencialmente não vacinada vai entrar num recinto para controlar os vacinados? E o proprietário do restaurante, que pode levar uma multa de 45 000 euros em caso de recusa de controle, vai autorizar um policial sem passe sanitário controlar seus clientes?

Aliás, porque os policiais e militares não tem obrigação de se vacinar, como todo o resto da população?

E o diretor da escola está pensando: quanto tempo levará para controlar 1500 alunos chegando às portas de sua instituição todos os dias?

Nos shopping centers a pergunta é a mesma. Controle nas portas de entrada de passe e carteira de identidade? E as longas filas nas ruas, sem máscaras, serão menos perigosas?

Muitos se perguntam: quanto custará a máquina que vai “escanear” os passes impressos em papel? O telefone será suficiente ? Telefone de quem?

Em caso de recusa de vacinação o licenciamento de um funcionário, processo extremamente lento e laborioso na França, será por justa causa?

Outros querem saber o que o governo vai fazer com toda essa informação: onde cada cidadão esteve a cada segundo de sua vida?   

Anti Vacinas

Além dessas pessoas que se perguntam sobre a praticidade e funcionalidade das novas medidas em prol do controle sanitário, juntam-se obviamente aqueles que são realmente contra a vacina. Estes clamam que as vacinas foram aprovadas em caráter emergencial e não passaram pelos testes padrões de homologação, sendo assim experimentais.

Note que essa informação, de que as vacinas não passaram pelos testes regulatórios é falsa.

No entanto é fato que as indústrias farmacêuticas, assim como o governo, recusam qualquer responsabilidade em caso de reação debilitante ou morte causada pela vacina. Sendo assim, como obrigar?

Outros querem saber porque países com a maioria de vacinados devem confinar novamente, como Israel.  

Isso sem falar nos outros inúmeros Fake News que se multiplicam nas redes sociais como esse afirmando que não somente o governo recusa toda responsabilidade, mas também as seguradoras se recusariam a pagar seus assegurados ou familiares caso um óbito seja causado pela vacina.

Um clima de desconfiança impera entre parte da população.  

FRONTEIRAS ABERTAS, LIBERDADES RESTRITAS

Enfim, onde se encontra o sentido disso tudo? Por que declarar fronteiras abertas em pleno aumento de casos de Covid-19 e recusa do uso do passe sanitário obrigatório pela população?

A resposta se encontra no dindim, na bufunfa, no dinheiro que o governo precisa parar de gastar com os auxílios emergências dados aos interventores do turismo. A economia precisa voltar ao normal.

E as notícias do aumento do Covid-19 nisso tudo? Efeito midiático?

França-Fronteiras abertas e os dados sobre A Covid19

Seguem alguns dados em link e abaixo um pequeno resumo

Site Saúde Pública com dados atualizados.

No total, 6.936 pessoas estão hospitalizadas na França devido ao Covid-19, hoje 14 a mais do que no dia anterior, quando esse número caiu para o menor nível desde outubro.

A tendência é a mesma nos serviços de reanimação, que tratam os casos mais graves: as UTIs acolhem atualmente 891 pacientes, um a mais do que no dia anterior, quando essa estatística foi a mais baixa desde setembro.

O número de mortos de domingo foi de cinco pessoas nas últimas em 24 horas, elevando o número total de mortes para 111.501 desde o início do surto.

Da mesma forma, a pressão nos hospitais permanece moderada.

De acordo com a Direção-Geral da Saúde, o marco de 45% do total da população totalmente vacinada foi alcançado no domingo 30.339.179 pessoas. Além disso, 37.544.220 pessoas receberam pelo menos uma injeção (55,7% da população total).

Visitantes e vacinas aceitas em território francês

As vacinas aceitas pela França são aquelas reconhecidas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA): Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Johnson & Johnson. 

A comprovação da vacinação é válida apenas na condição de atestar a realização de um esquema vacinal completo, e o tempo necessário após a injeção final, a saber:

2 semanas após a 2ª injeção para vacinas de dupla injeção (Pfizer, Moderna, AstraZeneca);

4 semanas após a injeção de vacinas com uma única injeção (Johnson & Johnson);

2 semanas após a injeção de vacinas em pessoas que tiveram um histórico de Covid-19 (apenas 1 injeção necessária).

A aceitação das vacinas com origem chinesa como Sinovac, Coronavac estão em estudo e sua aprovação não deve demorar. Inclusive para aqueles que tomaram essas vacinas, vale lembrar que muitos médicos franceses defendem não somente a eficácia das mesmas, mas também a metodologia tradicional aplicadas em suas elaborações.

França-Como funcionarão os controles para estrangeiros?

Isso eu ainda não posso dizer. Ninguém aqui sabe muito bem. A grande maioria dos sites sobre o assunto ainda não foi atualizada em francês (Diplomacia França). Minha vizinha, aeromoça da Air France, que acaba de chegar da Ilha da Reunião esta manhã ainda não sabia da novidade, mas segundo ela, as companhias aéreas se adaptaram às diferentes medidas para cada país, se readaptarão rapidamente.

Paralelamente fornecedores como a Disney Paris ou os cruzeiros Vedette de Paris já enviaram e-mail anunciando a obrigatoriedade em seus estabelecimentos por exemplo. Outros estão seguramente chamando seus colaboradores de volta ao trabalho, ou já tinham abertura prevista somente setembro.

Se nos sites governamentais ainda não há maiores precisões, estes e-mails, como o da Disneyland Paris, podem nos dar uma ideia.

“Quem precisa de um passe de saúde para acessar a Disneyland Paris? De acordo com informações disponíveis do governo francês a partir de 21 de julho, todos os adultos com 18 anos ou mais precisarão mostrar um passe de saúde para acessar a Disneyland Paris. A partir de 30 de agosto, essa exigência também se aplicará a hóspedes de 12 a 17 anos. Crianças menores de 12 anos não são afetadas por essa medida.”

Vamos ver na prática como se passam os controles. Logo logo teremos outra postagem.

França: com título “Danser Encore” artistas manifestam em todo país

Danser Encore ou Dançar Novamente- Os happenings com a música do grupo HK & Saltimbanks, começaram em paralelo à ocupação de lugares culturais por associações da área da cultura no início do mês de março.

Naquele momento, artistas reagiam ao fato dos comércios estarem abertos enquanto os teatros, museus, lugares culturais e de encontros sociais permaneciam fechados.

Os artistas contestam igualmente as reformas do seguro desemprego, estremamente desfavoráveis para a classe e toda sociedade, além de pedirem garantias da volta à um estado democrático. Eles, como muitos, temem que a precariedade atual perdure ou piore com o arrocho previsto graças à reformas governamentais recentes.

Após as ocupações, o governo anunciou um auxílio extra de 20 milhões para a área da cultura.

Teatros e lugareis culturais estão fechados desde outubro 2020

Mesmo se a grande maioria dos locais invadidos já foram evacuados, a música virou um hino de muitos artistas e os happenings ou flashmobs seguem acontecendo em meio a pandemia.

Esses artistas são almas livres ou irresponsáveis?

Questionado quanto ao respeito das normas sanitárias durante uma de suas apresentações, o artista HK respondeu que a aglomeração ao ar livre não se compara com as aglomerações em meios de transporte obrigatórias para muitos trabalhadores.

Se são irresponsáveis, não sei. Só sei que me emocionei tanto que não consegui me preocupar com tal polêmica.

Fiquei não somente emocionada pelos problemas que vivem todos aqueles que, como eu, estão sem atividade há mais de um ano, mas também pelo fato desses artistas desesperados ignorarem que a Covid-19 justifica a cessação dessas atividades (Perdoem, eles não conhecem as conseqüencias das variantes mais perigosas existentes). Chorei pelas nossas fronteiras fechadas.

E sobretudo, foi impossível não me identificar com esse desejo de dançar entre amigos, de sentir um abraço, de ser livre.

As letras mudam às vezes , transmitindo os desejos e preocupações de cada grupo de artistas. Algumas letras e apresentações são realmente tocantes, como dos artistas Les Derniers Trouvères na Floresta de Avallon.

Você pode “abaixar” a versão original em Mp3 no site do grupo HK & Saltimbanks.

Abaixo o vídeo da versão original:

O movimento atingiu muitas cidades francesas, como Paris, Valença, Toulose, Cognac e até atravessou fronteiras. Seguem alguns desses “happenings” ou “fashmobs” em imagens:

Danser Encore-Estações de trem em Paris

Danser Encore- Estação Gare du Nord 4 de março

Estação Gare de L’Est – 8 de abril

Danser encore-grupo de forró de paris

Danser Encore Grupo de Forró de Paris – Jardin des Plantes 21 março

Danser encore-artistas manisfestam em La Rochelle

Danser Encore- cidade La Rochelle 22 de março

Borgonha Les Derniers Trouvères

Floresta de Avallon, Borgonha 5 de abril
Danser Encore Les Derniers Trouvères
Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos corpos abraçarem outros corpos
Passar nossas vidas à vibrar em acordes
tralalalala

Somos pássaros de passagem
Seguimos o amor e nosso adágio
Nós não juramos fidelidade
à tenebrosas influências
Estamos quebrando o silêncio

E quando a noite, à beira da fogueira
Nós brincamos para deixar dançar a chama,
Em nós
A chama da alegria e da vida
Em nós
Que ela brilhe e ilumine em todos os lugares
E já que não temos trabalho e não somos Calimero
Liberdade para quem ousa
E obrigada para aqueles que propoem, um som feliz, um céu, uma rosa
Não nos usem como matéria prima, um eterno bode-expiatório, a cada medida sanitária,
Autoritária ou Lapidária
Vejamos o que pode ser feito
Sejamos alertas e criativos
Giradores e atrativos
Sublimes até a indecência
Deixe-nos viver em abundância
Sobre os caminhos da providência.

Chapelle en vercors- Alpes

Chapelle en Vercors 1 de abril

Letra Original Danser Encore HK & Saltimbanks

Dançar de novo

Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos pensamentos abraçarem nossos corpos
Passar nossas vidas em uma grade de acordes
Oh, não não não não não não não
Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos pensamentos abraçarem nossos corpos
Passar nossas vidas em uma grade de acordes

Somos pássaros de passagem
Nunca dóceis ou realmente sábios
Nós não juramos fidelidade
Ao amanhecer em todas
as circunstâncias
Estamos quebrando o silêncio

E quando a noite na TV
O Sr. Bom Rei falou.
Veio anunciar a sentença.
Somos irreverentes.
Mas sempre com elegância

Auto-metrô-trabalho-console
Auto-certificação assinada
Absurdo prescrito
E ai para aquele que pensa
E ai de quem dança

Todas as medidas autoritárias
Todos os recursos de segurança
Vê nossa confiança voar
Eles são tão insistentes
Para limitar nossa consciência

Não vamos ser impressionáveis.
Por todas essas pessoas irracionais
Vendedores de medo em abundância
Agonizante, ao ponto de indecência

Vamos mantê-los afastados.
Para nossa saúde mental
Social e ambiental
Nossos sorrisos, nossa inteligência
Não vamos ficar sem resistência.
Os instrumentos de sua demência

Movimento Gilets Jaunes : o que dizem os turistas

Foi com certa apreensão que vi mais uma vez na televisão as imagens dos manifestantes vestidos com coletes amarelos, os Gilets Jaunes,  espalhados por toda a cidade.

Eu, que afirmei aqui que tudo sempre acontece em volta do mesmo perímetro, como há vários sábados! Imaginei que o Brasil veria as mesmas imagens e fiquei me perguntando se isso iria afetar o fluxo de turistas para a França e Paris.

Preocupada, sai pela cidade, para constatar mais uma vez que a vida corria bastante bem e pacificamente. Mesmo se a mídia insistia em mostrar os Gilets Jaunes e policiais mais excitados nas 3 ou 4 esquinas da cidade onde ocorriam confrontos, tudo estava calmo.

Manifestante conversa com vendedor de livros, o “bouquiniste”

Tirei fotos e filmei pontos turísticos com objetivo de mostrar como essas manifestações não tem afetado o quotidiano dos turistas. Mas seriam essas imagens suficientes contra a força da telinha?

No Louvre o vai e vem quotidiano seguia seu curso

Foi então que uma simpática turista me interpelou perguntando em inglês o que era “aquele edifício”, a Academia Francesa. Após uma breve explicação, desconfiada, perguntei qual sua origem. Uma vez a resposta feita, felizes, passamos a falar nossa língua: português do Brasil (como dizem aqui).

Tatiane e Sandro, de Campinas

Muito amigáveis, os visitantes Tatiane e Sandro, aproveitaram para fazer mais algumas perguntas. E eu, muito faladeira, adorei ajudar respondendo e tentando agregar informações.  

Antes da despedida, não pude deixar de perguntar:

 –E então, o movimento Gilets Jaunes atrapalhou a dia de vocês?

Tatiane respondeu prontamente:

“As manifestações não atrapalharam nosso passeio. Fomos informados pelo hotel em que estamos hospedados do percurso do protesto e programamos nosso dia no sentido inverso. Porém, em um dado momento, encontramos com alguns manifestantes que foram super solícitos em passar informações sobre qual trajeto estava livre. Enfim, para nós, foi mais um dia maravilhoso em Paris!”

Sai de casa preocupada e empenhada em desmistificar o movimento dos Gilets Jaunes para você querido leitor. Voltei pensando: “Deus é pai”. Acho que além de agradecer a Tatiane e o Sandro, não preciso dizer mais nada.