Turismo: sinais positivos, cautelosos e essenciais para seguir em frente

Às vezes tenho a impressão de que o primeiro semestre de 2020 passou muito rápido. Outras vezes, ele parece, na verdade, ter nos anestesiado em um turbilhão de corridas contra o tempo para que pudéssemos nos manter saudáveis nos âmbitos financeiro e pessoal.

O setor de turismo começa a dar sinais positivos, porém cautelosos. Depois de abril ter sido o pior período de vendas para as operadoras, maio e junho seguem com leves, mas importantes avanços. Quase 70% das associadas BRAZTOA (reforço que essas empresas representam 90% das viagens de lazer comercializadas no país) realizaram vendas em junho, fazendo com que o semestre tivesse um desfecho esperançoso e, de certa forma, animador.

Apesar de as vendas ainda ocorrerem em um volume abaixo do que esperávamos (elas representam somente até 10% do que foi vendido em 2019), o fato de ver sua empresa reaquecer os motores, voltar a negociar com clientes e apresentar seguras oportunidades e experiências para seu público fiel, que está com saudade de viajar, de relaxar e se livrar do estresse causado por tantas notícias pesadas que chegam, a todo momento, é estimulante. Para o brasileiro, viajar passou a ser uma necessidade básica e essencial para que o fator humano, aquele que é indispensável e insubstituível na cadeia, se mantenha firme e disposto a avançar cada vez mais.

Se levarmos em conta o faturamento dessas empresas em 2019 (R$ 15,1 bilhões) estima-se que as operadoras de turismo deixaram de faturar R$ 1,1 bilhões ao mês, nos quatro meses da pandemia. Mas agora é hora de olhar para a frente.

Apesar de ainda estarmos consolidando os dados de julho, posso antecipar que o mês que abre o segundo semestre do ano foi ainda mais positivo que junho, para boa parte das associadas. Claro, guardadas as devidas proporções, pois ainda estamos em meio a uma pandemia, mas pudemos comprovar, na prática que nosso papel de consultoria especializada, pronta para reunir informações e dados para que as viagens de todos ocorram na hora e da maneira mais segura, está sendo requisitado e valorizado.

O encerramento do primeiro semestre também trouxe esperança em outros números. Finalizamos o período com a diminuição dos pedidos de cancelamento, que foi apontada por quase metade das empresas (44%), e com a abertura gradual das operadoras.

Apesar das dificuldades enfrentadas, 18% das empresas pesquisadas não realizaram demissões. 56% das operadoras tiveram redução de até 50% das suas equipes, uma ação condizente com o cenário atual de queda de vendas e de fluxo de trabalho, mas com a esperança de reiniciarem as contratações a partir de janeiro.

A retomada das vendas, das viagens e das atividades depende de diversos fatores e passará por muitos desafios. Sabemos que os consumidores começarão a programar suas viagens, à medida que se sentirem mais seguros, principalmente por conta dos sucessivos protocolos de biossegurança lançados. Mas a pesquisa que realizamos mostra outros pontos de preocupação e atenção, cujos destaques estão no fechamento das fronteiras (88%), condições sanitárias (75%), posicionamento de marca (74%), câmbio (67%), fluxo de caixa (65%), segurança sanitária e medo por parte do consumidor (65%). Lembrando que tudo isso pode mudar, assim que liberarem uma das diversas vacinas que estão sendo pesquisadas.

Como estamos lidando com esse momento sem precedentes? Aprendendo, agindo, nos comunicando! Nesse contexto de muitos desafios e necessidades, a BRAZTOA tem estimulado a geração de negócios entre seus associados e diferentes players do mercado, com ações de aproximação das redes de relacionamento e distribuição e com uma comunicação constante e transparente com o setor e o consumidor.

Exemplo disso é o Movimento Supera Turismo (#MovimentoSuperTurismo), que busca a apoiar a retomada do turismo com segurança, divulgando as viagens de forma compartilhada com o maior número de pessoas engajadas, além da série de webinars realizada desde abril, e a atual articulação para a realização de uma série de eventos que conectem os destinos aos operadores, agentes e consumidores, que está prestes a ser anunciada.

Temos tido resiliência para entender, reagir e buscar soluções para o setor, a associação e seus membros que se tornaram cada vez mais colaborativos entre si.

Fico muito feliz em dizer que, apesar do cenário turbulento e desafiador, aprendemos muito nesse período e realizamos ações que demorariam muito para serem realizadas nos tempos anteriores, como o atendimento home office, reuniões e apresentações virtuais. Vivemos uma união nunca antes vista em todo o trade, sem contar as ações governamentais inéditas para o setor (que poderiam ser melhores, mas foram inéditas).

Acredito que estamos voltando ao “normal” e o aquecimento gradual das vendas trouxe uma perspectiva positiva. Avante, que 2020 ainda não acabou!

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Para acessar o balanço do primeiro semestre das Operadoras Braztoa na íntegra, clique aqui:

Novos protocolos e o papel essencial das operadoras

O turismo pós pandemia já chegou. Apesar de as pessoas ainda estarem planejando e ensaiando suas próximas rotas, o tão discutido futuro das viagens já está aqui e pode ser acompanhando pela série de protocolos de saúde e sanitários que estão sendo desenvolvidos.

O Ministério do Turismo lançou, há alguns dias, o selo “Turismo Responsável Limpo e Seguro, faça a sua parte”. Nós da Braztoa, ao lado da Abav, Abracorp, AirTkt e Clia Brasil, elaboramos um conjunto de medidas de biossegurança para que operadoras e agências de Turismo possam retomar as atividades nas lojas físicas, atendendo todas as recomendações.

Em uma recente pesquisa do Laboratório de Estudos em Sustentabilidade e Turismo da Universidade de Brasília (LETS/UnB) e o LAPSOCIAL – Laboratório de Psicologia Social, com o apoio da BRAZTOA, a segurança e a ausência de risco à saúde apareceram como quesitos primordiais para que as pessoas voltem a viajar, seguidos da vacina para Covid-19, estabilidade financeira, e controle sanitário, respectivamente.

A segurança está em primeiro lugar. E isso engloba a transparência de protocolos sanitários de todo o setor, principalmente os que envolvem a ponta dessa cadeia: as agências de viagens e operadoras de turismo, que estão na linha de frente com os clientes.

Na atividade das operadoras, esses direcionamentos são fundamentais para a retomada dos negócios. A mesma alquimia que sempre fez parte do nosso dia a dia em construir roteiros personalizados, unindo cada uma das peças que formam o quebra cabeça da experiencia perfeita, será aplicada no trabalho que faremos com todos os protocolos.

Imaginem: lidamos com aéreos, meios de hospedagem, passeios, shows, parques, transporte terrestre e marítimo, entre muitos outros. Consolidamos tudo para continuar oferecendo as melhores experiências, com o máximo de segurança, a todos os clientes.

Nossa função é muito importante, tanto pela clareza dos dados, quando pela garantia de que eles sejam compreendidos e aplicados por todos. Sim, todos. De fornecedores a clientes.

Nosso trabalho vai da tradução de todas as medidas que devem ser tomadas, desde a compra da viagem até o retorno para casa, e chega, inclusive, ao estímulo da corresponsabilidade. Afinal, de que adianta fazer um roteiro com todas as normas de segurança sanitárias se os clientes não estiverem cientes da sua parte no processo colaborativo? Sem a corresponsabilidade, a experiência não fica completa.

Esse é o ponto no qual quero chegar: agentes e operadores, vocês são essenciais para essa nova forma de viajar, para essa nova maneira de vender e fazer turismo, com muita entrega, afeto e responsabilidade. Nosso trabalho, de agora em diante, terá ainda mais valor agregado, afinal, somos especialistas em eliminar riscos, preservar pessoas e locais, e garantir experiências únicas.

O TURISMO NO BRASIL HOJE

Todo dia triste merece ser encerrado com uma boa música. Coincidentemente, a música que encerrou o dia 5 de junho era muito representativa dele.

O dia foi triste porque uma das principais e mais respeitadas empresas de turismo do Brasil suspendeu parte das suas atividades.

O dono da empresa é um senhor inglês – que do país da Rainha só guardou o (ainda forte) sotaque, pois é um brasileiro lutador como muitos de nós, que empregou muita gente, foi motor para a economia do setor, fez milhões de brasileiros viajarem ao redor do mundo e conquistarem uma inestimável experiência de vida.

Outro senhor inglês escreveu uma música que, em tradução livre, começa assim:

Me leve pra sair
Para onde houver música, pessoas
Jovens e vida
Rodando por ai
Eu nunca mais quero ir pra casa
Porque eu não tenho mais casa

Esse verso resume um pouco do que as pessoas querem agora e que o turismo faz: leva as pessoas para viverem fora do seu normal, incrementando bagagens de vida, que vão incentivar outras pessoas a buscarem experiências parecidas e fazer o mundo e negócios girarem.

Mas o turismo está parando de girar. Nenhuma outra indústria foi tão impactada pela pandemia que assola o planeta. Continuamos trabalhando e auxiliando clientes nos planos de uma retomada de viagens. Fizemos ajustes, cortes e muita economia. Fronteiras fecharam, aviões não decolaram, prateleiras de viagens foram esvaziadas.

Milhões deixaram de comprar, outros milhões cancelaram seus planos e tantos milhões tiveram de ser devolvidos aos clientes – fazendo empresas de turismo não apenas ficarem no zero, mas retrocederem a índices negativos. E chegamos a três meses de gerenciamento de crise e pedidos de socorro de quem trabalha com viagens e turismo.

Há alguns dias, houve a pá de cal: depois de anos estagnado pelo simples absurdo de existir, o IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte – de 25% voltou a ser aplicado para enviar pagamentos a fornecedores internacionais de empresas de turismo. Mesmo com anos de pedidos e provas do seu impacto no mercado.

Na ponta, para os clientes, considerando tributos intermediários, significa que viagens internacionais vão ficar até 33% mais caras, e com esse aumento, é importante que todos fiquem atentos a anúncios de viagens muito baratas, pois alguém pode estar mais preocupado em vender do que garantir uma viagem segura. Esse cenário, aliado ao câmbio da moeda estrangeira, impossibilita sequer pensar em viajar pelo mundo – e também vender viagens para o mundo.

Isso, claro, também altera toda a competitividade do setor e coloca empresas físicas que pagam impostos e empregam brasileiros sob uma completa e injusta desigualdade de negócios frente a algumas empresas estrangeiras e online que não são sediadas no nosso país e, portanto, isentas das responsabilidades com empregos, impostos, etc.

Ou seja: o panorama de quem trabalha com viagens e turismo no Brasil é: não há perspectiva imediata. Estamos esperando o Governo Federal liberar linhas de crédito para ajudar parte das empresas, mas principalmente rever tributos como o IRRF de 25%, que só existe no nosso setor, para salvar todas as outras que criaram histórias de vida cuidando de brasileiros que se aventuraram ao redor do mundo. Como a empresa citada, que simplesmente não conseguiu mais fôlego.

Que o Governo Federal entenda agora, na prática e dura realidade, que estamos a caminho do fim e que precisamos de providências imediatas para evitar que inúmeras outras empresas simplesmente parem de produzir. Sem análises, sem contrapartidas, apenas agilizando decisões imediatamente.

Infelizmente, a situação remete a outro trecho da mesma música – também em tradução livre:

E se eu for atropelado
Por um ônibus de dois andares
Sofrer ao seu lado
Será um prazer e um privilégio

A todos do turismo que não têm mais fôlego empresarial, seria uma honra sofrer ao seu lado. Mas vamos e contamos com todos para lutar até a última luz no fim deste túnel.

Porque, como diz o título da música, there is a light that never goes out. E nós não queremos deixar a luz das empresas de turismo brasileiras se apagarem.