Todo dia triste merece ser encerrado com uma boa música. Coincidentemente, a música que encerrou o dia 5 de junho era muito representativa dele.
O dia foi triste porque uma das principais e mais respeitadas empresas de turismo do Brasil suspendeu parte das suas atividades.
O dono da empresa é um senhor inglês – que do país da Rainha só guardou o (ainda forte) sotaque, pois é um brasileiro lutador como muitos de nós, que empregou muita gente, foi motor para a economia do setor, fez milhões de brasileiros viajarem ao redor do mundo e conquistarem uma inestimável experiência de vida.
Outro senhor inglês escreveu uma música que, em tradução livre, começa assim:
Me leve pra sair
Para onde houver música, pessoas
Jovens e vida
Rodando por ai
Eu nunca mais quero ir pra casa
Porque eu não tenho mais casa
Esse verso resume um pouco do que as pessoas querem agora e que o turismo faz: leva as pessoas para viverem fora do seu normal, incrementando bagagens de vida, que vão incentivar outras pessoas a buscarem experiências parecidas e fazer o mundo e negócios girarem.
Mas o turismo está parando de girar. Nenhuma outra indústria foi tão impactada pela pandemia que assola o planeta. Continuamos trabalhando e auxiliando clientes nos planos de uma retomada de viagens. Fizemos ajustes, cortes e muita economia. Fronteiras fecharam, aviões não decolaram, prateleiras de viagens foram esvaziadas.
Milhões deixaram de comprar, outros milhões cancelaram seus planos e tantos milhões tiveram de ser devolvidos aos clientes – fazendo empresas de turismo não apenas ficarem no zero, mas retrocederem a índices negativos. E chegamos a três meses de gerenciamento de crise e pedidos de socorro de quem trabalha com viagens e turismo.
Há alguns dias, houve a pá de cal: depois de anos estagnado pelo simples absurdo de existir, o IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte – de 25% voltou a ser aplicado para enviar pagamentos a fornecedores internacionais de empresas de turismo. Mesmo com anos de pedidos e provas do seu impacto no mercado.
Na ponta, para os clientes, considerando tributos intermediários, significa que viagens internacionais vão ficar até 33% mais caras, e com esse aumento, é importante que todos fiquem atentos a anúncios de viagens muito baratas, pois alguém pode estar mais preocupado em vender do que garantir uma viagem segura. Esse cenário, aliado ao câmbio da moeda estrangeira, impossibilita sequer pensar em viajar pelo mundo – e também vender viagens para o mundo.
Isso, claro, também altera toda a competitividade do setor e coloca empresas físicas que pagam impostos e empregam brasileiros sob uma completa e injusta desigualdade de negócios frente a algumas empresas estrangeiras e online que não são sediadas no nosso país e, portanto, isentas das responsabilidades com empregos, impostos, etc.
Ou seja: o panorama de quem trabalha com viagens e turismo no Brasil é: não há perspectiva imediata. Estamos esperando o Governo Federal liberar linhas de crédito para ajudar parte das empresas, mas principalmente rever tributos como o IRRF de 25%, que só existe no nosso setor, para salvar todas as outras que criaram histórias de vida cuidando de brasileiros que se aventuraram ao redor do mundo. Como a empresa citada, que simplesmente não conseguiu mais fôlego.
Que o Governo Federal entenda agora, na prática e dura realidade, que estamos a caminho do fim e que precisamos de providências imediatas para evitar que inúmeras outras empresas simplesmente parem de produzir. Sem análises, sem contrapartidas, apenas agilizando decisões imediatamente.
Infelizmente, a situação remete a outro trecho da mesma música – também em tradução livre:
E se eu for atropelado
Por um ônibus de dois andares
Sofrer ao seu lado
Será um prazer e um privilégio
A todos do turismo que não têm mais fôlego empresarial, seria uma honra sofrer ao seu lado. Mas vamos e contamos com todos para lutar até a última luz no fim deste túnel.
Porque, como diz o título da música, there is a light that never goes out. E nós não queremos deixar a luz das empresas de turismo brasileiras se apagarem.