Bear Hotel, hotel mal assombrado na Inglaterra

Você já dormiu com fantasma em hotel?

Eu já. Teoricamente, não apenas com um fantasma no hotel, mas com três. Recentemente, em uma fria noite de fim de inverno, me hospedei no Macdonald Bear Hotel, em Woodstock, interior da Inglaterra. A propriedade é considerada uma das mais assombradas do Reino Unido. E olha que de assombração os britânicos entendem. Estava indiferente à experiência. Alguns companheiros de viagem também não ligaram. Outros se divertiram. E alguns ficaram muito incomodados. Uma noite em um hotel com fantasma na Inglaterra pode ser uma faixa bônus para um viajante. Para outro, é um pesadelo desconfortável.

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Hotel mal assombrado na Inglaterra
O caminho para o sótão do Bear Hotel | Foto de Carla Lencastre

Na minha experiência, a convite do VisitBritain, o órgão oficial do turismo britânico, o mais incômodo foi ter que subir a escada que levava ao sótão carregando uma mala média. Meu quarto ficava isolado ali, com um teto de pé-direito baixo, com menos de dois metros de altura, vigas de carvalho sustentando o telhado e apenas duas minúsculas janelas com vista para a rua. Claustrofóbico, ainda que espaçoso e aparentemente sem fantasmas. Mais tarde, quando encontrei os companheiros de viagem, me dei conta que assombração aparece para cada um de um jeito. Parte do grupo achava graça da fama do hotel, inclusive quem estava em quarto com vista para o cemitério da igreja ao lado. Outros pareciam visivelmente perturbados com a perspectiva de passar a noite no Bear.

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Hotel mal assombrado na Inglaterra
Vista de um dos quartos do hotel em Woodstock

Diversos websites listam hotéis assombrados mundo afora. No English Country Inns, por exemplo, é possível procurar hospedagem usando filtros como “hotéis românticos”, “gourmet”, “com piscina” ou “assombrados”. É com você. O Bear é uma das opções assombradas. Um dos dois fantasmas do hotel moraria no quarto 16.

Já o Haunted Rooms UK deixa claro a que se destina logo no nome e apresenta o Bear como “um dos hotéis mais assombrados do Reino Unido”. Os fantasmas residentes seriam de Elizabeth e Christopher Dowing, uma jovem mãe e seu filho de 8 anos, mortos em meados do século XVIII.

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Hotel mal assombrado na Inglaterra
A fachada do hotel assombrado no interior da Inglaterra | Foto de Carla Lencastre

Em seu website, o hotel não faz menção a assombrações (só avisa que Elizabeth Taylor e Richard Burton estiveram lá). Mas a construção ajuda a manter a fama. O Bear é um dos hotéis mais antigos da Inglaterra e está instalado em prédio histórico que funciona como pouso de viajantes desde o século XIII. Nos séculos seguintes vieram expansões e renovações. Hoje são 54 quartos com confortos modernos. Pelas paredes (algumas em pedras aparentes) dos labirínticos corredores, há objetos, móveis e retratos antigos, estes daquele tipo que parecem seguir o visitante com o olhar.

Hotel mal assombrado na Inglaterra
O quarto no sotão…
Hotel mal assombrado na Inglaterra
…e o quartinho | Fotos de Carla Lencastre

O sótão onde dormi tinha aquecimento funcionando perfeitamente, roupa de cama e roupões de qualidade, máquina de café expresso, banheiro reformado (ainda que não novíssimo), amenities da grife britânica Elemis. Um pequeno hall de entrada dava acesso a um amplo quarto, com cama de casal, escrivaninha e área de estar, e a um minúsculo quarto, com apenas uma fresta no alto de uma das paredes e uma cama pequena. Roupões infantis estavam pendurados atrás da porta. Fechei a porta do cubículo sem janela assim que cheguei e não abri mais.

Hotel mal assombrado na Inglaterra
Parte da cena noturna | Foto de Carla Lencastre

O episódio mais estranho da minha experiência de caça-fantasmas aconteceu depois do jantar (a propósito, o hotel tem um ótimo e movimentado restaurante de cozinha britânica moderna servida em um ambiente tradicional). Quando voltei para o quarto, a cama estava preparada para a noite, com dois pequenos chocolates, um em cada travesseiro, e uma Bíblia aberta no meio. Fechei o livro, tirei uma foto, guardei o exemplar em uma gaveta e, como não estava dividindo o quarto com ninguém, comi os dois chocolates logo de uma vez para não dar ideia para fantasma. Só me arrependo de não ter olhado antes em que página a Bíblia estava aberta. Dormi. No dia seguinte, a situação do grupo se repetiu: alguns tinham uma história divertida para contar, outros não tinham dormido nada. Fui visitar o cemitério vizinho. À luz da manhã parecia menos fantasmagórico do que nas fotos que tinha visto no dia anterior.

Hotel mal assombrado na Inglaterra
O cemitério na igreja ao lado do Bear Hotel à luz do dia | Foto de Carla Lencastre

A principal razão para alguém parar em Woodstock é o Blenheim Palace. O palácio pertence à 12ª geração dos duques de Malborough. Mas não é por isso que recebe visitantes, e sim porque Winston Churchill nasceu ali. O mais famoso primeiro-ministro britânico passou parte da infância e da juventude em Blenheim. Vale ir de Londres (a umas duas horas de distância) até lá nem que seja apenas para passear pelos imensos jardins, com direito até a lago com ponte. Woodstock fica perto de Oxford e é uma cidadezinha de praticamente uma rua, com cafés, restaurantes, pubs e galerias de arte. Há outros (poucos) hotéis no vilarejo, para quem preferir descartar o Bear e suas assombrações. Só não há garantia de que fantasmas não saiam para passear.

Blenheim Palace, da família de Winston Churchill
Blenheim Palace, em Woodstock, onde Winston Churchill nasceu | Foto de Carla Lencastre

Os fantasmas se divertem 2

Hotel mal assombrado na Irlanda do Norte
A silhueta do Ballygally Castle ao entardecer | Foto de Carla Lencastre

Como hotel mal assombrado é o que não falta no Reino Unido, o Bear foi o segundo que conheci. Já tinha experimentado dormir com um fantasma na Irlanda do Norte, no Ballygally Castle, perto de algumas das locações da série da HBO Game of Thrones e da Causeway Coast. Neste hotel, com 54 quartos e hoje parte do Hastings Hotels, fiquei em uma ala mais nova. Não percebi assombrações. No dia seguinte, companheiros de viagem que ficaram na parte antiga relataram que não conseguiram dormir “por causa do barulho de móveis sendo arrastados”.

Hotel mal assombrado na Irlanda do Norte
O hotel assombrado no litoral da Irlanda do Norte | Foto de Carla Lencastre

Em Ballygally, segundo o site Haunted Rooms UK, o fantasma residente é o de Lady Isobella Shaw, que assombra o castelo do início do século XVII há 400 anos. Ou seja, desde quase sempre.

Na categoria cenário, o Ballygally impressiona menos que o Bear. Talvez porque esteja em um hotel de frente para as águas calmas da Baía de Ballygally, com vista para a Escócia, Isobella parece confinada à parte original do castelo.

Hotel mal assombrado na Irlanda do Norte
Amanhecer em Ballygally Bay | Foto de Carla Lencastre

Fantasmas britânicos não moram apenas em pequenos hotéis de vilarejos como Woodstock ou Ballygally. Dois hotelões de luxo em Londres aparecem em quase todas as listas de lugares assombrados no Reino Unido. O mais citado é o Langham, que teria nada menos que cinco fantasmas residentes. O Savoy costuma ser o segundo colocado. Março passado, o jornal londrino The Telegraph relacionou alguns hotéis com assombrações. Os dois ícones londrinos, instalados em construções de meados do século XIX, estão no topo da lista. Boo!

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Grandes marcas de luxo mudam o cenário da hotelaria australiana

A Austrália reuniu neste mês de abril em Adelaide, South Australia, cerca de 2,5 mil profissionais de indústria de viagens de todo o mundo para a Australian Tourism Exchange 2018. Durante o evento, o país  anunciou novo recorde de visitantes internacionais: 8,8 milhões de pessoas em 2017, um crescimento de 7% em relação a 2016. Para 2020, a expectativa é chegar aos dez milhões. Com o número de chegadas em alta, foram muitos os novos produtos da hotelaria de luxo australiana apresentados na feira, entre dezenas de outros já consolidados.

Na área de hotelaria de luxo australiana, chamam a atenção as inaugurações recentes ou previstas para breve de propriedades com bandeiras de luxo de grandes redes, principalmente a Marriott International. Para o futuro, daqui a uns cinco anos, há previsões de aberturas de hotéis de grupos asiáticos como Mandarin Oriental e Shangri-La.

Elizabeth Quay, em Perth: endereço da volta do Ritz-Carlton à Austrália | Foto de divulgação/Garry Norris

O Ritz-Carlton Perth, em Western Australia, é aguardado para meados de 2019. Mais adiante, a marca planeja chegar a Melbourne e Sydney. Com 200 quartos, o hotel de Perth será o primeiro RC no país em dez anos. Desde março deste ano esta cidade na Costa Oeste australiana recebe uma nova rota aérea direta de Londres com 17 horas de duração em um Boeing 787-9, o moderno Dreamliner, com capacidade para 236 passageiros. O voo da Qantas, um dos de mais longa duração do mundo, é a primeira ligação direta entre Europa e Austrália.

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O novo InterContinental em Perth, inaugurado no final de 2017 | Foto: divulgação

Perth, que vai sediar a ATE 2019, tem passado por importantes renovações urbanas e da rede hoteleira. No final de 2017 foi inaugurado o InterContinental Perth City Centre, com 240 quartos e 300 obras de arte distribuídas pelas áreas comuns e as acomodações. Semana passada abriu o Westin Perth, outra marca da Marriott, com 386 quartos. Ainda para este ano é esperado um QT, hotel de design australiano que faz sucesso em cidades como Sydney e Melbourne.

Com uma propriedade de 312 quartos em Brisbane, Queensland, o retorno do W Hotels à Austrália será em junho deste ano. O projeto da Marriott de maior impacto está reservado para Sydney. Com algo entre 400 e 500 quartos e inauguração prevista para meados de 2020, o W Darling Harbour tem uma arquitetura ousada. O prédio fará parte de um complexo residencial e de entretenimento, incluindo um Imax, que será erguido acima dos viadutos da área de Darling Harbour. O investimento quase bilionário é de um grupo chinês (o maior mercado emissor para a Austrália). É daqueles projetos que temos que esperar para ver o que realmente vai acontecer.

O novo Sofitel em Sydney, à direita, muda o cenário de Darling Harbour | Foto de Carla Lencastre

O Sofitel Sydney Darling Harbour, inaugurado no final de 2017, já mudou o panorama local. É a segunda propriedade em Sydney com esta bandeira de luxo da rede francesa AccorHotels, que opera mais de 200 hotéis em toda a Austrália. Um dos maiores hotéis do país, oEste Sofitel tem 590 quartos distribuídos em 35 andares. O prédio envidraçado realmente se destaca no superturístico Darling Harbour e está no trending topic da hotelaria local.

Fora das grandes cidades do continente, a Marriott abre em Hobart, na remota Tasmânia. The Tasman é o primeiro hotel da Luxury Collection na Austrália. Com 128 quartos, ficaem um prédio histórico  renovado e restaurado.

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Crystalbrook: nasce uma nova rede hoteleira

O ambicioso projeto do rooftop do Riley. Foto: divulgação

O executivo (e bilionário) sírio Ghassan Aboud resolveu recentemente criar uma rede de hotéis a partir do zero. Primeiro, seu GAG (Ghassan Aboud Group), com base em Dubai, resolveu comprar o Crystalbrook Lodge, em Chillagoe, na Austrália. O luxuoso e premiado lodge, que faz parte da seletíssima associação Luxury Lodges of Australia, lhe despertou o gosto pela indústria hoteleira. 

Empolgado, comprou também o MV Bahama, um luxuoso iate para charters que fica ancorado em Port Douglas, às portas da Grande Barreira de Corais. Deu tão certo que resolveu então incluir a própria marina toda de Port Douglas ao seu portfólio. E foi daí que veio a ideia de não parar mais: comprou hotéis decadentes em Cairns, derrubou e começou a construir novas propriedades a partir do zero. Foi assim que Aboud fez nascer a Crystalbrook Collection, uma novíssima rede de hotéis que lançará um novo hotel por ano em Queensland até 2021 – e já tem planos de ir bem mais além depois disso, abrindo novos hotéis provavelmente também em Sydney e Melbourne.

A proposta dos novos hotéis – todos a serem lançados como propriedades quatro e cinco estrelas – é bem interessante: cada um deles será focado num estilo diferente de viajante e estarão localizados no CBD de Cairns, a menos de 10 minutos de caminhada um do outro.  Aboud diz que escolheu investir tão pesado em Cairns porque nenhum novo hotel foi construído na cidade nos últimos 20 anos por ali (e, cá entre nós, Cairns precisa mesmo desesperadamente de um makeover na imensa maioria de seus hotéis atuais). 

O projeto da entrada do Bailey. Foto: Divulgação

O primeiro hotel, a ser aberto já no segundo semestre deste ano, é o Riley. Com o slogan “living the moment”, será sofisticado e com estilo resort, com quatro restaurantes e bares (incluindo um ambicioso rooftop 42 metros acima do nível do mar), 311 quartos e suítes, um enorme spa, lagoon pool e praia privativa.  

O Bailey, previsto para começar a operar na metade do ano que vem, terá o slogan “the thoughtful arty one” e terá design moderno, inovativo e, é claro, com foco no mundo das artes. Menor, virá com 220 quartos mais compactos e estilosos.

O Flynn, com slogan “the wild-child”, será focado nos millennials e também terá 311 quartos e suítes, previstos para começarem a operar no primeiro semestre de 2020. No projeto, bares dinâmicos, opções de alimentação com jeito de street food e um imenso wellness centre com direito a andar exclusivo para yoga e meditação.

Detalhe de um dos banheiros do Flynn. Foto: Divulgação

E, por último (por enquanto!, como gosta de frisar Mr. Aboud), virá o Harper, o mais luxuoso e exclusivo de todos eles, com apenas 125 quartos e restaurantes focados em alta gastronomia.

Aliás, gastronomia será um dos pilares do grupo: a Crystalbrook afirma que terá diferentes opções em bares e restaurantes em todas as propriedades para que as mesmas sejam espaços importantes de lifestyle em seus destinos também para turistas que não estejam hospedados por ali. Vale ficar de olho. 

 

 

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O complicado conceito de Glamping

Glamping na Eyre Peninsula australiana. Foto: Mari Campos

Já sabemos que tudo no universo das viagens hoje em dia tem a ver com “experiências” e é claro que natureza e, sobretudo, ecossistemas diferentes dos quais estamos habituados representam parcela importante destes desejos viajantes. Diversas propriedades em distintos locais do globo souberam unir com maestria a ideia de aventura e extremo contato com a natureza sem abrir mão do conforto, do bom serviço e da boa mesa, como as redes Explora e Tierra Hotels na América do Sul e inúmeros lodges de safári sul africanos (como Tintswalo, Thornybush e tantos outros).

Não faz tanto tempo assim que o conceito de “glamping” tomou conta de parte do mercado de viagens internacional. No princípio, eram poucas empresas investindo nesta ideia de “glamour camping” mas, com o advento das redes sociais, instagrammers, bloggers e youtubers, não demorou muito para a ideia, tão visualmente sedutora, se espalhar por destinos nos cinco continentes.  A proposta de se hospedar em meio à natureza exuberante com a conveniência dos serviços de hotelaria foi desde o início sedutora para boa parte dos viajantes – uma oportunidade de unir o melhor dos mundos em uma viagem cheia de experiências e imersão.

Na onda do glamping, o conceito original das tendas começou com unidades ampliadas, com banheiros privativos, refrigeração ou calefação do ambiente e amenidades de qualidade, e evoluiu para yurts completíssimos que não devem em nada a um bom quarto de hotel, como nos ótimos Eco Camp e Patagonia Camp, no Chile, por exemplo.

O conforto no contato muito próximo com a natureza sempre norteou tais experiências – ao menos em princípio. O ótimo Jawaii Leopard Camp, por exemplo, foi erguido em uma área super remota e selvagem das Aravelli Hills, na Índia. Suas refinadas e completíssimas tendas foram instaladas com todo o conforto em uma região habitada pelos curiosos homens da tribo Rabat e rodeada por uma impressionante população selvagem de leopardos – daquelas experiências intensas das quais jamais me esquecerei.

O peculiar e o inesperado sempre foram bem-vindos neste setor e hoje não são poucas as propriedades em diferentes continentes oferecendo até ofurôs sob as estrelas do lado de fora das tendas. E sustentabilidade é, é claro, essencial para qualquer propriedade do gênero ser bem sucedida no mercado. Mas, assim como o conceito de hotel boutique, parece que cada proprietário entende a ideia de glamping como bem quer.  Tive experiências bastante frustrantes em locais como o Elephant Hills, no sul da Tailândia, de tendas abafadíssimas, serviço pífio, e um menu buffet sofrível que se repetiu, idêntico, pelos dois almoços e dois jantares que fiz ali.

Neste abril, em uma viagem pelo outback da Península Eyre, na Austrália, me hospedei em uma propriedade nas Gawler Ranges que se define em seu website como “glamping experience” e diz que tem “5 star tents”. Cobra 660 dólares por pessoa POR DIA de hospedagem (e não por noite!), não tem sequer ventiladores nas tendas quentíssimas (peguei 41 graus durante o dia, mesmo durante o outono), não oferece nenhum tipo de serviço de limpeza/camareiras (nem troca de toalhas) nem investe em uma gastronomia minimamente caprichada (os jantares até eram ok, mas nos dois almoços que fiz lá, um tinha restos do jantar anterior mal ajeitados em potes plásticos e o outro era um sanduíche de salada na baguete, embalado em papel filme).

Transfers, passeios e refeições estão incluídos, assim como vinhos australianos no jantar. O local utiliza somente água da chuva para chuveiros e descargas e mantém o consumo de energia elétrica ao mínimo possível. A paisagem do outback australiano durante o dia, a vida selvagem nos arredores das tendas e o céu extremamente estrelado no meio do nada compensam, por exemplo, o incômodo irritante das moscas o dia todo; é um fenômeno natural, não há tanto  que possa ser feito. Mas o acampamento cobrar um valor como esse pelo tipo de produto que oferece me parece mesmo injusticável.

É claro que entende-se que propriedades pequenas, remotas e que investem em sustentabilidade têm geralmente custos mais altos que um grande hotel em um centro urbano pela própria logística necessária para abastecê-la – sem nem entrar em outros méritos. E sabemos que até mesmo o conceito de “estrelas” na hotelaria ainda é super discutível, então é mesmo utopia querer algum tipo de “standardização” para propriedades que se definiam como hotéis boutique, eco-lodges ou glamping. Mas uma propriedade que cobre o mesmo valor que um hotel de exploração de primeira linha(como os já citados Explora e Tierra, por exemplo) não oferecer sequer ventiladores para amenizar o calor surreal das tendas ou serviço de camareiras se atrever a cobrar preço de hotel de luxo realmente é algo que ainda me choca.

 

 

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Sonhos de um bangalô em Bora Bora (e os desafios para mantê-los)

É difícil ficar indiferente à água azul turquesa da laguna de Bora Bora, a ilha mais famosa da Polinésia Francesa. Da janela do avião se vê as pequenas ilhotas, chamadas de motus, que cercam a ilha principal com suas linhas de bangalôs sobre a água. Parecem tentáculos de um polvo entre os corais da laguna. Dormir ao menos uma noite, se possível duas, em um bangalô em Bora Boras é desejo comum a turistas de diversas partes do mundo. Quem chega à distante ilha para realizar o sonho invariavelmente espera encontrar uma hospedagem de alta qualidade. E é neste ponto que os hotéis com bangalô em Bora Bora enfrentam hoje seu maior desafio.

O Monte Otemanu, símbolo de Bora Bora, 727 metros acima do mar | Foto de Carla Lencastre

Entre o final da última década do século passado e a primeira deste século, o turismo no Taiti e em outras ilhas do Arquipélago da Sociedade estava em alta. O impacto do 11 de Setembro foi sentido (americanos representam 1/3 dos visitantes) e os números despencaram. Voltaram a se recuperar nos anos seguintes, lentamente, e tiveram outra grande queda, ainda maior, no início desta década. O mundo e os turistas mudaram, surgiram novos destinos, o padrão de qualidade exigido hoje de um bangalô em Bora Bora é outro.

A Polinésia Francesa ficou mais ou menos no mesmo lugar. Sua beleza exuberante continua a mesma que fascinou o pintor Paul Gauguin no século XIX. Os hotéis seguem os mesmos de anos atrás. O Tahiti Tourisme, agência nacional de promoção do destino, começou a trabalhar no reposicionamento da marca. O número de visitantes chegou a 184 mil em 2017, um aumento de 3,5% em relação ao ano anterior. Na virada do século, foram quase 260 mil. As redes hoteleiras voltaram a investir. Ainda há muito a ser feito em um bangalô em Bora Bora, inclusive no que diz respeito ao serviço.

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A cor desta água… | Foto de Carla Lencastre

Em uma viagem de duas semanas por quatro ilhas, deu para perceber o quanto a infraestrutura hoteleira está envelhecida, tanto no conceito quanto pelos efeitos físicos do tempo, como a maresia. No item serviço, muitos funcionários parecem desanimados. Em Bora Bora, parada obrigatória de qualquer turista que chega tão longe, conheci mês passado quatro hotéis, de quatro e cinco estrelas. Todos estão em motus em torno da ilha principal e com vista para o Monte Otemanu. O ponto mais alto da ilha, 727 metros acima do nível do mar.

Bangalôs overwater em Bora Bora | Foto de Carla Lencastre

Por fora, todos os bangalôs overwater são parecidos. A sensação de sair do quarto, descer a escada do deque privativo e entrar na água também é a mesma (ainda que debaixo d’água, de snorkel, seja diferente). É mais fácil identificar um resort pela vista do que pelo bangalô. Mas por dentro o estilo e o estado de conservação são diversos. Dos quatro hotéis visitados em Bora Bora, dois precisam de reformas urgentes para continuar no páreo. Outros dois têm feito o dever de casa.

Vista de um dos bangalôs do novo Conrad Bora Bora Nui | Foto de Carla Lencastre

O Conrad Bora Bora Nui, inaugurado ano passado, ainda tem cheiro de novo. No local funcionava um Hilton, que passou por uma reforma milionária para o upgrade de bandeira. Há bangalôs sobre a água, na praia de areias brancas e nos belos jardins. Com piscina privativa ou não. Alguns estão em uma colina com vista panorâmica.

Um dos quartos do Conrad na Polinésia Francesa | Foto de Carla Lencastre

A decoração é impecável. Tão neutra, elegante e cosmopolita que se as cortinas do quarto estiverem fechadas você pode se esquecer de onde está. É difícil encontrar um porém em um hotel deste nível, ainda mais recém-inaugurado. Se há algum é este: o quarto poderia estar em qualquer hotel de luxo mundo afora. O belo spa no topo de uma colina tem mais cor local, talvez porque todas as salas de tratamento tenham amplas janelas sempre abertas para a Polinésia.

Bangalô com piscina e vista para o Otemanu no bem cuidado St. Regis Bora Bora | Foto de Carla Lencastre

Outro bom exemplo hoteleiro de Bora Bora também pertence a um grande grupo americano: é o St. Regis Bora Bora, administrado pela Marriott International. Inaugurado há mais de dez anos, chama a atenção seu ótimo estado de conservação, graças a obras de renovação anuais, cada vez em uma área diferente do resort. Espalhado por três motus, o St Regis permite que o local se misture aos bangalôs. O ambiente é de uma casa de praia chique e descontraída. O resort é endereço de um spa com grife Clarins e de um restaurante assinado pelo estrelado chef Jean-Georges Vongerichten, o mesmo do paulistano Palácio Tangará, da Oetker Collection.

Atualização: O St. Regis Bora Bora estreou na categoria cinco estrelas do prestigioso Forbes Travel Guide na edição 2020, a primeira a abranger a Polinésia Francesa. O Conrad Bora Bora Nui foi listado como recomendado.

Leia mais: Os novos hotéis e spas cinco estrelas no Forbes Travel Guide

O lago de ninfeias do Pearl Beach | Foto de Carla Lencastre

As marcas do tempo se fazem notar em outros dois resorts, o Bora Bora Pearl Beach e o Sofitel Bora Bora Private Island. Ambos estão em cenários deslumbrantes, mas muito desgastados. E planejam reformas. O Pearl Beach, com um romântico spa em meio a um lago de ninfeias, pretende fechar para obras no final de 2019 e recomeçar.

Um dos bangalôs no jardim do Pearl Beach | Foto de Carla Lencastre

A reforma vai incluir o redesenho de todas as áreas comuns e dos bangalôs, atualmente bem ultrapassados, ainda que com simpáticos toques polinésios. A ideia é transformar o resort em um cinco estrelas (hoje tem quatro).

Atualização: Em outubro de 2019 o Bora Bora Pearl Beach Resort & Spa anunciou que reabria em abril de 2020 como um Relais & Châteaux. Com a crise da covid-19, a reabertura foi adiada para setembro de 2020.

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Luz para atrair peixes à noite no Sofitel Private Island | Foto de Carla Lencastre

No Sofitel Private Island, o maior problema é dentro dos bangalôs, com madeiras descascadas, metais corroídos, portas que não fecham. As obras estão previstas para 2019. Agora em maio, a rede francesa AccorHotels vai começar a renovação da propriedade irmã, o Marara. É um resort de quatro estrelas na ilha principal em frente ao motu do Private Island.

E um novo dia amanhece em Bora Bora | Foto de Carla Lencastre

Outros famosos resorts em Bora Bora são Four Seasons, Le Méridien e InterContinental, este com duas propriedades na ilha. Se você visitou algum deles recentemente, compartilhe a opinião com a gente. A caixa de comentários é sua.

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