Luxo 100% australiano

Cada vez mais, a Austrália se consolida como território fértil na hotelaria de luxo, de Sydney à encantadora Tasmânia. Não bastasse a presença de grandes redes de luxo como Four Seasons e Shangri-la há bastante tempo no país (e a chegada de novas bandeiras, como já contamos aqui), os australianos sabem (e muito bem!) manejar hotéis boutique de verdade, de pequenas propriedades nos arredores de Melbourne a lodges em regiões mais remotas.

Neste cenário estrelado, é preciso destacar a atuação impecável da associação Luxury Lodges of Australia, que reúne indiscutivelmente alguns dos melhores hotéis do país, e com sotaque 100% australiano (o mais famoso internacionalmente é o pomposo Saffire Freycinet na Tasmânia, mas são hoje dezenove hotéis e lodges exclusivíssimos compondo a coleção).

Em diferentes viagens ao longínquo continente, tive a oportunidade de conhecer diferentes hotéis que fazem parte do portfólio e é realmente tarefa difícil encontrar falhas na administração dos mesmos (existem, é claro, mas são mesmo só os olhos mais exigentes que tomam nota delas).  Nesta última viagem ao país, em abril passado, tive o prazer de ser convidada a me hospedar em dois outros hotéis que são parte da estrelada coleção: o inesquecível Emirates One & Only Wolgan Valley, a cerca de 3h de carro de Sydney, e o adorável The Louise, em Barossa Valley, nos arredores de Adelaide. 

Picnic impecável entre cangurus no Wolgan Valley. Foto: Mari Campos

A propriedade no Wolgan Valley é fora de comparação, não apenas pela paisagem arrebatadora que a rodeia como pela excelência em acomodações e serviço – opera em sistema all inclusive e é (ainda) o menor One&Only em funcionamento no mundo.  O casamento das excelências em serviço e acomodações das duas bandeiras – One&Only e Luxury Lodges of Australia – dá  muito samba e resulta, não à toa, numa tremenda propriedade que anualmente leva prêmios como a melhor do país. 

Conto muitos detalhes de minha estadia lá neste texto aqui para o Estadão, mas vale destacar que, além da bela gastronomia (bem acompanhada por diversos vinhos australianos incluídos na diária), das atividades diárias incluídas, dos quartos todos em sistema vila (e enormes! sempre com piscina privativa) e da excelência também na entrega das atividades cobradas à parte, o hotel entrega mais close encounters com a vida selvagem australiana que qualquer outro (incluindo cangurus e wombats todos os dias literalmente ao redor das vilas). Um hotelaço daqueles difíceis de superar – e, extremamente bem administrado, reúne de casais em busca de sossego e romance a famílias com crianças pequenas sem nenhum stress ou ruído. 

O padrão Luxury Lodges of Australia garante instalações de primeira, serviço primoroso e gastronomia caprichada. Vistas caprichadas são também fator importantíssimo – o que dizer, por exemplo, dos apartamentos debruçados sobre a Grande Barreira do adorável Qualia, nas Whitsundays?

Piscina com vista para os vinhedos: yes, please. Foto: Mari Campos

Para quem busca romance e uma bela escapada enoturística, o The Louise é matador: um idílico lodge rodeado pelos vinhedos de Barossa Valley, uma das mais importantes regiões vinícolas do mundo (e lar de mais de uma centena de vinícolas e de restaurantes deliciosos), a apenas uma hora de carro de Adelaide. São apenas 15 luxuosas e enormes suítes, cada qual com seu terraço e total privacidade entre elas. 

O design é contemporâneo mas com detalhes de arte e design que não conflituam nem um pouco com a bucólica paisagem dos vinhedos ao redor. Banheiros enormes (com direito a ducha, banheira e chuveiro externo separados), vinho fortificado e outras amenidades cortesia e café da manhã à la carte servido todos os dias direta e romanticamente na suíte estão incluídos em todas as diárias.  O The Louise é também parte da associação Relais&Chateaux, que chancela também a alta qualidade de seu (pequeno e premiado) restaurante Appellation. 

Minha crítica ao The Louise? As atividades cobradas são extremamente overpriced – como o “café da manhã com cangurus”, que eu experimentei em abril e, na minha opinião, não vale nem um tico dos absurdos 250 dólares cobrados pelo passeio.

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Grandes marcas de luxo mudam o cenário da hotelaria australiana

A Austrália reuniu neste mês de abril em Adelaide, South Australia, cerca de 2,5 mil profissionais de indústria de viagens de todo o mundo para a Australian Tourism Exchange 2018. Durante o evento, o país  anunciou novo recorde de visitantes internacionais: 8,8 milhões de pessoas em 2017, um crescimento de 7% em relação a 2016. Para 2020, a expectativa é chegar aos dez milhões. Com o número de chegadas em alta, foram muitos os novos produtos da hotelaria de luxo australiana apresentados na feira, entre dezenas de outros já consolidados.

Na área de hotelaria de luxo australiana, chamam a atenção as inaugurações recentes ou previstas para breve de propriedades com bandeiras de luxo de grandes redes, principalmente a Marriott International. Para o futuro, daqui a uns cinco anos, há previsões de aberturas de hotéis de grupos asiáticos como Mandarin Oriental e Shangri-La.

Elizabeth Quay, em Perth: endereço da volta do Ritz-Carlton à Austrália | Foto de divulgação/Garry Norris

O Ritz-Carlton Perth, em Western Australia, é aguardado para meados de 2019. Mais adiante, a marca planeja chegar a Melbourne e Sydney. Com 200 quartos, o hotel de Perth será o primeiro RC no país em dez anos. Desde março deste ano esta cidade na Costa Oeste australiana recebe uma nova rota aérea direta de Londres com 17 horas de duração em um Boeing 787-9, o moderno Dreamliner, com capacidade para 236 passageiros. O voo da Qantas, um dos de mais longa duração do mundo, é a primeira ligação direta entre Europa e Austrália.

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O novo InterContinental em Perth, inaugurado no final de 2017 | Foto: divulgação

Perth, que vai sediar a ATE 2019, tem passado por importantes renovações urbanas e da rede hoteleira. No final de 2017 foi inaugurado o InterContinental Perth City Centre, com 240 quartos e 300 obras de arte distribuídas pelas áreas comuns e as acomodações. Semana passada abriu o Westin Perth, outra marca da Marriott, com 386 quartos. Ainda para este ano é esperado um QT, hotel de design australiano que faz sucesso em cidades como Sydney e Melbourne.

Com uma propriedade de 312 quartos em Brisbane, Queensland, o retorno do W Hotels à Austrália será em junho deste ano. O projeto da Marriott de maior impacto está reservado para Sydney. Com algo entre 400 e 500 quartos e inauguração prevista para meados de 2020, o W Darling Harbour tem uma arquitetura ousada. O prédio fará parte de um complexo residencial e de entretenimento, incluindo um Imax, que será erguido acima dos viadutos da área de Darling Harbour. O investimento quase bilionário é de um grupo chinês (o maior mercado emissor para a Austrália). É daqueles projetos que temos que esperar para ver o que realmente vai acontecer.

O novo Sofitel em Sydney, à direita, muda o cenário de Darling Harbour | Foto de Carla Lencastre

O Sofitel Sydney Darling Harbour, inaugurado no final de 2017, já mudou o panorama local. É a segunda propriedade em Sydney com esta bandeira de luxo da rede francesa AccorHotels, que opera mais de 200 hotéis em toda a Austrália. Um dos maiores hotéis do país, oEste Sofitel tem 590 quartos distribuídos em 35 andares. O prédio envidraçado realmente se destaca no superturístico Darling Harbour e está no trending topic da hotelaria local.

Fora das grandes cidades do continente, a Marriott abre em Hobart, na remota Tasmânia. The Tasman é o primeiro hotel da Luxury Collection na Austrália. Com 128 quartos, ficaem um prédio histórico  renovado e restaurado.

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Panorama da hotelaria de luxo em Auckland e Wellington, na Nova Zelândia

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Crystalbrook: nasce uma nova rede hoteleira

O ambicioso projeto do rooftop do Riley. Foto: divulgação

O executivo (e bilionário) sírio Ghassan Aboud resolveu recentemente criar uma rede de hotéis a partir do zero. Primeiro, seu GAG (Ghassan Aboud Group), com base em Dubai, resolveu comprar o Crystalbrook Lodge, em Chillagoe, na Austrália. O luxuoso e premiado lodge, que faz parte da seletíssima associação Luxury Lodges of Australia, lhe despertou o gosto pela indústria hoteleira. 

Empolgado, comprou também o MV Bahama, um luxuoso iate para charters que fica ancorado em Port Douglas, às portas da Grande Barreira de Corais. Deu tão certo que resolveu então incluir a própria marina toda de Port Douglas ao seu portfólio. E foi daí que veio a ideia de não parar mais: comprou hotéis decadentes em Cairns, derrubou e começou a construir novas propriedades a partir do zero. Foi assim que Aboud fez nascer a Crystalbrook Collection, uma novíssima rede de hotéis que lançará um novo hotel por ano em Queensland até 2021 – e já tem planos de ir bem mais além depois disso, abrindo novos hotéis provavelmente também em Sydney e Melbourne.

A proposta dos novos hotéis – todos a serem lançados como propriedades quatro e cinco estrelas – é bem interessante: cada um deles será focado num estilo diferente de viajante e estarão localizados no CBD de Cairns, a menos de 10 minutos de caminhada um do outro.  Aboud diz que escolheu investir tão pesado em Cairns porque nenhum novo hotel foi construído na cidade nos últimos 20 anos por ali (e, cá entre nós, Cairns precisa mesmo desesperadamente de um makeover na imensa maioria de seus hotéis atuais). 

O projeto da entrada do Bailey. Foto: Divulgação

O primeiro hotel, a ser aberto já no segundo semestre deste ano, é o Riley. Com o slogan “living the moment”, será sofisticado e com estilo resort, com quatro restaurantes e bares (incluindo um ambicioso rooftop 42 metros acima do nível do mar), 311 quartos e suítes, um enorme spa, lagoon pool e praia privativa.  

O Bailey, previsto para começar a operar na metade do ano que vem, terá o slogan “the thoughtful arty one” e terá design moderno, inovativo e, é claro, com foco no mundo das artes. Menor, virá com 220 quartos mais compactos e estilosos.

O Flynn, com slogan “the wild-child”, será focado nos millennials e também terá 311 quartos e suítes, previstos para começarem a operar no primeiro semestre de 2020. No projeto, bares dinâmicos, opções de alimentação com jeito de street food e um imenso wellness centre com direito a andar exclusivo para yoga e meditação.

Detalhe de um dos banheiros do Flynn. Foto: Divulgação

E, por último (por enquanto!, como gosta de frisar Mr. Aboud), virá o Harper, o mais luxuoso e exclusivo de todos eles, com apenas 125 quartos e restaurantes focados em alta gastronomia.

Aliás, gastronomia será um dos pilares do grupo: a Crystalbrook afirma que terá diferentes opções em bares e restaurantes em todas as propriedades para que as mesmas sejam espaços importantes de lifestyle em seus destinos também para turistas que não estejam hospedados por ali. Vale ficar de olho. 

 

 

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O complicado conceito de Glamping

Glamping na Eyre Peninsula australiana. Foto: Mari Campos

Já sabemos que tudo no universo das viagens hoje em dia tem a ver com “experiências” e é claro que natureza e, sobretudo, ecossistemas diferentes dos quais estamos habituados representam parcela importante destes desejos viajantes. Diversas propriedades em distintos locais do globo souberam unir com maestria a ideia de aventura e extremo contato com a natureza sem abrir mão do conforto, do bom serviço e da boa mesa, como as redes Explora e Tierra Hotels na América do Sul e inúmeros lodges de safári sul africanos (como Tintswalo, Thornybush e tantos outros).

Não faz tanto tempo assim que o conceito de “glamping” tomou conta de parte do mercado de viagens internacional. No princípio, eram poucas empresas investindo nesta ideia de “glamour camping” mas, com o advento das redes sociais, instagrammers, bloggers e youtubers, não demorou muito para a ideia, tão visualmente sedutora, se espalhar por destinos nos cinco continentes.  A proposta de se hospedar em meio à natureza exuberante com a conveniência dos serviços de hotelaria foi desde o início sedutora para boa parte dos viajantes – uma oportunidade de unir o melhor dos mundos em uma viagem cheia de experiências e imersão.

Na onda do glamping, o conceito original das tendas começou com unidades ampliadas, com banheiros privativos, refrigeração ou calefação do ambiente e amenidades de qualidade, e evoluiu para yurts completíssimos que não devem em nada a um bom quarto de hotel, como nos ótimos Eco Camp e Patagonia Camp, no Chile, por exemplo.

O conforto no contato muito próximo com a natureza sempre norteou tais experiências – ao menos em princípio. O ótimo Jawaii Leopard Camp, por exemplo, foi erguido em uma área super remota e selvagem das Aravelli Hills, na Índia. Suas refinadas e completíssimas tendas foram instaladas com todo o conforto em uma região habitada pelos curiosos homens da tribo Rabat e rodeada por uma impressionante população selvagem de leopardos – daquelas experiências intensas das quais jamais me esquecerei.

O peculiar e o inesperado sempre foram bem-vindos neste setor e hoje não são poucas as propriedades em diferentes continentes oferecendo até ofurôs sob as estrelas do lado de fora das tendas. E sustentabilidade é, é claro, essencial para qualquer propriedade do gênero ser bem sucedida no mercado. Mas, assim como o conceito de hotel boutique, parece que cada proprietário entende a ideia de glamping como bem quer.  Tive experiências bastante frustrantes em locais como o Elephant Hills, no sul da Tailândia, de tendas abafadíssimas, serviço pífio, e um menu buffet sofrível que se repetiu, idêntico, pelos dois almoços e dois jantares que fiz ali.

Neste abril, em uma viagem pelo outback da Península Eyre, na Austrália, me hospedei em uma propriedade nas Gawler Ranges que se define em seu website como “glamping experience” e diz que tem “5 star tents”. Cobra 660 dólares por pessoa POR DIA de hospedagem (e não por noite!), não tem sequer ventiladores nas tendas quentíssimas (peguei 41 graus durante o dia, mesmo durante o outono), não oferece nenhum tipo de serviço de limpeza/camareiras (nem troca de toalhas) nem investe em uma gastronomia minimamente caprichada (os jantares até eram ok, mas nos dois almoços que fiz lá, um tinha restos do jantar anterior mal ajeitados em potes plásticos e o outro era um sanduíche de salada na baguete, embalado em papel filme).

Transfers, passeios e refeições estão incluídos, assim como vinhos australianos no jantar. O local utiliza somente água da chuva para chuveiros e descargas e mantém o consumo de energia elétrica ao mínimo possível. A paisagem do outback australiano durante o dia, a vida selvagem nos arredores das tendas e o céu extremamente estrelado no meio do nada compensam, por exemplo, o incômodo irritante das moscas o dia todo; é um fenômeno natural, não há tanto  que possa ser feito. Mas o acampamento cobrar um valor como esse pelo tipo de produto que oferece me parece mesmo injusticável.

É claro que entende-se que propriedades pequenas, remotas e que investem em sustentabilidade têm geralmente custos mais altos que um grande hotel em um centro urbano pela própria logística necessária para abastecê-la – sem nem entrar em outros méritos. E sabemos que até mesmo o conceito de “estrelas” na hotelaria ainda é super discutível, então é mesmo utopia querer algum tipo de “standardização” para propriedades que se definiam como hotéis boutique, eco-lodges ou glamping. Mas uma propriedade que cobre o mesmo valor que um hotel de exploração de primeira linha(como os já citados Explora e Tierra, por exemplo) não oferecer sequer ventiladores para amenizar o calor surreal das tendas ou serviço de camareiras se atrever a cobrar preço de hotel de luxo realmente é algo que ainda me choca.

 

 

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