Cotton House: oásis em Barcelona

Cheguei em Barcelona na semana passada sob um calor surreal. A cidade estava mais abafada do que nunca e só de pisar na rua a gente sentia. Assim que cheguei ao balcão do Cotton House Hotel, a recepcionista disparou: “Faz muito calor lá fora, não? Prefere um copo d’agua ou uma taça de cava para refrescar enquanto faço seu check in?”.

Convidada a conhecer o hotel neste verão europeu, minha estada no hotel – que tem meros 3 anos de existência, fica na Gran Via, a três quadras do Paseig de Gràcia, e integra o seleto portfólio da Autograph Collection – foi uma mistura bem bolada de serviço atencioso e caprichado com uma informalidade acolhedora por parte do staff (todo bastante jovem, diga-se de passagem).

A piscina do último andar tem vista para o Eixample, as montanhas e a Sagrada Família. Foto: Mari Campos

A Autograph Collection, bandeira da Marriott que reúne hotéis boutique independentes em diversos cantos do planeta, se consolidou por reunir hotéis únicos, fora do comum (“exactly like nothing else”, como diz seu slogan), cheios de design, com foco em experiências singulares e extremamente conectados com o destino em que se instalaram. E o Cotton House Hotel é uma perfeita tradução dos valores da marca. 

Ocupando a antiga sede da Fundación Textil Algodonera, em um emblemático edifício do século XIX totalmente repaginado pelas mãos do designer Lázaro Rosa-Violán (um dos mais badalados da Espanha na atualidade), o hotel mistura muito bem a sofisticação contemporânea com história e funcionalidade – e valoriza muito a cidade onde está.

A escada espiral suspensa de 1957 foi preservada. Foto: Mari Campos

Vários elementos originais do edifício foram conservados, como o incrível teto da Library (a belíssima biblioteca que é puro sossego e, sem dúvidas, o cômodo mais bonito e fotografado de todo o hotel), a imponente escada de mármore de um lado, a impressionante escada espiral de 1957 do outro (suspensa pelo último andar ao invés de presa ao térreo), o delicado parquet do piso… Ao mesmo tempo, todas as facilidades contemporâneas estão lá (incluindo muitas tomadas e entradas USB nos quartos), wifi de excelente qualidade e móveis de design arrojado que dão a tônica aqui e ali nas áreas comuns. 

O passado têxtil do edifício também é honrado em uma das experiências exclusivas que o hotel oferece aos seus hóspedes: a possibilidade de confeccionar uma camisa sob medida com os alfaiates da Santa Eulalia, os mais premiados de Barcelona.

O Cotton Room tem décor muito leve e adorável terraço para o Eixample. Foto: Mari Campos

Os 83 quartos são puro sossego: todos muito luminosos, cores clarinhas, quietos, e sempre com um toque de algodão na decoração (da plantinha em si aos delicados papéis de parede de inspiração botânica) para lembrar o passado do edifício. A gente sequer tem noção de que o hotel tem esta quantidade de quartos, dado o sossego constante em todas as áreas.

Meu quarto era do tipo Cotton room (há diferentes tipos de quarto, incluindo sete suítes), que tem sempre um adorável terraço privativo olhando para o pátio do hotel e os predinhos típicos do Eixample (perfeito para tomar o primeiro cafezinho da manhã). Cama King size, poltrona, boa mesa de trabalho, Nespresso, banheiro grande com banheira e ducha, luxuosas amenidades de banho 100% naturais e mediterrâneas da marca Ortigia da Sicília e uma completíssima “amenities box” que incluía até escova de cabelos.  O meu quarto era no segundo andar e tinha mesmo vista apenas para o pátio e predinhos do entorno, mas me disseram que os quartos dos andares mais altos chegam a ver o mar. 

Detalhe do Batuar Bar e Restaurante. Foto: Mari Campos

Um importante diferencial do Cotton House em relação a outros hotéis de luxo da cidade é que seu público é essencialmente leisure. Você não vê nunca viajantes a trabalho e sim somente casais, famílias, grupos de amigos e solo travelers, todos a lazer, o que garante um ambiente o tempo todo extremamente casual e relaxado à propriedade. O staff também é sempre muito informal (apesar de chamar os hóspedes pelos nomes e ser sempre solícito), a “welcome message” no quarto é escrita com battom no espelho e a própria área dos concierges é adoravelmente chamada de Gossypium. 

Das áreas comuns, além da biblioteca e da incrível lap pool no rooftop (com vista espetacular para a cidade e a Sagrada família!), destaque para o Batuar Bar & Restaurant. É ali, tanto no belo ambiente interno quanto no charmoso pátio, que o café da manhã em estilo buffet (mas com pratos quentes à la carte) é servido todos os dias até 11h da manhã, e também funciona para almoço e jantar com cozinha Catalã contemporânea (destaque absoluto para as tapas da casa, excelentes!). Ressalva apenas para o serviço de bebidas e pratos quentes no café da manhã, que é bastante lento. Falo mais sobre o restaurante e o bar do hotel neste meu texto para o Estadão. 

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Copa do Mundo: os hotéis Lotte na Rússia

Apesar de ainda muito pouco conhecida dos brasileiros, a rede Lotte Hotels & Resorts é o maior grupo hoteleiro na Coréia e tem unidades espalhadas em diferentes países. O grupo asiático tem expandido seus domínios para Europa e Estados Unidos – deve chegar a um total de 40 hotéis até o final deste ano – e busca um reconhecimento mais global, a exemplo de outras redes asiáticas que já garantiram seu lugar ao sol na hotelaria de luxo, como Mandarin Oriental, Shangri-la ou Peninsula.

A ideia geral do grupo é promover um equilíbrio entre refinamento e lifestyle, garantindo excelência em serviço mas também o “twist” necessário para garantir à cada propriedade o seu próprio estilo – incluindo apostar cada vez mais em gastronomia estrelada em diversas unidades.  A rede tá marcando sua presença também durante a Copa do Mundo, com duas de suas três unidades na Rússia 100% lotadas durante todo o mundial. E com razão, já que os hotéis valem mesmo o quanto custam (e custam bem).

Meu quarto no charmoso Lote St Petersburg. Foto: Mari Campos

Em minha viagem à Rússia em março passado aproveitei para conhecer o Lotte St Petersburg e o Lotte Moscow. Os hotéis russos me chamaram a atenção por levarem estampado um selo de reconhecimento de qualidade indiscutível: ambas propriedades fazem parte do seleto portfólio da Leading Hotels of the World. 

Convidada a me hospedar no hotel da rede em São Petersburgo foi uma grata surpresa – o hotel virou queridinho da viagem russa toda. Estive ali hospedada durante todos os meus dias na cidade e não me arrependi nem um pouco da decisão (apesar de estar super acostumada a mudar de hotéis durante a estada em um mesmo destino): com 150 quartos, tem jeito de hotel boutique e serviço ultra personalizado e customizado, com funcionários que te chamam pelo nome (e uma excelente equipe de concierges). Novinho – o hotel abriu suas portas no ano passado – ocupa uma mansão histórica do século XIX em uma das mais prestigiosas localizações da cidade, a icônica St Isaac’s square, com a imensa Catedral de São Isaque quase em frente. 

O belíssimo salão de café da manhã do Lotte St Petersburg. Foto: Mari Campos

A localização é tão boa que dá pra fazer as principais atrações turísticas da cidade quase todas à pé – e mesma coisa para chegar aos restaurantes mais badalados. Os quartos são bastante espaçosos e confortáveis, com todas as facilidades tecnológicas da contemporaneidade – incluindo muitos plugs/tomadas e entradas para carregar USB. Tem um adorável spa com piscina térmica e um incrível rooftop no último andar, com vista panorâmica para a cidade – que infelizmente, por questões de meteorologia, só fica aberto nos meses mais quentes.

Mas o maior destaque do Lotte St Petersburgo fica por conta de seu café da manhã, servido num incrível salão cheio de rococó e vitrais históricos no teto. Não à toa, foi premiado como o melhor café da manhã da cidade – oferece diariamente um imenso buffet com quatro estações diferentes, além de menu de itens quentes preparados na hora. 

Detalhe do meu quarto no Lotte Moscow. Foto: Mari Campos

Já a propriedade da rede em Moscou tem perfil bem diferente.  O hotel é um dos mais tradicionais da cidade, tem 300 quartos e a gente percebe seu tamanho pelo movimento intenso (e por vezes até barulhento) no lobby. Localizado no Novinskiy Boulevard e aberto em 2010, fica afastado da Praça Vermelha e outras atrações turísticas da cidade mas o metrô está a apenas uma quadra de distância (assim como a rua Arbat, conhecida como a “rua dos Souvenirs”).   

Os quartos são bastante espaçosos, mas com decoração menos charmosa que a unidade de São Petersburgo. Por falar em tamanho, o hotel tem a maior Royal Suite de toda a Rússia, com uma área total de 490 metros quadrados – pra czar nenhum botar defeito! – e um belo spa, o Mandara Spa. Mas seu maior destaque fica por conta das suas ofertas gastronômicas: o italiano contemporâneo OVO, sob comando do chef estrelado no Michelin Carlo Gracco, e MEGUmi, um moderno japonês. O excelente café da manhã com três estações diferentes no buffet é servido diariamente no mesmo espaço físico do OVO. 

Detalhe do restaurante OVO by Carlo Gracco do Lotte Moscow. Foto: Mari Campos

Curiosidade: o nome da rede vem da personagem Charlotte, a heroína de Goethe em seu livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, cujo apelido na obra era Lotte. 

Dá pra ler mais sobre hotéis na Rússia em geral aqui no Hotel Inspectors em posts da inspector Carla Lencastre neste e neste link. E dá pra ler mais sobre minha experiência em hotéis em São Petersburgo e Moscou neste link aqui.

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Copa do Mundo: quatro hotéis de luxo em São Petersburgo

“Era uma noite prodigiosa, uma dessas noites que talvez só vejamos quando somos novos, querido leitor. Estava um céu tão fundo e tão claro que ao olhá-lo uma pessoa era forçosamente levada a perguntar se seria possível que debaixo de um céu daquele pudessem viver criaturas más e tenebrosas. Questão esta que, para dizer a verdade, só é costume levantar quando somos novos, mesmo muito novos, querido leitor.” Assim começa Noites Brancas (em tradução de Nivaldo dos Santos para a Editora 34), romance de Fiódor Dostoiévski passado em São Petersburgo. A pergunta pueril talvez só se faça mesmo muito novo. Mas não há idade para se encantar com o céu das noites de verão (como o da foto acima) em uma das mais impressionantes cidades da Rússia. São Petersburgo tem ótimos hotéis.

Durante a Copa do Mundo, com um novo estádio para quase 70 mil pessoas, a cidade sedia sete jogos, entre eles Brasil x Costa Rica no dia 22 e uma semifinal. A seleção brasileira se hospeda no Corinthia St. Petersburg, um dos principais hotéis de São Petersburgo.

A fachada principal do Corinthia, hotel que hospeda a seleção brasileira em São Petersburgo | Foto de divulgação

O Corinthia fica na Nevsky, a mais importante e movimentada avenida de São Petersburgo. Integrante do grupo hoteleiro de mesmo nome, baseado em Malta, é um hotel grande, com 388 quartos, que nos últimos meses deu uma repaginada nas acomodações. Foi uma das minhas opções de hotéis em São Petersburgo, mas não foi a preferida. Lá no final eu explico o porquê. Por hora, voltemos às noites brancas.

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O bar Hi So, ainda na fase W, e a Catedral sob o céu das 22h de uma noite de verão | Foto de Carla Lencastre

Um dos hotéis com melhor vista para noites que não anoitecem é o So/ Sofitel Saint Petersburg. Até o início do ano, era um W Hotel, parte do portfólio da Marriott Internacional. Em meados de fevereiro passou a ser administrado pela AccorHotels sob a a nova bandeira de lifestyle So/ Sofitel. O bar no terraço é dos melhores para aproveitar uma noite branca.

Renovado e rebatizado de Hi So Terrace, reabriu no fim de maio (fecha quando terminar o verão) e fica ao lado da imensa cúpula dourada da imponente Catedral de Santo Isaac, erguida na primeira metade do século XIX. Reserve uma mesa ao ar livre e aproveite a claridade. Só escurece lá pela meia-noite. Ou um pouco antes no início e no fim da estação. Ou um pouco depois no auge do verão.

Leões de mármore estão há quase dois séculos na entrada do Lion Palace | Foto de Carla Lencastre

Este foi meu primeiro programa quando desembarquei na cidade em uma noite branca. Quando afinal escureceu, foi só atravessar a rua para chegar aos dois leões em mármore de quase 200 anos que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial, sempre no mesmo lugar. Hoje a dupla restaurada marca a entrada do Four Seasons Lion Palace, onde estava hospedada. Com 157 quartos, o hotel fica em um palácio do início do século XIX recuperado em toda a sua grandeza. Foi originalmente uma residência imperial e, depois, o Ministério da Guerra. Há cinco anos faz parte dos hotéis históricos da rede Four Seasons, como os de Florença, Milão, Budapeste e Istambul.

Quarto com vista para a Catedral no Four Seasons Lion Palace | Foto de Carla Lencastre

O quarto confortável tinha vista para a Catedral de Santo Isaac. O serviço foi impecável. As áreas comuns chamam a atenção pelo esplendor da Rússia imperial. Em um terraço estão grandes estátuas de figuras femininas também restauradas. Há um spa, dois restaurantes e um bar. É um hotel que vale a visita para quem não está hospedado. Fica perto do fabuloso Museu Hermitage.

Uma das estátuas representando figura feminina no restaurado Lion Palace | Foto de Carla Lencastre

Depois de duas noites brancas bem dormidas no Lion Palace, me mudei para o Corinthia, no final da Nevsky. A ideia era ter uma perspectiva diferente de São Petersburgo e conhecer um de seus hotéis de luxo mais famosos. Ao chegar, recebi um quarto no qual o ar-condicionado não funcionava. O serviço foi eficiente. Fui acomodada no bar do lobby, com champanhe, enquanto outro quarto era preparado. O que me coube era maior, refrigerado e com vista para uma obra que me fez madrugar nas duas manhãs seguintes.

Uma suíte parecida com a que fiquei, agora em cores novas | Foto de divulgação

A sobriedade da decoração também não me conquistou. O lobby, por exemplo, não lembrava em nada a elegância do moderno Corinthia London. O hotel passou por uma renovação para a Copa e para marcar seus 15 anos. Pelas fotos novas, os quartos parecem seguir uma paleta mais leve.

O bar em estilo art nouveau do Grand Hotel Europe | Foto de divulgação

Já localização do Corinthia na Nevsky cumpriu a sua função. Dali foi fácil visitar a pé os pontos turísticos que não tinha visto no início da viagem, como a bela Catedral do Sangue Derramado. Aproveitei também para tomar um drinque no bonito bar art nouveau no lobby do Belmond Grand Hotel Europe, uma joia histórica da cidade em excelente estado de conservação. Durante a Copa do Mundo, é o hotel que está hospedando a seleção da Arábia Saudita. Falamos mais dele no post que fizemos sobre os endereços de algumas equipes na Rússia. É só clicar neste link aqui.

O Four Seasons Lion Palace e o So/ Sofitel ficam a uns dez minutos de caminhada do início da Nevsky, na ponta oposta ao Corinthia. Na mesma região está também o Lotte, onde a inspector Mari Campos se hospedou recentemente. Teremos post em breve. Fique de olho.

Ao longo da Copa do Mundo, estamos mostrando detalhes dos hotéis que abrigam as seleções no Instagram, no facebook e, olha a novidade, no Twitter. Vai ser uma beleza ter companhia nas redes sociais.

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Bear Hotel, hotel mal assombrado na Inglaterra

Você já dormiu com fantasma em hotel?

Eu já. Teoricamente, não apenas com um fantasma no hotel, mas com três. Recentemente, em uma fria noite de fim de inverno, me hospedei no Macdonald Bear Hotel, em Woodstock, interior da Inglaterra. A propriedade é considerada uma das mais assombradas do Reino Unido. E olha que de assombração os britânicos entendem. Estava indiferente à experiência. Alguns companheiros de viagem também não ligaram. Outros se divertiram. E alguns ficaram muito incomodados. Uma noite em um hotel com fantasma na Inglaterra pode ser uma faixa bônus para um viajante. Para outro, é um pesadelo desconfortável.

Leia também: Como é dormir em uma locação da série Bridgerton

Hotel mal assombrado na Inglaterra
O caminho para o sótão do Bear Hotel | Foto de Carla Lencastre

Na minha experiência, a convite do VisitBritain, o órgão oficial do turismo britânico, o mais incômodo foi ter que subir a escada que levava ao sótão carregando uma mala média. Meu quarto ficava isolado ali, com um teto de pé-direito baixo, com menos de dois metros de altura, vigas de carvalho sustentando o telhado e apenas duas minúsculas janelas com vista para a rua. Claustrofóbico, ainda que espaçoso e aparentemente sem fantasmas. Mais tarde, quando encontrei os companheiros de viagem, me dei conta que assombração aparece para cada um de um jeito. Parte do grupo achava graça da fama do hotel, inclusive quem estava em quarto com vista para o cemitério da igreja ao lado. Outros pareciam visivelmente perturbados com a perspectiva de passar a noite no Bear.

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Hotel mal assombrado na Inglaterra
Vista de um dos quartos do hotel em Woodstock

Diversos websites listam hotéis assombrados mundo afora. No English Country Inns, por exemplo, é possível procurar hospedagem usando filtros como “hotéis românticos”, “gourmet”, “com piscina” ou “assombrados”. É com você. O Bear é uma das opções assombradas. Um dos dois fantasmas do hotel moraria no quarto 16.

Já o Haunted Rooms UK deixa claro a que se destina logo no nome e apresenta o Bear como “um dos hotéis mais assombrados do Reino Unido”. Os fantasmas residentes seriam de Elizabeth e Christopher Dowing, uma jovem mãe e seu filho de 8 anos, mortos em meados do século XVIII.

Leia também: O que realmente mudou na hotelaria na pandemia

Hotel mal assombrado na Inglaterra
A fachada do hotel assombrado no interior da Inglaterra | Foto de Carla Lencastre

Em seu website, o hotel não faz menção a assombrações (só avisa que Elizabeth Taylor e Richard Burton estiveram lá). Mas a construção ajuda a manter a fama. O Bear é um dos hotéis mais antigos da Inglaterra e está instalado em prédio histórico que funciona como pouso de viajantes desde o século XIII. Nos séculos seguintes vieram expansões e renovações. Hoje são 54 quartos com confortos modernos. Pelas paredes (algumas em pedras aparentes) dos labirínticos corredores, há objetos, móveis e retratos antigos, estes daquele tipo que parecem seguir o visitante com o olhar.

Hotel mal assombrado na Inglaterra
O quarto no sotão…
Hotel mal assombrado na Inglaterra
…e o quartinho | Fotos de Carla Lencastre

O sótão onde dormi tinha aquecimento funcionando perfeitamente, roupa de cama e roupões de qualidade, máquina de café expresso, banheiro reformado (ainda que não novíssimo), amenities da grife britânica Elemis. Um pequeno hall de entrada dava acesso a um amplo quarto, com cama de casal, escrivaninha e área de estar, e a um minúsculo quarto, com apenas uma fresta no alto de uma das paredes e uma cama pequena. Roupões infantis estavam pendurados atrás da porta. Fechei a porta do cubículo sem janela assim que cheguei e não abri mais.

Hotel mal assombrado na Inglaterra
Parte da cena noturna | Foto de Carla Lencastre

O episódio mais estranho da minha experiência de caça-fantasmas aconteceu depois do jantar (a propósito, o hotel tem um ótimo e movimentado restaurante de cozinha britânica moderna servida em um ambiente tradicional). Quando voltei para o quarto, a cama estava preparada para a noite, com dois pequenos chocolates, um em cada travesseiro, e uma Bíblia aberta no meio. Fechei o livro, tirei uma foto, guardei o exemplar em uma gaveta e, como não estava dividindo o quarto com ninguém, comi os dois chocolates logo de uma vez para não dar ideia para fantasma. Só me arrependo de não ter olhado antes em que página a Bíblia estava aberta. Dormi. No dia seguinte, a situação do grupo se repetiu: alguns tinham uma história divertida para contar, outros não tinham dormido nada. Fui visitar o cemitério vizinho. À luz da manhã parecia menos fantasmagórico do que nas fotos que tinha visto no dia anterior.

Hotel mal assombrado na Inglaterra
O cemitério na igreja ao lado do Bear Hotel à luz do dia | Foto de Carla Lencastre

A principal razão para alguém parar em Woodstock é o Blenheim Palace. O palácio pertence à 12ª geração dos duques de Malborough. Mas não é por isso que recebe visitantes, e sim porque Winston Churchill nasceu ali. O mais famoso primeiro-ministro britânico passou parte da infância e da juventude em Blenheim. Vale ir de Londres (a umas duas horas de distância) até lá nem que seja apenas para passear pelos imensos jardins, com direito até a lago com ponte. Woodstock fica perto de Oxford e é uma cidadezinha de praticamente uma rua, com cafés, restaurantes, pubs e galerias de arte. Há outros (poucos) hotéis no vilarejo, para quem preferir descartar o Bear e suas assombrações. Só não há garantia de que fantasmas não saiam para passear.

Blenheim Palace, da família de Winston Churchill
Blenheim Palace, em Woodstock, onde Winston Churchill nasceu | Foto de Carla Lencastre

Os fantasmas se divertem 2

Hotel mal assombrado na Irlanda do Norte
A silhueta do Ballygally Castle ao entardecer | Foto de Carla Lencastre

Como hotel mal assombrado é o que não falta no Reino Unido, o Bear foi o segundo que conheci. Já tinha experimentado dormir com um fantasma na Irlanda do Norte, no Ballygally Castle, perto de algumas das locações da série da HBO Game of Thrones e da Causeway Coast. Neste hotel, com 54 quartos e hoje parte do Hastings Hotels, fiquei em uma ala mais nova. Não percebi assombrações. No dia seguinte, companheiros de viagem que ficaram na parte antiga relataram que não conseguiram dormir “por causa do barulho de móveis sendo arrastados”.

Hotel mal assombrado na Irlanda do Norte
O hotel assombrado no litoral da Irlanda do Norte | Foto de Carla Lencastre

Em Ballygally, segundo o site Haunted Rooms UK, o fantasma residente é o de Lady Isobella Shaw, que assombra o castelo do início do século XVII há 400 anos. Ou seja, desde quase sempre.

Na categoria cenário, o Ballygally impressiona menos que o Bear. Talvez porque esteja em um hotel de frente para as águas calmas da Baía de Ballygally, com vista para a Escócia, Isobella parece confinada à parte original do castelo.

Hotel mal assombrado na Irlanda do Norte
Amanhecer em Ballygally Bay | Foto de Carla Lencastre

Fantasmas britânicos não moram apenas em pequenos hotéis de vilarejos como Woodstock ou Ballygally. Dois hotelões de luxo em Londres aparecem em quase todas as listas de lugares assombrados no Reino Unido. O mais citado é o Langham, que teria nada menos que cinco fantasmas residentes. O Savoy costuma ser o segundo colocado. Março passado, o jornal londrino The Telegraph relacionou alguns hotéis com assombrações. Os dois ícones londrinos, instalados em construções de meados do século XIX, estão no topo da lista. Boo!

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American Bar, no Savoy, em Londres, um dos melhores bares do mundo.

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A nova flagship dos W Hotels

Um dos impressionantes murais do W Bellevue. Foto de Mari Campos

Criada a partir da chamada “bold attitude” (ousadia) da cidade de Nova York, a bandeira W Hotels da Marriott International sempre provocou, desde seu surgimento, uma disruptura com o cenário da hospitalidade upscale internacional. Do seu icônico botão de serviço “whatever/whenever” para atender o hóspede em qualquer circunstância (hoje marca registrada na hotelaria) ao design bastante provocativo, ao longo de quase duas décadas (e mais de 80 hotéis depois) a marca continua rompendo regras do luxo tradicional na hotelaria em todos os sentidos.

No comecinho de março estive em Seattle, onde a nova flagship da marca foi lançada: o W Bellevue, inaugurado no segundo semestre de 2017, ficou mesmo um espetáculo – e não poderia ser mais diferente do W Seattle, a meros 20 minutos de distância, perfeitamente localizado no centro de Seattle, mas com alguns quartos precisando urgentemente de um extreme makeover.

Fui convidada a me hospedar no novo hotel e gostei muito do que experimentei. O novo W Bellevue tem 245 quartos e design inspirado em uma lake house do noroeste americano – o que justifica, por exemplo, o repetido uso dos tetos A-frame. Mas o jogo de texturas e formatos nos móveis de design e a combinação de cores nos imensos murais nas paredes em quase todos os cômodos não poderia ser mais iconicamente “W”. Aliás, tudo ali combina muito com a nova bossa de Bellevue, um dos destinos dos arredores de Seattle que mais rápida e charmosamente se desenvolve, virando um novo hub de compras, gastronomia e vida noturna para moradores e turistas que visitam a região.

O design do hotel abraça sem pudores a história regional e as belezas naturais que o rodeiam (inclusive nos imensos murais de artistas renomados como Gaia, Lady Aiko e Zio Ziegler), sem abrir mão das inovações tecnológicas nos quartos e nas áreas comuns (tomadas mil, entradas usb mil, tudo se conecta o tempo todo, uma maravilha). Os murais mesclam backgrounds regionais e internacionais, em ambientes que brincam o tempo todo com a ideia de privado e público, grandes espaços e lounges intimistas.  O staff é super jovem e relax, mas ao mesmo tempo extremamente pontual e profissional (fiz ali um dos mais rápidos check-in e check-outs do últimos tempos).

Da recepção ao chamado Living Room (que é quase um playground para o viajante moderno!), o elemento lúdico está em alguns murais com jeito de cartoon, em uma cabine de DJ e mesas de jogos instaladas em meio aos sofás e pufes do super sexy  lounge bar  (com música animada o tempo todo, é claro). Todo esse lado posh contrasta com a sala chamada de “biblioteca”, de cores claras, poesia nas paredes, sempre silenciosa. E há ainda um imenso terraço externo, com móveis que vão de sofás tradicionais à beira da lareira à adoráveis balanços de vime.

Detalhe do quarto do W Bellevue, vista cidade. Foto de Mari Campos

Os banheiros públicos do primeiro andar, apesar de serem identificados por gênero do lado de fora, se fundem todos no mesmo espaço unissex do lado de dentro.  Os corredores dos quartos são adornados com fotos enquadradas de lake houses da região e o design dos quartos continua misturando o sexy (como nos boxes transparentes em banheiros completamente abertos para os quartos) com o lúdico (como no formato da cômoda, cujas gavetas foram propositalmente construídas como se estivessem sido deixadas abertas) – e vista para o lago ou para o skyline de Bellevue, com direito a sofazinho para contempla-la. A academia é gigante e completíssima, e os hóspedes também recebem fones de ouvido e três mapas de corrida diferentes pelo bairro, com diferentes distâncias a percorrer. Mas não há spa.

Na gastronomia, o The Lakehouse é acessível tanto da recepção do hotel quando do mall adjacente e, sob o comando do chef Jason Wilson (vencedor do James Beard), investe pesado no conceito de “farmhouse” da região Northwest dos EUA. Os pratos vêm sem frescuras, mas bem saborosos, e o ambiente é delicioso. É no Lakehouse também que é servido o café da manhã do hotel (à la carte). O downside fica por conta do serviço de quarto, bastante limitado.

No térreo, e também comandado por Wilson, o interessante e discretíssimo Civility & Unrest é um speakeasy lounge que fica escondido atrás do mural gigante de Gaia à entrada do hotel. Vale entrar sem medo, que a mixologia é assunto seríssimo por lá (e o local ganha ares de balada nos finais de semana).

Sou fã de carteirinha de algumas unidades do W, principalmente as que brincam com essa vibe lúdico+sexy, como Santiago, no Chile, ou Verbier, na Suíça. Mas no W Bellevue mesmo ficou claríssimo, já à primeira vista, porque ele passará a ser o flagship da bandeira – inclusive pelo serviço realmente cinco estrelas que, sejamos bem francos, não é todo W que tem.

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