Caso Thomas Cook: mais uma da série “posicionamento é renúncia”

Toda vez que me aprofundo no universo das marcas fico fascinado pela forma que os valores das empresas se representam na prática, porém, quando falamos de causas socioambientais, fico sempre com um pé atrás. E isso não é pelo fato de eu ser desconfiado, mas sim, porque temos diversos exemplos de empresas que levantam bandeiras aleatórias e não vivem o que defendem. O que é muito prejudicial, afinal, o público sabe realmente quem vive o que diz.

Porém, essa semana todos nós fomos impactados com a atitude de uma marca que realmente está aplicando os valores que defende, gerando um embate de gigantes. No finalzinho do último mês, a inglesa Thomas Cook,  considerada a primeira agência de viagens do mundo, fundada em 1841, e um dos maiores operadores turísticos atualmente, anunciou que não vai mais vender ingressos atrações de animais que mantenham orcas em cativeiro. 

Essa é uma evolução de outra determinação, passada há tempos, que informava que a instituição não venderia mais viagens a parques de animais que não fossem 100% compatíveis com os padrões de bem-estar animal da ABTA (Associação Britânica de Agentes de Viagens). Com isso, cerca de 40 parques ou destinos foram auditados, 29 foram removidos da lista dentre eles, o gigante Sea World, que ano após ano vem sofrendo pressão externa sobre sua atuação com os animais em cativeiro.

Até onde uma marca deve ir para cumprir seus valores?

Não existe limite no cumprimento dos valores de uma instituição. Desde que suas causas sejam honestas e realmente condizentes com os valores da empresa, elas devem ser cumrpridas. Mesmo que isso acabe por eliminar um público que pode ser um consumidor ativo, como é o caso da Thomas Cook, que abriu mão de fãs de shows com orcas. Porém, é o que o título do artigo diz , “posicionamento é renúncia”. E é muitas vezes a renúncia do dinheiro, afinal, essa parcela de fãs do Sea World não vai deixar de visitar o parque quando for a Orlando, na Flórida.

Como uma pequena empresa deve trabalhar seu posicionamento 

Trazendo para a realidade brasileira, é claro que, para quem se identifica com os valores expostos acima, não é fácil abrir mão de parte do seu faturamento. A TC é uma gigante mundial, e seu posicionamento foi construído e fortalecido ao longo de mais de 100 anos. Neste caso, minha sugestão é que a marca não levante essa bandeira, pois não seria condizente com sua realidade.Tente ajudar de outra maneira. Pelo menos até ter autonomia para viver o que diz.

Não é fácil construir e entender o universo de uma marca, a relação entre quanto custa defender um ideal é sempre muito delicada. Aqui em minha coluna já falei tanto sobre a importância do valor de marca, quanto da importância de ter um propósito.

Conheça algumas diretrizes socioambientais da ABTA e da Thomas Cook:

Thomas Cook: What is Sustainable Tourism?

Thomas Cook Sustainability

ABTA: animals in tourism

ABTA: Global Welfare Guidance for Animals in Tourism

 

O que eu aprendi em imersão com Geraldo Rufino

Assim como diversos leitores da minha coluna, sou um empreendedor, e não confundam isso com empresário, afinal, é possível empreender no CNPJ de outra pessoa, no seu dia a dia. Por isso, resolvi escrever sobre uma experiência muito enriquecedora que tive no último sábado, dia  4. Nesta data, participei de uma imersão com o nacionalmente conhecido, empresário e empreendedor, Geraldo Rufino, dono da JR Diesel, maior distribuidora de peças semi novas do Brasil. E, apesar de não ser um case do segmento de turismo, quero compartilhá-lo com vocês.

Antes de falar sobre a imersão, é importante citar que Rufino tem uma história de vida fascinante. Natural de Minas Gerais, ainda criança veio para São Paulo com a família, aos 7 anos catava latinha em um lixão para ajudar nas contas de casa e hoje, após “quebrar” por quatro vezes, é dono de uma empresa avaliada em 125 milhões de reais.

Sobre a imersão, a proposta era ter um momento onde os participantes realmente poderiam extrair ao máximo o conhecimento não só de Geraldo, mas de seu filho Arthur Rufino, CEO da empresa e de sua esposa, Marlene Rufino, diretora-administrativa e financeira da JR Diesel. E confesso que foi uma das melhores experiências que tive, não só pelo que me foi agregado sobre o business, mas por ver uma família trabalhando junto e pelo acolhimento recebido, afinal, até minha filha Manú, de 3 meses, participou do evento e foi tratada como membro da família.

Mas, vamos ao que interessa para vocês. Vou colocar em bullets os pontos que mais me chamaram a atenção e que podem agregar ao negócio de cada um:

  • Felicidade: como a própria filha de Geraldo diz, ele é irritantemente feliz, e isso faz toda a diferença. Não distribua carrancas, compartilhe sorrisos. Você vai ver que seu dia será muito melhor e o universo vai conspirar a seu favor. Sei que isso não é fácil, sou prova viva disso, mas confesso que vou tentar.
  • Resiliência: igual a diversos leitores da coluna, o negócio de Rufino, Marlene e Arthur é familiar e isso muitas vezes é a chave para o fracasso se o relacionamento não for bom. Eu mesmo, sou sócio da minha própria esposa em duas empresas, a INSANE Estratégia e Comunicação e no Portal Mochilaí, e é necessário saber lidar com todas as mudanças que isso pode causar.
  • Desconstrução: em uma das falas do Arthur Rufino, ele ressaltou muito a importância de desconstruir seu negócio, no papel e em pensamento, para entender todas a sua cadeia de produção, seu mercado e tentar detectar novas formas de rentabilidade.
  • Organização: mesmo sem ter nenhuma formação técnica em administração ou financeira, Marlene assumiu as finanças da empresa e com aplicação e organização, se superou, passou por uma concordata e hoje é uma referência.
  • Estudo: Arthur enfatizou muito a importância de estudar seu negócio. A JR Diesel, em sua base, sempre foi categorizada como um desmanche de carros. Algo preocupante em um país onde grande parte dos desmanches são ilegais. A partir disso, ele foi conhecer o mercado internacional, pegou referências e, ao voltar para o Brasil, encabeçou a criação da “Lei do desmanche”, que regulariza o setor.
  • Sem vitimismo: Rufino bate muito na tecla de que as pessoas precisam acreditar nelas mesmas, só assim é possível evoluir. Independente de crise ou outros percalços que possam acontecer. O importante é acreditar em seu potencial e ir a luta.

 

ENQUANTO SEU PÚBLICO LHE PROCURA VOCÊ SE ESCONDE. É ISSO?

Essa  semana eu estava trabalhando, tocando algumas demandas da minha agência de marketing e do Mochilaí, meu portal de conteúdo para  turismo, quando recebo a newsletter “Think With Google” , do canal de tendências de consumo do Google (se você não o acompanha está perdendo tempo). O título era “Quem viaja quer ajuda. Cadê sua marca nessa hora?”. E de cara chamou muito a minha atenção, pois trata-se de um questionamento que me faço todos os dias. Por que, com raras exceções, as marcas que fazem o turismo acontecer, são tão omissas na hora de falar com o público?

O texto era assinado por Aline Prado, Marketing Insights Lead for Travel do Google, e falava sobre o panorama atual da indústria de viagens no Brasil. Ou seja, a cada momento minha expectativa aumentava. E não me decepcionei. Corroborou com minha fala e com o que eu imagino para o futuro das marcas de turismo.

No Brasil, temos cerca de 235 milhões de smartphones ativos e eles viraram verdadeiros assistentes pessoais de seus usuários. Afinal, quem não dá um Google, olha o Face, o Insta, o Whtas ou o portal  PANROTAS, a todo o momento. Se falar que não, é mentira e mentir é feio. Afinal, as pessoas olham, em média, 183 vezes por dia para a tela do seu celular. E com certeza não é só para ficar tirando selfie.

E isso, com certeza se reflete no Turismo. Segundo pesquisa do IBOPE, 85% dos viajantes brasileiros têm acesso a internet, o que dá mais de 53 milhões de pessoas. Segundo o dados internos do Google, em 2017, 1 bilhão de buscas foram relacionadas a viagem, e pasmem, 56% delas foram feitas via smartphone.

E é nesse nicho que as marcas de turismo precisam agir. Se pensarmos na jornada de compra do consumidor de viagem, de uma forma bem superficial, podemos dizer que temos o planejamento, compra e pós-compra. Porém, é no planejamento que as empresas devem estar muito próximos desse público, para contribuir na decisão de compra. Mas, é justamente ao contrário, nota-se que o contato é feito somente na compra direta e no pós-compra, tentando uma fidelização. E isso é apontado como um “gap” na relação marcaXconsumidor.

Portanto, é muito importante trabalhar estratégias de Branded Content e Marketing de Conteúdo, visando atuar em todas as etapas da jornada de compra dessas pessoas. E nada melhor do que tangibilizar isso, criando canais de comunicação e conversas com as pessoas. Seja através de estratégias bem definidas com produções em  blog, e-books, vídeos, e-mail, etc.

Mas, é preciso olhar com mais carinho para como as marcas estão falando com as pessoas. Não adianta mais simplesmente achar que o anúncio com o preço do seu produto ou serviço vai dar certo. É preciso ser relevante, gerar opinião, pois só assim se será lembrado.