Balanço olímpico do turismo

parque-olimpicoEm pouco menos de duas semanas, os Jogos Paralímpicos Rio 2016, movimentaram a cidade maravilhosa: de acordo com dados preliminares de pesquisa oficial, aproximadamente 243 mil turistas estiveram no Rio de Janeiro durante a realização da Paralimpíada. O gasto médio desses visitantes foi de R$ 271,20 por dia, o que equivale a uma renda gerada de R$ 410 milhões para o País.

Apesar do número de turistas no evento ser bem menor do que na Olimpíada e, ao contrário do que muitos poderiam prever, foi durante as Paralimpíadas que o Parque Olímpico da Barra, em todo o evento da Rio 2016 (incluindo Jogos Olímpicos), teve seu recorde de visitação, o que ocorreu no primeiro sábado dos Jogos Paralímpicos (10 de setembro), com público de 172 mil pessoas.

A pesquisa também revelou que muitos vieram ao Brasil pela primeira vez: o dado é de quase 60% dos turistas internacionais entrevistados entre o período da Paralimpíada. Medindo o índice de satisfação dos turistas, para 87,8% dos entrevistados a viagem correspondeu ou superou as expectativas e 90,5% tem intenção de retornar ao país, este último dado, maior que o correspondente nos Jogos Olímpicos comentado aqui.

Expectativa x Realidade

Durante a Olimpíada, o Rio de Janeiro recebeu 1,17 milhão de turistas que gastaram, em média, R$ 424,62 diários, gerando, no total, uma renda de R$ 4 bilhões; números que superaram com folga as expectativas divulgadas pela Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

No entanto, na Paralimpíada, os dados, até agora, estão abaixo do esperado pelo setor comercial. O número de turistas ficou um pouco maior que a metade do previsto, de 468,5 mil visitantes, e a renda gerada ficou bem abaixo da projeção de R$912,4 milhões de faturamento.

Ainda assim, o Brasil teve renda gerada significativa e dados bastante expressivos de índice de satisfação e intenção de viagem, o que coloca os resultados do turismo como um dos grandes legados dos eventos Rio 2016. Agora é ainda maior o desafio, tirar o máximo de proveito das oportunidades geradas pela passagem dos Jogos por aqui e da visibilidade que ganhamos mundo afora.

Um estratégia ousada e diferente da promoção do Rio e do Brasil, uma nova política de captação de eventos associativos e esportivos já passou da hora de ser planejada e executada.

5 oportunidades perdidas Rio 2016

oportunidade perdidaNão obstante nossa alegria, entusiasmo e grande emoção na realização dos Jogos Rio2016, além da torcida para que tudo corra bem e seja um sucesso, além de pontuar os 10 legados Rio 2016, quero também falar da oportunidade perdida para a indústria de viagens e turismo do Brasil:

  1. Imagem: esse é de longe o maior problema e a maior oportunidade desperdiçada. Há 7 anos quando vencemos a disputa para sediar os jogos, começamos um trabalho de planejamento que resultou num documento Plano Aquarela 2020. Havia uma estratégia, uma agenda e todo um caminho a percorrer antes, durante e depois dos Jogos. Esse trabalho que custou dinheiro público e é de alta qualidade foi desprezado, não foi atualizado nem utilizado depois de 2010. Resultado: não temos nem uma mensagem para o mundo, nem a administração dos temas negativos que rodam nossa vida pelo mundo afora (segurança, Zika, desorganização, corrupção). Péssimo, difícil de reverter e um problema a ser enfrentado
  2. América Latina: quando vencemos a disputa se destacou que são os primeiros jogos a ser disputados no continente. Foi iniciado um processo de participação conjunta do continente no pré e durante evento, mas não tenho conhecimento de que isso tenha tido resultados positivos.
  3. O Brasil no Rio: mesmo com a iniciativa da Casa Brasil, não tivemos um planejamento nem recursos para realmente mostrar o Brasil durante os Jogos. Me lembro que um ponto alto dos Jogos de Vancouver e de Londres foi justamente ir além das cidades, mostrar as regiões, criar roteiros.
  4. Jornalistas: alguns estados estão começando suas atividades no Media Broadcast Center e vão trabalhar com os mais de 25 mil jornalistas de mais de 200 países que estão chegando no Brasil. Esse trabalho é importante e deverá trazer muitos resultados, mas ele deveria ter um “antes” e deveria ter um “depois”, espero que tenhamos algo concreto e com resultados.
  5. Captação de Eventos: os Jogos seriam uma oportunidade para ter uma nova política de captação de eventos para o Brasil. Com as estruturas da Copa, dos Jogos, de hotéis e centros de convenções poderíamos ter trazido grandes players mundiais para ver os jogos, prospectar desde já eventos para daqui 3, 4, 7 anos….

Todo país que trabalha com turismo sonha em realizar esses eventos, se planeja, desenha e executa uma estratégia para ser conhecido pelo mundo por novos aspectos de sua cultura e de sua natureza e estilo de vida. O Brasil esteve mergulhado em outros problemas, faltou visão estratégica, faltou continuidade nas políticas da EMBRATUR  e do MTUR, faltou iniciativa do setor privado.

Sou a maior defensora dos Jogos, lutei muito para que eles viessem ao Brasil assim como muitos brasileiros o fizeram. Precisamos então falar do assunto, e agora arregaçar as mangas e realizar grandes Jogos. Será um sucesso !

30 dias, depende de que(m) ?

Há sete anos, parecia estar longe a data de início dos Jogos Rio 2016. Mas só faltam 30 dias.

Como no período que antecedeu a Copa do Mundo FIFA, em realidades diferentes, muita especulação e muitos problemas reais. No caso da Copa, a sensação que tenho é de que mexia mais com os brasileiros, afinal era futebol, tínhamos 12 cidades sede, com temas que pareciam mais perto de nossa gente. Agora, os cariocas parecem sentir mais de perto a pressão, no entanto, também me parece que a dimensão para nosso país é tão grande ou maior do que aquela de 2013 ou 2014.rio 30 dias

O cenário econômico e político estão mais deteriorados; os problemas, tais como segurança ou Zika virus, além de serem nossos, também afetam as pessoas que participam do evento. E a repercussão internacional para a imagem do Brasil é maior nos Jogos Olímpicos do que na Copa; além disso, os temas negativos se somam àqueles divulgados em 2013 e 2014, tornando mais complexa a percepção que o mundo tem de nosso país.

Como mencionei em seminário realizado pela CNC e pelo jornal O Globo antes do início da Copa, podemos dizer que teremos três tipos de repercussão do que vai ocorrer nos Jogos; e irá depender fundamentalmente da experiência de quem vier para cá. A primeira é aquela das pessoas que estarão longe, vendo pela TV, pela internet e acompanhando as notícias sobre o Brasil; essa será impactada pelo sucesso da cerimônia de abertura, dos fatos e acontecimentos no período dos jogos, assim como da forma como cada nacionalidade já vê o Brasil e irá receber as diversas mensagens. A segunda, aquela das pessoas que virão ao Brasil, como atletas, jornalistas, formadores de opinião, e depois vão contar suas histórias em seus lugares de origem; colaborando assim para falar (bem ou mal) de sua experiência, levando mensagens indiretas sobre suas experiências. E a terceira, aquela que me parece a mais promissora, tal qual na Copa, a experiência em si das pessoas no Rio e no Brasil que será vivida e compartilhada de forma instantânea nas redes sociais; essa última, irá retratar a emoção, a hospitalidade, a riqueza da cultura e da natureza do Brasil.

Os destinos turísticos brasileiros podem, ainda, por meio de suas estratégias digitais, aproveitar a visibilidade do Brasil e divulgar seus atrativos e produtos, utilizar o Media Center no Rio e tantas outras ferramentas para espalhar conteúdos de qualidade e positivos sobre o Brasil.

Vamos acompanhando e aproveitando o que resta de oportunidades.