Sobre turismo continental

Em meio ao desenvolvimento global do turismo internacional, estudos da Organização Mundial do Turismo – OMT, apontam que o grande fluxo de turistas internacionais, em sua maioria, viaja para países do seu próprio continente.

No Brasil, esta estatística se confirma. A Argentina é, historicamente, o principal emissor de turistas internacionais para as terras brasileiras: de acordo com relatório estatístico de 2016 do Ministério do Turismo – MTur, o país foi responsável por 2,07 milhões de visitantes ao Brasil, representando 33% do total dos turistas estrangeiros que desembarcaram por aqui.

No ranking dos 5 países que mais nos visitam, apenas os Estados Unidos, segundo colocado da lista, não são da América do Sul. Seguido do país norte-americano estão o Chile, o Paraguai e o Uruguai.

Juntos, a Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai por quase 50% do fluxo de turistas estrangeiros por aqui.

A recíproca também é verdadeira. A presença de brasileiros nos países do continente também é expressiva: somos os principais viajantes internacionais na Argentina. Em 2016, a presença de brasileiros no país vizinho recuou 44% no primeiro trimestre de 2016, devido à situação econômica do Brasil, o que fez o turismo argentino avaliar a “dependência” do setor em relação aos viajantes brasileiros. Ainda assim, as relações de turismo entre os dois países, permanecem firmes e a expectativa da Argentina é que o número de turistas brasileiros aumente ainda mais: a meta é alcançar o número de 1,6 milhão até 2019.

Estamos entre os principais turistas em alguns países da América do Sul. É importante estreitar essa relação e estendê-la a outros países do continente que possuem atuação expressiva no turismo, trabalhando em investimento em ações conjuntas de publicidade, estudo de redução de impostos e ampliação de malha aérea.Temos um continente com efetivo e potencial de turismo ricos, que podem ser trabalhados a fim de gerar fortalecimento do mercado, retorno econômico e desenvolvimento mais unificado do turismo no continente. Seguimos acompanhando.

50 anos da rota Recife-Lisboa

Na manhã desta quarta-feira (19) participei, em Recife – PE, da solenidade em comemoração dos 50 anos da rota Recife – Lisboa, da companhia TAP. É um marco da aviação e do turismo brasileiros que deve ser recordado já que o voo foi o primeiro do Nordeste a fazer uma viagem sem escalas para a Europa e é, ainda hoje, o único que conecta diretamente Recife a Lisboa.

No evento, em que estiveram presentes autoridades do Estado, do município, profissionais do Turismo e da aviação, foi anunciado que, a partir do mês de junho, a rota Recife-Lisboa terá frequência diária. É um ganho para os destinos, já que a rota é parte estratégica de importância para o fluxo de nordestinos à Europa e também de europeus ao Nordeste.

Com frequência diária, o fluxo de pernambucanos visitando terras lusitanas e de portugueses visitando o estado pode chegar a quase quatro mil pessoas por semana, indo e vindo, o que implica em um aumento de 10% no faturamento da companhia por aqui.

O voo inaugural do trecho foi realizado na manhã de 19 de abril de 1967 e transportou 51 passageiros convidados até Recife.

A relação da companhia TAP com Pernambuco é um dos exemplos de bons resultados obtidos através de relacionamento produtivo no Turismo. De acordo com a Infraero, a rota celebrada obteve mais de 120 mil embarques e desembarques em 2016. Até fevereiro deste ano, as reservas para Recife no período de abril a outubro registraram aumento de 144%, quando comparadas ao mesmo período de 2016. A expectativa é que este número cresça ainda mais com a retomada dos vôos diários.

A “traveling class”

Além de representar participação essencial na economia, o Turismo vem, notavelmente, se desenvolvendo como parte integrante dos hábitos de famílias mundo afora. É a partir desta atuação na vida de cidadãos que surge a “traveling class”.

O termo é mencionado no estudo “Mapping the Future of Global Travel and Tourism” (em tradução livre, “Mapeando o Futuro das Viagens e do Turismo Global”), da Visa, e é usado para apresentar uma “mega-tendência” para o turismo, descrito como a classe de famílias que ganham US $ 20.000 USD ou mais por ano e respondem por 90% dos gastos com viagens internacionais e cerca de quatro em cada cinco viagens internacionais atualmente.

Segundo dados da UNWTO, mais de 1,2 bilhão de pessoas esteve em alguma viagem internacional no ano de 2015 e a projeção é que esse número aumente em 50%, indo para mais de 1,8 bilhões de viajantes mundiais nos próximos 10 anos.

A expectativa para 2025 é que o número de viagens internacionais aumente significativamente. Seguindo esta linha de raciocínio, o estudo da Visa estima que mais de 280 milhões de famílias irão realizar uma viagem internacional em 2025. Por esses cálculos, quase a metade de todas as famílias do mundo pertencerá à traveling class em 2025.

Além disso, o estudo também projeta que um em cada três viajantes destas famílias da traveling class fará pelo menos uma viagem internacional por ano.

As projeções para os hábitos de consumo que agora englobam o setor de viagens e turismo seguem com expectativas de crescimento. Ainda segundo o estudo, as famílias em países emergentes alimentam o crescimento das viagens globais, representando quase metade de todas as famílias que viajam até 2025. Vemos o Turismo e a Economia se desenvolvendo simultaneamente, lado a lado, no mundo inteiro.

 

O turismo e o impacto Trump

Temos lido inúmeras opiniões e matérias a respeito das barreiras migratórias estabelecidas por Trump e é inegável que o modus operandi da política de fronteiras e entrada nos EUA do novo governo americano terá resultados no turismo.

O fato é que os que atuam no setor na terra do Tio Sam já pressentem o impacto negativo da proibição temporária de imigração. De acordo com representantes da American Society of Travel Agents (ASTA), a medida tem gerado um “efeito assustador na indústria de viagens”.

Segundo Eben Peck,  vice-presidente de assuntos governamentais e comunicação da ASTA, as consequências do estabelecimento de barreiras estão além do impedimento de turistas dos setes países: o que está acontecendo é um declínio nos negócios de viagens corporativas.

Como a ordem proíbe que cidadãos dos países principalmente islâmicos Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen – assim como todos os refugiados – entrem nos EUA, as reações à proibição tem sido imediata por parte de turistas de outros países asiáticos, como a Índia. A ASTA também explica que as consequências se dão principalmente em viagens de negócios, mas que, dada a situação, espera reflexo negativo em viagens de férias também.

Além da preocupação com o andamento da indústria de viagens e turismo, outro ponto a ser levado em consideração é a repercussão negativa da medida para o resto do mundo. A ASTA também tem se preocupado com a opinião de outros países a respeito dos americanos, já que, a ordem de Trump tem gerado uma reputação desfavorável para muitos turistas, sejam de países islâmicos ou não.

Má repercussão

Referente ao tema, um caso que ganhou repercussão foi o do diretor de cinema Asghar Farhadi, que foi indicado ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira por “O apartamento”, mas não poderá comparecer à premiação no dia 26 de fevereiro devido à medida de Donald Trump.

Apesar de representantes da indústria americana do cinema e da Academia de Artes e Ciências do Cinema terem se manifestado e tentado levar a excepcionalidade do caso a autoridades, para que o diretor pudesse comparecer, Asghar Farhadi já afirmou que não irá ao Oscar, mesmo que tenha permissão por ser um caso excepcional. O caso, claro, trouxe uma péssima repercussão ao governo de Trump e à medida executiva.

É um assunto que interfere diretamente num setor que é vital para os Estados Unidos. E é preciso cautela e atenção para lidar com a situação, para que o contexto não vire um caso de gestão de crise internacional.