arac masin

casamento e o sagrado

Cerimônias de casamento podem ser encaixadas na categoria turismo de fé. Basta que o casal se submeta a um ritual religioso.

Até recentemente, casamentos grandes e tradicionais da Igreja Católica eram unânimes no Brasil, e cerimônias íntimas fora do país eram consideradas extravagantes. A ordem era o vestido branco, com véu, grinalda, coral e pompa nas igrejas tradicionais. Hoje a situação mudou e casais buscam experiências autênticas, cheias de simbologia, com duas ou três testemunhas em lugares paradisíacos. E a ideia de renovar os votos – após 1, 5, 10, 15 e 25 anos de casamento – também explica a popularidade das cerimônias a dois.

Cerimônias indígenas, assim como aquelas das religiões de matriz africana ganham popularidade. Basta ver a repercussão do casório da atriz Cléo Pires.  A tendência maior, no entanto,  é o Arac Masin – ou casamento andino. A cerimônia une milhares de casais incas há séculos e carrega uma série de elementos simbólicos muito bonitos e tradicionais de uma das civilizações mais antigas das Américas. O casamento, realizado no meio da natureza, é realizado por um Yachaq (sábio andino) que invoca os Apus (espíritos das montanhas), Pachamama (mãe terra), Chaskas (as estrelas) e Wilka Nina (o fogo sagrado) para celebrar um pacto eterno entre o casal. Tudo acontece no dialeto quéchua (língua dos incas) e tem duração média de uma hora.

A cerimônia não é restrita apenas aos moradores locais. Nos últimos anos, o casamento andino se tornou uma das experiências mais procuradas por viajantes de todo o mundo, mas só agora começa a atrair os brasileiros. É importante lembrar, porém, que a cerimônia, repleta de cores, pedras, velas, penas, coca, sementes, flores e incensos, é uma celebração simbólica, sem valor legal.

O casal, com trajes típicos andinos, cobertos por uma capa colorida, recebem as benção dos papa mensaqoc. Em seguida a noiva recebe uma coroa de flores e o casal segue para uma cabana. Há orações, incenso e juras de amor, com as mãos do casal entrelaçadas por uma fita.

Da mesma maneira, cerimônias pataxós têm feito muito sucesso no sul da Bahia, perto de Trancoso. Diferentemente do que acontece no hinduísmo, no protestantismo e na igreja católica, certos movimentos religiosos não exigem conversão para que a cerimônia possa acontecer. No caso da Itália e França, é possível se casar em igrejas católicas desde que uma série de protocolos sejam respeitados.

O importante é entender que múltiplas são as expressões do turismo de fé. Viagens e espiritualidade podem, sim, ser o casamento perfeito.

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Ricardo Hida

Doutorando, Mestre em Ciência da Religião e pesquisador da PUC-SP em Turismo religioso, é escritor e professor. Graduado pela FAAP e pós-graduado pela Casper Líbero, trabalhou na Air France, Accor, Atout France e hoje dirige a Promonde, consultoria de marketing e comunicação. Escritor, está à frente também do Fórum de Turismo e espiritualidade. Foi em uma viagem de imprensa a Lourdes, na França, na época em que era diretor adjunto do escritório de Turismo francês no Brasil, que Ricardo Hida compreendeu a dimensão do Turismo religioso. Ao voltar para São Paulo, foi conhecer mais sobre esse universo que movimenta milhões de viajantes a cada ano em todo o mundo, há muitos séculos. Romarias, peregrinações, retiros. Não importa a tradição, o segmento não para de crescer.