MICE RELIGIOSO

Quando se fala em MICE,  curiosamente desconsidera-se o turismo religioso. A razão da negligência, sinceramente, ninguém sabe, uma vez que o potencial dessas viagens é considerável. É claro que não estamos falando das Jornadas da Juventude, organizadas pela Igreja Católica,  ou da Marcha para Jesus, em São Paulo sob coordenação da Igreja Renascer em Cristo. Ambos com milhares de pessoas e forte repercussão nas mídias. Mas sem que parte de nossa indústria se dê conta, há inúmeros pequenos retiros e seminários que lotam cidades como Águas de Lindoia e São Lourenço e fazem a festa dos hoteleiros locais.

A Assembleia de Deus é uma das denominações que mais organiza esse tipo de evento: seja para os jovens, seja para os casais. São centenas de pessoas em uma única viagem. Sem dúvida, eles movimentam um número importante de passageiros, maior que muitos grupos de incentivo, organizados por multinacionais. São poucos, no entanto, Conventions bureaux ou secretarias de turismo que trabalham neste tipo de captação. Muito por conta de preconceito. Há dois destinos no mundo que sobrevivem por conta de turismo religioso mas fogem do tema.

Não é o caso do Santuário de Santa Rita de Cássia, em Cássia-MG, que está de olho nesse mercado. Em julho, organizam uma série de atividades voltadas para crianças e adolescentes. Além da tarefa evangelizadora, querem criar memórias afetivas com futuros viajantes.

“Habitualmente no mês de julho, as crianças saem para um período de férias escolares e o Santuário de Santa Rita de Cássia, acolhe nesse sentido, as crianças para dois momentos importantes: primeiro para oração e espiritualidade, congregarmos as crianças e as famílias, para que, no testemunho de Santa Rita, elas tenham força e permaneçam felizes, buscando sempre o sentido de suas vidas. Depois, promover um momento de entretenimento, para que possam, de maneira sadia, se divertirem neste espaço tão favorável que é o nosso Santuário”, explica o Padre Michel Pires, Reitor do Santuário.

No dia 30 de julho, a cidade mineira também recebe o ENCONTRO DIOCESANO DAS FAMÍLIAS. O tema é “Família, Vocação, Graças e Missão, Corações Ardentes”.A programação começa 11h com almoço; 12h30, acolhida; 13h, palestra e, 14h, adoração ao Santíssimo Sacramento.

Ao contrário de outros mercados, como o turismo de luxo, de compras, de vinhos ou LGBTQIA+, o MICE religioso não exige vocação. É claro que a existência de santuários, basílicas ou monumentos históricos sempre é um fator importante, mas o importante é a existência de hotéis prontos para receber fieis. Para quem ainda teima de duvidar desse mercado, eventos não faltam, mostrando o MICE religioso.

A Expocatólica, por exemplo, atrai gente do mundo inteiro sempre no mês de maio. A última edição contou com 20 mil visitantes. A Expocristã, por sua vez, sempre em setembro, observa um crescimento acelerado, ano após ano. Até os estúdios Maurício de Souza estão presentes em ambos os eventos. Aliás a Turma da Mônica já assinou publicações infantis para católicos, protestantes e espíritas. É claro que o personagem Anjinho não está sempre presente, ao contrário dos diretores de negócios da empresa. E você, diante do potencial do turismo religioso, vai dar as caras ou as costas?

Imagem: Divulgação Expocatólica

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Ricardo Hida

Doutorando, Mestre em Ciência da Religião e pesquisador da PUC-SP em Turismo religioso, é escritor e professor. Graduado pela FAAP e pós-graduado pela Casper Líbero, trabalhou na Air France, Accor, Atout France e hoje dirige a Promonde, consultoria de marketing e comunicação. Escritor, está à frente também do Fórum de Turismo e espiritualidade. Foi em uma viagem de imprensa a Lourdes, na França, na época em que era diretor adjunto do escritório de Turismo francês no Brasil, que Ricardo Hida compreendeu a dimensão do Turismo religioso. Ao voltar para São Paulo, foi conhecer mais sobre esse universo que movimenta milhões de viajantes a cada ano em todo o mundo, há muitos séculos. Romarias, peregrinações, retiros. Não importa a tradição, o segmento não para de crescer.