Uma malásia espiritual

A Malásia é rica por sua história cultural, belos marcos históricos e estilo de vida local hipnotizante que atrai muitos visitantes. Cerca de 63,5% da população pratica o Islã; 18,7%, budismo; 9,1%, o cristianismo; 6,1%, hinduísmo e o restante incluem animistas, taoístas, sikhs e testemunhas de Jeová. Recentemente o Turismo da Malásia, através da Raidho, organizou um encontro para apresentar as novidades.

Falou-se muito do turismo de aventura, das experiências de luxo e dos resorts incríveis. Para nós, com exclusividade, o vice-presidente para as Américas da entidade, Irni Nor, explicou a oferta espiritual. O país é um exemplo de respeito às diferenças de crença e uma vitrine das práticas espiritualistas da Ásia.

Qual é a oferta de turismo espiritual da Malásia?

Com um fundo multicultural, a Malásia abraçou sua diversidade de religiões, crenças, celebrações e locais de culto, apresentando o muçulmano, hindu, cristão, sikh e budista como os principais destinos de “turismo espiritual” do país.  Embora a religião oficial na Malásia seja o Islã, outras religiões também são praticadas e, assim, abraçamos harmoniosamente as festas e celebrações uns dos outros.

Existem eventos religiosos importantes?

Sim… Temos um grande número de eventos religiosos na Malásia. Para os muçulmanos há dois grandes festivais: Hari Raya Aidilfitri e Hari Raya Aidil Adha.  O Hari Raya Aidil Fitri marca o fim do Ramadã, o mês de jejum,. enquanto o Hari Raya Aidil Adha, celebrado no 10º dia de Zulhijjah, marca a conclusão da peregrinação anual a Meca. Além dos principais festivais acima, os muçulmanos da Malásia também celebram Maal Hijrah (Ano Novo Islâmico) e Maulidur Rasul (Aniversário do Profeta Maomé PBUH).

Já a comunidade chinesa na Malásia celebra o Ano Novo Chinês no primeiro dia do calendário lunar chinês em janeiro ou fevereiro de cada ano. Outro festival importante é o Wesak Day.

Os devotos hindus celebram Deepavali, ou o Festival das Luzes, em maio e Thaipusam em janeiro.

Quais são os principais templos para se visitar?

Existem inúmeros locais de culto na Malásia. As Cavernas de Batu, em Selangor, e o Templo Sri Mahariamman, em  Kuala Lumpur, são importantíssimos para os hindus. Os muçulmanos encontram mesquitas de rara beleza como a de Jamek e a Mesquita Nacional, em Kuala Lumpur; a Mesquita do Sultão Salahuddin Abdul Aziz Shah, em Selangor e a Mesquita de Putra, em Putrajaya.

Lindos também são os templos chineses Thean Hou, na capital, e o Kek Lok Si, em Penang. A Catedral de Santa Maria Kuala Lumpur é a principal para os cristãos. Não podemos deixar de mencionar o  Templo Gurdwara Tatt Khalsa, local de devoção sihk.

Há festivais religiosos?

Sim. As celebrações mais alegres são realizadas após o mês de jejum do Ramadã. Este é o momento em que as pessoas que trabalham nas grandes cidades e vilas fogem para os seus “kampungs” ou aldeias. Orações especiais são realizadas nas mesquitas, e tempo para pedir perdão à família e amigos. Durante esta celebração de um mês, haverá muitas visitas domiciliares e festas. Os malaios têm uma tradição maravilhosa conhecida como “casa aberta”, que é uma exibição calorosa da hospitalidade malaia. Amigos e familiares se reúnem e celebram a culinária tradicional e biscoitos especiais são servidos durante esta ocasião especial.

Há o Hari Raya Haji, outra importante celebração religiosa para os muçulmanos na Malásia. Marca o fim da peregrinação anual, ou Haj em Meca, um dos Cinco Pilares do Islã, que todos os muçulmanos capazes são obrigados a realizar pelo menos uma vez na vida. Neste dia, muçulmanos de todo o mundo são encorajados a abater gado, ovelhas ou cabras como um sinal de sacrifício – símbolo de sacrifícios maiores que eles são convidados a fazer para defender a pureza da religião.

O aniversário do profeta Maomé, ou Maulidur Rasul, é um evento significativo no 12º dia do terceiro mês do calendário islâmico (lunar), marcado por procissões para demonstrar a unidade dos crentes em alguns Estados. Orações, sermões e discussões religiosas são realizadas durante este tempo para fortalecer o muçulmano fé e espírito da comunidade.

Já o Thaipusam é um festival hindu anual, que cai no final de janeiro ou fevereiro. É uma celebração do aniversário do Senhor Subramaniam. Na véspera de Thaipusam, uma estátua do Senhor Subramaniam é levada em procissão em uma carruagem puxada por bollocks. No dia seguinte, os devotos carregam kavadis (um arco de metal ou madeira com decorações elaboradas, que é colocado nos ombros dos devotos. Ganchos ou espinhos se estendem do kavadi a várias partes do corpo do devoto.  O festival é realizado em grande escala em Selangor e Penang.

Os budistas observam Wesak para comemorar o nascimento, a iluminação e a morte de Buda, todos os quais ocorreram na mesma data lunar no cálculo budista. É observado anualmente no domingo mais próximo da lua cheia em maio. Os budistas seguem uma dieta vegetariana para se “limparem” antes da ocasião. Milhares de devotos acorrem aos templos antes do amanhecer para orações, oferendas, meditação, cânticos e doações de caridade. Pombas e jabutis também são soltos em um gesto simbólico de libertação da alma e abandono de pecados passados.

Temos de falar também do  Deepavali /Diwali, também conhecido como Festival das Luzes, representa o triunfo do bem sobre o mal para os hindus. As casas hindus são iluminadas para simbolizar a vitória sobre as trevas. Além disso, pinturas coloridas de arroz conhecidas como ‘Kolam’ são criadas na frente de cada casa para trazer prosperidade e sucesso. Estas ‘pinturas’ são feitas com arroz colorido e decoradas com velas e pequenos candeeiros. É comemorado em outubro ou novembro de cada ano que pode durar cerca de cinco dias. As orações Deepavali são realizadas tanto em casa quanto nos templos na véspera do festival. Antes de ir ao templo, os hindus tradicionais tomam um banho de óleo antes do nascer do sol, rezam em casa e queimam incenso. Uma homenagem aos mais velhos da família é seguida por casas abertas para parentes e amigos, onde uma grande variedade de deliciosas iguarias tradicionais indianas são servidas.

O Vaisakhi é comemorado pelos sikhs em abril. A ordem do dia inclui orações em casa e nos templos, bem como dietas vegetarianas. Gatka (artes marciais sikhs) e Bhangra (uma dança tradicional) são realizadas durante todo o dia em templos e na Associação Sikh.

É importante falar do  Festival Sabah Ka’amatan, localmente conhecido como Tadau Ka’amatan (Festival da Colheita), este festival nativo dos Kadazan-Dusun, o maior grupo étnico do estado de Sabah, Bornéu da Malásia. O festival anual em maio é uma tradição atemporal em homenagem ao Bambaazon, o espírito do arrozal. A comunidade Kadazan-Dusun acredita que o espírito da planta padi é responsável pelo seu crescimento e bem-estar, oferecendo proteção contra perigos naturais e uma colheita abundante para seus alimentos básicos. O festival, realizado no Hongkod Koisaan, sede da Organização Cultural Kadazan-Dusun, apresenta esportes tradicionais como queda de braço, tiro com zarabatana, competições de catapulta e corridas de revezamento. O ritual ‘Magavau’, realizado pelos Bobohizan, é um ritual de limpeza e bênção. Nos últimos anos, o festival da colheita sofreu modificações, incluindo um Concurso de Rainhas da Beleza, onde participam belas donzelas Kadazan. Durante o festival, o tapai, o vinho de arroz local ou cerveja, flui livremente, e o arroz é tratado com respeito e reverência.

Já o Festival Sarawak Gawai é também conhecido como Festival da Colheita no estado de Sarawak. Marca o ápice da celebração da colheita. A data oficial é 1º de junho, mas a celebração dura um mês inteiro, permitindo que o Dayak renove amizades, esqueça preocupações passadas e faça as pazes com velhas brigas. É também uma oportunidade para novas amizades, reuniões familiares e para prestar homenagens aos mais velhos e aos que partiram. O ritual “Miring” envolve Dayaks junto com seus convidados colocando vários alimentos e ‘tuak’ (vinho tinto local) em pratos como oferendas aos deuses. Um poema especial é recitado e um galo é sacrificado.

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Ricardo Hida

Doutorando, Mestre em Ciência da Religião e pesquisador da PUC-SP em Turismo religioso, é escritor e professor. Graduado pela FAAP e pós-graduado pela Casper Líbero, trabalhou na Air France, Accor, Atout France e hoje dirige a Promonde, consultoria de marketing e comunicação. Escritor, está à frente também do Fórum de Turismo e espiritualidade. Foi em uma viagem de imprensa a Lourdes, na França, na época em que era diretor adjunto do escritório de Turismo francês no Brasil, que Ricardo Hida compreendeu a dimensão do Turismo religioso. Ao voltar para São Paulo, foi conhecer mais sobre esse universo que movimenta milhões de viajantes a cada ano em todo o mundo, há muitos séculos. Romarias, peregrinações, retiros. Não importa a tradição, o segmento não para de crescer.

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