Em um artigo de 2006 intitulado “Goodbye Pareto Principle, Hello Long Tail” ( Adeus princípio de Paretto, olá Cauda Longa, em tradução livre) Erik Brynjolfsson, Yu Hu e Duncan Simester trouxeram preciosa contribuição para a economia global nos anos seguintes. O princípio da cauda longa é a ideia de que a internet possibilita, através de uma revolução na comunicação e distribuição, explorar novos mercados e ganhar muito dinheiro, não apenas com nichos, mas nichos de nichos.
Trata-se de uma estratégia que busca atingir vários mercados de baixa procura, em vez de focar em um mercado único com muitos pedidos. No varejo, isso é bastante usado pelos novos empreendedores, que contam com os dados cada vez mais precisos de algoritmos e conseguem maior capilaridade e exatidão em suas promoções.
As políticas identitárias e a customização, decorrente de uma individualização cada vez maior da sociedade, fenômeno muito estudado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, permitiu que mesmo o turismo se torne cada vez mais segmentado. Hoje há agências de viagens especializadas em turismo de bicicleta, outras em experiências enogastronômicas, outras ainda em turismo enogastronômico em bicicleta.
Mas não apenas para a aviação, o céu é o limite.
Na última edição do LGBT Turismo Expo, organizada por Alex Bernardes e realizada no dia 25 de julho no Hotel Unique, contou com um painel sobre Turismo Espiritual para o público LGBTQIAP+. O que surpreendeu muita gente. E, é claro, por simples ignorância. Afinal, insiders sabem que esse mercado é muito grande.
Ao contrário do que alguns líderes religiosos pensam, esse público pode ser, e é, muito religioso. Obviamente há ateus, agnósticos e antirreligiosos no universo LGBTQIAP+ como existe no universo heteronormativo. Como cientista da religião, tenho observado com surpresa o quanto a população brasileira é religiosa e que tal comportamento se reflete em todos os segmentos da sociedade, de norte a sul, passando por diferentes estratificações sociais e grupos culturais. Basta lembrar que o país dispõe de muito mais instituições religiosas (igrejas, templos, centros espíritas, terreiros, mesquitas, sinagogas) do que instituições de ensino e hospitais.
Além disso, é importante mencionar que mudanças importantes em diferentes religiões têm se dado quando se trata de comportamentos sexuais. Grupos de católicos gays têm forçado mudanças dentro da Igreja, antes mesmo do Pontificado de Francisco. O atual Papa, que fora no passado persona non grata de grupos argentinos gays, hoje tem uma postura mais aberta ao diálogo. A igreja anglicana tomou a frente e defende abertamente uma série de direitos para essas diferentes comunidades. As igrejas evangélicas inclusivas têm surgido cada vez mais em diferentes bairros do Brasil e dos EUA em velocidade espantosa. Muitos terreiros de candomblé, inicialmente transfóbicos, vêm mudando a postura e promovendo maior integração das pessoas transexuais.
O painel do evento, embora inédito, não aprofundou discussões. Mas foi essencial para tirar do armário este mercado e provocar reflexões iniciais. Pensando bem, não tão iniciais. Afinal, atores importantes há tempos vem trabalhando nesse cenário. O escritório de turismo de Israel investe na promoção do destino junto a comunidade LGBTQIAP+ há mais de uma década, não apenas no Brasil, mas em todo o Ocidente.
O Brasil tem amadurecido e se tornado referência quando se fala em turismo LGBTQIA+ . Temos nomes importantes atuando há anos como o próprio Alex, Clovis Casemiro, Franco Reinaudo, Antonieta Varlese, Marcelo Michieletto, Simon Mayle. Marcas como American Airlines, Accor e Panrotas têm sido fundamentais para organizar o mercado. Mas essa última edição do LGBT Turismo Expo permitiu pensar nos subsegmentos, apresentando mais oportunidades de negócios.
Mas, é claro, ganhos potenciais apenas para quem não tem preconceito e medo de arriscar. Mais do que isso, têm orgulho em inovar e empreender.
Published by