Vulcão Islândia

Quatro desastres naturais que enfrentei pelo mundo

Esta semana, em meu perfil no Instagram (@rafaelatborges), fiz uma brincadeira recorrente de redes sociais. O objetivo é contar dez fatos sobre você; um deles não é verdade. No meu caso, como o perfil é profissional, foquei em fatos da carreira, dos óbvios aos absurdos. Grande parte dos meus seguidores considerou mentiroso o item em que eu contava que já enfrentei quatro catástrofes naturais em viagens.

Eu disse lá no Instagram que já passei perrengues por causa de tempestada de areia, furacão, vulcão e terremoto. Mentira? Absolutamente verdade!

Embora passar por isso quatro vezes seja meio surreal, as catástrofes naturais são fatores que pode sim afetar a vida do viajante – porque, no Brasil, terremotos, furacões e vulcões são raros, ou até inexistentes.

Felizmente, o máximo que passei com as catástrofes naturais que enfrentei foram alguns perrengues. Diferentemente de muitas pessoas que, seja em viagens ou em outras situações, têm de lidar com verdadeiras tragédias ao serem surpreendidas pela força da natureza.

O pior é que, na maioria dos casos, não há nem como prever, para evitar. E como o assunto aqui é viagem, não há temporadas de vulcões e terremotos. Mas há a de furacões. No Atlântico, por exemplo, neste ano estão previstas entre junho e novembro.

Isso não impede os furacões que ocorram em outras épocas, no entanto. Aqui, conto um pouco sobre como foram minhas quatro experiências com catástrofes da natureza em minha vida de viajante.

Catástrofe natural: a assustadora tempestade de areia no Bahrein

As ilhas artificiais são lugar comum no Bahrein, e em outros locais do Oriente Médio. Em outubro de 2018 eu visitei o pequeno país que faz divisa com a Arábia Saudita. Hospedei-me no Four Seasons, que fica em uma desssas ilhas artificiais.

O hotel tem uma praia artificial que decidi conhecer em meu tempo livre. O dia estava ensolarado e bem quente. Não havia vento nenhum. Eu entrei na água, tirei algumas fotos e então me deitei em uma das cadeiras de plástico.

De repente, do nada, sem aviso, o vento ficou forte, e a areia começou a voar invadindo meus olhos e ouvidos. Em seguida, voaram guarda-sóis e cadeiras, de plástico, felizmente – algo necessário em uma região em que esse tipo de incidente é comum.

Uma das cadeiras me atingiu nas costas, em um golpe forte. Junto com outros hóspedes que estavam na praia, comecei a correr em direção ao interior do hotel, que não estava muito próximo. No caminho, uma árvore pequena caiu à minha frente.

Pessoas gritavam e disparavam em busca de refúgio, sem entender o que estava acontecendo. O barulho do vento era ensurdecedor, e a areia voava, invadindo os olhos e dificultando a missão de ver o que estava à frente.

Foto: Rafaela Borges

Eu finalmente consegui chegar ao interior do hotel. Já no meu quarto, vi pela janela por cerca de meia hora a tempestade ainda forte. Havia areia voando e um barulho de vento tão forte que, mesmo com janelas anti-ruídos, dava para ouvir nitidamente dentro do quarto.

Mais tarde, conversando com o pessoal do hotel, soube que esse tipo de tempestade de areia sem aviso é comum no Bahrein, e o país está preparado para isso. Não houve feridos, felizmente. Nem mesmo destruição.

Apenas bagunça. Um coquetel ao qual eu iria naquela noite foi transferido de uma área externa, bastante bagunçada pela tempestade, para a interna do hotel Four Seasons. E demorei pelo menos dois dias (e uma caixa de cotonetes) para conseguir tirar toda a areia de meus ouvidos.

Aquele fenômeno que veio do nada, e com o qual eu não estava acostumada, me assustou muito. Mais que o terremoto no Chile.

MAL PERCEBI O TERREMOTO EM SANTIAGO

Acho que o ano era o de 2012, e eu estava em Santiago com um grupo de pelo menos 100 pessoas, para o lançamento de um automóvel. O mês era o de maio.

Eu estava dormindo no segundo andar do hotel Sheraton quando fui despertada por um barulho estranho, de móveis batendo. Alguns gritos pareciam vir do corredor.

Levantei-me. O chão começou a balançar, como se não estivesse firme. E logo parou. Fui até o banheiro, voltei para a cama e dormi normalmente. Estava entorpecida de cansaço.

Foto: Gabriel Aguiar

Na manhã seguinte, recebi uma ligação de uma amiga que morava em Santiago. “Você ficou com medo do terremoto?” Só então percebi o que havia acontecido na madrugada.

Durante o café da manhã, esse era o único assunto do grupo de 100 pessoas com as quais eu estava. Alguns nem perceberam. Continuaram dormindo. Terremotos são sentidos com mais força em andares mais altos.

Uma amiga, que estava hospedada no décimo andar, teve total consciência do que estava acontecendo, e entrou em pânico. Já havia passado por isso antes, no Japão. Outra, cujo quarto ficava no 16º, sentiu sua cama balançar. Sem saber o que estava acontecendo, olhou debaixo dela, imaginando até que alguém pudesse estar ali, causando esse efeito.

Foi um terremoto fraco, e eu não me lembro da magnitude. E de curta duração. Não causou nenhum estrago em Santiago, mas houve certo abalo em outros locais próximos. Ali, no entanto, felizmente foi muito mais um susto.

O VULCÃO DA ISLÂNDIA

Eu nunca fui à Islândia. Ainda assim, o vulcão Eyjafjallajökull (tipo de nome que a gente tem de copiar e colar) me abalou. Foi em março de 2010. Pela manhã daquele dia, 11, eu estava na região de La Rioja, no País Basco, na Espanha.

Vi na CNN que o vulcão havia entrado em erupção no dia anterior, mas jamais imaginei que aquilo me abalaria. A Islândia, afinal, era muito distante.

Eu embarquei em um voo fretado ao meio dia para Paris, de onde partiria ao Brasil. Ao chegar ao aeroporto Charles de Gaulle, veio o aviso no balcão de check-in da Latam – àquela época, ainda Tam. Eles tentariam antecipar o voo, marcado para 22h30.

A partir das 22h daquele dia, o aeroporto estaria fechado por tempo indeterminado. As cinzas do vulcão foram tão devastadoras que, soubemos depois, levaram ao fechamento do espaço aéreo da Europa por semanas. Os voos naquele período se tornaram exceção, não regra.

Na sala de embarque, naquela noite, diversos passageiros decidiram desistir da viagem. Isso porque, até o momento de decolagem, não saberíamos se conseguiríamos ou não. Nos painéis do aeroporto, 90% dos voos estavam com status cancelado.

Eu persisti. E fiquei duas horas dentro da aeronave, em uma fila de decolagem que até hoje não sei como funcionou, mas acredito que tenha sido à velha maneira: pela ordem. O suspense persistiu até que, às 21h55, o piloto informou que nossa decolagem estava autorizada.

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Soube mais tarde que a maioria dos voos atrás do meu não conseguiram. Havia pessoas de meu grupo neles. Os passageiros passaram um belo perrengue nos dias posteriores. Não havia vagas em hotéis próximos ao aeroporto. E as companhias não informavam quando os voos voltariam a ocorrer, porque a situação mudava a cada hora.

Aos passageiros, restou ir ao aeroporto diariamente, na semana seguinte, com todas as malas, para saber se o voo partiria ou não. Alguns esperaram mais de uma semana de incertezas, até conseguirem voltar ao Brasil.

FURACÃO AMEAÇOU MIAMI

Em agosto de 2011, eu desfrutava um verão extremamente quente em Miami. Não havia nada errado. O mar estava infestado de águas vivas, e conseguíamos vê-las ainda na areia, olhando a água. Era impossível pensar em entrar no mar.

Mais tarde, houve quem associasse o fenômeno das águas vivas com o furacão que estava chegando. Eu, sinceramente, não sei se houve alguma relação.

Dois dias antes de meu voo de volta ao Brasil, surgiram informações sobre a chegada de um furacão que estava causando estragos no Caribe. A sensação de pânico foi alta e, ao menos para mim, não houve possibilidade de antecipar o voo de volta.

Foto: Rafaela Borges

As redes de TV só falavam sobre isso. A nós, só bastava aguardar as instruções de segurança do hotel às vésperas da catástrofe. Mas, na noite anterior à prevista para a passagem do furacão, radares detectaram que ele não chegaria à Miami. Ficaria no mar.

Ainda assim, poderia ter algumas consequências na cidade, como chuvas e ventos fortes. A recomendação era de que, até ter certeza da extensão dos estragos, todos ficassem no hotel.

Na manhã em que o furacão deveria chegar, houve de fato uma chuva muito forte. Mas, para quem mora em São Paulo, isso nem é motivo para se abalar. Foi mais fraca do que as tempestadas de verão de fim de tarde na capital paulista.

No meio da tarde, o sol já havia aparecido em Miami. Meu voo, naquela noite, decolou normalmente.

O quase furacão de Miami foi, na verdade, um episódio em que o terror da expectativa não se confirmou na realidade. O pior, ali, foi o medo do desconhecido. Mas há um detalhe: antes de chegar à cidade da Flórida, eu estava em Nova York.

Minha prima e companheira de viagem ficou em Nova York após eu partir para Miami. E, no dia em que deixei e Big Apple, houve um raríssimo terremoto por lá. Bem fraco, mas ainda assim um terremoto. Talvez eu seja um para-raios de catástrofes naturais.

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