Beale Street

A Rota da Música nos EUA: Memphis é o encontro entre o blues e o rock

Esta é a segunda reportagem sobre a Rota da Música no sul dos Estados Unidos. O roteiro de cerca de 900 quilômetros entre Nashville, Memphis e Nova Orleans é uma imersão no passado e no presente de quatro gêneros musicais que incendiaram o século XX e ditaram os caminhos da arte no XXI: jazz, blues, country e rock and roll. Depois de Nashville, a capital do country, chegou a vez de Memphis, a terra do blues.

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Se Nashville é a capital do Tennessee, Memphis é a maior cidade desse Estado. As duas estão separadas por 300 km de rodovias interestaduais (chamadas nos EUA de interstates) marcadas por uma bela paisagem de montanhas e pedras, em um local também famoso por suas cavernas.

Na primeira reportagem, eu expliquei como percorrer a Rota da Música, a época melhor para visitar a região, as maneiras de voar do Brasil a esses locais e outras informações importantes para quem pretende fazer o roteiro. Aqui, você confere todos os detalhes.

Desta vez, o foco será em Memphis, que eu acreditava ser a capital americana do rock and roll, ou pelo menos a representação desse ritmo na Rota da Música. Não deixa de ser. Mas, ao chegar à cidade eu descobri que, antes de mais nada, é o blues que a domina.

A terra do blues

Você assistiu ao filme “Elvis”, de Baz Luhrman, que foi um dos grandes sucessos do cinema de 2022 e tem indicações aos principais prêmios da temporada? Bem, de Elvis, o Presley, falaremos mais tarde, pois sim, ele tem tudo a ver com Memphis. Mas, agora, o objetivo é explorar uma cena em que o artista se encontra com BB King em um bar de uma rua colorida e movimentada. Aquela é a Beale Street (ou uma representação dela, já que o longa foi gravado na Austrália).

Beale Street Memphis
Beale Street

E a alma da Beale Street é o blues. Foi lá que um dos grandes nomes do ritmo, King, se popularizou. Também na Beale Street Ike Turner fez seu nome, assim como outros artistas que representam esse gênero musical marcado por guitarras e fortes vocais.

A Beale Street, no centro de Memphis, estava em seu auge nos anos 50, mas caiu em decadência na década seguinte. Hoje, revitalizada e mantendo a atmosfera colorida e vibrante de seus anos de ouro, atrai pessoas de todo o mundo em busca dos sets de blues que dominam seus bares.

O mais famoso desses bares atende pelo nome de… BB King. Nem poderia ser outro. Diferentemente da Broadway de Nashville, em que os bares têm entrada gratuita, alguns da Beale cobram entrada, uma espécie de couvert artístico para as bandas que se apresentam.

BB King Bar Memphis
BB King Bar

Um deles é o BB King. O couvert, no entanto, não ultrapassa os US$ 10. Além dos bares, bandas e artistas solos de blues se apresentam na própria rua. Bem próximo à Beale, na Main Street, está o museu Blues Hall of Fame.

O local honra pessoas que fizeram parte da história do blues. Além do próprio King, tem nomes como Billie Holiday, Etta James, Rufus Thomas, Big Mama Thorton e Eric Clapton, um dos mais recentes introduzidos no hall.

Memphis é o berço do rock and roll?

Não é incomum o turista mais desavisado chegar a Memphis imaginando estar indo visitar a terra, ou talvez até o berço, do rock and roll. E por que não? As origens do rock and roll, tanto em relação a data quanto a locais, sempre geram controvérsia.

Porém, uma coisa é fato: mesmo com a “invasão” britânica dos anos 60, o rock and roll nasceu nos Estados Unidos. E Memphis teve uma grande contribuição nos primórdios do gênero. Não à toa: uma das vertentes do ritmo surgiu a partir da junção de country (à época, chamado de hillbilly) e Rhytm and Blues, com uma pitada de gospel.

Por isso, Memphis foi o cenário ideal dessa ebulição que começou na Sun Records. Gravadora que revelou BB King, a Sun ficou mais popular graças a nomes dos primórdios do rock, como Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. O estúdio da Sun (Sun Studio) hoje é aberto à visitação.

A 2 km do centro, no número 706 da Union Avenue, o Sun Studio tem tours a cada 45 minutos, por US$ 15. Entre os destaques estão os estúdios de gravação, que tem entre as atrações um X indicando o local em que Elvis Presley gravou “That’s All Right Mamma”, música considerada um dos pontos de partida para o movimento que ficou conhecido como rock and roll.

Para quem não quiser fazer o tour, dá para passar pelo charmoso prédio de tijolos apenas para tirar uma foto em um dos berços do rock. Ou ainda tomar o drink no bar que fica no hall de entrada do Sun Studio. Não é necessário reservar ingressos.

A Memphis de Elvis Presley

Mesmo com a Beale Street, o Hall da Fama do Blues e o Sun Studio, é inegável que a principal atração turística de Memphis, mesmo para quem não tem sua visita focada no mundo da música, é Elvis Presley. Nascido em Tupelo, Mississippi, o maior artista da história dos EUA se mudou para Memphis na adolescência.

Graceland Memphis
Graceland

E, por mais que tenha passado bastante tempo em Los Angeles durante os anos 60, Memphis sempre foi sua casa. E Graceland, a mansão que comprou em 1957, e na qual morreu, está aberta à visitação.

Quem visita a mansão pode conhecer as salas de visitas e jantar de Presley, sua cozinha, o subsolo (com sala de TV e de jogos), os estábulos, uma quadra de racquetball e, principalmente, o cômodo conhecido como Jungle Room. Esse local serviu, em 1976, como estúdio de gravação para os últimos discos de Presley.

A sala de TV de Elvis Presley

O ingresso para visitar Graceland inclui o museu Elvis Presley Memphis, com exposição de carros, motos e os famosos ternos e macacões do Rei do Rock, além de muitas fotos, vídeos e discos de ouro e platina. Dois aviões que pertenceram ao artista também estão em exposição.

Para visitar o complexo, o ideal é tirar o dia todo. Os ingressos, que incluem o tour a Graceland (com áudio em português, inclusive) e a visita ao museu custam US$ 80. Reservar é recomendável, para evitar longas filas.

Serviço

A área mais residencial de Memphis fica em Midtown, mas a melhor opção para quem visita a cidade em busca de seu caráter musical é o centro. Afinal, a maior parte das atrações está concentrada por lá. E dá para fazer quase tudo a pé.

O Peabody (diárias a partir de US$ 203) é o hotel mais histórico de Memphis e está a poucos passos da Beale. O Indigo (US$ 165) tem um visual mais moderno e uma bem-vinda piscina para quem opta por visitar a abafada cidade no verão.

Já a Memphis de Elvis fica a cerca de 10 km do centro, em uma avenida batizada de Elvis Presley Boulevard. Para quem visita a cidade de olho apenas no legado do Rei do Rock, uma boa opção pode estar bem ao lado, no resort The Guest House at Graceland (US$ 144). Os preços foram apurados para o mês de fevereiro.

Jungle Room, em Graceland Memphis
Jungle Room, em Graceland

O churrasco e as carnes em geral são a base da culinária do Tennessee, e Memphis tem até um festival dedicado no mês de maio. São muitos os restaurantes especializados nesse produto, inclusive na Beale Street e imediações.

Mas a melhor opção do centro da cidade é o sofisticado Flight, um restaurante e Wine Bar. As carnes são o carro-chefe, mas o cardápio é bem variado e o serviço e a carta de vinhos, impecáveis. O endereço é Main Street, 39.

Fora do roteiro musical, vale dar uma volta pelas margens do Rio Mississippi, que corta a cidade e desce até a Luisiana (tema da próxima reportagem sobre a Rota da Música). Além disso, Memphis é sede do Museu dos Direitos Civis.

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6 thoughts on “A Rota da Música nos EUA: Memphis é o encontro entre o blues e o rock

  1. Olá Rafaela, as dicas são excelentes para começar a planejar minha viagem. Só senti falta de dica de quantos dias ficar em Memphis, considerando o dia inteiro para visita a Graceland. Obrigada e parabéns pelo trabalho!
    Rosana

    1. Oi Rosana, tudo bem? Na minha opinião Memphis merece uma ou duas noites apenas, dependendo do seu horário de chegada. Eu fiquei duas. Cheguei no fim da tarde, fui conferir a Beale e, no dia seguinte, Graceland pela manhã e início da tarde + Sun Studio/Records no fim do dia. À noite jantar no imperdível Fight + nova sessão de blues na Beale. Esse é o básico, que merece ser visto. Se você quiser incrementar, pode aproveitar a manhã seguinte para ver um desses museus: o Nacional dos Direitos Civis e o do Hall da Fama do Blues. Aí, à tarde, partir para New Orleans (se for fazer roteiro igual o meu). Mas tenha em mente que são 5h30 de viagem entre Memphis e Nola. Outra dica é ficar atenta às atrações do arena Fedex. Sempre tem coisa legal. Em uma das noites que estive lá, houve show do The Who.

    1. Depende do seu objetivo. No alto verão (fim de junho a início de setembro), é muito, muito quente, mas a época mais animada. Eu gostei bastante de ir em maio. Quente também, mas menos cheia que na alta temporada. Mas, se você não gosta de calor extremo, eu diria que entre março e abril, e de setembro a novembro. Dezembro/janeiro pode fazer bastante frio, mas não tanto quanto no norte dos EUA. Já houve ocorrência de neve em Memphis. Mas é raro

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