“Government is not a sixth Porter’s Force, not even social responsibility or ambiental sustainability, they all are part of the 5 original Porter’s Forces. I hope I’ll be the first one to recognize if a sixth Porter’s Force comes up. By the way, I’m Michael E. Porter.”
Solange e eu sentamos no gargarejo uma hora antes do horário da aula e já havia “lugares marcados” e outras pessoas sentadas no auditório em que Michael Porter faria a Graduation Class da turma
de Vabo Junior, do programa Owners and Presidents Management da Harvard Business School.
Eu não poderia deixar de tietar o guru da minha própria graduação em engenharia, no início dos anos 80, ele também engenheiro mecânico e papa da estratégia competitiva e gestão para resultados, criador das bases do pensamento estratégico, utilizadas até hoje por gestores, empresas, governos e por novos pesquisadores que desenvolvem e atualizam os conceitos originalmente publicados por Porter há quase 40 anos, poucos anos após ingressar como o mais jovem professor da Harvard Business School, aos 26 anos de idade.
Ativo ao 70 anos, Mike (criei intimidade) é um professor-celebridade, que atrai tanto os alunos do MBA, quanto os do OPM e outros mestres de Harvard, interessados em ouvir suas aulas e palestras, acredito que, no caso de alguns, na expectativa de que ele admita a existência de uma 6a. Força de Porter e, assim, atualize (ou desacredite, para seus detratores) o seu principal enunciado.
Michael Porter não fez uma “palestra inspiracional” como era a expectativa da maioria dos graduandos do OPM, alguns céticos com relação aos conceitos do professor, mas todos presentes para testemunhar a palestra de um gênio da humanidade.
“Mesmo que eu não concorde totalmente com ele, devo admitir sua importância mundial para as bases da gestão estratégica”, admitiam alguns graduandos, antecipadamente de cima de seus diplomas, que seriam entregues no dia seguinte.
Sabedor da plateia heterogênea naquela tarde, Porter optou por ministrar uma aula “comum” e não fez a tal palestra para inspirar os formandos, afinal havia pais, avós, esposas, irmãos, filhos e até netos de alunos dentro da sala-auditório, plateia que muito provavelmente não sairia inspirada a quase nada naquele momento de comemoração.
Sorte minha, que jamais imaginei assistir a uma aula de gestão estratégica com o Michael Porter em pessoa, oportunidade em que revisitei todos os seus (e meus) principais conceitos, direto da fonte, incluindo seus comentários pessoais (que não estão em seus livros) e agradeço a Vabo Junior por isso.
Assistir a uma aula de um mestre desta importância equivale a assistir a um show dos Rolling Stones: você conhece as músicas, sabe que o Mick Jagger vai rebolar, que vai botar a língua pra fora, que o Keith Richards vai fazer um solo espetacular, você conhece exatamente tudo o que vai ver e ouvir, mas acha fantástico estar lá e reviver, ao vivo, um capítulo da sua própria história.
Eu estava absorto nesses devaneios e eis que, quase no final da aula (cronometrada para durar 60 minutos), Mike relativiza a importância da estratégia no contexto do planejamento + execução = resultado, e explica:
Strategy alone is not enough, it is the basis to the results you plan, but it’s necessary a good execution of the strategy
Frase simples, óbvia como todas as obviedades que precisam ser ditas, mas por ter sido proferida por Michael Porter, o papa da estratégia, o mestre que pesquisou sobre estratégia por 50 anos (e continua pesquisando), pareceu um novo enunciado ou uma concessão para algo que ele parecia não admitir…
Antes mesmo de reagirmos ao fato, o mestre lançou um novo conceito, tese que ele já vem defendendo na academia há alguns poucos anos, mas que gerou surpresas na plateia e motivou um longo debate entre Solange, Vabo Junior e eu, durante o jantar daquela noite (este é assunto para outro post).
Generosity is very important but we need to cope with the fact that it does not move a needle…
Michael Porter estava ali, à nossa frente, defendendo um novo conceito macroeconômico que, à primeira vista, parecia politicamente incorreto: para melhorar a vida das pessoas, a generosidade direta (charity, commiseration, donation etc) e as ONGs (NGOs) falharam ao longo dos últimos 30 anos, pois não obtiveram resultados consistentes e recorrentes, que seriam a redução da pobreza e da mortalidade e a melhoria dos índices de saúde e educação da população mundial.
Porter propõe um novo modelo, baseado na responsabilidade (social e ambiental) corporativa, relacionada à produção de bens e serviços no entorno da corporação, dentro do ecossistema de influência da empresa, incluindo clientes, colaboradores, familiares, moradores das regiões impactadas pelas sedes físicas das empresas e de todos os seus fornecedores, ou seja, da parte da sociedade diretamente afetada por aquela empresa.
O sentido é que, diferentemente da simples gratuidade que gera dependência e estimula a fragilidade do indivíduo, este novo tipo de atuação gera envolvimento e comprometimento das pessoas beneficiadas por aquela corporação, provocando a melhoria do ambiente em que a empresa está inserida e estimulando a produtividade e a eficácia, que por si só, já geram valor suficiente para realimentar um ciclo virtuoso.
Teve gente que não entendeu, algumas pessoas vão demorar pra entender ou aceitar, é natural, mas também foi assim quando as 5 Forças de Porter foram anunciadas pela primeira vez em 1979, em artigo na Harvard Business Review.
O fato é que, independentemente da minha admiração pelo monstro Michael Porter, não dá para não considerar um pensamento disruptivo quanto este, mas que já encontra aderência em importantes players da economia mundial, ao ponto da revista Fortune publicar a lista das 50 empresas que estão mudando o mundo:
O principal legado desta aula magna foi o de que podemos virar o jogo da responsabilidade social e ambiental, invertendo o conceito: se a pura execução não resolve o problema, que tal esquecer o marketing e aplicar um pouco de estratégia ao investir em projetos relacionados a responsabilidade social e ambiental?
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Em tempo: Após a aula, a HBS reservou 30 minutos extras para uma sessão de perguntas a Michael Porter.
Como estávamos sentados na primeira fila, consegui ser o primeiro (e único) a perguntar individualmente para o mestre (todas as demais perguntas foram anotadas e condensadas em uma única e longa resposta).
Breve postarei aqui sobre a resposta surpreendente de Michael Porter à minha pergunta sobre como o avanço conjunto da inteligência artificial, big data, internet das coisas e robótica cognitiva, impactarão os empregos no mundo.
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