O texto abaixo foi publicado há 7 anos, em 18/06/2010, no Blog Distribuindo Viagens e soa atualíssimo como uma resposta à pergunta do título do post do Artur “De quem é uma associação?”
ASSOCIADO X SÓCIO
Embora ambos os termos possam ser resumidos como o “integrante de uma associação ou sociedade”, há algumas importantes diferenças em nossa cultura e, em especial no Brasil, entre um Associado e um Sócio.
Associado, segundo explica a Wikipedia, é o integrante de uma organização resultante da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, para a realização de um objetivo comum.
Sócio, ainda segundo a Wikipedia, é um indivíduo que divide ou tem despesas e os lucros com outros, em projetos comuns de índole associativo ou empresarial.
Considerando o código civil brasileiro (“Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”), deduz-se que a principal diferença entre o Associado e o Sócio são os fins econômicos, ou não, da organização que ele integra.
Como uma empresa é constituída por uma sociedade com fins lucrativos, é fácil compreender a discrição necessária nas decisões tomadas entre os sócios, uma vez que a eventual divulgação destas decisões poderá impactar nos resultados financeiros planejados.
Com relação a uma associação formada sem fins econômicos, entendo que estas decisões devem ser, tanto quanto possível, transparentes, abertas e diretas, características sem as quais a associação distancia-se de seu conceito.
Numa associação é possível (em muitos casos, desejável) que sejam utilizadas práticas de gestão e de governança típicas de empresas, entretanto sem jamais esquecer o espírito do associativismo.
Numa empresa, os sócios estabelecem as diretrizes e comandam a organização, assumindo seus riscos, eventuais ônus e bônus, pois são os “donos” da empresa, estando clara a relação capital X trabalho entre eles e os colaboradores da sociedade.
Numa associação, por caracterizar-se pelo voluntariado, como instrumento da satisfação das necessidades individuais dos seus integrantes, não há “donos” e inexiste a relação capital X trabalho entre seus integrantes.
Todos são associados, absolutamente iguais perante o estatuto, que nada mais é do que uma espécie de “contrato social”, um conjunto de regras que orientam e regem a atividade da associação naquilo que o código civil não legisla especificamente, uma vez que este está acima daquele.
Numa empresa, há uma hierarquia claramente estabelecida e sabe-se, desde o primeiro dia de trabalho, quem preside, quem dirige, quem gerencia, quem coordena, quem supervisiona etc. etc.
Numa associação, a hierarquia máxima está no todo, no conjunto completo dos integrantes, já que a assembléia dos associados está acima da estrutura organizacional, que é por ela estabelecida através do voto.
Por isso, em uma associação, há que se debater, negociar e convencer, exercitando o chamado “espírito democrático” e este é seu melhor aspecto, pois a pluralidade de ideias enriquece as decisões e as ações.
Dá trabalho, mas costuma valer a pena.
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Prezado Luís Vabo,
além do excelente texto (como de costume), gostei particularmente da parte “Numa associação, a hierarquia máxima está no todo, no conjunto completo dos integrantes, já que a assembléia dos associados está acima da estrutura organizacional”… Uma vez eleitos Presidentes, Diretores e demais cargos afins, seria sempre interessante que as entidades do turismo, que são associações, recitassem este trecho do seu texto como se fosse um “Mantra”… É verdade que me afastei bastante disso tudo, dado ao total descrédito que tive com as administrações anteriores, uma vez que a vaidade e as vantagens individuais de uns poucos, foram as ações dominantes para o todo… Realmente, não faço ideia como anda a ABAV, por exemplo, atualmente, mas gostaria de saber que seguem a sua definição, ou teoria (posso chamar assim ?), para o amplo benefício de toda uma importante área econômica e categoria de profissionais.
Cordial abraço,
LFMM.
Amigo Mury,
Muita coisa mudou enquanto você esteve “afastado bastante disso tudo”, a ABAV aproximou-se dos associados, unificou sua estratégia nacional alinhada com as especificidades regionais, busca soluções do interesse de agente de viagens, entre outras.
O mantra a que você se refere é a certeza de toda a atual diretoria da ABAV que, desprovida de vaidades (já não há tempo pra isso) e de interesses individuais, trabalha voluntariamente para defender nossa atividade.
[]’s
Luís Vabo
[…] associações dos colegas Artur Luis Andrade e Luis Vabbo nos textos De quem é uma associação? e Associação não pode ter dono… e a ponte criada no assunto com o setor e o período que o Turismo atravessa, trago em […]