A VIA CRUCIS DA HOTELARIA…

Olhando para a enorme quantidade de novos hotéis na Barra da Tijuca, legado dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, imaginei como um mega-evento como este tem a capacidade de ludibriar até os economistas mais pessimistas (e olha que todos são).

Há apenas 1 ano era virtualmente impossível alugar um imóvel por temporada ou conseguir um quarto de hotel, pousada, hostel, air-bnb ou o que fosse, no Rio de Janeiro, e as diárias exorbitavam, não havia referência alguma para a precificação, cobrava-se o que queria e, no final, encontrava-se cliente.

Estava claro que uma bolha estava sendo inflada.

Por conta de um evento que dura pouco mais de 2 semanas, esta bolha havia engolido a construção civil alguns anos antes, empolgada com as perspectivas geradas por um potencial fluxo de turistas, de investimentos, de novos empreendimentos, de capital estrangeiro, de boa-venturança prometida por um governo claudicante que simulava ser forte.

Como se estivéssemos vivendo uma economia paralela, enquanto o país ruía, a hotelaria arrecadava o que queria, afinal os Jogos pareciam justificavar toda a euforia, as reservas de um ano gordo pagariam os investimentos feitos e, mesmo que o movimento viesse a cair (algo esperado no pós-Jogos e considerado nos “business plans” de todos os investidores), pelo menos aquele “real estate” estaria pago.

Conversando com Solange sobre isso, a maior dúvida que nos veio à cabeça foi “como redes hoteleiras internacionais, com capilaridade global, investidores experimentados em centenas de países, com todo tipo de economia e de sistemas políticos, puderam cair nessa esparrela de que o governo brasileiro conseguiria estimular o fluxo turístico e aa viagens corporativas ao ponto de garantir o ROI de tantos empreendimentos?”

Onde estavam as planilhas de cálculo, os estudos de viabilidade, as projeções econômicas, as avaliações de cenários, as análises de risco, os planos de negócio e toda a teoria econômica que costuma embasar decisões que direcionam fluxo de bilhões de dolares de um país para outro?

Reafirmando a fama de malandro, do esperto que se dá bem em cima do gringo, como um Eike Batista estatal, o governo brasileiro conseguiu atrair capital de risco baseado simplesmente em powerpoint, promessas e gogó…

O resultado são mega-hotéis amargando menos de 10% de ocupação, empreendimentos de médio porte lutando pra sobreviver, pequenos estabelecimentos fechando as portas, além de imóveis comerciais e residenciais pela metade do preço, sem encontrar comprador, ou locações de salas comerciais por preço inferior ao valor do condomínio ou, em alguns casos, alugados sem valor de aluguel, apenas para liberar o locador do condomínio e taxas.

Com retorno negativo do investimento em ativos fixos, os proprietários e investidores tentam vender o negócio, buscam uma saída, querem passar o mico preto, mas acabam esbarrando em quem está com o mesmo problema, em quem também optou por realizar o prejuízo, mas nem isso estão conseguindo.

A super-oferta da hotelaria brasileira foi agravada pelas crises política, econômica e ética, gerando um cenário terrível

Em estado de quase penúria, os negócios imobiliários no Rio de Janeiro (com raras exceções, em todo o Brasil) parecem ter saído de uma estrada ensolarada à beira do mar e entrado repentinamente num longo túnel, onde nossas pupilas demoram a se acostumar com a escuridão, começamos a tatear sabendo que existe uma saída, mas ninguém consegue encontrar.

Acho que já vi este filme antes…

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Luís Vabo

Entusiasta da inovação, do empreendedorismo e da alta performance, adepto da vida saudável, dos amigos e da família, obstinado, voluntário, esportista e apaixonado. Sócio-CEO Reserve Systems 📊 Sócio-fundador Solid Gestão 📈 Sócio-CFO MyView Drones 🚁 Sócio Link School of Business 🎓 Conselheiro Abracorp ✈️

3 thoughts on “A VIA CRUCIS DA HOTELARIA…

  1. Exmo Mestre Vabo,

    Não acredito que nenhuma rede hoteleira ou proprietário foi enganado pelo Governo. O nome desse jogo é ganância! Ganhos astronômicos a curto prazo das construtoras e incorporadoras, comissões altas por vendas de contrato para os desenvolvedores de redes… sem falar no “incentivo” para políticos alterarem as leis de zoneamento. O seu Rio de Janeiro infelizmente é o pior retrato dessa realidade brasileira. A nós, que ainda temos alguma esperança, resta tentar quebrar essa cadeia tão vil. Digamos não !! Um forte abraço

    1. Guru Syllos,

      Como considero-o o maior especialista brasileiro no assunto e conhecendo-o como o conheço, só me resta lamentar que o meu Rio de Janeiro seja o retrato não somente das melhores, mas também das piores realidades nacionais.

      O fato é que o cenário que descrevi não se resume ao Rio, mas (talvez em menor gravidade) também à São Paulo e outras capitais.

      Lamentavelmente, a ganância e o comportamento fraudulento e corrupto não são exclusividade de nenhuma cidade brasileira, são generalizados em nosso país, e os políticos são apenas a cara mais visível e insidiosa desse problema nacional.

      []’s

      Luís Vabo

  2. Queridos amigos,
    Adorei o post Luís e os comentários do Gustavo. Também me perguntei muito como empresários experientes (dê o nome que quiser, investidor, operador, etc..) criaram tamanha bolha. A explicação dada de que “a Barra vai ser um destino independente do Rio” foi amplamente usada e acho que Garrincha, na sua sabedoria, complementaria: “e o senhor já falou com os Russos ?”
    Imaginar que o turista iria gastar horas no trânsito para visitar as maiores atrações do Rio ou que o segmento MICE preencheria, a médio prazo, os milhares de m2 de convenções que foram construídos, foi no mínimo infantil. A turma que já faturou foi embora de jatinho igual ao Marco Aurélio da novela, lembram ?

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