A primeira parte deste texto está em: PARTE 1: PAI X FILHO: COMPETIÇÃO OU CAPACITAÇÃO?
SEGUNDA FASE (2003 a 2007)
O jogo de Vabo JR mudou de figura… Ficou cada vez mais difícil vencê-lo. A disputa passou a ser de estilos, minha agressividade no jogo contra a sua defesa estratégica, estudada, friamente calculada, contra-atacando pontualmente cada nova investida de minhas peças.
Aprendi nesta fase, que cada simples peão vale muito e que eu só poderia perder uma peça se associado a uma estratégia para conquistar posições ou outra(s) peça(s) do adversário e que o mínimo descuido punha em risco toda a partida, mas a coisa foi ficando esquisita para o meu lado, sentia-me impotente para reagir, pois por mais que eu atacasse, Vabo JR (a esta altura com 18 anos) sempre encontrava uma forma de bloquear-me e, ao mesmo tempo, desferir seus golpes certeiros em busca do meu Rei.
Quando o placar atingiu Vabo SR 8 x 9 Vabo JR (e 6 empates), comecei a preocupar-me quanto ao resultado final do torneio, pois eu estava diante de uma virada espectacular (de 6 x 2 para 8 x 9) e, neste momento, comecei a apelar para o discurso de que, independentemente do resultado, eu só teria a vencer neste torneio, fosse como o jogador ou como o pai do vitorioso, aquele blá-blá-blá de quem percebe que a vitória está se esvaindo entre seus dedos, distanciando-se de suas reais possibilidades…
Foi quando a junção de um esforço extremo, atenção redobrada e acaso do destino (a sorte existe e ajuda), e sem mudar meu estilo “kamikaze”, consegui conquistar o que parecia impossível naquele momento: no final de 2007, o placar mostrava 9 x 9, além de 9 empates.
Ou seja, após 27 sucessivas, lentas e longas, mas emocionantes partidas, tínhamos alcançado um resultado que parecia apontar para um equilíbrio absoluto entre os jogadores: de 1998 a 2007, durante exatos 9 anos, vencemos 9 partidas cada um, perdemos 9 partidas cada um e empatamos 9 partidas !
Foi quando tomei a decidão mais importante do torneio, acredito que para ambos os jogadores, e que definitivamente serviu para comprovar que o mais importante deste jogo é, sempre foi e sempre será, o plano estratégico para o torneio, e não somente o empenho em cada partida.
Decidi parar de jogar.
E usei o argumento de que não fazia mais sentido identificar quem era o vencedor, jogamos durante 9 anos, demos tudo o que tínhamos, nos empenhamos e curtimos cada lance, para chegar a um resultado que me parecia o mais equilibrado empate que se poderia alcançar: 9 anos, 9 vitórias, 9 derrotas e 9 empates.
TERCEIRA FASE (2007 a 2018)
Vabo JR nunca aceitou esta interrupção (e não o recrimino por isso), sempre tentou, nos anos seguintes, retomar o torneio, queria porque queria vencer a derradeira partida (e reunia todos os atributos para isso), não aceitava sequer a possibilidade, não combinada, de vencer por WO.
Ele queria vencer no jogo.
Durante 12 anos, ao nos visitar (sim, os filhos saem de casa) ele armava o tabuleiro, deixava-o em cima da mesa e, sem comentar nada, fazia o primeiro movimento do peão branco, e esperava…
Durante 12 anos, resisti.
Na verdade, acho que no fundo eu não me sentia mais em condições de enfrentar um jogador tão mais capacitado, cuja estratégia de defesa acabou mostrando-se superior à minha estratégia de ataque, meu único trunfo.
Por diversas vezes, Vabo JR aborreceu-se com esta minha decisão e chegou, em algumas ocasiões, a fazer promessas cataclísmicas, de que nunca, jamais, em tempo algum, voltaria a jogar xadrez comigo, essas coisas de filho contrariado.
Solange sempre moderava esses momentos e eu tentava explicar que o empate numérico era o melhor resultado que um pai poderia esperar de um torneio individual com o filho e, portanto, meu objetivo havia sido alcançado, mas Vabo JR era tenaz, obstinado, teimoso…
QUARTA FASE (FINAL)
Até que ele veio passar o Natal de 2018 conosco e, da mesma forma que sempre fazia (talvez por hábito ou simples provocação, embora desta vez sem tanta expectativa), ele armou o tabuleiro, fez o primeiro movimento com o peão branco e deixou o tabuleiro montado (chamando uma resposta que nunca vinha) e foi assistir a uma série na Netflix.
Ao passar diante da mesa, senti-me compelido, pela primeira vez desde 2007, a jogar e, sem qualquer planejamento, 20 anos após a primeira partida, eu respondi movendo o peão preto.
(A terceira e última parte continua no próximo post: PARTE FINAL – PAI X FILHO: COMPETIÇÃO OU CAPACITAÇÃO?)
Bom dia Sr Luis Vabo,
Estava fazendo uma pesquisa na Internet sobre mim, e acabei encontrando seu post de xadrez e li a primeira e segunda fase da sua história, claro estou curioso pela terceira parte.
Sou o Professor de xadrez do seu filho! Lembro bem dele, era brabo queria me ganhar de qq jeito e não desistia de fazer de tudo.
Quem sabe não de dou umas dicas, seria muito engraçado ver vc ganhar esta
ultima partida.
Entre em contato. Mas não mande um abraço para ele no caso de querer as dicas, assim pegamos ele de surpresa!
hehehe
absss
Abs
Oi, Christian,
Gostaria muito dessas dicas, mas seria interessante que você lesse a conclusão da saga PARTE FINAL – PAI X FILHO: COMPETIÇÃO OU CAPACITAÇÃO?, neste link aqui: https://blog.panrotas.com.br/b2btech/2019/03/06/parte-final-pai-x-filho-competicao-ou-capacitacao/
Vabo JR hoje é professor do Insper em São Paulo e sócio do @alemdafacul, uma instituição de ensino online, foi professor da PUC-Rio durante alguns anos, empreendeu com um colega da PUC, com quem montou uma empresa de tecnologia, vendeu a empresa, foi diretor da B2W e da Stone, e hoje pode ser encontrado no instagram em @VABO23.
Gostei muito de receber seu comentário e sugiro que leia a parte final desta história.
Vabo JR vai gostar muito do seu contato.
[]’s
Luís Vabo