Fundações Louis Vuitton, Cartier e a História

A semana passada nós tivemos a oportunidade de ver como artistas da moda estão em voga nas salas de exposições e museus de Paris nesta temporada. Estas amostras, além de oferecerem conhecimento e diversão, evidenciam o fato de que sempre houve uma forte ligação entre a Moda e a Cultura. Esta relação não é banal ou superficial como podem nos parecer certas capas de revistas de moda, esta ligação fez de Paris não somente uma cidade histórica, mas a tornou capital mundial do modernismo através dos tempos. Título este que a manteve no pódio até a primeira metade do século 20, quando os Estados Unidos passaram também a se destacar em diversas formas de expressões artísticas tais como arquitetura moderna, artes, música e, sobretudo no cinema.

A maneira em que a  Moda se instalou na História reflete não somente valores estéticos, mas também características fundamentais de mudanças econômicas e da moral no decorrer dos últimos 500 anos.

Outrora monarcas e eclesiásticos praticavam o mecenato, sustentando artistas com suas obras, reforçavam seu poder e filosofias junto aos povos. Quanto às roupas, antes das grandes viagens marítimas, as opções no ocidente de corantes e tecidos eram limitadas. Nosso Pau-Brasil que o diga.

Com Louis XIV a monarquia relevou a moda à riqueza nacional. Até então as mulheres eram recatadas, deixando a maioria dos bordados, apliques e saltos altos ao vaidoso Rei Sol e seu extravagante irmão.

Louis XIV Rei da Franca 1701
Louis XIV Rei da Franca 1701

Porém, Madame de Pompadour, a mais importante amante de Louis XV, de origem burguesa, se impôs na corte apelando para a moda, como uma primeira “Evita” da História. Entre aparências e Iluminismo a corte vacilava.

Marquesa de Pompadour, amante de Louis XV
Marquesa de Pompadour, 1748 amante de Louis XV

Já a jovem esposa de Louis XVI, Maria Antonieta adorava moda. Não conhecia nada de Iluminismo quando chegou aos 14 anos na França. Na falta do que fazer, fazia compras, diversificava cores e modelos de seu guarda roupa, sapatos e perucas para passar o tempo. Não é novidade que tanto fasto levou os monarcas a perda do império e de suas cabeças no final do século XVIII.

Maria Antonieta 1767
Maria Antonieta 1767

Porém Napoleão, com seus saques internacionais,  encheu os cofres da França, permitindo a Josephine e suas predecessoras manterem classe e beleza notórias. Durante o século das grandes exposições internacionais Paris tinha que se destacar e não havia austeridade no ar. A burguesia festejava o fim do Terror, o céu era o limite para os primeiros voadores como Santos Dumont, o mundo não tinha fronteiras para Jules Vernes. No Palais Garnier, a Opera de Paris, a burguesia comparecia chiquérrima, para assistir a operas e balés russos e, sobretudo para ser vista.

Imperadora Josefina 1804
Imperadora Josefina 1804

Em torno de 1910 Coco Chanel e seus amigos Jean Cocteau, Salvador Dali e Pablo Picasso mudaram o mundo ( Quiça inspirados por Isadora Duncan e Nijinki) e entre muitas outras coisas, libertaram a mulher dos espartilhos! Uff! Há quem diga: No pain, No gain. Eu, despachada como sou, prefiro dizer: Demorou, hein!

A bailarina Isadora Duncan -1900
A bailarina Isadora Duncan -1900

Isadora_Duncan_1

Hoje, quem diria! São as casas de costura que assumem o papel de mecenas para artistas modernos, divulgando e permitindo a diferentes modalidades de arte de se expandir e prosperar junto ao público. Este é o papel de fundações como Cartier e Louis Vuitton.

Fondation Louis Vuitton
Fondation Louis Vuitton

A fundação Cartier existe há mais de 20 anos e a Louis Vuitton é a mais recente no ramo, tendo dado muito que falar graças a sua impressionante arquitetura. Verdade seja dita, tenho grandes suspeitas que todo esse investimento em arte tenha como objetivo redução de impostos e obtenção de obras com valores extremamente preferenciais para a fundação, além de benefícios fiscais diversos. A fundação Louis Vuitton faz parte do grupo LVHM um dos maiores conglomerados de empresas de bens de consumo de luxo francês, proprietários entre outras marcas de Guerlain, Kenzo, Givenchy, Moet Chandon, Henessy, Bulgari, Christian Lacroix, Pommery, Chateau d’Yquem, Guiness, Tag Hauer, etc, etc e etc!

Bom, pelo menos os artistas e o público aproveitam da eterna voracidade financeira do Estado e do estarrecedor sucesso das grandes empresas. Melhor um centro cultural que um outro shopping.

As programações são extremamente variadas e podem ser encontradas nos sites de cada uma das fundações.

Fundação Louis Vuitton

Fundação Cartier

 fotos wikipedia

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Silvia Helena

Após breves passagens pela Faculdade Metodista de São Bernardo e Belas Artes de São Paulo, aos 18 anos fui estudar no Canadá, onde vivi durante 23 anos. Lá me formei em História da Arte pela Universidade de Montréal, estudei turismo no Collège Lasalle de Montréal e no Institut de Tourisme et Hôtellerie du Québec. Comecei minha carreira na área trabalhando em Cuba. Durante os anos vividos no Canadá, entre outras coisas, fui guia de circuitos pela costa leste e abri minha primeira agência de receptivo para brasileiros. Há 18 anos um vento forte bateu nas velas da minha vida me conduzindo até França. Atualmente escrevo de Paris, onde vivo e trabalho dirigindo a empresa de receptivo, LA BELLE VIE.

2 thoughts on “Fundações Louis Vuitton, Cartier e a História

  1. Parabens Silvia pelo post,voce nos faz viajar no tempo sempre e a cada semana nos presenteia com muita cultura,informacoes valiosas,enfim…sou seu fa!

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