Turismo de Massa

Turismo-responsável pela infelicidade alheia?

Turismo de massa e A falta De moradia

O que está por trás da crise contra turistas e da greve no Louvre que você não verá na mídia?

Você não verá na mídia menção da vitória do Estado em convencer o cidadão de que seus problemas têm origem em outros cidadãos, permitindo que ele oculte sorrateiramente seu laxismo e irresponsabilidade. Assim, divide a população para melhor manipulá-la, afinal não se pode chamar o que vivemos de um governo —certas situações demonstram claramente a falta de direção dos “governantes” para nos conduzir dignamente a qualquer lugar. 

Enquanto os vilões parecem ser os proprietários ávidos, que recorrem ao Airbnb para ocupar seus imóveis adquiridos ou em vias de aquisição graças ao suor do próprio trabalho, ninguém menciona os aumentos incessantes de impostos prediais, aumento de custos de eletricidade e água, das novas regulamentações e exigências custosas relativa à mudanças energéticas, os altos custos de manutenção, a diminuição do poder aquisitivo da população de maneira geral, dos investimentos estatais irrisórios e insuficientes na construção de moradias populares e, sobretudo, a explosão da inadimplência nos aluguéis após a pandemia de COVID-19, sem qualquer apoio estatal ao proprietário. 

Imaginem a Formiga de Lafontaine, que trabalhou duro toda a vida como CLT, ganhou a confiança de seu patrão e, após anos de trabalho, sacou o fundo de garantia para dar entrada em sua primeira casa própria. O imóvel foi pago, e vinte anos de trabalho se passaram. Na aposentadoria, tendo sacado o restante do fundo de garantia, deu entrada em uma segunda casa, pois a poupança rendia pouco e ela tinha filhos. O plano era pagar o saldo do imóvel com o aluguel e, no futuro, deixar a propriedade de herança para sua família. 

Então, ela aluga a casa para uma jovem Cigarra que nos dias de hoje encontra somente contratos como PJ. A vida é tão dura que até a Mme Cigarra virou trabalhadora e faz até bico como uberista para fechar o mês. Mas ela sabe que, se não pagar o aluguel, não sofrerá consequências imediatas e, no pior dos casos, terá meses—ou mesmo anos—até que o processo na justiça seja concluído e ela precise encontrar outra morada. Assim, mesmo sendo boa pessoa, quando perde o emprego ou seu poder aquisitivo diminui, é o que faz.

Enquanto isso, a Formiga, que dependia do aluguel para quitar sua hipoteca e pagar impostos, começa a se endividar. Gasta uns 10 a 15 mil euros com advogado. Logo já não pode mais pagar suas contas e corre o risco de perder até mesmo a casa onde mora, pois todo o seu investimento foi para a segunda residência.

E o Estado? Ele não envia duas faturas, não permite atrasos fiscais, e qualquer cobrança inadimplente é automaticamente debitada de sua conta bancária diretamente. Os débitos automáticos das dívidas para com o Estado referentes à residência secundária geram buracos orçamentários e a Formiga já não consegue manter nem seu primeiro lar. Para a Formiga, que esperava aproveitar dos frutos de seu duro e longo trabalho, a vida virou um inferno.  Enquanto isso, a Cigarra sem emprego fixo e com tempo livre vai as ruas cantando apoiar outras cigarras a atacar turistas que pagam alugueis temporários e tendem a depredar menos as residências na hora da partida.

Pois é, essa fabula é a realidade de muita gente na França., como Nadine Olivier proprietária de dois bens que se tornou pessoa sem residência fixa devido à uma situação similar a da Formiga.

Segundo o jornal El Pais, na Espanha, a taxa de inadimplência nos aluguéis vem aumentando de ano em ano. De acordo com o Observatório do Aluguel, em 2024 os inquilinos deixaram uma dívida média de 7.957 euros, o que equivale a aproximadamente sete meses de aluguel não pago. 

As regiões justamente com os maiores níveis de inadimplência incluem Barcelona, Baleares e Madri, onde a dívida média ultrapassa 10.000 euros devido aos altos preços dos aluguéis. Além disso, o Observatório Espanhol do Seguro de Aluguel (OESA) alerta que a inadimplência deve continuar crescendo em 2025, impactando tanto proprietários quanto inquilinos. 

O Estado Espanhol fez recentemente esforços para facilitar os tramites de expulsão, mas proprietários seguem insatisfeitos devido à lentidão jurídica e medidas que permitem protelar expulsões de pessoas vulneráveis.

Assim, a cigarra, para quem o Estado não proveu educação, estabilidade de emprego ou renda suficiente para moradia, aquela a quem o banco não julgou digna de obtenção de crédito e a quem a empreitera não fez caridade é a vítima da história. Ok! E quem vai pagar o “pato” é Formiga proprietária e sua mais nova amiga a formiga turista!? Fala sério!

Fazer a empresa Airbnb pagar mais impostos sobre seus benefícios e construir moradias subvencionadas por exemplo, ninguém quer, né? E a taxa de turismo cobrada em certos destinos e hotéis? Serve para quê?

Turismo de Massa e a Greve relâmpago no Louvre

Falemos agora da questão do Louvre, onde funcionários fizeram greve relâmpago nesta segunda feira. Segundo a grande maioria da mídia, a taxa de ocupação de 30 000 pessoas ao dia é a grande responsável pela insatisfação dos trabalhadores. Ou seja, o turista. De fato, a alta frequência tem colocado muita pressão nos colaboradores e no edifício.   

O Louvre recebe 30 000 pessoas ao dia

Mas apesar do que foi amplamente divulgado, esse não foi o único estopim dessa bomba. Vocês lembram quando critiquei aqui o discurso do presidente prometendo uma grande reforma para o Louvre? Eu não gostei, pois foi divulgado que visitantes não membros da C.E. pagariam mais seu direito de acesso que membros da comunidade.

Já os funcionários não gostaram que esse anúncio triunfante de investimentos e soluções mirabolantes para o monumento tenha sido feito pelo presidente Macron sob o teto do mesmo Louvre que vem sofrendo de cortes orçamentários como jamais vistos antes desse mesmo governo. Então, após uma reunião ocorrida nesta segunda pela manhã entre dirigentes e representantes sindicais afim de explicar os prazos e a maneira que o investimento anunciado será feito a greve relâmpago estourou. Culpa dos visitantes?

Em princípio o Museu do Louvre deve abrir nesta quarta-feira, porém novos anúncios por parte do sindicato são esperados.  

o estado Entre turismo de massa e massa de manobra

Ou será que, para o Estado e seus representantes, a tática de usar a palavra “crise” e apontar um bode expiatório—embora já bastante batida—continue sendo a melhor forma de manipular as massas?


Nota PS:

O turismo é um setor essencial para a economia da França e da Espanha, movimentando bilhões de euros todos os anos.

Receita do turismo na França (2025)

  • As receitas turísticas atingiram 6,873 bilhões de euros em abril de 2025, contra 5,003 bilhões de euros em março.
  • Em média, os ganhos mensais do turismo na França giram em torno de 4,199 bilhões de euros.
  • O setor representa aproximadamente 8% do PIB francês e continua crescendo devido a eventos internacionais e ao grande atrativo das suas cidades culturais.

Receita do turismo na Espanha (2025)

  • As receitas turísticas atingiram 6,999 bilhões de euros em março de 2025, contra 5,622 bilhões de euros em fevereiro.
  • Em 2024, o setor gerou 184 bilhões de euros, um aumento de 18% em relação ao ano anterior.
  • O turismo representa cerca de 15% do PIB espanhol, com forte dependência dos visitantes internacionais.

A Espanha mantém a liderança em termos de receita turística, mas a França continua sendo um dos destinos mais procurados devido ao seu patrimônio cultural e infraestrutura

fontes nota: Aumento de viagens na Europa: gastos devem atingir US$ 838 bilhões em 2025, com França e Espanha liderando o caminho – Travel And Tour World

Receitas do Turismo na França | 2008-2025 Dados | 2026-2027 Previsão

Published by

Silvia Helena

Após breves passagens pela Faculdade Metodista de São Bernardo e Belas Artes de São Paulo, aos 18 anos fui estudar no Canadá, onde vivi durante 23 anos. Lá me formei em História da Arte pela Universidade de Montréal, estudei turismo no Collège Lasalle de Montréal e no Institut de Tourisme et Hôtellerie du Québec. Comecei minha carreira na área trabalhando em Cuba. Durante os anos vividos no Canadá, entre outras coisas, fui guia de circuitos pela costa leste e abri minha primeira agência de receptivo para brasileiros. Há 18 anos um vento forte bateu nas velas da minha vida me conduzindo até França. Atualmente escrevo de Paris, onde vivo e trabalho dirigindo a empresa de receptivo, LA BELLE VIE.

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