Air France se prepara para o “desconfinamento”

A França começa a se preparar para o “desconfinamento” progressivo. Comerciantes retornam aos seus negócios para tirar a poeira, marcar o solo com “scoth tape” designando o distanciamento obrigatório entre as pessoas e balcões, verificar o estoque etc.

A companhia aérea Air France também se prepara para a retomada de boa parte seus vôos no espaço Schengen a fim de assegurar seus clientes que estão prontos para o desafio, garantindo condições sanitárias seguras.

Para isso, seus aparelhos serão completamente pulverizados com um produto desinfetante de largo espectro e duração a cada cinco dias. Além disso, as áreas limpas com paninhos desinfetantes serão mais vastas. Hublôs, compartimentos para malas de mãos externa e internamente, cintos de segurança e todos os pontos de possíveis contatos com as mãos dos passageiros serão desinfetados sistematicamente.

O uso de máscaras dentro da cabine será obrigatório, tanto para os tripulantes como para os passageiros.  Álcool-gel será oferecido no momento de embarque.

Os deslocamentos dos passageiros dentro do aparelho deverão ser feitos com menos freqüência evitando contato de proximidade. Em outras palavras: nada de bate papo nas filas contra as portas dos banheiros.   

A distribuição de lanches ou refrigerantes será abolida para os vôos com menos de 2h30. Para os vôos de longa distância toda comida será servida em embalagens plásticas juntamente com a água, limitando assim o serviço de bebidas.

A empresa destaca também a capacidade regenerativa do ar de seus filtros empregados em seus aparelhos. 50% do ar vêm do exterior antes de se misturar ao ar já existente na cabine. 99,97% do ar é completamente filtrado.  Em sua campanha de comunicação a Air France reitera igualmente que esses filtros são idênticos aqueles utilizados em hospitais.

  Vejo o vídeo da Air France realizada para o Jornal Figaro clicando aqui.

A notícia da retomada à vida normal do país é acolhida com certa precaução pela população, mas, sobretudo com muita alegria. Aparentemente toda epidemia segue uma curva em formato de sino, e após dois meses de confinamento estamos chegando lá!

Coragem queridos leitores, no Brasil isso também ocorrerá!  

É normal se sentir estressado, triste, frustrado ou ter medo durante uma crise. Fale com amigos, familiares e entres queridos em que você confia.

O confinamento e o essencial através do mundo

A grande maioria do planeta está confinada. Aparentemente a vida de muitas pessoas está se transcorrendo de maneira similar, eu cheguei ingenuamente a achar que confinamento significava na França a mesma coisa que no resto do mundo.

Foi falando com amigos e especialmente amigos brasileiros que descobri o contrário. De fato, bastava refletir um pouco para imaginar que cada pessoa e cada país reagiriam com seus traços culturais e dispositivos governamentais característicos às suas raízes.

Nesta imensidão de seres e opiniões, encontramos muitos pontos em comum, mas também muitas diferenças radicais.

Diferenças entre confinamentoS

Uma delas consiste no sentido propriamente dito da palavra ESSENCIAL.  

Na China por exemplo, nada era essencial além da organização governamental autoritarista. Assim, o exército distribuía alimentos aos lares chineses e não houve justificativas para que as pessoas deixassem seus lares durante o confinamento. Em caso de descumprimento a pena era de prisão.

   China pós confinamento – controles constantes

Na França os critérios para sair de sua casa em busca do essencial são basicamente: necessidade de comprar alimentos, ir ao médico, fazer trabalho voluntário, andar com seu animal de companhia ou fazer um pouco de esporte.

As saídas permitidas com essas justificativas são controladas através de uma declaração ou atestado de honra onde consta a múltipla escolha das razões, a hora de saída, seu endereço. Perímetro permitido para a saída 1 quilômetro de distância de seu domicílio; duração máxima 1 hora.

O Atestado de deslocamento pode ser preenchido também on-line e apresentado em caso de controle pelo telefone

Em caso de descumprimento a pena é de multa com valor inicial de 135 euros, valor este que aumenta gradativamente em caso de repetição do delito até a quarta vez e depois prisão.

Os serviços médicos, a cadeia alimentícia e distribuição de gasolina não se incluem nestas normas, obviamente.  A indústria metalúrgica onde trabalha meu cunhado ficou aberta para produzir material hospitalar, mas a construção civil não foi considerada essencial, por exemplo.

Os franceses reagiram como civis em uma sociedade democrática e organizada; a maioria aderiu apesar de certa resistência, no entanto, mediante os policiais que controlam incansavelmente os mais recalcitrantes e a chuva de multas, a sociedade se trancafiou em seus lares. Mesmo assim, mais de 800 000 multas foram emitidas no território desde o dia 17 de março até agora.

Outro fator que colaborou imensamente para o respeito das medidas de confinamento foram os incansáveis pedidos de consideração vindos por parte daqueles que seguiriam prestando os serviços essenciais: médicos e equipes de hospitais (enfermeiras, atendentes, equipes de limpeza), caminhoneiros, lixeiros aproveitaram das redes sociais para passar seu recado: Fique em casa por favor!

População Francesa aplaude médicos e novos heróis da nação

no Brasil a situação me pareceu bastante diferente. Primeiro devido à guerra entre o governo federal e os governadores de estados. Se aqui reclamamos de falta de coerência na gestão governamental e usamos desse pretexto para burlar aqui e ali o confinamento, no Brasil então...

Aí aqueles que servem a nação prestando os serviços essenciais foram usados como argumento político por aqueles em prol de um “desconfinamento”já. O que me pareceu no mínimo estranho. 

Mas polêmicas a parte, o povo Brasileiro é mesmo o herói da nossa nação!

Aqui até a oposição declarou que seria indecente usar da situação para fins políticos, aí nos trópicos as feras estão soltas.

Enquanto isso a noção do essencial depende quase unicamente de cada um. O que dizer de um país que considera a construção civil como atividade essencial em momento de pandemia? Onde nas comunidades desfavorecidas o PCC que se ocupa do bem estar de seus ocupantes?

Já a grande vantagem do Brasil é o senso de ajuda entre as pessoas, o aprendizado contínuo do “se virar” e “dar um jeitinho” protege o país. Criação de cápsulas respiratórias inovadoras, aparecimento de máscaras em profusão, iniciativa. Salve a população brasileira!  

Aqui faltam máscaras, falta álcool-gel e segundo os franceses falta também muita coerência nas medidas governamentais.

A grande polêmica do momento na França é: porque voltamos às aulas dia 11 de maio se os bares e restaurantes ficarão fechados? Se as escolas foram as primeiras instituições a fechar, por que serão as primeiras a abrir? Polêmica esta que vem levando a certo afrouxamento por parte dos pais que agora levam os filhos aos parques e ruas da cidade com maior freqüência. Ué? Eles não vão encarar corredores e salas possivelmente contaminadas pela saliva e coriza geral? Porque os parques e as ruas seriam mais perigosos?

Afinal, dois meses fechados dentro de casa fizeram acreditar aos pais de famílias que as medidas de confinamento foram criadas para nos proteger, mas na realidade foram criadas para resguardar o sistema de saúde público abominável que temos e a imagem de nossos ignóbeis governantes. Acho que este é um ponto em comum entre muitos países.

O retorno à vida normal e o “desconfinamento” eminente nos revelam igualmente as motivações que nossos governantes têm em comum.

Pontos em comum

Dia 13 de março – dia da primeira medida governamental- fechamento das escolas

E falando em pontos em comum, em quase todos os países a ficha demorou em cair e os anúncios de uma gripezinha não assustaram a população em um primeiro momento. O número de óbitos e avisos por parte dos médicos foram fundamentais para a compreensão do problema, ao contrário das declarações governamentais que causaram mais confusão que esclarecimentos.  

Ainda, apesar das inúmeras diferenças na maneira de como lidar com a questão do Coronavírus e do confinamento pelos governantes e pelos humanos deste mundo afora, outro ponto comum importante parece sobressair:

Através do planeta a grande maioria da humanidade descobriu por si só o sentido da palavra essencial: essencial é ter casa, boa alimentação, amor da família e amigos e saúde. 

Mais um ponto comum sobressai entre a França e a China até o momento, tendo em vista a minha reação pessoal e de muitos sindicatos franceses.

Compare com as imagens do vídeo acima – Mês de abril, a ficha caiu

Lembro agora as palavras de meu amigo chinês declaradas nos primeiros dias de confinamento:

Você está reclamando de ter que ficar em casa por ordem governamental, mas fique ligada! Após constatar a gravidade desse vírus e os óbitos, quando a ordem for para “desconfinar”e voltar às ruas, quem não vai querer sair de casa é você!


Nota Cronológica :

23 de janeiro: Primeiros casos de Codiv-19 diagnosticados na França continental

13 março: fechamento das escolas

14 março: fechamento de bares e restaurantes

15 março: eleições municipais são mantidas

17 março: início do confinamento

11 maio: data prevista para o fim do confinamento de maneira parcial- retorno ao trabalho e distanciamento social controlado com severidade.

Quem é culpado pelo Coronavírus?

Como atuante na área do turismo eu fiquei muito impressionada ao ler nas redes sociais colegas culpando a China por essa epidemia. Cheguei a questionar um colega hoteleiro: Se a China comprar a sua rede de hotéis, você vai recusar seu pagamento? Ou vai ficar grato pelo emprego?

Nestes últimos anos vários mercados buscavam na China seus turistas, acreditando que esse país emergente seria a solução para quaisquer crises locais. E agora isso? Somos realmente aquele povo descrito por Chico Buarque em sua música Geni e o Zepelin?

Será que tantas pessoas ainda não entenderam que SOMOS UM? A gripe pode vir do México e da promiscuidade entre humanos e porcos, pode vir do Brasil e seu desmatamento desenfreado, pode vir de onde for.

Vírus não tem passaporte e não conhece fronteiras. Vírus é democrático e não conhece classes sociais.  

De quem é a culpa pelo Coronavírus?

Os seres humanos podem ser responsáveis pela epidemia de Coronavírus.

É o que sugerem vários estudos, que apontam a responsabilidade da atividade humana e a destruição da biodiversidade no surgimento de novos vírus do mundo animal, como o Covid-19.

Pesquisadores da Escola de Veterinária da Universidade da Califórnia estudaram 142 casos de “zoonoses” virais (doenças transmitidas de animais para humanos), que foram registrados em estudos desde 2013. Eles então cruzaram esses dados com listas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que classifica espécies ameaçadas em particular.

Roedores, primatas e morcegos foram identificados como hospedeiros da maioria dos vírus transmitidos para humanos (75,8%).

Tuberculose, raiva, toxoplasmose, malária… são causadas pela nossa interação com a natureza selvagem. Assim como as doenças “emergentes”: ebola, HIV, gripe aviária, SARS ou Zika e outros …

Humanos criando condições ideais para transferências virais

As espécies ameaçadas de vida selvagem, “aquelas cujas populações estão em declínio devido à exploração e perda de habitat compartilham mais vírus com humanos”, observam os pesquisadores em Proceedings of the Royal Society (organização de estudos em ciências biológicas).

Pangolin – animal selvagem

“Nossos dados ilustram como a exploração da vida selvagem e a destruição natural do habitat estão por trás das transferências de doenças, nos expondo ao risco de doenças infecciosas emergentes”, diz e pesquisadora Christine Johnson, que liderou o estudo conduzido antes do início da atual epidemia. Alguns cientistas acreditam que o Codiv-19 seja oriundo de uma espécie de morcego.

Estamos mudando os territórios através do desmatamento, conversão de terras para agricultura, pecuária ou construção. Isso aumenta a freqüência e intensidade de contato entre humanos e animais selvagens, criando as condições ideais para transferências virais”, disse Christine

Segundo especialistas em biodiversidade da ONU (IPBES), um milhão de espécies animais e vegetais estão em risco de extinção devido à atividade humana.

Em 2016, a agência ambiental da ONU também apontou que cerca de 60% das doenças infecciosas em humanos são de origem animal e 75% das doenças emergentes de maneira geral. A ONU estimou igualmente que estas doenças ocasionaram nas últimas duas décadas perdas e gastos no valor de US$ 100 bilhões. O mesmo estudo afirma que estas perdas seriam multiplicadas se essas doenças evoluíssem para o estágio de pandemia humana, como é o caso do novo coronavírus.

É importante lembrar que inúmeros medicamentos são produzidos com moléculas encontradas na natureza. O que faremos quando esses recursos naturais se extinguirem ?

Coronavírus: como agir?

Mais do nunca será preciso lutar contra o desmatamento e preservar nossas florestas e espaços selvagens.

As causas da pandemia Coronavírus são óbvias: “Nosso desprezo pela natureza e nossa falta de respeito pelos animais com os quais devemos compartilhar o planeta” afirma a etóloga e antropóloga britânica Jane Goodal. Aos 86 anos, Jane Goodall passou a maior parte de sua vida estudando e defendendo animais, incluindo chimpanzés da África, especialmente da Tanzânia.

É nossa responsabilidade e dever encontrar outros métodos, além de postagens em mídias sociais para atuar frente essa questão. Militar ativamente contra o desmatamento da Amazônia e de nossas matas será uma questão de sobrevivência.

A agropecuária, o aumento desenfreado da plantação de soja em terras da Amazônia e a criação de animais em larga escala para fins comerciais devem encontrar outros meios de existência.

Comer menos carne já pode ser uma atitude de âmbito pessoal que colabora em prol da causa sanitária, mas a conscientização de nossa classe política e indústria alimentícia serão fundamentais para o bem estar futuro do mundo.

A população deve entender seu peso como consumidor e optar por comer menos se necessário e com mais qualidade.

No Canadá antes de um churrasco é perguntado a cada participante qual a quantidade de carne pensa consumir durante o evento, evitando assim desperdício ou consumo exagerado. Quando questionado, ninguém responde que vai comer desenfreadamente, é claro!

O Canadá tem também uma das maiores indústrias de celulose do mundo e conta completamente com matéria prima oriunda de reflorestamento para isso. Os empregos na área são abundantes e bem pagos.

Embora a exploração madeireira no país ainda não seja perfeita, existe uma real preocupação governamental quanto ao assunto.

Na França, parte da população boicotou produtos com pesticidas ou pagou inicialmente mais caro por produtos orgânicos, hoje essa indústria floresce e os preços se tornaram muito mais accessíveis.

E no Brasil? No Brasil, segundo matéria publicada pelo Estadão o desmatamento neste exato momento está rolando solto e mais intenso do que nunca.

Enfim, agir como consumidor consciente e votar em políticos também conscienciosos já podem ser um bom começo, mas não será suficiente.

FELIZ PÁSCOA

E para terminar, deixo aqui é meu voto para a Páscoa: que a grandiosidade humana seja humilde e respeitosa das dádivas divinas: amor ao próximo, à natureza e a todos os seres vivos. Que esse confinamento Pascal nos traga reflexão, novas atitudes e soluções para o planeta.