A quinta onda e novas exigências de entrada

A quinta onda: Eu tive a vã esperança que não falaríamos mais da Covid-19, estava feliz com muitas novidades para anunciar.

No entanto, a preocupação com a quinta onda da Covid na França me obriga a voltar a falar sobre o assunto. Ligações e ameaças de cancelamentos já começaram.

Antes de apresentar aqui os números atuais, quero aproveitar do tema para mostrar como, até o momento, a crise da Covid-19 evoluiu de maneira distinta na França e no Brasil.

Os dados abaixo mostram como diferentes faixas etárias foram atingidas durante a pandemia em cada um dos países. Note, por exemplo, a diferença entre os números das faixas 15 a 44 e 45 a 65.  

Óbitos de Covid-19 por faixa etária no Brasil e na França

Statistique: Distribution des personnes décédées du coronavirus (COVID-19) en France du 1er mars 2020 au 1er juillet 2021, selon la tranche d'âge | Statista
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Qual é o perfil das pessoas que morreram de Covid na França?

Entre os óbitos de Covid: 73% tinham 75 anos ou mais, e 58% eram homens. 65% tinham comorbidades. Uma menção à patologia cardíaca foi indicada para 36% dessas mortes e pressão alta para 22%.

Estudos mostram igualmente que pessoas de baixa renda tem duas vezes mais chances de morrer de Covid-19 que pessoas abastadas.

Os franceses são precavidos por natureza, e apesar das manifestações contra o passe sanitário, são cidadãos comprometidos com a lei e sobretudo, temerosos de multas.

Com 89% da população vacinada estávamos tranquilos até o momento e quase duvidosos da gravidade dessa quinta onda. Talvez, devido ao estado de espírito francês, eu tenha ficado tão surpresa com a preocupação dos que ligaram para saber sobre a quinta onda.

Quinta onda e a Falsa tranquilidade ?

Fico feliz que o governo francês esteja de olho na situação e sendo atuante, mas não se pode comparar a “quinta onda” com ondas precedentes, pelo menos não até o momento.

Nos hospitais franceses há exatamente 10.249 pacientes internados em Covid-19 no momento, um aumento de 389 em relação a ontem, enquanto 1824 pessoas estão em tratamento intensivo, 75 a mais que no dia anterior.

Nas últimas 24 horas, 1.187 pacientes deram entrada no hospital, 144 a mais do que no dia anterior e 428 a mais do que na última terça-feira. Foram registradas 271 internações na UTI, 18 a mais do que ontem e 79 a mais do que na última terça-feira. A incidência de contaminação é de 306/100 mil habitantes e a mortalidade de 166 por 100 mil habitantes. A média do número de mortes dos últimos sete dias é de 72 pessoas.

DataÓbitos por dia % variação óbitos D -1
30-nov115 (-6%)
29-nov122 (+430%)
28-nov23 (-32%)
27-nov34 (-42%)
26-nov60 (-17%)
25-nov72 (-11%)
24-nov81 (-4%)
23-nov84 (-13%)
22-nov97 (+547%)
21-nov15 (-35%)
Note que tanto 29 com 22 de novembro, dia dos aumentos consideráveis, eram segundas-feiras. Seria plausível crer que esses dados foram impactados por eventuais atrasos de contabilização do fim de semana anterior. fonte 🦠 Coronavirus nombre de cas en France | EN DIRECT (coronavirus-statistiques.com)

Os dados do dia 30 de novembro do World Meters nos permitem fazer um comparativo de ambos países.

comparativo covid-19 brasil e frança

Dados https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries

Country,TotalNewTotalNewTotalNewActiveSerious,Tot Cases/Deaths/TotalTests/Population
CasesCasesDeathsDeathsRecoveredRecoveredCasesCritical1M pop1M popTests1M pop
France7,675,50447,177119,1311157,125,02411,761431,3491,824117,2231,819162,981,0312,489,11265,477,576
Brazil22,094,4599,71614,75432621,321,63117,516158,0748,318102,9122,86363,776,166297,057214,693,373
As quantidades de novos casos ( aprox. 47 mil para a França e 9 mil para o Brasil) e casos ativos devem ser também comparadas com a quantidade de testes efetuados em cada população

O Brasil registrou dia 30 de novembro um total de 9710 novos casos, 326 óbitos, assim como uma mortalidade de 292,5 /100mil hab. A média de mortes dos sete últimos dias é de 277. Coronavírus Brasil (saude.gov.br) , Wikipédia e SBTNews

Eu pessoalmente acho que o brasileiro pode viajar tranquilo para a França sem se preocupar ultra mesura. O governo está de olho nos números, mas eu acho que ainda não há razão para pânico. Até agora, nenhuma outra restrição, além do uso da máscara obrigatório e apresentação de passe sanitário está sendo cogitada pelo governo. Os mercadinhos de Natal e as atividades natalinas seguem confirmadas, assim como a abertura de museus e locais culturais. Para quem vem à França, o negocio é tomar o mesmos cuidados que tomaria no Brasil, distanciamento social, álcool-gel e máscaras.

Mas isso é somente uma opinião e como já tivemos palpites e “achismos” demais durante essa pandemia…

…Dai a ideia de compartilhar com vocês os gráficos e números atuais. Para o brasileiro que se questiona sobre a gravidade da quinta onda e sua viagem para a França, espero que os dados do post tenham trazido algum esclarecimento.

exigência para entrada na França

A entrada na França é permitida para pessoas que tenham o ciclo de vacinação completa com as vacinas Pfizer, Moderna ( 7 dias após segunda dose )e Janssen (28 dias após dose única) e para aqueles que tomaram Coronavac uma dose de reforço Pfizer é exigida.

Além do comprovante da vacina e o teste PCR, os passageiros devem apresentar no momento do embarque a seguinte declaração 09-06-2021-engagement-sur-l-honneur-vert (1).pdf . Fonte Attestation de déplacement et de voyage / L’actu du Ministère / Actualités – Ministère de l’Intérieur (interieur.gouv.fr).

a variante Omicron e as Novas exigências

“A situação está piorando muito clara e rapidamente”, disse o porta-voz do governo Gabriel Attal nesta quarta-feira, 1 de dezembro de 2021, ao final de um Conselho de Ministros. “Temos uma preocupação, o crescimento  do número de casos ( de Covid-19) detectados na França”, acrescentou. Então, para enfrentar esta 5ª onda e proteger-se da variante Omicron, o porta-voz do governo anunciou um aperto das condições de entrada na França com uma série de novas medidas.

 “Um novo protocolo de saúde reforçado se aplicará às viagens internacionais”, disse ele nesta quarta-feira. 

Em relação aos viajantes que desejam viajar para a França a partir de um país fora da União Europeia, “um teste negativo de menos de 48 horas” será obrigatório, inclusive para pessoas vacinadas, disse Gabriel Attal.

Os sites oficiais ainda não foram atualizados quanto a nova exigência. Mas a medida, já anunciada em site americanos e britânicos, entra em vigor dia 4 de dezembro.

Novas restrições, a reação dos franceses e a comunicação

Novas restrições – A essa altura todos já sabem que a França entrará neste sábado, dia 17 de outubro, em uma nova fase de restrições sanitárias.  O toque de recolher entre 21h e 6h nas grandes cidades* durante um mês foi a medida escolhida para a nova tentativa de contenção do coronavírus.

Acabou a festa! Regra dos seis

O governo pede inclusive à população que restrinja sua “bolha social” a seis pessoas e usem máscaras durante todo o tempo de convívio, seja lá onde for.

O governo promete igualmente ações dissuasivas para organizadores de festas e reuniões com multas que podem ir até 10 000 euros.

Reações

Diante destas novas restrições alguns reclamam do atentado a liberdade individual. Proprietários de restaurantes e bares clamam uma catástrofe anunciada. Jovens afirmam que se não vão aos bares, farão encontros em seus pequenos apartamentos. O corpo médico reclama da falta de recursos e investimentos para resolução do problema hospitalar e os sindicados fazem apelo de greve.

Para dificultar ainda mais a vida do governo, os policiais que deverão manter a ordem neste momento complicado, manifestam contra a falta de apoio e segurança no desempenho de suas funções.

Os trabalhadores perguntam por que devem se espremer nos meios de transporte, nos escritórios e salas de reunião, mas não podem ir ao restaurante ou ao teatro.

Concomitantemente, dia 17 de outubro é também dia de início de novas férias escolares. E surpreendentemente, os franceses poderão se deslocar sem restrições pelo território nacional.

Para muitos é difícil entender a coerência destas medidas que parecem até contraditórias. Mas, basta analisar um pouco para perceber que o governo está tentando frear o contágio da população pelo Covid-19, sem frear a economia nacional. Eu pessoalmente entendo a decisão.   

Então, porque muitos estão descontentes? A cólera dos proprietários dos restaurantes e atuantes do meio cultural é compreensível, mas quanto ao resto da população…

credibilidade é tudo

É sabido que a comunicação publicitária sempre ajudou muito a classe politica. Até ai tudo bem! Mas e quando ele trabalha contra a classe política?

Apoiar-se em um Conselho Cientifico para tomadas de decisões durante uma crise sanitária me parece a coisa mais sensata do mundo! Contanto que o mesmo tenha credibilidade, é claro.

O problema e que no momento em que a França, seus hospitais e população sofriam da falta de máscaras o Conselho Cientifico afirmou que o uso deste aparato ( hoje obrigatório) não era necessário e poderia ser até mesmo perigoso.  E agora, para explicar as novas restrições esse mesmo Conselho Cientifico estatal afirma que a maioria do contágio acontece em reuniões familiares e aparentemente entre 21h e 6h da manhã?  

Questões complexas, sobre as quais prefiro me abster. Eu não entendo nada de saúde e não vou pagar 135€ de multa para andar por ai depois das 21h, então me submeto e apóio as medidas sem contestar, como fará a maioria da população certamente.

Todavia, termino meu texto com uma pequena história, que talvez exemplifique meu ponto de vista sobre o que chamo de boa comunicação.

Vendendo seu peixe

Um dia desses, meu restaurante preferido me serviu um peixe inabitual. Confrontada pela minha reação a garçonete foi sincera:

“- Segunda feira não há entrega de peixe fresco, o mercadão (de Rungis), fecha nas segundas, perdão. Agora você já sabe que este não é o dia ideal para comer peixe aqui.”

Sua resposta franca e direta me deixou feliz, o sabor do peixe que eu comia não melhorou, mas eu aprendi algo e fiquei mais esperta. Segui freqüentando o estabelecimento. Credibilidade é tudo! Isso sim é o que chamo de boa comunicação!

Nota* Estão sob toque de recolher : Paris e região, Lille, Grenoble, Lyon, Aix-Marseille, Montpellier, Rouen, Toulouse et Saint-Etienne.

França em tempos de Codiv-19 n°2

Querido leitor,

Escrevo para atualizar as informações referentes ao Codiv-19 na França.

O que está acontecendo e quais atrações estão abertas ou fechadas neste momento?

Como medida preventiva contra o Codiv-19 o governo estipulou que reuniões com mais de mil pessoas em lugares fechados estão proibidas. Isso afeta, sobretudo, grandes salas de teatro e atividades esportivas de grande porte.

  • Os cabarés Moulin Rouge, Lido e Paradis Latin seguem abertos, assim como a Torre Eiffel.  
  • O Louvre está aberto, porém restringiu o número de entradas, dando prioridade para que tenha ingresso comprado antecipadamente.
  • A EuroDisney continua aberta. Três de seus funcionários foram diagnosticados positivos, porém não tiveram contato prévio com o público e não representaram risco aos freqüentadores do parque.
  • Cruzeiros pelo Rio Sena estão parados temporariamente, mas não por causa do Codiv-19, e sim por causa da cheia do Rio Sena, que este ano nem apareceu nas notícias. Seguramente, dentro de alguns dias estarão de volta.

Muitos e-mails que recebi confirmam que todos interventores do ramo do turismo intensificaram aeração e desinfecção intensa como meio preventivo.

Como vivem os franceses neste momento?

Ainda como medida profiláctica, o governo e empresários autorizaram as pessoas em dúvida quanto ao seu estado de saúde a trabalhar a partir de suas residências.

As condições para consultas médicas à distância via aplicativo on-line sofreram mudanças e tornaram-se mais flexíveis.

No mais, para a grande maioria das pessoas, a vida segue normalmente!

No banco, nas praças, nas ruas a vida continua!

Desafios governamentais e trabalhistas: Droit de retraite ou Direito de retirada

De acordo com a legislação trabalhista francesa, o Droit de Retraite é o direito do empregado de se retirar de uma situação de trabalho que represente um “grave e iminente perigo para sua vida ou saúde”. Esse o direito de retirada é um direito individual, mas pode ser exercido coletivamente.

Se os funcionários da área de transportes exercerem seu “direito de retirada” em massa temendo o Codiv-19 as autoridades serão então forçadas a reduzir a oferta de transporte. Uma decisão que o ministro afirma “depender realmente do número de funcionários disponíveis”.

Medidas previstas pela Autoridade Autônoma de Transportes de Paris serão neste caso semelhantes às tomadas no auge da greve deste inverno. Segundo o secretário de Estado dos Transportes, um “maior absenteísmo” pode ser esperado nas empresas do setor, ao mesmo tempo em que afirma que a RATP ou o SNCF estudam planos para a continuidade de seus serviços.  

Para aqueles que estão acostumados à chegada de seu transporte em dois minutos, isso significa pelo momento alguns minutos a mais de espera.  

Quando muita informação mata a informação

Informações abundantes continuam a assolar a população, às vezes criando pânico, às vezes restaurando a tranqüilidade. Enfim, match nulo para este quesito.  

Algumas diretrizes e medidas sanitárias além da lavagem de mãos constante:  

  • Como muitas pessoas jovens podem contrair o vírus Codiv-19 e não apresentar sintomas (que NÃO É GRAVE para a maioria dos seres humanos) foi solicitado que evitem visitar pessoas idosas. 
  • Escolas primárias em regiões chamadas “clusters” foram fechadas por quinze dias também devido ao caráter assintomático da doença em crianças a fim de evitar a propagação junto aos demais membros da população.  

Aparentemente, as pessoas realmente a risco são anciãos, asmáticos ou portadores de problemas pulmonares, pessoas com imunidade baixa e graves problemas de saúde pré-existentes. Somente essas pessoas serão mantidas em hospitais em caso de contaminação, os demais enfermos deverão se cuidar em seus lares, em situação de isolamento.

  • Um amigo chinês que vive em Shangai me avisou: beber água após contato com pessoas potencialmente contaminadas faz com que o vírus saia das vias respiratórias e vá para o estômago, onde o mesmo morre em contato com o suco gástrico.

O que esperar?

Um aumento de casos é previsto para os dias a seguir, devido à alta taxa de contágio do Codiv-19 e potenciais casos assintomáticos.

As medidas preventivas devem melhorar o quadro, que poderia ser pior não fosse a determinação e pragmatismo do próprio povo francês. Amigos não se abraçam, cessaram se os beijinhos e apertos de mãos e em caso de dúvida, como já mencionado, as pessoas se isolam.

Tudo indica que essa situação passará como uma epidemia de gripe comum, que inclusive já atingiu seu pico neste inverno e recua neste momento. Gripe esta que matou 72 pessoas em 2020 na França e contabiliza atualmente 744 casos graves em reanimação. A média de idade das vítimas da gripe comum até o momento é de 52 anos. Dez vítimas eram crianças e adolescentes menores de 15 anos. 30 vítimas tinham entre 15 e 64 anos. 32 pacientes tinham mais de 65 anos de idade. Os vírus influenza H1N1 e B/Victoria foram os mais observados neste inverno, com base em amostras municipais e hospitalares.

E, no entanto, ninguém teme uma gripe comum, não é mesmo?

A cidade continua linda e suas atrações funcionando. A foto foi tirada cedo, tempos atrás, mas de maneira geral as ruas estão repletas, mesmo por quê pessoas evitam os transportes em comum quando possível . O governo tomou medidas ( a palavra prevenção e seus sinônimos preencheram esse texto) e os habitantes de maneira geral se sentem seguros. Neste momento escuto muitos jovens no bar ao lado festejando a vitória do PSG

MinhaS dicaS?

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  • Não desesperemos.