CONTRADIÇÕES

O site oficial da Associação Internacional de Transporte Aéreo informa que a missão da entidade é representar, liderar e atender a indústria aérea, com suas 275 associadas – as quais compõem 83% do tráfego aéreo global.

Até o momento, cerca de 70 empresas aéreas internacionais IATA possuem recursos tecnológicos alinhados à Nova Capacidade de Distribuição (NDC) de produtos extras em um voo. Ou seja: em curto espaço de tempo, observamos significativos avanços tecnológicos para a venda dos chamados serviços auxiliares; a exemplo da cobrança por despacho de bagagens, numa indicação de que esse marketplace está se modificando a passos largos.
Importante salientar que o canal agências de viagens continua e continuará sendo um fortíssimo e o principal canal de vendas das companhias aéreas. Embora, para algumas delas, a exploração do canal direto seja a melhor alternativa, as próprias companhias aéreas sabem e experimentam em seu dia-a-dia que esse canal, o direto, é altamente sensível a preços e riscos. Ou ignoramos as fraudes sucessivas que as companhias aéreas sofrem em seus sites, obrigando-as a um alto investimento em prevenção? E que um atendimento de call center não gera custos operacionais às empresas?
Em evidente paradoxo, entretanto, constatamos que vigoram ultrapassados critérios Gerais, Financeiros, de Competência e de Segurança para que a IATA credencie uma agência de viagens. Além de farta, a documentação exigida das mais de 100 mil agências de viagens que compõem a rede global de distribuição IATA inclui anacrônicas e extemporâneas taxas administrativas, garantias financeiras entre outras exigências.
O que o consumidor, aqui incluído o próprio gestor de viagens corporativas, não sabe é o custo existente para uma agência de viagens ter as credenciais da IATA. E também os custos para manutenção, alteração, geração de documentos, entre outros. Uma simples alteração cadastral da agência, como mudança de endereço, por exemplo, acarreta uma série de custos em cascata. Diante das mudanças que o mundo tem vivenciado, urge que algumas regras da IATA sejam revistas, no sentido de simplificar e otimizar essa relação.
Temos visto algumas agências surpreendidas com cobranças que variam de R$ 3.000,00 a R$ 100.000,00, para ser feito o registro de uma simples mudança de endereço ou mínima alteração no contrato social… Por que? Qual é a lógica disso nos dias de hoje?
O descompasso entre modernidade e obsolescência requer medidas urgentes, sob pena de colocar em cheque de credibilidade o discurso da prática.
*Rubens Schwartzmann é diretor da Costa Brava Turismo e presidente do Conselho de Administração da Abracorp
 

Governança Corporativa: Abracorp revê conceitos e ajusta princípios

Rubens Schwartzmann*
Quando da instituição da Abracorp, há sete anos, a consultoria Deloitte estabeleceu parâmetros fundamentais para garantir o bom funcionamento da entidade. Um deles, o Planejamento Estratégico, foi revisado pela KPMG, com o envolvimento das associadas, clientes e fornecedores da indústria de viagens corporativas. Um trabalho de fôlego, para oxigenar e melhorar o desempenho da gestão Abracorp.
No final de abril, durante a reunião mensal da entidade, tivemos a presença de um consultor do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) Carlos Alberto Ercolin, professor de Governança Corporativa em cursos de pós-graduação. Com sua larga experiência, o convidado apresentou panorama geral do tema, quando salientou que “governança corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas. Envolve os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização/controle e demais partes interessadas”.
Acrescentou que “as boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas. Alinha interesses para preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização. Facilita o acesso a recursos e contribui para a qualidade da gestão, sua longevidade e o bem comum”. Transparência, Equidade, Prestação de Contas e Responsabilidade Corporativa são os princípios básicos.
Discorreu sobre a importância e benefícios da governança corporativa e, também, dos fatores inibidores que geram prejuízos ao sistema. Com base nos conteúdos da palestra, a direção executiva da Abracorp vem conduzindo trabalho com os associados, que será a base de um documento estabelecedor dos princípios de valor inseridos no código de ética que parametriza a relação entre as TMCs e o mercado. E as melhores práticas que devem orientar nossa atividade.
Para fechar, divulgamos no início de abril resultado da pesquisa de vendas das associadas Abracorp no 1º trimestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2016. O crescimento geral, em faturamento, de 10,2%, somou-se ao desempenho positivo das viagens corporativas no aéreo nacional e internacional. Todas as tabelas e gráficos da pesquisa já estão disponíveis no portal da Abracorp.

Carlos Alberto Ercolin, consultor do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa: palestrante convidado pela Abracorp
 
*Rubens Schwartzmann é diretor da Costa Brava Turismo e presidente do Conselho de Administração da Abracorp

Reflexão sobre o prazo de pagamento a perder de vista

 
Rubens Schwartzmann

O tema é recorrente e já foi objeto de manifestação da Abracorp aqui nesse espaço. Continuamos assistindo, estarrecidos, à falta de limites e de bom senso de players do mercado de viagens corporativas no que tange a prazos de pagamentos aos serviços oferecidos pelas nossas TMCs. Os disparates vão de 30, 60, 90 e até 120 dias! São prazos impraticáveis sob todos os aspectos – e não há como sustentá-los. Basta lembrar que o prazo IATA é semanal e dos hotéis é, em média, 15 dias da data do check-out.

Sustentabilidade. Observem onde chega a ironia desta situação que em nada contribui para a harmonização das relações comerciais entre as agências e o mercado. Depois da imposição de prazo fora de qualquer propósito, registram no documento licitatório (BID) indagação a respeito das práticas de sustentabilidade da TMC

Aqui cabe recapitular o conceito universalmente conhecido e aceito de sustentabilidade. Há cerca de 25 anos, o sociólogo e consultor britânico John Elkington formulou o Triple Bottom Line – o tripé da sustentabilidade. A expressão também é conhecida como ‘os três ps’: people, planet and profit, que em português é o ppl – pessoas, planeta e lucro.

Durante muito tempo se acreditou, de forma equivocada, que a sustentabilidade estaria diretamente relacionada ao meio ambiente. Então as empresas começaram a fomentar projetos de preservação da flora e da fauna, de reflorestamento, de proteção a espécies ameaçadas de extinção, entre outras ações pontuais. Embora válidas, não representam, em si, o conceito mais amplo do desenvolvimento sustentável.

Portanto, o tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico) determina que uma empresa deve atuar de forma que esses três pilares coexistam e interajam entre si de forma harmoniosa. O social envolve todo capital humano direta ou indiretamente relacionado às atividades desenvolvidas. O ambiental se refere às condutas que impactem o meio ambiente, no curto, médio e longo prazos. O plantio de árvores, com intento compensatório à emissão de gases na atmosfera, raramente vai além de estratégia de marketing.

Por fim, o pilar econômico. Para que uma empresa seja economicamente sustentável, deve ser capaz de produzir, distribuir e oferecer seus produtos ou serviços de forma que estabeleça uma relação de competitividade justa em relação aos demais concorrentes do mercado. E os três pilares devem estar alinhados com os objetivos da empresa. Não podem ser definidos com base em ações pontuais ou simplesmente compensatórias.

Voltando ao tema da imposição de prazos, nada indica que os adeptos desta visão distorcida estejam preocupados com o conceito correto de sustentabilidade. É uma pena, porque se esquecem do básico: sem resultado econômico, o tripé se desfigura e o resto não para em pé.