Copa do Mundo: os hotéis Lotte na Rússia

Apesar de ainda muito pouco conhecida dos brasileiros, a rede Lotte Hotels & Resorts é o maior grupo hoteleiro na Coréia e tem unidades espalhadas em diferentes países. O grupo asiático tem expandido seus domínios para Europa e Estados Unidos – deve chegar a um total de 40 hotéis até o final deste ano – e busca um reconhecimento mais global, a exemplo de outras redes asiáticas que já garantiram seu lugar ao sol na hotelaria de luxo, como Mandarin Oriental, Shangri-la ou Peninsula.

A ideia geral do grupo é promover um equilíbrio entre refinamento e lifestyle, garantindo excelência em serviço mas também o “twist” necessário para garantir à cada propriedade o seu próprio estilo – incluindo apostar cada vez mais em gastronomia estrelada em diversas unidades.  A rede tá marcando sua presença também durante a Copa do Mundo, com duas de suas três unidades na Rússia 100% lotadas durante todo o mundial. E com razão, já que os hotéis valem mesmo o quanto custam (e custam bem).

Meu quarto no charmoso Lote St Petersburg. Foto: Mari Campos

Em minha viagem à Rússia em março passado aproveitei para conhecer o Lotte St Petersburg e o Lotte Moscow. Os hotéis russos me chamaram a atenção por levarem estampado um selo de reconhecimento de qualidade indiscutível: ambas propriedades fazem parte do seleto portfólio da Leading Hotels of the World. 

Convidada a me hospedar no hotel da rede em São Petersburgo foi uma grata surpresa – o hotel virou queridinho da viagem russa toda. Estive ali hospedada durante todos os meus dias na cidade e não me arrependi nem um pouco da decisão (apesar de estar super acostumada a mudar de hotéis durante a estada em um mesmo destino): com 150 quartos, tem jeito de hotel boutique e serviço ultra personalizado e customizado, com funcionários que te chamam pelo nome (e uma excelente equipe de concierges). Novinho – o hotel abriu suas portas no ano passado – ocupa uma mansão histórica do século XIX em uma das mais prestigiosas localizações da cidade, a icônica St Isaac’s square, com a imensa Catedral de São Isaque quase em frente. 

O belíssimo salão de café da manhã do Lotte St Petersburg. Foto: Mari Campos

A localização é tão boa que dá pra fazer as principais atrações turísticas da cidade quase todas à pé – e mesma coisa para chegar aos restaurantes mais badalados. Os quartos são bastante espaçosos e confortáveis, com todas as facilidades tecnológicas da contemporaneidade – incluindo muitos plugs/tomadas e entradas para carregar USB. Tem um adorável spa com piscina térmica e um incrível rooftop no último andar, com vista panorâmica para a cidade – que infelizmente, por questões de meteorologia, só fica aberto nos meses mais quentes.

Mas o maior destaque do Lotte St Petersburgo fica por conta de seu café da manhã, servido num incrível salão cheio de rococó e vitrais históricos no teto. Não à toa, foi premiado como o melhor café da manhã da cidade – oferece diariamente um imenso buffet com quatro estações diferentes, além de menu de itens quentes preparados na hora. 

Detalhe do meu quarto no Lotte Moscow. Foto: Mari Campos

Já a propriedade da rede em Moscou tem perfil bem diferente.  O hotel é um dos mais tradicionais da cidade, tem 300 quartos e a gente percebe seu tamanho pelo movimento intenso (e por vezes até barulhento) no lobby. Localizado no Novinskiy Boulevard e aberto em 2010, fica afastado da Praça Vermelha e outras atrações turísticas da cidade mas o metrô está a apenas uma quadra de distância (assim como a rua Arbat, conhecida como a “rua dos Souvenirs”).   

Os quartos são bastante espaçosos, mas com decoração menos charmosa que a unidade de São Petersburgo. Por falar em tamanho, o hotel tem a maior Royal Suite de toda a Rússia, com uma área total de 490 metros quadrados – pra czar nenhum botar defeito! – e um belo spa, o Mandara Spa. Mas seu maior destaque fica por conta das suas ofertas gastronômicas: o italiano contemporâneo OVO, sob comando do chef estrelado no Michelin Carlo Gracco, e MEGUmi, um moderno japonês. O excelente café da manhã com três estações diferentes no buffet é servido diariamente no mesmo espaço físico do OVO. 

Detalhe do restaurante OVO by Carlo Gracco do Lotte Moscow. Foto: Mari Campos

Curiosidade: o nome da rede vem da personagem Charlotte, a heroína de Goethe em seu livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, cujo apelido na obra era Lotte. 

Dá pra ler mais sobre hotéis na Rússia em geral aqui no Hotel Inspectors em posts da inspector Carla Lencastre neste e neste link. E dá pra ler mais sobre minha experiência em hotéis em São Petersburgo e Moscou neste link aqui.

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Luxo 100% australiano

Cada vez mais, a Austrália se consolida como território fértil na hotelaria de luxo, de Sydney à encantadora Tasmânia. Não bastasse a presença de grandes redes de luxo como Four Seasons e Shangri-la há bastante tempo no país (e a chegada de novas bandeiras, como já contamos aqui), os australianos sabem (e muito bem!) manejar hotéis boutique de verdade, de pequenas propriedades nos arredores de Melbourne a lodges em regiões mais remotas.

Neste cenário estrelado, é preciso destacar a atuação impecável da associação Luxury Lodges of Australia, que reúne indiscutivelmente alguns dos melhores hotéis do país, e com sotaque 100% australiano (o mais famoso internacionalmente é o pomposo Saffire Freycinet na Tasmânia, mas são hoje dezenove hotéis e lodges exclusivíssimos compondo a coleção).

Em diferentes viagens ao longínquo continente, tive a oportunidade de conhecer diferentes hotéis que fazem parte do portfólio e é realmente tarefa difícil encontrar falhas na administração dos mesmos (existem, é claro, mas são mesmo só os olhos mais exigentes que tomam nota delas).  Nesta última viagem ao país, em abril passado, tive o prazer de ser convidada a me hospedar em dois outros hotéis que são parte da estrelada coleção: o inesquecível Emirates One & Only Wolgan Valley, a cerca de 3h de carro de Sydney, e o adorável The Louise, em Barossa Valley, nos arredores de Adelaide. 

Picnic impecável entre cangurus no Wolgan Valley. Foto: Mari Campos

A propriedade no Wolgan Valley é fora de comparação, não apenas pela paisagem arrebatadora que a rodeia como pela excelência em acomodações e serviço – opera em sistema all inclusive e é (ainda) o menor One&Only em funcionamento no mundo.  O casamento das excelências em serviço e acomodações das duas bandeiras – One&Only e Luxury Lodges of Australia – dá  muito samba e resulta, não à toa, numa tremenda propriedade que anualmente leva prêmios como a melhor do país. 

Conto muitos detalhes de minha estadia lá neste texto aqui para o Estadão, mas vale destacar que, além da bela gastronomia (bem acompanhada por diversos vinhos australianos incluídos na diária), das atividades diárias incluídas, dos quartos todos em sistema vila (e enormes! sempre com piscina privativa) e da excelência também na entrega das atividades cobradas à parte, o hotel entrega mais close encounters com a vida selvagem australiana que qualquer outro (incluindo cangurus e wombats todos os dias literalmente ao redor das vilas). Um hotelaço daqueles difíceis de superar – e, extremamente bem administrado, reúne de casais em busca de sossego e romance a famílias com crianças pequenas sem nenhum stress ou ruído. 

O padrão Luxury Lodges of Australia garante instalações de primeira, serviço primoroso e gastronomia caprichada. Vistas caprichadas são também fator importantíssimo – o que dizer, por exemplo, dos apartamentos debruçados sobre a Grande Barreira do adorável Qualia, nas Whitsundays?

Piscina com vista para os vinhedos: yes, please. Foto: Mari Campos

Para quem busca romance e uma bela escapada enoturística, o The Louise é matador: um idílico lodge rodeado pelos vinhedos de Barossa Valley, uma das mais importantes regiões vinícolas do mundo (e lar de mais de uma centena de vinícolas e de restaurantes deliciosos), a apenas uma hora de carro de Adelaide. São apenas 15 luxuosas e enormes suítes, cada qual com seu terraço e total privacidade entre elas. 

O design é contemporâneo mas com detalhes de arte e design que não conflituam nem um pouco com a bucólica paisagem dos vinhedos ao redor. Banheiros enormes (com direito a ducha, banheira e chuveiro externo separados), vinho fortificado e outras amenidades cortesia e café da manhã à la carte servido todos os dias direta e romanticamente na suíte estão incluídos em todas as diárias.  O The Louise é também parte da associação Relais&Chateaux, que chancela também a alta qualidade de seu (pequeno e premiado) restaurante Appellation. 

Minha crítica ao The Louise? As atividades cobradas são extremamente overpriced – como o “café da manhã com cangurus”, que eu experimentei em abril e, na minha opinião, não vale nem um tico dos absurdos 250 dólares cobrados pelo passeio.

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A nova flagship dos W Hotels

Um dos impressionantes murais do W Bellevue. Foto de Mari Campos

Criada a partir da chamada “bold attitude” (ousadia) da cidade de Nova York, a bandeira W Hotels da Marriott International sempre provocou, desde seu surgimento, uma disruptura com o cenário da hospitalidade upscale internacional. Do seu icônico botão de serviço “whatever/whenever” para atender o hóspede em qualquer circunstância (hoje marca registrada na hotelaria) ao design bastante provocativo, ao longo de quase duas décadas (e mais de 80 hotéis depois) a marca continua rompendo regras do luxo tradicional na hotelaria em todos os sentidos.

No comecinho de março estive em Seattle, onde a nova flagship da marca foi lançada: o W Bellevue, inaugurado no segundo semestre de 2017, ficou mesmo um espetáculo – e não poderia ser mais diferente do W Seattle, a meros 20 minutos de distância, perfeitamente localizado no centro de Seattle, mas com alguns quartos precisando urgentemente de um extreme makeover.

Fui convidada a me hospedar no novo hotel e gostei muito do que experimentei. O novo W Bellevue tem 245 quartos e design inspirado em uma lake house do noroeste americano – o que justifica, por exemplo, o repetido uso dos tetos A-frame. Mas o jogo de texturas e formatos nos móveis de design e a combinação de cores nos imensos murais nas paredes em quase todos os cômodos não poderia ser mais iconicamente “W”. Aliás, tudo ali combina muito com a nova bossa de Bellevue, um dos destinos dos arredores de Seattle que mais rápida e charmosamente se desenvolve, virando um novo hub de compras, gastronomia e vida noturna para moradores e turistas que visitam a região.

O design do hotel abraça sem pudores a história regional e as belezas naturais que o rodeiam (inclusive nos imensos murais de artistas renomados como Gaia, Lady Aiko e Zio Ziegler), sem abrir mão das inovações tecnológicas nos quartos e nas áreas comuns (tomadas mil, entradas usb mil, tudo se conecta o tempo todo, uma maravilha). Os murais mesclam backgrounds regionais e internacionais, em ambientes que brincam o tempo todo com a ideia de privado e público, grandes espaços e lounges intimistas.  O staff é super jovem e relax, mas ao mesmo tempo extremamente pontual e profissional (fiz ali um dos mais rápidos check-in e check-outs do últimos tempos).

Da recepção ao chamado Living Room (que é quase um playground para o viajante moderno!), o elemento lúdico está em alguns murais com jeito de cartoon, em uma cabine de DJ e mesas de jogos instaladas em meio aos sofás e pufes do super sexy  lounge bar  (com música animada o tempo todo, é claro). Todo esse lado posh contrasta com a sala chamada de “biblioteca”, de cores claras, poesia nas paredes, sempre silenciosa. E há ainda um imenso terraço externo, com móveis que vão de sofás tradicionais à beira da lareira à adoráveis balanços de vime.

Detalhe do quarto do W Bellevue, vista cidade. Foto de Mari Campos

Os banheiros públicos do primeiro andar, apesar de serem identificados por gênero do lado de fora, se fundem todos no mesmo espaço unissex do lado de dentro.  Os corredores dos quartos são adornados com fotos enquadradas de lake houses da região e o design dos quartos continua misturando o sexy (como nos boxes transparentes em banheiros completamente abertos para os quartos) com o lúdico (como no formato da cômoda, cujas gavetas foram propositalmente construídas como se estivessem sido deixadas abertas) – e vista para o lago ou para o skyline de Bellevue, com direito a sofazinho para contempla-la. A academia é gigante e completíssima, e os hóspedes também recebem fones de ouvido e três mapas de corrida diferentes pelo bairro, com diferentes distâncias a percorrer. Mas não há spa.

Na gastronomia, o The Lakehouse é acessível tanto da recepção do hotel quando do mall adjacente e, sob o comando do chef Jason Wilson (vencedor do James Beard), investe pesado no conceito de “farmhouse” da região Northwest dos EUA. Os pratos vêm sem frescuras, mas bem saborosos, e o ambiente é delicioso. É no Lakehouse também que é servido o café da manhã do hotel (à la carte). O downside fica por conta do serviço de quarto, bastante limitado.

No térreo, e também comandado por Wilson, o interessante e discretíssimo Civility & Unrest é um speakeasy lounge que fica escondido atrás do mural gigante de Gaia à entrada do hotel. Vale entrar sem medo, que a mixologia é assunto seríssimo por lá (e o local ganha ares de balada nos finais de semana).

Sou fã de carteirinha de algumas unidades do W, principalmente as que brincam com essa vibe lúdico+sexy, como Santiago, no Chile, ou Verbier, na Suíça. Mas no W Bellevue mesmo ficou claríssimo, já à primeira vista, porque ele passará a ser o flagship da bandeira – inclusive pelo serviço realmente cinco estrelas que, sejamos bem francos, não é todo W que tem.

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