Passados mais de seis meses da pandemia, muita gente está decidida a retomar suas viagens, mas longe da ideia de fazer de fato turismo. Afinal, seguimos em pandemia, com índices altíssimos ainda de contaminações no Brasil e no mundo. Para muitos, a ideia das primeiras escapadas na pandemia está intimamente relacionada ao conceito de isolamento. E é nesse cenário que o aluguel de temporada cresce na pandemia.
É inegável a tendência de turistas investirem neste momento em viagens que ainda lhes possibilite continuar com o máximo possível de distanciamento social. O termo “turismo de isolamento”, que já existe há tantos anos, só agora passou a ser utilizado de fato por jornais, revistas, blogs e agentes de viagem.
Muita gente começou a “escapar” primeiro em passeios curtinhos, somente de meio dia, em seu próprio carro, para lugares até uma hora de casa onde pudessem variar o cenário e respirar um pouco de ar puro. Nos dois últimos meses, as escapadas ficaram mais longas e muita gente começou a procurar hospedagens remotas em destinos até 300km distantes de casa – conforme pesquisa divulgada recentemente pelo Airbnb. Foi nesse contexto que os imóveis de temporada voltaram a se destacar no mercado brasileiro.
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aluguel de temporada cresce na pandemia
É inegável o crescimento das plataformas de aluguel de temporada na pandemia. Mesmo em abril, quando quase todos os hotéis estavam fechados, algumas pessoas decidiram, aproveitando o fato de estarem em home office, alugar um imóvel de temporada simplesmente para fazer a quarentena em um lugar diferente da sua própria casa.
Desde 2008, quando o Airbnb perturbou completamente a indústria hoteleira (e colocou pressão nas tarifas de hotéis mais econômicos, inspirou a criação de novas marcas econômicas da hotelaria que hoje vemos por aí etc), esse setor não crescia de maneira tão significativa em tão pouco tempo.
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Estudo recente do Airbnb constatou aumento de 150% na procura por imóveis de temporada durante a pandemia. Pesquisa da Booking.com do ano passado já apontava um aumento de 40% nas buscar por acomodações não-tradicionais (casas, apartamentos, vilas, chalés) nos viajantes brasileiros. A VRBO (outra das grandes plataformas de aluguel de temporada) teve volume de busca 120% maior nos últimos meses.
Para quem deseja continuar em isolamento e apenas mudar de endereço provisoriamente, evitando contato com qualquer pessoa estranha à sua “bolha” da quarentena (ou com hóspedes indisciplinados), ficar em um imóvel alugado permite também cozinhar suas próprias refeições, com ingredientes levados de casa, sem a necessidade de ir ao supermercado, bares ou restaurantes no destino escolhido.
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Estudos recentes do setor mostram que, de maneira geral, os índices de ocupação estão subindo mais rapidamente para os imóveis de temporada do que para os hotéis. A estadia média nos imóveis de temporada também tem sido mais longa que nos hotéis e pousadas – principalmente em áreas rurais ou bastante remotas, que já recebem hóspedes para estadias mais longas, como se fossem uma espécie de “segunda residência”, desde o começo da pandemia.
Essa mesma “vantagem” também tem beneficiado, é claro, os empreendimentos hoteleiros que possuem unidades autônomas, como villas, residences ou chalés, mais procurados por hóspedes interessados nas chamadas extended stays.
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Dados de uma análise global conjunta da STR e AirDNA mostram que hotéis sempre tiveram tradicionalmente taxas mais altas de ocupação que imóveis de temporada – mas a Covid-19 teria mexido nesta disputa. Segundo o mesmo relatório, a ocupação hoteleira na pandemia caiu cerca de 77%, contra 46% dos imóveis de temporada. É claro que a queda é mais acentuada na hotelaria porque também muitas propriedades eram focadas em viagens corporativas, congressos e eventos, um setor praticamente parado até agora.
Mas nem tudo são flores enquanto o aluguel de temporada cresce na pandemia, é claro: o próprio Airbnb recentemente dispensou nada menos que um quarto dos seus funcionários mundo afora, sinalizando que os tempos estão difíceis para todo mundo.
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Foto: Casa Turquesa Foto: Provence Cottage
A busca pela “acomodação mais segura”
Com o novo coronavírus, tanto hotéis como as grandes plataformas de aluguel de temporada têm insistido na criação e anúncio de “novos protocolos de limpeza e segurança”. Mas é aí também que hotelaria e sites de aluguel de temporada dividem a opinião de viajantes na pandemia.
A grande questão para muitos viajantes é que imóveis de temporada não estariam sujeitos aos mesmos rigores de higiene e fiscalização de protocolos que hotéis, resorts e pousadas. Quão seguro é, afinal, um aluguel de temporada em tempos de Covid-19?
O Airbnb foi a primeira plataforma a criar um Protocolo Avançado de Higienização e promover treinamentos virtuais entre seus associados. Recomendou, dentre outras coisas, intervalos mínimos de 24 horas entre reservas e certos padrões de limpeza, e passou a “certificar” na plataforma as propriedades que afirmam seguir essas recomendações.
A Booking.com também criou um novo filtro de pesquisa chamado “medidas de saúde e segurança”, que lista apenas imóveis que estariam seguindo atualmente suas recomendações de higiene e segurança.
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A brasileira Passion Brazil, que tem um braço de aluguel de temporada para imóveis de alto padrão em diferentes destinos do país, também criou protocolos alinhados com as diretrizes e recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) , WTTC (World Travel & Tourism Council) e do Ministério do Turismo para seus parceiros. Como possuem imóveis e serviços em destinos de norte a sul do Brasil, levaram em consideração também as diferentes regulamentações municipais e estaduais para cada propriedade.
Um dado importante: afirmam abertamente que priorizaram nessa fase parceiros flexíveis (com condições tarifárias, de reserva, remarcações, prazos, pré-pagamentos e políticas de cancelamento) e que se comprometeram plenamente com os protocolos.
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Foto: Mari Campos Foto: Mari Campos
Protocolos, protocolos, protocolos
O aluguel de temporada cresce na pandemia, mas é inegável que os rigores de implementação e fiscalização de protocolos de higiene e segurança compatíveis com estes tempos sejam maiores na hotelaria. Grandes redes como Hilton, Accor ou Marriott anunciaram há muito tempo regras e controle estritos, com auditorias frequentes nos hotéis. Associações de propriedades independentes também entraram firme nisso, como a Leading Hotels of the World, sugerindo protocolos e dando total assistência aos associados para que cumpram com as novas determinações.
No Brasil, a Brazilian Luxury Travel Association – BLTA, que reúne diversas propriedades de luxo, coordenou diversas discussões e treinamentos sobre protocolos de saúde, segurança e sanitização desde o começo da pandemia. “Orientamos todo o processo, mas cada associado acabou criando seu próprio protocolo, de acordo com os decretos e protocolos do seu município”, diz a diretora Simone Scorsato. “Fazemos acompanhamento constante da qualidade dos serviços prestados em cada um deles, incluindo as notas dadas pelas OTAs e os feedbacks individuais de hóspedes”, conclui.
O Circuito Elegante, que criou o exclusivo selo Safe&Clean na pandemia para seus hotéis (com uma série de protocolos a serem seguidos por seus associados nestes tempos), afirma que a primeira inspeção nos hotéis e pousadas que tiveram as mudanças implementadas em julho já está sendo feita.
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A preocupação em criar protocolos seguros não se restringe às grandes redes de hoteleiras ou propriedades de luxo, é claro. A OYO, startup indiana que se converteu em rede hoteleira (o portfólio da empresa já ultrapassou 43 mil propriedades e 1 milhão de quartos no mundo), criou novos protocolos de segurança no Brasil com apoio do Grupo Fleury, adotados pela rede desde maio.
Após a implementação do selo Limpeza Certificada da OYO, que já ganhou reconhecimento global pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a ocupação nos hotéis da rede dobrou e as notas das mesmas nas OTAs já aumentaram 0.3%. “Para garantir que todos os procedimentos de segurança estejam sendo seguidos, auditorias online acontecem a cada quatro meses. Outro indicador importante a ser levado em consideração são as avaliações dos hóspedes tanto nas OTAs, quanto no aplicativo OYO”, diz Eduardo Zucareli, vice-presidente de operações no Brasil.
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Foto: Mari Campos Foto: Mari Campos
Os prognósticos para a indústria hoteleira
O aluguel de temporada cresce na pandemia com duração da estadia média nos imóveis aumentando até 58% globalmente – o que é bastante significativo. A hotelaria tradicional começa a acompanhar de perto esse movimento – especialmente agora, com grande parte das propriedades já reabertas ou em fase de reabertura no Brasil entre final de setembro e começo de outubro.
A STR divulgou recentemente que a ocupação média dos hotéis deve girar em torno de 40% neste ano e chegar provavelmente a 52% no ano que vem (para efeito de comparação, esse índice foi de 66% em 2019). Mas é possível, é claro, que estes números finais da hotelaria sejam maiores em 2019, visto que a maioria das crianças não devem voltar fisicamente à escola este ano – e muitos hotéis já implantaram sistemas de home office e home schooling em suas propriedades para atrair mais hóspedes também durante a semana.
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Enquanto o aluguel de temporada cresce, parte do mercado hoteleiro começa a divulgar mais diferentes formatos de hospedagem, mesmo na hotelaria tradicional. A ideia de ter a propriedade toda para si (um dos principais motores de alavanca dos sites de temporada) tem sido tão significativa para uma parte do público viajante durante a pandemia que pequenos hotéis e pousadas já começam a propagandear a possibilidade de serem reservados por inteiro por um determinado grupo ou família.
Propriedades com acomodações em formato villa ou chalé também têm insistido mais nesse diferencial, atentos a esse significativo percentual de viajantes que ainda busca isolamento – e, claro, à revolução que está em curso nos espaços públicos da hotelaria tradicional atualmente.
Mesmo redes hoteleiras tradicionais, como Four Seasons, deram ainda mais prioridade e enfoque – com ótimos resultados – aos seus serviços de villas e residences nos últimos meses. As chamadas extended stays nesse formato hoteleiro não-convencional também cresceram em muitos destinos neste 2020 – em muitos casos, com desempenho indo além das previsões do mercado.
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Mesmo propriedades bastante grandes e tradicionais também passaram a divulgar mais (inclusive em mídias sociais) a possibilidade de que uma ala completa ou um andar inteiro sejam completamente fechados para a mesma família ou grupo, sem contato com outros hóspedes – como o Belmond Copacabana Palace, que agora oferece assim a possibilidade de reservar todo o seu sexto andar (da famosa Black Pool).
Vale lembrar que são também os hotéis que geralmente têm as mais generosas e flexíveis políticas de cancelamento e remarcação de estadias – fundamental nestes tempos de tantas incertezas. Depois de tantas viagens adiadas no começo da pandemia, a maioria dos viajantes está dando especial atenção para este item. Nestes meses de pandemia, muitas grandes redes estão permitindo cancelamentos sem custos até 24 horas antes da chegada do hóspede – o que definitivamente ainda não acontece na maioria das plataformas de aluguel de temporada.
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