A cada ano que passa o conteúdo vem sendo cada vez mais usado pelas empresas que querem estreitar seu relacionamento com stakeholders e fugir da “publicidade tradicional” (se é que devemos usar mesmo esse termo). Porém, nem todas as marcas têm conseguido alcançar o objetivo principal, que é atingir o público-alvo (quando se define um) e passar sua mensagem. Quando isso acontece, não é difícil ouvir o velho chamado do “precisamos de um conteúdo que engaje”, “nossa comunicação está sempre igual”. Mas, afinal, como realmente ter um conteúdo que engaja?
É importante começar com um “tapa na cara” de quem está procurando o “santo graal” do conteúdo. Não existe fórmula infalível (como diversos “gurus” vendem por aí), estratégias únicas que vão acabar com seus problemas, conteúdo arrebatador, dicas fantásticas e nem qualquer outra frase de efeito que foi usada só para chamar sua atenção. O que existe é estratégia, construção de marca, conhecimento de público e planejamento. That’s it! A partir disso você realmente vai ter o embasamento necessário para construir conteúdos assertivos e direcionados. Porém, sabendo que nem todos têm o conhecimento de todas as etapas acima, vou começar com uma explicação retroativa.
Jamais deve-se iniciar a comunicação de uma marca sem um planejamento de conteúdo. Seja always on (dia-a-dia) ou por campanha, sem ele sua comunicação fica perdida e sem coerência, como se fosse um barco à deriva, esperando a onda levar. Para isso, é muito importante criar planilhas que reúnam todos os pontos de comunicação (as plataformas de conteúdo), divididas em datas e com as pautas que serão trabalhadas.
O conhecimento de público é essencial para a comunicação da marca. Arrisco-me a dizer que é o ponto mais importante na hora de buscar um conteúdo que realmente engaje. Afinal, como chamar a atenção de alguém que você não conhece? Alguém que você não sabe quais são as dores, quais são os costumes? Não existe. Sem conhecimento de público, toda sua produção será feita no escuro, sem destino correto. Pode até ser que impacte alguém, mas será pura sorte. Para isso, existem estudos, pesquisas de comportamento, criação de buyer personas (que são diferentes de persona da marca), entre outros recursos para aprofundamento de conhecimento.
Construção de marca. Muito se questiona sobre propósito, atributos, tom verbal, arquétipos, persona da marca e sua real eficácia na comunicação das marcas. Em minha opinião, elas são essenciais para que a marca se conheça e que os produtores de conteúdo tenham total noção de quem estão representando. Assim como você não é assertivo sem conhecer seu público, também não é sem conhecer todo o potencial ou características de quem está representando. Existem diversas formas de fazer essa construção e sua tangibilização também é variada, pois pode ser finalizada por um Brandbook ou StrategicBook.
O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie…calma é brincadeira. Sem estratégia não deve-se nem começar a produção da comunicação de uma marca. Antes de fazer diversos materiais é primordial saber qual o objetivo que será alcançado ou qual desafio será transpassado. Por exemplo, o objetivo é humanizar a marca? Gerar leads? Estreitar o relacionamento com determinado stakeholder? Tudo isso deve ser levantado e definido antes de qualquer outra etapa exposta neste artigo, pois, caso ela seja esquecida, será mais uma vez um esforço de produção em vão, que não terá direcionamento para nada.
Enfim, a partir dos pontos acima, é possível ter o embasamento necessário para qualificar a estratégia de Branded Content e produzir um conteúdo que realmente atinja o público desejado e os engaje. Porém, é importante dizer que de nada adianta criar todos os estudos e etapas se o profissional produtor de conteúdo não imergir realmente nesses materiais e na marca que representa, pois serão apenas ótimas ferramentas sem sua devida utilização.Conteúdo que engaja: a “mosca azul” do Branded Content
Autor: Gustavo Ellero
Caso Thomas Cook: mais uma da série “posicionamento é renúncia”
Toda vez que me aprofundo no universo das marcas fico fascinado pela forma que os valores das empresas se representam na prática, porém, quando falamos de causas socioambientais, fico sempre com um pé atrás. E isso não é pelo fato de eu ser desconfiado, mas sim, porque temos diversos exemplos de empresas que levantam bandeiras aleatórias e não vivem o que defendem. O que é muito prejudicial, afinal, o público sabe realmente quem vive o que diz.
Porém, essa semana todos nós fomos impactados com a atitude de uma marca que realmente está aplicando os valores que defende, gerando um embate de gigantes. No finalzinho do último mês, a inglesa Thomas Cook, considerada a primeira agência de viagens do mundo, fundada em 1841, e um dos maiores operadores turísticos atualmente, anunciou que não vai mais vender ingressos atrações de animais que mantenham orcas em cativeiro.
Essa é uma evolução de outra determinação, passada há tempos, que informava que a instituição não venderia mais viagens a parques de animais que não fossem 100% compatíveis com os padrões de bem-estar animal da ABTA (Associação Britânica de Agentes de Viagens). Com isso, cerca de 40 parques ou destinos foram auditados, 29 foram removidos da lista dentre eles, o gigante Sea World, que ano após ano vem sofrendo pressão externa sobre sua atuação com os animais em cativeiro.
Até onde uma marca deve ir para cumprir seus valores?
Não existe limite no cumprimento dos valores de uma instituição. Desde que suas causas sejam honestas e realmente condizentes com os valores da empresa, elas devem ser cumrpridas. Mesmo que isso acabe por eliminar um público que pode ser um consumidor ativo, como é o caso da Thomas Cook, que abriu mão de fãs de shows com orcas. Porém, é o que o título do artigo diz , “posicionamento é renúncia”. E é muitas vezes a renúncia do dinheiro, afinal, essa parcela de fãs do Sea World não vai deixar de visitar o parque quando for a Orlando, na Flórida.
Como uma pequena empresa deve trabalhar seu posicionamento
Trazendo para a realidade brasileira, é claro que, para quem se identifica com os valores expostos acima, não é fácil abrir mão de parte do seu faturamento. A TC é uma gigante mundial, e seu posicionamento foi construído e fortalecido ao longo de mais de 100 anos. Neste caso, minha sugestão é que a marca não levante essa bandeira, pois não seria condizente com sua realidade.Tente ajudar de outra maneira. Pelo menos até ter autonomia para viver o que diz.
Não é fácil construir e entender o universo de uma marca, a relação entre quanto custa defender um ideal é sempre muito delicada. Aqui em minha coluna já falei tanto sobre a importância do valor de marca, quanto da importância de ter um propósito.
Conheça algumas diretrizes socioambientais da ABTA e da Thomas Cook:
Thomas Cook: What is Sustainable Tourism?
ABTA: Global Welfare Guidance for Animals in Tourism
O que eu aprendi em imersão com Geraldo Rufino
Assim como diversos leitores da minha coluna, sou um empreendedor, e não confundam isso com empresário, afinal, é possível empreender no CNPJ de outra pessoa, no seu dia a dia. Por isso, resolvi escrever sobre uma experiência muito enriquecedora que tive no último sábado, dia 4. Nesta data, participei de uma imersão com o nacionalmente conhecido, empresário e empreendedor, Geraldo Rufino, dono da JR Diesel, maior distribuidora de peças semi novas do Brasil. E, apesar de não ser um case do segmento de turismo, quero compartilhá-lo com vocês.
Antes de falar sobre a imersão, é importante citar que Rufino tem uma história de vida fascinante. Natural de Minas Gerais, ainda criança veio para São Paulo com a família, aos 7 anos catava latinha em um lixão para ajudar nas contas de casa e hoje, após “quebrar” por quatro vezes, é dono de uma empresa avaliada em 125 milhões de reais.
Sobre a imersão, a proposta era ter um momento onde os participantes realmente poderiam extrair ao máximo o conhecimento não só de Geraldo, mas de seu filho Arthur Rufino, CEO da empresa e de sua esposa, Marlene Rufino, diretora-administrativa e financeira da JR Diesel. E confesso que foi uma das melhores experiências que tive, não só pelo que me foi agregado sobre o business, mas por ver uma família trabalhando junto e pelo acolhimento recebido, afinal, até minha filha Manú, de 3 meses, participou do evento e foi tratada como membro da família.
Mas, vamos ao que interessa para vocês. Vou colocar em bullets os pontos que mais me chamaram a atenção e que podem agregar ao negócio de cada um:
- Felicidade: como a própria filha de Geraldo diz, ele é irritantemente feliz, e isso faz toda a diferença. Não distribua carrancas, compartilhe sorrisos. Você vai ver que seu dia será muito melhor e o universo vai conspirar a seu favor. Sei que isso não é fácil, sou prova viva disso, mas confesso que vou tentar.
- Resiliência: igual a diversos leitores da coluna, o negócio de Rufino, Marlene e Arthur é familiar e isso muitas vezes é a chave para o fracasso se o relacionamento não for bom. Eu mesmo, sou sócio da minha própria esposa em duas empresas, a INSANE Estratégia e Comunicação e no Portal Mochilaí, e é necessário saber lidar com todas as mudanças que isso pode causar.
- Desconstrução: em uma das falas do Arthur Rufino, ele ressaltou muito a importância de desconstruir seu negócio, no papel e em pensamento, para entender todas a sua cadeia de produção, seu mercado e tentar detectar novas formas de rentabilidade.
- Organização: mesmo sem ter nenhuma formação técnica em administração ou financeira, Marlene assumiu as finanças da empresa e com aplicação e organização, se superou, passou por uma concordata e hoje é uma referência.
- Estudo: Arthur enfatizou muito a importância de estudar seu negócio. A JR Diesel, em sua base, sempre foi categorizada como um desmanche de carros. Algo preocupante em um país onde grande parte dos desmanches são ilegais. A partir disso, ele foi conhecer o mercado internacional, pegou referências e, ao voltar para o Brasil, encabeçou a criação da “Lei do desmanche”, que regulariza o setor.
- Sem vitimismo: Rufino bate muito na tecla de que as pessoas precisam acreditar nelas mesmas, só assim é possível evoluir. Independente de crise ou outros percalços que possam acontecer. O importante é acreditar em seu potencial e ir a luta.