A globalização da economia também impactou as viagens, encurtou distâncias e fez do turismo uma das atividades mais dinâmicas do mundo. Além da movimentação econômica, o turismo ganha importância cada vez maior para a geração de empregos, diminuição da pobreza, inclusão social, valorização da cultura local e preservação ambiental.
O setor demonstra crescimento surpreendente, grande capacidade de recuperação em períodos de crise e perspectivas de avanço para as próximas décadas. As receitas cambiais geradas pelo turismo saltaram de US$ 445 bilhões (1999) para US$ 919 bilhões (2010), segundo dados da OMT – Organização Mundial do Turismo.
O fluxo internacional de turistas no mundo chegou a 935 milhões em 2010 – um crescimento de 49% em relação ao registrado em 1999 ( 625 milhões) . A expectativa, segundo a OMT, é de que esse número alcance cerca de 1,6 bilhões em 2020. Nos seis primeiros meses de 2011, mesmo com a crise que atinge boa parte do planeta, o número de viagens cresceu, em média, 4 a 5% no mundo; na América Latina, cresceu 15%.
Além das viagens a lazer, a realização de eventos e as viagens a negócios aumentam os impactos econômicos do turismo e movimentam a economia das cidades. Dados da ICCA – International Congress & Convention Association mostram que o Brasil já está entre os 10 países que mais recebem eventos associativos internacionais, ocupando a 9ª colocação global e a primeira na América Latina.
O impacto direto do turismo deve representar 3,3% no PIB do Brasil em 2011, alcançando R$ 129,6 bilhões. A atração de visitantes provocada pela realização de grandes eventos esportivos no país, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, bem como a própria estabilização econômica do país, projeta um cenário de evolução do turismo para a próxima década, com crescimento em torno de 4,8% por ano até 2021, alcançando 3,6% do PIB (R$ 206,9 bilhões). Daqui há dez anos, o turismo deverá ser responsável por 3,6 milhões de empregos diretos em nosso país. ( Fonte: WTTC – World Travel & Tourism Council.
O crescimento do setor de viagens e turismo no Brasil pode ser evidenciado pela evolução dos desembarques de passageiros, que passou de 28,5 milhões em 2000 para 68,3 milhões em 2010, um aumento de 140% em 10 anos. Os desembarques internacionais, que somam estrangeiros e brasileiros chegando ao país, passou de 5,2 milhões em 2000 para 7,9 milhões ano passado.
Os 5,2 milhões de estrangeiros que visitaram ao Brasil em 2010 deverão duplicar em 10 anos; a entrada de divisas deve triplicar os US$ 5,9 registrados em 2010. A geração de divisas por meio dos gastos dos estrangeiros no Brasil é o quinto item da pauta de exportações.
O país fez avanços fabulosos no turismo nos últimos anos, mas pode ainda muito mais. E o que é necessário para que o turismo brasileiro cresça de forma contínua, sustentável e possa ainda mais contribuir com o desenvolvimento do país?
É inquestionável a necessidade de competitividade para um país que enfrenta um mercado global cheio de inovações, desafios e acirrada disputa para as próximas décadas. E olhando para esses desafios futuros, tirando ensinamentos do passado, precisamos olhar para o cenário dos grandes eventos esportivos e, além deles. As viagens passam a fazer parte do orçamento dos brasileiros e o Brasil passa a ser objeto de desejo de estrangeiros para viagens de férias, investimentos, oportunidades de negócios. E existem investimentos em infra-estrutura que demandam uma análise dessas tendências, políticas de longo prazo e soluções definitivas para o país e para o setor de viagens e turismo.
A infraestrutura aeroportuária é um dos temas essenciais que exigem resposta e investimentos públicos e privados. Hoje, mais de 75% do fluxo de viagens domésticas e internacionais dependem da aviação civil. As grandes distâncias não permitem viagens a diversos destinos do Brasil. Estamos longe dos grandes mercados emissores. Temos poucas ligações terrestres com nossos vizinhos de continente. Brasileiros querem conhecer outras regiões de seu imenso país, estrangeiros querem ir a diversas cidades do Brasil. Eventos, feiras comerciais, investimentos em diversas áreas se multiplicam por todos os lugares e é necessário ter uma malha aérea que atenda aos mais diversos clientes.
Pensando no mercado global, nas previsões de crescimento das viagens, na chegada de vôos intercontinentais ao Brasil e sua distribuição para a América do Sul é imperativo ter uma estratégia definitiva para o tema aéreo. Pensar no longo prazo e projetar a movimentação para os próximos 20 e 30 anos significa não repetir erros de falta de planejamento.
Uma definição clara da vocação dos principais aeroportos do Brasil, seja para a recepção de vôos internacionais de longa distância, para vôos regionais, para as viagens domésticas e mesmo para cargas é um passo importante para uma política de longo prazo. Da mesma forma, compreender as necessidades das empresas brasileiras, suas projeções de aumento da oferta de vôos pode contribuir para melhores serviços, preços competitivos e melhor distribuição de vôos e horários para diferentes regiões do Brasil.
Os aeroportos de São Paulo são o coração da distribuição dos vôos em nosso país, seja porque recebem grande maioria dos vôos internacionais e permitem as melhores conexões, seja porque estão no centro econômico do continente. Limitações de espaço para a ampliação de Congonhas, por exemplo, já definem uma vocação e tipos de operação para esse sítio. Guarulhos opera acima de sua capacidade, e sua ampliação terá limite de capacidade no médio prazo. Viracopos tem importante papel no transporte de cargas e no fluxo regional, mas ainda está longe da capital.
No momento de debate sobre as concessões e privatização de aeroportos, o desenho de uma estratégia de longo prazo se torna importante para o desenvolvimento do país, para a projeção de seu crescimento e, em especial para o setor de viagens e turismo. A malha aérea nacional pode ter condições de atender melhor as regiões distantes do centro de distribuição de São Paulo, por exemplo, melhorando horários de conexões para o norte e nordeste. As empresas estrangeiras poderiam trazer aviões maiores e mais modernos no médio prazo, desde que existam lugares e estrutura para atender a essa demanda, desde que as conexões tornem viáveis do ponto de vista econômico essas operações.
Trata-se de um debate complexo, que exige entender os diversos atores, ampliar a visão sobre o crescimento futuro e as possibilidades de administração dos aeroportos e decisões firmes que possam tornar o setor mais competitivo.
As respostas virão com a análise de amplas e eficazes possibilidades, e queremos que o setor de viagens e turismo tenha infra-estrutura para crescer e atender à atual e futura demanda. Destaco ainda, que até agosto do corrente ano, os desembarques nacionais já crescerem 21% em relação ao mesmo período de 2010, e os desembarques internacionais cresceram 18%, o que coloca nosso País com crescimento maior que a média mundial e em atraso nas condições objetivas de atender a esse crescimento. Ter infra-estrutura aeroportuária adequada, combinar preços justos e serviços públicos e privados de qualidade são fundamentais para que o turismo cresça, seja competitivo e alcance o patamar desejado de geração de emprego, entrada de divisas e valorização das riquezas culturais e naturais do Brasil.
Pensar em 2014, 2016 ou 2020 é pouco. Estamos em fase de concessão de aeroportos e debatendo as alternativas de modelo para a estrutura e gestão aeroportuária do Brasil, e precisamos olhar para os dados que a OMT divulgou recentemente: as economias emergentes lideram o crescimento do turismo mundial e irão chegar a a 58% do mercado global em 2030. Serão 48 milhões de passageiros, em média, a mais por ano. A América do Sul deverá saltar dos atuais 24 milhões de viajantes para 58 milhões em 2030!
O amanhã do turismo brasileiro já é hoje.
Jeanine Pires é empresária e ex-Presidente da EMBRATUR.