Retorno emaranhado na Espanha

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Estamos na última semana de julho de 2020, e nosso calendário ainda sofre com incertezas trazidas pelo cenário da pandemia. Aquele retorno linear, que funciona no gráfico ideal já não retrata a realidade que vivenciamos. A afirmação da Organização Mundial da Saúde – OMS de que a pandemia é uma onda única exige novos comportamentos. O alerta da organização também destacou que os países precisam controlar melhor a doença internamente, e que as fronteiras precisam ser abertas entre países.

Prejuízos à Espanha

As recentes medidas de viagens do Reino Unido para com a Espanha (de impor quarentena de 14 dias) acabaram com as férias de muitos espanhóis. Isso também prejudica demais a imagem da Espanha e diminui sensivelmente futuras reservas de viagens durante o verão. França, Bélgica e Alemanha também desaconselham viagens a algumas regiões da Espanha. Para piorar, uma declaração polêmica de um porta-voz do governo espanhol que agradeceu aos belgas por não virem à Espanha gerou indignação nas lideranças do turismo.

Tudo isso depois de um grande esforço do país em campanha para atrair visitantes europeus (veja aqui sobre essa campanha) e da organização em torno de medidas sanitárias. É claro que governo e empresários desaprovaram as medidas, que segundo eles não foram baseadas em fatores sanitários, já que muitas regiões da Espanha não estão com aumento de casos. Ações de empresas de turismo e da aérea AIG despencaram com os fatos.

Balde de água na confiança

Eu fiz esse histórico aqui para refletirmos sobre como uma única medida, unilateral, colocada em vigor imediato, acaba impactando de forma mais ampla uma importante atividade como o turismo. Também, para lembrarmos da importância da preparação de porta-vozes e da comunicação unificada para a imagem de um destino. Essas ações minam diretamente a confiança nas viagens, não somente daqueles que viram frustradas suas férias, mas de todos aqueles que voltam a se planejar para futuras escapadas. Já falamos aqui o quanto a volta da confiança nas viagens é importante, e também na imensa importância que a cooperação e coordenação entre países pode significar. Na verdade o mundo precisaria cooperar muito mais em todo o cenário da pandemia, em diversos aspectos.

Imagina por outro lado, como ficam empresas e colaboradores que se preparam há meses com protocolos e divulgação de seus cuidados para receber os hóspedes. Os destinos e autoridades sanitárias também fizeram mudanças substanciais e investiram em medidas para prevenir o contágio e garantir uma experiência mais segura aos visitantes. E se isso tiver um efeito dominó para outros países ? Ficam a frustração e os enormes prejuízos, somados à justa preocupação com a segurança das pessoas, e mais ainda a necessidade urgente de diálogo e cooperação entre países. Os cuidados com a vida em primeiro lugar e a cooperação como forma de enfrentamento conjunto do vírus que não tem nacionalidade.

Por que a grama do outro é mais verde?

Photo by Yuriy Bogdanov on Unsplash

Como um país recebe tantos visitantes internacionais? Quais são os fatores que o levam a sempre melhorar, evoluir, inovar? Na minha visão um dos principais “segredos”, é ter um caminho traçado de longo prazo, saber aonde se quer chegar, o que fazer, como, em que mercados; ter um mercado atuante e líderes comprometidos. Não se pode parar, nem mesmo diante de uma pandemia. Não parece ser segredo, e sim profissionalismo e continuidade inovadora.

Uma das formas de aprender é observar os caminhos encontrados pelos outros, algo que faço sempre em minhas pesquisas e análises no setor de turismo. Acabei de ver um desses exemplos com as ações de marketing anunciadas essa semana pela Espanha para a indústria de viagens. Eles não lançaram somente uma nova plataforma (veja aqui mais detalhes do conceito técnico) e uma nova campanha de marketing, eles seguem no rumo adotado há dezenas de anos para se posicionar como destino turístico e fazem as devidas adaptações ao atual cenário. A marca turística deles não é só uma logo, a mesma logo há décadas, é um posicionamento de mercado que está sempre sendo aprimorado.

Marca turística da Espanha

Desde o início da pandemia venho acompanhando os estudos da Turespaña sobre os mercados emissores de turistas internacionais para aquele país, sempre analisando diversos aspectos tais como situação da pandemia, tendências de comportamento, medidas sanitárias, imagem da Espanha no mercado, restrições de mobilidade, cenário econômico, dentre outros fatores. São 32 mercados monitorados; isso se chama inteligência de mercado.

a nova mensagem

Com esses dados, estudos e planejamento em cada etapa da pandemia, restabeleceram a estratégia para atrair turistas europeus tendo a Espanha como sua segunda casa, já que estes retornam diversas vezes ao país. Sabem quem são seus atuais clientes, como se comportam, o que desejam e traçam uma comunicação assertiva. A mensagem é de um destino seguro e que já chegou o momento de voltar a visitar o país; a campanha se chama “back to Spain” (de volta à Espanha). Os diversos vídeos e conteúdo falam em voltar à história, voltar aos sabores, voltar à natureza, dentre outros. Você pode ver aqui no canal da Turespaña.

Durante o período da pandemia, o país não desapareceu da mente dos consumidores, já havia lançado a campanha com mensagem de que quando tudo passasse, a Espanha estaria esperando pelas pessoas: Espanha de Espera (vídeo). E no Brasil? O que estamos fazendo ?

2,8% dos espanhóis buscam pelo Brasil

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Um levantamento inédito da empresa Fowardkeys sobre as viagens intercontinentais do espanhóis mostra seu comportamento em reservas antecipadas e buscas em 2019 e para o primeiro semestre de 2020.

Segundo a empresa, em 2019 o turismo emissivo espanhol cresceu somente 1,3%, e para o primeiro semestre desse ano as reservas feitas de forma antecipada estão 1,2% menores do que no mesmo período do ano passado. As Américas foram o continente preferido das viagens dos espanhóis em 2019, com 53% do total de reservas, mas o crescimento em relação a 2018 foi somente de 0,9%.

Já os dados de reservas antecipadas para o primeiro semestre de 2020 estão 5,7% menores do que no mesmo período de 2019, justificados pelos problemas por que passam diversos países sulamericanos como Argentina, Bolívia, Chile e Equador. Esse indicador é ruim para todo o continente, já que no imaginário das pessoas a situação em toda a Latino-América pode ser similar, então as reservas já estão sendo feitas para outros destinos.

Quando se trata de buscas, nesse mesmo primeiro semestre de 2020, em relação a 2019, os EUA têm 26,1% do total, a Argentina 4,3, o Brasil 2,8% e e a Colômbia 2,7% do total de buscas. Ou seja, a recuperação econômica e os ajustes dos problemas sociais na América do Sul são condições fundamentais para aumentar o número de visitantes espanhóis e certamente de outros ligares do mundo. O investimento na imagem do Brasil e em sua promoção no mercado espanhol são condição essencial para aumentar o fluxo e o gasto destes em nosso país e aproveitar as oportunidades do aumento da oferta de voos diretos ao Brasil.

Um ano repleto para a Espanha

Em 2017, a Espanha foi o segundo país mais visitado do mundo, ultrapassando os Estados Unidos e ficando atrás apenas da França, segundos as informações do Ministério do Turismo . Os dados já eram previstos no fim do ano passado, mas se confirmaram esse mês, quando se fechou o balanço total do ano.

A Espanha recebeu, em 2017, 82 milhões de turistas, 9% a mais do que o ano de 2016. O número é um recorde para o país e injetou na economia espanhola 87 bilhões de euros, 12% a mais do que em 2016; o setor já representa 11% da economia do país.

Terrorismo

Apesar de ter sido alvo de terroristas no mês de agosto, a Catalunha permanece sendo o principal destino do país. A região recebeu 18,2 milhões de visitantes o que equivale a 23% do total dos turistas visitantes, de acordo com o El País.

Overtourism

A Espanha também enfrentou e ainda enfrenta o fenômeno do overtourism, principalmente na cidade de Barcelona. A superexpansão do Turismo no país, gerou diversas manifestações dos espanhóis no ano passado, quando a insatisfação com o aumento do número de turistas e com os resultados dessa visita eclodiu.

Novas rotas

A Espanha ocupa o terceiro lugar da lista dos 15 países com maior número de novas rotas aéreas no ano que passou de acordo com análise do portal anna.aero.

Os Estados Unidos ficam na primeira posição do ranking como país predominante no lançamento de novas rotas em 2017 e a Alemanha em segundo lugar. Segundo o ranking, a Espanha está no ranking dos 3+ por ter lançado 425 novos serviços aéreos em 2017. No mundo inteiro, foram lançadas ao todo 3.524 novas rotas aéreas.

Principalmente desde a década de 90 a Espanha investe pesadamente no seu Turismo e no turismo das suas cidades. Obviamente, barreiras se apresentam e é necessário um controle maior da expansão do setor e uma visão até mais holística a respeito das esferas as quais o setor está ligado (social, econômico, ambiental etc.), porém a Espanha colhe frutos de plantações antigas no Turismo, tanto positivamente, quanto negativamente. A experiência da Espanha no Turismo (só em 2017, o país passou por diversas situações em que foi necessário o monitoramento de perto) nos ensina a respeito de projetos de Turismo a longo prazo, confiança no setor e gerenciamento de crises. A indústria é uma só e devemos aprender com acertos e erros a desenvolver o nosso próprio Turismo.

Seguimos acompanhando o turismo pelo mundo.

Entre o terrorismo e a renovação do turismo

Envolvidos com o turismo ou não, todos temos acompanhado a onda de terrorismo que vem se interpondo entre disputas políticas, econômicas e socio-culturais na Europa.

O último atentado, cujo alvo foi a cidade de Barcelona (um dos destinos mais visitados do mundo inteiro), foi o 7 deste ano no continente europeu e o mais recente de uma série ataques à Europa ao longo dos últimos dois anos.

O turismo é a indústria da paz. É sobre receber o que vem de longe, abraçar o desconhecido, aceitar o incomum e se surpreender com o novo.

Nesta segunda-feira (21), cerca de 1300 membros da comunidade muçulmana manifestaram-se nas ruas de Barcelona para condenar “a barbárie e a insanidade” alavancadas por ataques terroristas. A mensagem é clara: é importante que haja separação do islamismo como religião do terrorismo religioso. A questão social que se apresenta é também um dos pontos a serem considerados.

Barcelona, que já atravessava um momento delicado no turismo, terá de lidar com as consequências do imprevisível, assim como fizeram outras cidades atingidas por ataques, como Paris, por exemplo. O desempenho do setor, tão importante para a economia da cidade (representando 12% do PIB), terá que ser acompanhado ainda mais de perto.

Já comentei aqui no blog o quanto é espantoso que, diante da evolução das relações pessoais, tecnológicas e diplomáticas, ainda precisemos discutir terrorismo e soframos com as consequências dos ataques. Em contrapartida, o Turismo é uma das formas mais consistentes de se combater a intolerância, os preconceitos e de respeitar as diferenças.

Tourists, go home!

Já abordei aqui no blog, no artigo intitulado “A visita indesejada”, a questão da “superexpansão” do Turismo na Espanha: a insatisfação dos moradores de Barcelona com o crescimento do número de visitantes na cidade. No país, e principalmente em Barcelona, o sentimento anti-turismo eclodiu quando manifestações dos moradores locais em ruas de cidades espanholas atraíram a atenção da mídia.

Nas Olimpíadas de Barcelona em 1992, a reputação da cidade como destino cresceu. O governo nacional, regional e local investiu fortemente na infraestrutura turística; conexões de voo de baixo custo proliferaram; o terminal de cruzeiros cresceu. Barcelona é uma das cidades que mais recebe visitantes no mundo e uma das primeiras se levarmos em conta a relação número de habitantes/número de turistas. Na cidade em que moram 1,6 milhão de pessoas, 32 milhões de turistas fizeram visita, em 2016.

Com motes como “Turistas, vão para casa!”, essa oposição ao crescimento da indústria tem se mostrado um sentimento coletivo e advém de algumas consequências da recepção desgovernada de turistas: aumento acelerado do custo de aluguéis, imóveis, comida, serviços e bens de consumo. Viagens corriqueiras de moradores locais (ao mercado do bairro ou ao cinema, por exemplo) que anteriormente duravam 20 minutos, são feitas em uma hora, devido número de visitantes que é 20x maior do que o da população.

Na Espanha, emergem outras preocupações quanto a qualidade de empregos do setor, taxa de crescimento da hospedagem e número de visitantes por dia. Em vista disso, o governo vem tentando ajustar o crescimento do turismo, sem degenerar o setor na cidade, já que 12% do PIB de Barcelona vem do turismo.

Mas como e quando deve-se agir a fim de controlar a entrada de visitantes? Entre tantos benefícios do crescimento do setor em um destino, deve haver um limite de expansão para o turismo? Quando a comunidade assume o setor como uma ameaça, de que maneira os gestores e políticos devem responder?

Barcelona se depara com o desafio de gerenciar uma cidade turística, o que é bem diferente da gestão do turismo em uma cidade. Este não é um desafio que será resolvido com medidas de curto prazo. A solução exigirá um pensamento estratégico de longo prazo e, por ter se tornado um problema comum dos habitantes locais, deverá basear-se em uma ampla consulta comunitária.

A demanda demasiada pode parecer, à primeira vista uma maravilha, mas torna-se um problema quando não há controle ou planos de ação que monitorem seus resultados. Sua solução exigirá imaginação e determinação por parte de formuladores de políticas e indústria que já se organizam para liderar o assunto, já que setor é indispensável ao desenvolvimento do país.

Destinos para celebrar a 7ª temporada de Game of Thrones

Com a estreia da 7ª temporada de Game of Thrones neste mês e a crescente popularidade da série (alcançou inacreditáveis 25 milhões de espectadores em todo mundo), muitos destinos têm se tornado populares por serem locações, inspirações ou se encaixarem nos retratos das filmagens da série. Nos nove países em que já foram gravadas cenas do show, fãs de todos os países visitam lugares que são a representação das terras e reinos onde a trama acontece. Veja a lista dos destinos que fazem os espectadores experimentarem um pouco das paisagens de GoT:

Islândia – Onde as terras geladas retratadas em “condições extremas” são filmadas. É na Islândia que foram gravadas as cenas “além da muralha”, território dos temidos White Walkers. E é dentro do Parque Nacional Snæfellsjökull que está localizada a região glacial de Frostfang Mountains, cordilheira de território selvagem, na série.

Croácia – Território de clima mais quente, foi palco de diversas cenas icônicas da série. Somente na cidade de Dubrovnik, a mais visitada do país, é possível passear por marcos como King’s Landing, Qarth e Slaver’s Bay. O centro histórico da cidade, lugar da ”caminhada da vergonha”da Rainha Cersei, parece ter saído de contos medievais e é fácil para o fã da série se identificar com o clima das cenas.

Espanha – A cidade espanhola de Sevilha é a localidade que retrata o cenário de Dorne, um dos mais belos da quinta temporada. Já em Colonia del Sacramento, é possível visitar a Plaza de Toros, um anel de touros ainda ativo onde foi retratado, na série, o poço de combate de Meereen.

Irlanda e Irlanda do Norte – Outras localidades onde diversas cenas icônicas dos personagens principais foram gravadas. Na conhecida lha Esmeralda, o elenco e a equipe da série poderiam ser encontrados gravando em Winterfell, Castle Black, High Hall of the Eyrie, o Great Sept of Baelor, todos filmados ao norte da cidade de Belfast.

Em todos estes destinos há passeios específicos para promover vivências inspiradas pela famosa série. São pacotes criados especialmente para atrair visitantes-fãs. Assim, o show-business e o Turismo encontram-se e fazem de um espectador um turista!