o que o mundo pensa do Brasil?

Minha preocupação segue cada vez maior quando se trata da imagem do Brasil no cenário Internacional, especialmente para o setor de viagens e turismo. A cada dia que avança em 2021 vai ficando mais lenta e complexa a vinda de estrangeiros para nosso país e as restrições de viagens dos brasileiros ao exterior.

São muitos os fatores que influenciam a percepção de um país mundo afora, e em cada lugar essa imagem também é bastante difusa. Fui buscar algumas informações no relatório anual sobre as marcas mais valiosas e mais fortes entre países, e encontrei informações importantes que podem nos ajudar na reconstrução do turismo brasileiro no cenário mundial. Esse relatório foi feito pela Brand Finance e reflete a opinião que as pessoas tinham do Brasil em 2020. É uma análise do soft power:

A habilidade de um país de influenciar as preferências e o comportamento de vários atores no cenário internacional (estados, corporações, comunidades, públicos, etc.) por meio da atratividade e não da coersão”. Parul Soni – Associate, Brand Finance.

Adivinha qual é o ponto mais forte e mais relevante do Brasil apontado pelo relatório? “Um grande lugar a ser visitado”. Essa é a única métrica que o estudo destaca para nosso país. São justamente os fatores importantes para o turismo, ligados a cultura e patrimônio que são os mais positivos para os estrangeiros, tais como: um estilo de vida atraente, influência nas artes e no entretenimento, gastronomia e liderança nos esportes. Os países que mais percebem o Brasil como “um grande lugar a ser visitado” são aqueles do sul da África, os Estados Unidos, e México, Portugal e o Japão.   Se o Brasil for comparado com o país mais bem posicionado nesse tema, tivemos uma pontuação 6,8 enquanto o primeiro colocado teve uma pontuação 8.2 (o relatório não indica qual é esse país).  

Outros itens relacionados ao povo e aos seus valores colocaram o Brasil num bom posicionamento mundial. Dois aspectos se destacam: o país mais bem pontuado no estudo como considerado “amigável” teve pontuação 5,6, e o Brasil teve pontuação 5. Também o país melhor pontuado no quesito “divertido” teve pontuação 5 e o Brasil teve pontuação 4,6. 

Os aspectos em que o Brasil teve a pior pontuação são aqueles relacionados à governança que são:

– politicamente estável e bem governado 

– respeito às leis e aos direitos humanos 

– altos padrões de ética e baixa corrupção 

– segurança e proteção

– líderes respeitados

Veja na imagem abaixo o ranking de 30 países dos 100 avaliados pela Brand Finance.

O melhor do Brasil ?

IMG_64875 bilhões de pessoas acompanharam a cerimônia de abertura dos Jogos Rio 2016 ao redor do mundo, e o Brasil brilhou.

Foi uma festa brasileira, carioca, humana, alegre e com um público emocionado. A repercussão internacional no dia seguinte foi muito positiva, mostrando aspectos já conhecidos do Brasil, mas destacando a alegria, a música e o jeito carioca e brasileiro como autênticos, sem igual. Esse foi um passo e um momento importante em relação à imagem geral que o evento vai deixar para a imagem do Brasil. Claro que teremos muita coisa pela frente, fatos esportivos, políticos, e coisas que não imaginamos vão acontecer e repercutir. Ao final, faremos um balanço, o que ficou de fato.

O mais importante, que vi na abertura e no Rio esses dias, apesar de alguns problemas (que não vou comentar aqui), as pessoas estão amando a cidade, curtindo os Jogos, não faltam informações gerais sobre a cidade e aspectos de deslocamento e sobre o turismo. A experiência daqueles que estão vivendo os jogos é positiva, novas mensagens, valores e o espírito olímpico trazem esperança e renovação de desejos de paz.

O que ficou de lição da abertura? Os brasileiros acreditam no Brasil, os brasileiros têm uma força que brotou na sua origem de miscigenação que traz à tona os melhores sentimentos e uma vontade imensa de mudar seu país.

Pra mim, a mensagem que ficou: ACREDITAMOS MAIS EM NÓS, BRASILEIROS. O melhor do Brasil para o mundo? Os brasileiros, claro!

30 dias, depende de que(m) ?

Há sete anos, parecia estar longe a data de início dos Jogos Rio 2016. Mas só faltam 30 dias.

Como no período que antecedeu a Copa do Mundo FIFA, em realidades diferentes, muita especulação e muitos problemas reais. No caso da Copa, a sensação que tenho é de que mexia mais com os brasileiros, afinal era futebol, tínhamos 12 cidades sede, com temas que pareciam mais perto de nossa gente. Agora, os cariocas parecem sentir mais de perto a pressão, no entanto, também me parece que a dimensão para nosso país é tão grande ou maior do que aquela de 2013 ou 2014.rio 30 dias

O cenário econômico e político estão mais deteriorados; os problemas, tais como segurança ou Zika virus, além de serem nossos, também afetam as pessoas que participam do evento. E a repercussão internacional para a imagem do Brasil é maior nos Jogos Olímpicos do que na Copa; além disso, os temas negativos se somam àqueles divulgados em 2013 e 2014, tornando mais complexa a percepção que o mundo tem de nosso país.

Como mencionei em seminário realizado pela CNC e pelo jornal O Globo antes do início da Copa, podemos dizer que teremos três tipos de repercussão do que vai ocorrer nos Jogos; e irá depender fundamentalmente da experiência de quem vier para cá. A primeira é aquela das pessoas que estarão longe, vendo pela TV, pela internet e acompanhando as notícias sobre o Brasil; essa será impactada pelo sucesso da cerimônia de abertura, dos fatos e acontecimentos no período dos jogos, assim como da forma como cada nacionalidade já vê o Brasil e irá receber as diversas mensagens. A segunda, aquela das pessoas que virão ao Brasil, como atletas, jornalistas, formadores de opinião, e depois vão contar suas histórias em seus lugares de origem; colaborando assim para falar (bem ou mal) de sua experiência, levando mensagens indiretas sobre suas experiências. E a terceira, aquela que me parece a mais promissora, tal qual na Copa, a experiência em si das pessoas no Rio e no Brasil que será vivida e compartilhada de forma instantânea nas redes sociais; essa última, irá retratar a emoção, a hospitalidade, a riqueza da cultura e da natureza do Brasil.

Os destinos turísticos brasileiros podem, ainda, por meio de suas estratégias digitais, aproveitar a visibilidade do Brasil e divulgar seus atrativos e produtos, utilizar o Media Center no Rio e tantas outras ferramentas para espalhar conteúdos de qualidade e positivos sobre o Brasil.

Vamos acompanhando e aproveitando o que resta de oportunidades.

Qual marca?

marca BrasilCidades, estados e países sabem da importância do turismo para sua economia, a geração de empregos e atração de investimentos. Mas ao final que tipo de promoção e imagem de um destino se constrói para ganhar reputação e credibilidade ? Certamente não é aquela que muda de slogans, lança campanhas e muda marcas a cada novo governo ou mesmo em curtos períodos de tempo.

Marcas se constroem ao longo do tempo, são investidos recursos públicos em lançamentos, eventos, publicidade e estratégias de comunicação. Mas isso, vem com o tempo. A marca Espanha tem mais de 30 anos e está regulamentada por lei nacional, tendo um grupo de alto nível para preservar os princípios da imagem do país e sua marca. Os slogans como os da Índia (Incredible India) ou da Malasia (Truly Asia) são mensagens que ao longo do tempo foram consolidando a imagem desses países e atraindo milhões de visitantes. Por que? Têm um posicionamento de longo prazo, não jogam dinheiro fora lançando novos slogans ou marcas.

Um dos aspectos mais importantes sobre as marcas de destinos políticos, é a compreensão de que elas são o resultado de uma estratégia de posicionamento, e não um adereço publicitário ou uma peça de design. Marcas de destinos turísticos ou de lugares retratam mensagens, cores, e precisam de tempo e investimentos publicitários e de comunicação para dar resultados e representar a reputação de um país ou lugar.

Em tempos de Jogos Rio 2016, ou quando diversos destinos no Brasil se organizam em campanhas ou mensagens, vale a reflexão sobre qual seu posicionamento de longo prazo, se é que ele existe; como ele está sendo preservado ou trabalhado de forma a acompanhar as mudanças rápidas de mercado e como atores privados e públicos se complementam em seus papéis na formação da imagem e da reputação de seus lugares.

receita +13%, gastos -43%

change-1-1563676A receita e a despesa cambial do turismo brasileiro em 2016 mostra comportamento diferente nos primeiros meses de 2016 em relação a 2015. Na verdade o ano passado foi totalmente atípico, pois comparado a 2014, ano de Copa do Mundo, alterou o comportamento em relação aos anos anteriores. Tanto receita como despesa foram negativos no acumulado de 2015, mostraram retração de -14,59% e de -32,11% respectivamente.

O primeiro trimestre do ano mostra aumento de receita e diminuição do gasto, esse último motivado principalmente com a alta da moeda americana e do euro e pela crise econômica do Brasil que reduziu o emissivo nacional (assim como os gastos dos brasileiros no exterior). Os gastos dos estrangeiros no Brasil tiveram aumento de 12,72% nos três primeiros meses do ano, com destaque para janeiro e fevereiro que chegaram a quase 15% cada. Já a despesa, ou seja, os gastos dos brasileiros no exterior tiveram uma retração de 43,21%, também com as maiores quedas nos meses de janeiro e fevereiro (meses tradicionais de férias dos brasileiros).

Esse cenário vem acompanhado de pouca atividade de promoção do Brasil no exterior, seja pelas frequentes mudanças no comando do turismo nacional ou pelo orçamento reduzido; e também pelo desinteresse dos mercados internacionais no emissivo brasileiro, que diminuiu de tamanho e, sobretudo de gasto. Um cenário ruim porque diminui a atividade de entrada e saída do país e reduz os resultados de médio e longo prazos.

O cenário ainda é ruim do ponto de vista da balança comercial, mesmo com números positivos de receita, a chegada de estrangeiros ainda é tímida e a imagem do Brasil no exterior está bastante abalada pelo cenário político, econômico e ainda com os reflexos do zika virus. Sem mencionar a inexistência de estratégia para aproveitar os Jogos Rio 2016 para a projeção de aspectos positivos do turismo e da cultura nacional.

Tocha: qual chama?

Faltam exatamente 155 dias para o início dos Jogos Rio 2016, em 3 de maio a Tocha Olímpica começa a percorrer o Brasil passando por 335 lugares.

No histórico e preparação dos Jogos, o Tour da Tocha é sempre um dos momentos mais importantes para a visibilidade do país anfitrião, e ainda mais para mostrar além da cidade sede, apresentar a cultura, a alma de cada destino e as belezas naturais que podem favorecer o turismo. É um ponto alto de visibilidade do país internamente, e sobretudo para o mundo.

Tenho certeza que a experiência do Tour da Tocha será inesquecível, e o Brasil tem muito a mostrar; no entanto, sem uma estratégia e mensagem de país para passar ao planeta, e num cenário extremamente desfavorável no campo da economia e da política, podemos ter resultados inesperados. Será um momento de celebração como previsto? De protesto? O destaque da imprensa internacional será para os diferenciais de cada local? Ou para os problemas ? Temos imagens, vídeos e uma estratégia do turismo dessas cidades para aproveitar esse momento? Ou a oportunidade será apenas resultado de acontecimentos espontâneos ?

Será a chama olímpica fogo amigo ?

Eventos: e a banda passando

A Copa do Mundo foi aqui. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 serão aqui em 430 dias (nossa!!!). O Brasil já atingiu seu máximo no ranking da ICCA. Minha pergunta: para onde vai o setor de eventos de nosso país? Qual a estratégia para o setor de eventos associativos, eventos esportivos e outros tipos de eventos para um país que fez tantos investimentos em infra-estrutura turística e em equipamentos para receber todos os tipos de eventos ?

Não vejo nenhum debate sobre a visão que temos do setor para daqui a dez anos, quais os próximos passos a seguir ? Como inovar e avançar no processo de captação de eventos ? Como podemos expandir políticas para os eventos esportivos? Por acaso estamos estudando o que fez a Inglaterra ou o Canadá para aprender com outras experiências? Ou também vamos jogar fora essa oportunidade?

O Brasil não teve estratégia de imagem para a Copa do Mundo, não tem para os Jogos Olímpicos, não sabemos quais as mensagens queremos passar para o Mundo. As pesquisa de imagem com os estrangeiros mostram EXATAMENTE a mesma coisa há 10 anos. E o setor de eventos, também vai ser espectador nesse cenário? Parece que estamos sentados na arquibancada vendo a banda passar, e que não temos nada a ver com o que está acontecendo.

O que aprendi com a Copa: 1 “Podemos tirar nota 10”

      Como foi apontado em diferentes estudos e matérias jornalísticas veiculadas durante e depois do Mundial da FIFA, o turismo é um dos setores mais beneficiados com a realização e o legado do megaevento. Se colocarmos o cenário na perspectiva de 2016, e no impacto que os Jogos Olímpicos geram para a imagem de um país, podemos dizer que o evento será a oportunidade de melhorar a qualidade do nosso turismo, e também de aumentar o volume de turistas internacionais que chegam por aqui. O salto no volume de visitantes estará ligado a melhorias no acesso aéreo. Além disso, as experiências de viagem terrestre entre nossos vizinhos e o Brasil podem estimular o crescimento do fluxo do continente.

     O perfil do turista que viajou para a Copa do Mundo é diferente daquele que já recebemos. Neste episódio tivemos a chance de abrir novos mercados e de receber mais comentários positivos sobre o Brasil, o que costuma influenciar as escolhas dos viajantes em potencial. De acordo com as pesquisas divulgadas após a Copa, a maioria, que estava visitando o Brasil pela primeira vez, gostou da experiência e quer voltar para explorar mais o país.

    O salto na qualidade deverá acontecer com o aprendizado da Copa, que vai impulsionar a competitividade e a melhoria de produtos e serviços públicos e privados. A diversificação da oferta turística abre espaço para novos perfis de visitantes, cujos interesses podem estar na praia, na floresta, nas atrações urbanas, nos roteiros de aventura, nos eventos ou em feiras comerciais. A qualidade virá com o aumento dos gastos, da permanência dos visitantes de lazer e de negócios, a geração de empregos e a oportunidade de novos negócios. O chamado pulo do gato, neste caso com foco nos movimentos interno e externo, deve estar no reconhecimento do turismo como uma atividade que gera divisas e empregos, e que pode mudar o perfil das pequenas empresas em todos os lugares do Brasil. Além disso, é preciso investir na qualidade dos produtos e serviços dos destinos, ter maior cooperação entre os setores público e privado, e apoiar as atividades que impulsionam o setor.

     É preciso criar uma estratégia competitiva para fortalecer a imagem do Brasil no mercado global, criando uma identidade para o país, atraindo novos investimentos e envolvendo o turismo, as empresas exportadoras, a cultura, o esporte e a diplomacia. Também é importante preparar uma mensagem única para apresentar ao mundo até 2016. A proposta deve ser mostrar quem somos de verdade, divulgando nossa imagem do nosso jeito. Desta forma evitamos especulações que possam prejudicar o país em diversos aspectos e afastar os turistas, que podem criar expectativas erradas em relação à segurança, receptividade, infraestrutura etc.

     Se para a FIFA a Copa no Brasil mereceu nota 9,25 em organização, precisamos de muito esforço, colaboração, objetivos claros, inovação e criatividade para alcançar a nota máxima, 10. Já provamos que temos condições, agora é o momento de trabalhar para atingir a meta.

O que aprendi com a Copa: 9 “povo brasileiro”

Desde que tive a oportunidade de trabalhar com a promoção internacional do Brasil durante 8 anos, tenho grande curiosidade e estudo muito sobre a imagem de nosso país, entender como ela pode ser melhorada e trabalhada de forma estratégica. Quando preparamos o Plano Aquarela em 2003, o Plano Aquarela 2020, assim como nas pesquisas que realizamos com os estrangeiros no Brasil até 2010, toda a estratégia de posicionamento do país era fundamentada em ressaltar nossos grandes ativos reconhecidos pelo mundo, e nos diferenciar por nossos valores e atributos únicos.

Pois agora, em boa hora sempre, se descobre novamente o que essas pesquisas já nos mostravam. O melhor do Brasil é o brasileiro. Matérias na imprensa nacional e internacional mostraram que a forma de receber e o jeito de viver dos brasileiros é o que mais encanta os visitantes do exterior. Depois disso, nosso setor, o turismo. Sim! Foi a qualidade e a diversidade das atrações turísticas que mais encantou os gringos. E claro, algumas coisas os surpreenderam positivamente, como a segurança, a qualidade do transporte aéreo e a qualidade do setor hoteleiro. Novamente o turismo!

Aprendi com a Copa 2014 que o melhor do Brasil são os brasileiros, e que o turismo é o setor mais beneficiado com os megaeventos esportivos, eventos associativos e culturais. Imagina nos Jogos Rio 2016.

O que o mundo pensa de nós?

A resposta a essa pergunta não está no que “achamos” que as pessoas de outros países pensam de nós. A resposta, ou indícios dela estão em pesquisas e índices elaborados para entender como os países são vistos por outros países.

Há cerca de dez anos o Brasil era pouco conhecido, e diversos motivos, entre eles o fato de estar sediando a Copa da FIFA e os Jogos Rio 2016 fizeram e ainda fazem com que os olhos do mundo se voltem para nós. E certamente estes olhos estão vendo coisas positivas e negativas.

A melhor resposta à pergunta sobre o que o mundo pensa de nós é: O que queremos que ele pense ?

Aí sim começamos a tratar de um tema complexo de forma positiva e afirmativa. Para o turismo, essa atitude é fundamental no sentido de aproveitar a oportunidade de visibilidade e nos posicionarmos. Quais as mensagens estamos passando ao mundo desde que ganhamos a disputa para sediar os eventos esportivos ? Como estamos pensando nosso marketing para depois desses eventos? Qual nossa relação com a direção desses eventos em termos de estratégia de imagem? Qual nossa relação com os patrocinadores? Enfim, eu poderia adicionar ainda muitas perguntas, mas o fato é que o Brasil precisa colocar sua opinião sobre “como queremos que o mundo nos veja” por meio de mensagens que cheguem a todos aqueles que trabalham na organização dos grandes eventos, a todos da cadeia do turismo e aos consumidores.

Afinal, somos nós, BRASIL, que temos o dever de construir nossa imagem de país.