turismo espiritual no chile

Segundo dados da Subsecretaria de Turismo e do Serviço Nacional de Turismo do Chile, pouco mais de 30.000 turistas estrangeiros chegaram ao país em 2019 motivados por motivos religiosos, o que representa 0,7% do total de visitantes. Há um consenso entre os especialistas chilenos que, embora o segmento do turismo religioso seja incipiente no mercado internacional, a realidade interna no caso do turismo nacional é diferente, dado que ao longo do ano ocorrem várias datas religiosas que motivam fluxos importantes para os destinos turísticos.

Em Arica e Parinacota, por exemplo, está a conhecida rota da Virgem de Las Peñas, famosa pela peregrinação celebrada todos os anos. Lá se encontra a Rota das Missões, geralmente focada na comuna de Camarones. Na região de Tarapacá há um circuito que acontece na cidade de Tirana todo dia 16 de julho, data em que se comemora a Virgen del Carmen, com grande número de danças e representações religiosas. Em Valparaíso, por conta de Teresa de Los Andes, beatificada em 18 de outubro de 1987, é possível conhecer Auco, capital espiritual do Chile. Já em Los Lagos é famosa a “Ruta de las Iglesias” de Chiloé que inclui 16 igrejas que são consideradas Monumento Histórico Nacional e declaradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO no ano 2000.

Embora seja reconhecido como, proporcionalmente, o país mais católico praticante da América do Sul, o turismo de fé do Chile também atinge esotéricos e pessoas em busca de autoconhecimento.

Conversamos com Miguel Quezada, do Serviço Nacional de Turismo do Chile, para entender um pouco mais sobre o turismo espiritual no país.

Há operadoras ou agências chilenas especializadas neste nicho?

Sim, na região de Arica e Parinacota a Norte Outdoor tem como foco a promoção do turismo de aventura na região e possui um circuito para Ruta Las Peñas. Já a operadora de turismo Surire Tour tem um programa completo para Tirana. A Ovitravel e LST La Serena realizam viagens para a Grande e Pequena Festa da Virgem de Andacollo. A operadora de turismo Turismo Pehuén de Castro e agencia Nativa oferecem Rota das Igrejas. No caso da Rota dos Jesuítas, o operador é Turistour.

Quais regiões do Chile têm feriados católicos que impulsionam o turismo? O que são e quando acontecem?

Na Região de Arica e Parinacota temos a Festa de la Virgen del Rosario de las Peñas, celebrada no Santuário de Las Peñas em Lívílcar.  No dia 8 de dezembro há a chamada “fiesta chica” e no primeiro domingo de outubro, a  “fiesta Excelente”. Realiza-se em um dos caminhos de peregrinação mais arriscados da América, reunindo anualmente cerca de cinquenta mil pessoas que vêm do Chile, Peru e Bolívia para venerar a imagem da Virgem esculpida na rocha viva do canion, uma antiga rota de trânsito entre Potosí e Arica.

Em Tarapacá temos a Festa de La Tirana,  uma homenagem à Virgen del Carmen e é celebrada todos os anos na primeira quinzena de julho em uma pequena cidade de mesmo nome localizada no pampa de Tamarugal, bem perto da fronteira que une o Chile com a Bolívia e o Peru. A festa de La Tirana, como a maior festa religiosa do país, é um espetáculo que todos os chilenos -e turistas estrangeiros- deveriam presenciar. Uma celebração de fé, dança e cantos em homenagem à Virgen del Carmen que dura quase uma semana inteira. 15 e 16 de julho de cada ano.

Na região do Atacama ocorre a Festa de la Candelaria, padroeira dos mineiros, que se celebra anualmente no dia 2 de fevereiro e reúne milhares de fiéis de toda a região. A festividade remonta a 1778, quando Mariano Caro Inca encontrou a imagem nas montanhas, perto da salina de Maricunga. A descoberta milagrosa atraiu peregrinos, o que motivou o pároco a construir um santuário em 1800, que foi reconstruído após um incêndio em 1922. Com o tempo, a festa tornou-se referência indiscutível da religiosidade popular da região do Atacama, e das irmandades de dança chinesa.   A Festa de los Negros de Lora remonta aos primeiros anos da Conquista, entre 1550 e 1600, depois que uma imagem da Virgem de Quito foi levada para a capela de Lora, que, segundo a lenda, desapareceu da igreja várias vezes, para depois aparecer entre as comunidades indígenas. É realizada todo mês de outubro na comuna de Licantén, setor de Lora

A Festa de San Francisco de Huerta de Maule é homenagem que o camponês presta ao seu santo padroeiro para que obtenha boa saúde e colheitas generosas, além de proteção para a família e para a comunidade em geral.  Já A Festa da Virgem do Carmo de Pelarco é uma tradicional celebração de caráter religioso que recebe todos os anos milhares de fiéis que vêm venerar a Padroeira do Chile, mas que também se tornou uma atividade turística, dado o número de visitantes que recebe e o programa de atividades que acontecem em torno desta festa que acontece todos os anos durante o mês de julho.

Hoje fala-se muito em viagens de autodescoberta, viagens transformadoras. Machu Picchu, no Peru, é muito procurada nesse quesito. Existe alguma oferta que aborde essa cosmovisão andina no Chile?

Sim. Na zona norte, por exemplo, existe uma oferta associada às populações autóctones, nomeadamente às comunidades Colla e Diaguitas.

Os astrólogos têm estudado Astronomia para sua educação. Dizem que o Chile oferece experiências fantásticas para os amantes da astronomia. Como é essa oferta astronômica?

Catalogado como “o céu mais limpo do mundo” O Chile possui uma ampla gama de observatórios astronômicos abertos ao público onde, através de tours com ênfase científica, o visitante pode conhecer o Universo através de modernos telescópios.No entanto, na zona norte do Chile, foram desenvolvidas experiências de astroturismo ligadas à natureza, com caminhadas no mar de dunas sob a luz da lua cheia, fogueiras astronômicas e observação do cosmos a olho nu no meio do deserto.

Existem viagens de autodescoberta no Deserto do Atacama?

O Deserto do Atacama é um cenário ideal para viagens de autodescoberta, desde as paisagens, as cores, o silêncio, a grandeza da natureza e a “solidão” que se vive, por exemplo, no mar de dunas da Região do Atacama. À medida que o deserto é descoberto, as pessoas que visitam o Chile percebem que o “lugar mais seco do mundo” é um lugar cheio de vida.

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Ricardo Hida

Doutorando, Mestre em Ciência da Religião e pesquisador da PUC-SP em Turismo religioso, é escritor e professor. Graduado pela FAAP e pós-graduado pela Casper Líbero, trabalhou na Air France, Accor, Atout France e hoje dirige a Promonde, consultoria de marketing e comunicação. Escritor, está à frente também do Fórum de Turismo e espiritualidade. Foi em uma viagem de imprensa a Lourdes, na França, na época em que era diretor adjunto do escritório de Turismo francês no Brasil, que Ricardo Hida compreendeu a dimensão do Turismo religioso. Ao voltar para São Paulo, foi conhecer mais sobre esse universo que movimenta milhões de viajantes a cada ano em todo o mundo, há muitos séculos. Romarias, peregrinações, retiros. Não importa a tradição, o segmento não para de crescer.