Em 2022 eu fiz o circuito da música, no sul dos Estados Unidos, e explorei tanto a capital mundial do blues, Memphis, quanto a do jazz, Nova Orleans. Mas esses dois ritmos também fazem parte da história de Chicago, cidade eleita em fevereiro a melhor metrópole dos Estados Unidos pelo sétimo ano consecutivo pelos leitores da Condé Nast Traveler.
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O jazz era a trilha sonora dos famosos bares clandestinos de Chicago nos anos 20, época da Lei Seca, que proibia a fabricação, transporte e vendas de bebidas alcóolicas nos Estados Unidos. Essa história, na cidade do Estado de Illinois, se confunde com a do famoso gângster Al Capone.
Já o blues entrou em evidência na cidade nos anos 40 e 50 e teve como principais expoentes à época o lendário Muddy Waters e sua gravadora, a Chess Records. Aliás, é possível visitar a gravadora para entender sua história e também saber mais sobre o blues em Chicago.
Uma curiosidade: a Chess Records já esteve na tela dos cinemas. Sua história, que inclui também as origens do rock and roll – por meio de Chuck Berry, no fim dos anos 50 -, foi mostrada no filme “Cadillac Records”. Com Adrien Brody (Leonard Chess, dono da gravadora), Beyoncé (Etta James), Jeffrey Wright (Muddy Waters) e Mos Def (Chuck Berry), o longa está disponível no Max (ex-HBO Max) e para locação no Prime Video, Google Play e Apple TV.
A Chess contribuiu bastante para transformar o blues em um forte elemento cultural de Chicago, que sobrevive com protagonismo até os dias de hoje. Por isso, quem vai à cidade não pode deixar de visitar alguns dos bares locais. Dos intimistas às grandes casas de show, estão espalhados por toda a metrópole.
Visitei Chicago e estive em três bares com música ao vivo. Dois deles são dedicados ao blues e um, ao jazz. Confira as dicas.
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Blue Chicago
É o melhor – e mais divertido – bar dessa lista. A pequena, intimista e até um tanto rústica casa destoa bastante do bairro de alta renda em que está localizada, River North, que reúne os mais sofisticados hotéis da cidade, muitas lojas de luxuosas e espetaculares edifícios residenciais.
O Blue Chicago é bem escuro e tem um palco pequeno. O atendimento, tanto na entrada – que custa US$ 12, pagos na hora – quanto no bar não é dos mais cordiais. Aqui, não há aquele desespero da gorjeta típico dos Estados Unidos, nem atendimento nas mesas (convencionais e do tipo bistrô).
Você mesmo vai ao balcão pegar sua bebida – não se esqueça de comer algo antes, pois o Blue Chicago não tem cozinha. As cervejas partem de US$ 7 e o bourbon whisky, de US$ 8 (há variadas opções da bebida). O whisky escocês custa US$ 9 (o rótulo mais famoso é Johnny Walker, nas versões Red e Black).
Mas o atendimento atípico para os padrões americanos fica em segundo plano quando a banda começa a tocar clássicos do blues, que vão desde os mais conhecidos a alguns mais “lado B”. O destaque mesmo, porém, começa no segundo set, quando uma cantora passa a acompanhar a banda. O Chicago Blues é focado em vocalistas femininas, sempre priorizadas na casa.
É nesse momento que todos saem de suas mesas e cadeiras no balcão e vão para a pequena pista dançar ao som de blues tradicional e todas as suas vertentes, como soul e rhythm and blues. Impossível ficar sentado ao ouvir a música de altíssima qualidade.
Diferentemente de outros bares de blues da cidade, que abrem cedo, o Blue Chicago só recebe clientes a partir das 20h. Se quiser pegar uma mesa, é recomendável chegar nesse horário. Os shows começam às 21h, e vão até 2h30, dependendo do dia. O bar funciona de quarta-feira a domingo.
Blue Chicago: serviço
Endereço: 536 N Clark St, River North
Horários: quartas às sextas-feiras e domingo – 20h à 1h30; sábado – 20h às 2h30
Entrada: US$ 12 (não é possível fazer reserva)
Não aceita cartões; apenas dinheiro
Green Mill Cocktail Lounge
Fica em Uptown, um pouco afastado da região central de Chicago. De River North, onde eu fiquei hospedada, são entre 15 e 20 minutos de táxi – uma boa distância em uma cidade na qual se faz quase tudo a pé. Mas o local merece ser visitado, pois trata-se do mais antigo bar de jazz em Chicago ainda em atividade, nascido durante a época da Lei Seca.
O local era um bar clandestino (chamado nos EUA de speakeasy) e frequentado pela turma de Al Capone. Em 1933, a proibição às bebidas alcóolicas nos EUA foi encerrada. A partir de então, o Green Mill passou a receber nomes que se tornaram os maiores da história do jazz, como Louis Armstrong e Billie Holiday.
O ambiente é fiel às origens. No Green Mill, você se sente transportado aos anos 20 e 30. Há mesas, mas também dá para sentar no balcão. Os sets de jazz são de altíssima qualidade, e vão das 20h a 00h.
Porém, é recomendável chegar bem antes, pois o bar abre às 16h (todos os dias). Meu grupo chegou às 18h, e conseguiu pegar a última mesa – distante do palco, e sem nenhuma visibilidade, pois muitos ficam de pé à frente. Logo, o bar lotou, e se formou uma enorme fila na porta – situação que é recorrente, segundo relatos.
O ideal é ir em duas pessoas, ou um grupo pequeno, de no máximo quatro. Isso porque, assim, aumentam as chances de conseguir uma mesa mais à frente, o que é o ideal. Além disso, não é recomendável para grupos grandes, pois conversas não são toleradas uma vez que os sets começam.
Há atendimento nas mesas e no balcão mas, como o Blue Chicago, o Green Mill não tem cozinha. As cervejas partem de US$ 6 e o whisky (há rótulos americanos e europeus) de US$ 7. O bar tem também uma interessante carta de coquetéis (preços a partir de US$ 10). A entrada custa US$ 15.
Green Mill: serviço
Endereço: 4802 N Broadway, Uptown
Horário: todos os dias da semana, das 16h à 1h
Entrada: US$ 15 (não é possível fazer reserva)
Não aceita cartões, apenas dinheiro, mas há um caixa eletrônico dentro do bar
Buddy Guy´s Legends
Considerado um dos melhores bares de blues de Chicago, o Buddy Guy’s Legends leva o nome de seu proprietário, uma das maiores lendas da história do blues. Aliás, dizem que, em janeiro, o próprio Guy costuma aparecer constantemente, e dar uma canja no palco.
O ambiente destoa do dos outros dois bares, que são mais intimistas e pequenos. O Buddy Guy’s é grande, repleto de mesas e lembra uma típica lanchonete americana dos anos 50. No corredor de acesso aos banheiros, estão expostas fotos de muitas lendas do jazz. No bar, guitarras desses artistas – inclusive Eric Clapton, que já chegou a cantar no palco da casa.
O Buddy Guy’s também é restaurante, mas não há nada de muita qualidade. Hambúrgueres e frango frito são os destaques do cardápio. As bebidas são um pouco mais caras que nos outros dois bares, com whisky partindo de US$ 10 e cervejas, de US$ 8 – há também variados tipos de chopp, e muitos coquetéis.
A casa vende ingressos antecipadamente online – mas dá para chegar e comprar na hora, desde que não seja muito tarde e o bar já esteja lotado. Por todas essas características, o Buddy Guy´s é o mais turístico dessa lista. Há enormes grupos de pessoas que estão em Chicago a negócios ou em uma das muitas convenções sediadas na cidade.
Isso acaba atrapalhando um pouco, pois nota-se que boa parte do público não é apreciadora da música, e tende a ser barulhenta demais. Mas a música é de qualidade. Três bandas se apresentam por noite. O blues é a alma do Buddy Guy’s, mas há espaço também para ritmos como soul e até country.
Buddy Guy’s Legends: serviço
Endereço: 700 S Wabash Ave, Downtown/The Loop
Horários: quartas-feiras a domingo, das 17h à 1h
Entrada: US$ 15 (online) ou US$ 25 (adquirido na hora)
Aceita cartões de crédito
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