Viagens são compostas por detalhes tão mínimos que sonhar com férias perfeitas, sem uma pedrinha no caminho que seja, beira o absurdo. Transporte, alimentação, hospedagem, segurança, saúde, clima… são tantas as variáveis que é quase certo que algum errinho vai rolar em um mês num lugar completamente novo pra você.
A questão aqui é saber dançar conforme a música, conseguir minimizar prejuízos e, principalmente, não deixar os problemas atrapalharem o resto da viagem.
Isso rolou comigo na semana passada. Este post era pra ser um relato da procissão Ecce Homo, que anualmente acontece em Braga nas quintas-feiras que antecedem a Páscoa.
A caminhada se dá no meio da noite e percorre as vias que ligam importantes igrejas da cidade. Dentre os participantes, trajados como romanos do século 1, se destacam os emblemáticos farricocos, penitentes que desfilam com suas longas vestes negras (complementadas por um capuz que deixa pouco mais que olhos à mostra).
Este era o cenário que não vi. A previsão meteorológica já havia me alertado para a chuva constante durante todo o dia. Ainda assim resolvi ir, tomei o comboio no Porto (estação Campanhã) e 1 hora e € 6,90 (ida + volta) depois eu estava em Braga.
De fato a meteorologia estava certa (dessa vez). Com algumas horas livres antes do início da procissão, marcado para as 21h30, enfrentei a chuva por vezes torrencial para visitar a Sé de Braga (catedral mais antiga de Portugal, construída no século 12) e o Santuário de Bom Jesus do Monte.
Já próximo do horário, me aproximei da igreja da Misericórdia, de onde partiria a procissão, e aguardei. A movimentação era grande, as pessoas fantasiadas chegavam, os espectadores ultrapassavam as centenas, claramente esse era uma dia importante para a comunidade local.
O horário estipulado já era passado, as informações eram escassas e uma espécie de debandada se desenhava – sem que a procissão tivesse existido. Cancelada pela chuva foi a resposta de policiais, decretando o fim da minha visita a Braga.
Como moro em Portugal, mais especificamente a 60 minutos de trem da cidade, fica muito fácil falar em “contornar obstáculos”. Eu simplesmente tomei um trem mais cedo e logo já estava em casa.
Em uma viagem de férias, com um cronograma apertado, eventos assim podem ser o detalhe a fazer você odiar um lugar que, em outras circunstâncias, amaria. Acreditem, essas coisas acontecem – e não são o fim do mundo.
Por mais que a gente queira, é impossível ter controle sobre absolutamente tudo que vai acontecer durante uma viagem. Obviamente que não devemos aceitar quando um serviço prometido não é devidamente oferecido (seja no voo, no hotel ou no restaurante), mas quando este não é o caso, se martirizar é o pior cenário.
Ainda restam dias de férias e destinos a visitar? Então deixa pra trás o que foi ruim e curta o que lhe resta. Quem sabe um desses episódios negativos não viram motivo de risada no futuro?
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Puxa !!! É realmente chato um imprevisto desses, mas como vc disse vida que segue e “a viagem também”!!! Muito boa a matéria, não sabia dessa tradição em Braga. Anotado aqui para uma próxima.
grato abs
Paulo
Renato, vivi uma situação semelhante em março. Escolhi a dedo a rota de uma travessia transatlântica Brasil/ Europa tendo a ilha de Malta como uma das principais motivações. Sempre tive vontade de conhecer Malta e, sendo Valletta uma das Capitais Européias da Cultura desde ano, me pareceu a rota perfeita. Tempestade com ventos de 100 km/h fizeram o capitão do navio abortar a parada em Malta por falta de segurança. A frustração foi grande. Ao invés de Malta, a parada foi feita em Kotor, Montenegro. A frustração inicial foi transformada em uma espetacular surpresa com a beleza desse recorte do Mediterrâneo. Foi quando entendi perfeitamente aquela frase que diz que o melhor da viagem não é o destino e sim, o caminho. Podemos nos surpreender se nos deixarmos levar pelas oportunidades que a vida apresenta.
Abraços…
Esse é o espírito, Angélica!
É óbvio que mudar planos pode ser bem frustrante, principalmente quando nos organizamos tanto previamente. Mas há coisas que fogem do nosso controle e, enfim, isso não é exclusivo do Turismo né, a vida é assim.
Que suas mudanças continuem sendo tão agradáveis quanto trocar Valetta por Kotor 😉