França: com título “Danser Encore” artistas manifestam em todo país

Danser Encore ou Dançar Novamente- Os happenings com a música do grupo HK & Saltimbanks, começaram em paralelo à ocupação de lugares culturais por associações da área da cultura no início do mês de março.

Naquele momento, artistas reagiam ao fato dos comércios estarem abertos enquanto os teatros, museus, lugares culturais e de encontros sociais permaneciam fechados.

Os artistas contestam igualmente as reformas do seguro desemprego, estremamente desfavoráveis para a classe e toda sociedade, além de pedirem garantias da volta à um estado democrático. Eles, como muitos, temem que a precariedade atual perdure ou piore com o arrocho previsto graças à reformas governamentais recentes.

Após as ocupações, o governo anunciou um auxílio extra de 20 milhões para a área da cultura.

Teatros e lugareis culturais estão fechados desde outubro 2020

Mesmo se a grande maioria dos locais invadidos já foram evacuados, a música virou um hino de muitos artistas e os happenings ou flashmobs seguem acontecendo em meio a pandemia.

Esses artistas são almas livres ou irresponsáveis?

Questionado quanto ao respeito das normas sanitárias durante uma de suas apresentações, o artista HK respondeu que a aglomeração ao ar livre não se compara com as aglomerações em meios de transporte obrigatórias para muitos trabalhadores.

Se são irresponsáveis, não sei. Só sei que me emocionei tanto que não consegui me preocupar com tal polêmica.

Fiquei não somente emocionada pelos problemas que vivem todos aqueles que, como eu, estão sem atividade há mais de um ano, mas também pelo fato desses artistas desesperados ignorarem que a Covid-19 justifica a cessação dessas atividades (Perdoem, eles não conhecem as conseqüencias das variantes mais perigosas existentes). Chorei pelas nossas fronteiras fechadas.

E sobretudo, foi impossível não me identificar com esse desejo de dançar entre amigos, de sentir um abraço, de ser livre.

As letras mudam às vezes , transmitindo os desejos e preocupações de cada grupo de artistas. Algumas letras e apresentações são realmente tocantes, como dos artistas Les Derniers Trouvères na Floresta de Avallon.

Você pode “abaixar” a versão original em Mp3 no site do grupo HK & Saltimbanks.

Abaixo o vídeo da versão original:

O movimento atingiu muitas cidades francesas, como Paris, Valença, Toulose, Cognac e até atravessou fronteiras. Seguem alguns desses “happenings” ou “fashmobs” em imagens:

Danser Encore-Estações de trem em Paris

Danser Encore- Estação Gare du Nord 4 de março

Estação Gare de L’Est – 8 de abril

Danser encore-grupo de forró de paris

Danser Encore Grupo de Forró de Paris – Jardin des Plantes 21 março

Danser encore-artistas manisfestam em La Rochelle

Danser Encore- cidade La Rochelle 22 de março

Borgonha Les Derniers Trouvères

Floresta de Avallon, Borgonha 5 de abril
Danser Encore Les Derniers Trouvères
Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos corpos abraçarem outros corpos
Passar nossas vidas à vibrar em acordes
tralalalala

Somos pássaros de passagem
Seguimos o amor e nosso adágio
Nós não juramos fidelidade
à tenebrosas influências
Estamos quebrando o silêncio

E quando a noite, à beira da fogueira
Nós brincamos para deixar dançar a chama,
Em nós
A chama da alegria e da vida
Em nós
Que ela brilhe e ilumine em todos os lugares
E já que não temos trabalho e não somos Calimero
Liberdade para quem ousa
E obrigada para aqueles que propoem, um som feliz, um céu, uma rosa
Não nos usem como matéria prima, um eterno bode-expiatório, a cada medida sanitária,
Autoritária ou Lapidária
Vejamos o que pode ser feito
Sejamos alertas e criativos
Giradores e atrativos
Sublimes até a indecência
Deixe-nos viver em abundância
Sobre os caminhos da providência.

Chapelle en vercors- Alpes

Chapelle en Vercors 1 de abril

Letra Original Danser Encore HK & Saltimbanks

Dançar de novo

Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos pensamentos abraçarem nossos corpos
Passar nossas vidas em uma grade de acordes
Oh, não não não não não não não
Queremos continuar dançando de novo.
Ver nossos pensamentos abraçarem nossos corpos
Passar nossas vidas em uma grade de acordes

Somos pássaros de passagem
Nunca dóceis ou realmente sábios
Nós não juramos fidelidade
Ao amanhecer em todas
as circunstâncias
Estamos quebrando o silêncio

E quando a noite na TV
O Sr. Bom Rei falou.
Veio anunciar a sentença.
Somos irreverentes.
Mas sempre com elegância

Auto-metrô-trabalho-console
Auto-certificação assinada
Absurdo prescrito
E ai para aquele que pensa
E ai de quem dança

Todas as medidas autoritárias
Todos os recursos de segurança
Vê nossa confiança voar
Eles são tão insistentes
Para limitar nossa consciência

Não vamos ser impressionáveis.
Por todas essas pessoas irracionais
Vendedores de medo em abundância
Agonizante, ao ponto de indecência

Vamos mantê-los afastados.
Para nossa saúde mental
Social e ambiental
Nossos sorrisos, nossa inteligência
Não vamos ficar sem resistência.
Os instrumentos de sua demência

Vacinação na França: doses perdidas

Vacinação na França- A desconfiança de uma parcela crescente da população em relação à vacina AstraZeneca (Vaxzevria) causa mudança precoce nos critérios de idade para aplicação da mesma.

A boa notícia é que cada vez mais franceses querem se vacinar. Inicialmente reticentes, os franceses desejosos em se vacinar representavam em dezembro somente 42% da população, agora são 70%. Apenas 14% das pessoas irredutíveis persistem em não querer nenhuma categoria de vacina.

Apesar disso, há algumas semanas, centros de vacinação sofrem com a perda de muitas doses de AstraZeneca que não encontram a demanda esperada. De acordo com uma pesquisa da Odoxa-Backbone Consulting para o jornal Le Figaro, 71% dos franceses não confiam na vacina britânica. E como a vacinação não é obrigatória…

Peripécias da AstraZeneca na França e na Europa

Em 2 de fevereiro, logo após sua aprovação, a AstraZeneca foi inicialmente reservada para pessoas com menos de 65 anos, devido à falta de dados sobre sua eficácia em pessoas idosas.

Um mês depois, seu uso foi estendido para todas as idades. Então, em meados de março, a vacina foi suspensa durante alguns dias após relatos na Europa de casos de uma trombose muito rara e atípica (coágulos sanguíneos). Entretempo, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconheceu que eles estavam ligados à AstraZeneca.

Enquanto isso, a França decidiu, dia 19 de março, injetar essa vacina apenas para aqueles com mais de 55 anos de idade, uma vez que essas tromboses foram observadas principalmente em indivíduos mais jovens.

As autoridades de saúde ainda não anunciaram o que acontecerá com aqueles com menos de 55 anos que tomaram a primeira injeção. Porém, tudo indica que receberão como segunda dose a vacina Moderna ou Pfizer.

Outros países também estabeleceram limites de idade, mas sem necessariamente escolher o mesmo, o que alimenta a confusão. A AstraZeneca, por exemplo, é reservada para mais de 30 anos no Reino Unido, 60 anos na Alemanha ou 65 anos na Suécia. Finalmente essas reviravoltas acabaram por confundir o público em geral.

Reação do Governo Francês

Para evitar o desperdício das doses do precioso líquido que estão terminando no lixo dos centros de vacinas, o governo decidiu que a população na faixa etária acima de 55 anos começe a ser vacinada a partir desta segunda-feira, dia 12 de abril de 2021.

No último calendário de vacinas especificado por Emmanuel Macron durante seu discurso em 31 de março, a vez dos 60 anos viria dia 16 de abril, com acesso a todas as vacinas e a vez dos quincagenários estava prevista apenas para dia 15 de maio.

Com a nova diretriz governamental, todas as pessoas com 55 anos ou mais e anteriormente inelegíveis para vacinação poderão ser vacinadas desde já. No entanto, apenas as vacinas AstraZeneca ou Janssen (J-J) estarão disponíveis.

Vacinação na França: Janssen (J-J)

A França se prepara para receber 500.000 doses da vacina Johnson & Johnson que utiliza a mesma tecnologia que a AstraZeneca. Alertas sobre efeitos colaterais semelhantes aos suspeitos na AstraZeneca foram levantados, e o interesse pela vacina também pode ser afetado. Abrir imediatamente a vacinação para cerca de 4 milhões de pessoas de 55 a 59 anos poderá evitar a perda também dessas vacinas.

Simultaneamente, o tempo entre as duas aplicações das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna (de soro com o RNA mensageiro ) aumentará de quatro para seis semanas a partir de 14 de abril. Tal mudança permitirá o aumento do número de pessoas que receberão a primeira dose rapidamente.

As novas diretrizes de vacinação na França efetuadas para acelerar a vacinação e evitar a perda das vacinas AstraZeneca foram fruto da reatividade “para apagar fogo” que caracteriza o governo Macron. Ambas medidas foram anunciadas pelo Ministro da Saúde, Olivier Veran, no Le Journal du Dimanche (o Jornal do Domingo). Desta vez, não houve tempo para preparar a habitual elocução oficial em rede nacional. Nenhuma dose pode ser perdida, custe o que custe.

Saccage Paris, o hashtag polêmico

Paris – Um novo hashtag criado nesta sexta-feira, 2 de abril, obteve rapidamente milhares de adeptos no Twitter: #SaccageParis

Latas de lixo transbordantes, pilhas de papelão na rua, cones de plástico amarelo deteriorados delimitando ciclovias ou móveis deixados nas calçadas são algumas das imagens vistas no tweets.

Dezenas de milhares de mensagens e fotos denunciam a sujeira da capital francesa sob o atual mandato da prefeita socialista Anne Hidalgo, bem como algumas das escolhas feitas por sua equipe municipal.

Quando questionado pelo jornal Le Parisien, o homem que lançou a hashtag através de sua conta @PanamePropre, no entanto, garante que não segue nenhuma agenda política, reconhecendo simplesmente uma velha proximidade com a UDF, o antigo partido centrista. Ele explicou que tinha feito isso apenas para fazer com que sua “explosão de raiva” fosse ouvida.

reação da oposição

Membros da oposição aproveitaram rapidamente da oportunidade para criticar a gestão do prefeito de Paris.

Marine Le Pen

#saccageparis As milhares de imagens compartilhadas com a hashtag #SaccageParis partem os corações dos amantes de Paris. Parabéns aos parisienses revoltados! A degradação da nossa bela capital pela equipe Hidalgo é um sofrimento nacional que não deve deixar nenhum francês indiferente. MLP

Rachida Dati

#saccageparis: Diante da negação da realidade da equipe municipal, exigimos a realização imediata de um excepcional Conselho de Paris dedicado aos problemas de limpeza e segurança em #Paris.

Paris e a covid-19

De fato, certas circunstâncias contribuem para as condições insalubráveis inegáveis de Paris neste momento.

Visto que as refeições são consumidas exclusivamente ao ar livre encontramos pelas ruas uma maior quantidade de resíduos. Além disso, os terraços de madeira instalados às pressas como resultado das medidas sanitárias no verão de 2020, agora tristemente abandonados, viram suas condições se deteriorar com o inverno.  Hotéis, lojas, restaurantes fechados e ruas vazias, acampamentos de imigrantes sem teto em determinados bairros deixam uma triste impressão para os passantes. 

O movimento online provocou igualmente a reação da prefeita de Paris e sua equipe denunciando nos jornais uma campanha para denegrir sua gestão , com fotos que seriam antigas ou ainda justificando que devido a epidemia de Covid-19 há cortes em cerca de 10% dos serviços responsáveis pela limpeza da cidade.

Esforços da municipalidade

Apesar das reclamações vistas nos tweets, a municipalidade de Paris dispõe de uma equipe de limpeza de 2500 pessoas. Desde 2016 a mesma colocou à disposição dos parisienses um dispositivo chamado “Na Minha Rua”, que os permitem relatar qualquer anomalia no espaço público às equipes municipais, como a presença de resíduos maciços, pichações ou espaços verdes em más condições. 10.000 pedidos são tratados por semana, garante a prefeitura.

Diariamente, mais de 2.900 km de calçadas são varridas e muitos dos 30 000 lixos nas calçadas, espalhados em vias públicas, são esvaziados de 1 a 3 vezes. Em Paris você encontra um lixo público munido com cinzeiro aproximadamente à cada cem metros.

Uma grande frota de “carrinhos aspiradores” é dedicada à limpeza das calçadas da capital francesa. 1.600 km de ruas são aspiradas e lavadas pelo menos uma vez por semana. As intervenções variam dependendo do tamanho da rua e do tipo de atividades. As pistas amplamente utilizadas (avenida periférica, pistas rápidas e subterrâneas.) são limpas à noite, em trechos, a fim de minimizar a interrupção do tráfego. Até as margens do Sena são lavadas toda semana, seja com equipamentos das docas ou de um barco. As pistas ribeirinhas também se beneficiam de uma faxina minuciosa uma vez por mês e após cada inundação do Rio Sena.

Eu me alegro que através das redes sociais sejamos capazes de fazer pressão ao poder público. Acho essencial mesmo.

Porém, não me preocupo com Paris. Sem dúvida a crise do Covid-19 acentuou alguns problemas, como em todos os setores da sociedade este ano.

Como eu já vi Paris passar por muitos sábados de manifestações, por greves de lixeiros, pelas festividades da Copa do Mundo, pela crise econômica de 2008, ou ainda enchentes do Rio Sena e assisti à várias operações de limpeza excepcionais, tenho certeza que esse cápitulo também vai terminar e somente as belas imagens do hashtag Paris ficarão em nossas memórias. #Paris